Jack Ewing e Nicola Clark - NYT
Y.Malenfer/Ministère de l'Intérieur
A retirada dos restos mortais dos passageiros do voo da Germanwings que caiu há uma semana nos Alpes franceses foi encerrada nesta terça-feira (31), depois de tudo ser recuperado
Em vez disso, nesta quarta-feira (1º), o dia do aniversário, a companhia aérea alemã enfrentou talvez a pior crise em sua história, após reconhecer que estava ciente de que o copiloto que derrubou deliberadamente um de seus aviões nos Alpes Franceses na semana passada, matando a si mesmo e outras 149 pessoas a bordo, tinha um histórico de depressão severa.Na Alemanha, país de origem de quase metade das vítimas, a revolta cada vez mais passou a ser direcionada à companhia aérea e seu presidente-executivo de 48 anos, Carsten Spohr, que há apenas uma semana se gabava de que a Lufthansa tinha os melhores pilotos do mundo.
Spohr e Thomas Winkelmann, o presidente-executivo da Germanwings, uma subsidiária de baixo custo da Lufthansa que operava o avião que caiu, visitou a cidade francesa de Seyne-les-Alpes, próxima do local da queda, na quarta-feira.
"A cada dia estamos aprendendo mais sobre a causa do acidente", disse Spohr aos repórteres na França. "Mas acho que levará muito, muito tempo para todos nós entendermos como isso pôde acontecer." Spohr não respondeu às perguntas gritadas pelos repórteres.
Na cidade alemã de Haltern am See, moradores se reuniram para lembrar os 16 estudantes e dois professores que morreram no Voo 9525 enquanto retornavam de uma viagem de intercâmbio a uma escola espanhola próxima de Barcelona, o ponto de partida do voo.
A Lufthansa disse na terça-feira que em 2009, Andreas Lubitz, o copiloto, disse à escola de aviação operada pela companhia aérea sobre um "episódio prévio de depressão severa". Lubitz forneceu a informação sobre sua depressão após ter realizado uma pausa de vários meses na escola de aviação e tentava retomar seu treinamento, disse a Lufthansa.
O reconhecimento pela companhia aérea e o provável efeito sobre sua reputação ocorrem enquanto ela enfrenta uma longa lista de desafios, incluindo maior concorrência tanto em rotas curtas quanto longas, e relações tensas com o sindicato dos pilotos, que têm provocado uma série de greves caras.
"Em um momento em que a Lufthansa já enfrenta concorrência significativa e desafios nas relações trabalhistas, esta tragédia apenas coloca mais pressão sobre a administração da empresa", disse John Strickland, um consultor independente do setor de aviação, em Londres.
As declarações feitas por Spohr na semana passada, na qual insistiu que Lubitz estava apto a voar, agora estão voltando para assombrá-lo. O "Westdeutsche Zeitung", um jornal que cobre a região que inclui Dusseldorf, a cidade alemã para onde voava o avião, disse que o reconhecimento pela Lufthansa de que sabia dos problemas de saúde mental de Lubitz era "uma tentativa inútil de impedir que o presidente da empresa, Carsten Spohr, com suas palavras fatais de '100% capacitado a voar', pareça um mentiroso pronto para renúncia".
A possibilidade de que o piloto tinha conseguido esconder tão bem os problemas para continuar voando também pode manchar um dos principais argumentos de venda da Lufthansa, sua reputação de excelência técnica e segurança. Até a semana passada, a Lufthansa e suas subsidiárias não apresentavam nenhum acidente aéreo fatal em 22 anos.
Desde que assumiu como presidente-executivo da Lufthansa em maio, Spohr tem respondido à concorrência de companhias aéreas de baixo custo como a Ryanair dando mais ênfase à Germanwings.
Mas agora está sendo questionado se os procedimentos europeus permitem que pilotos inexperientes tenham responsabilidade demais. Lubitz tinha 630 horas de voo quando, segundo os investigadores, colidiu o Airbus A320 na encosta de uma montanha. Lubitz aparentemente trancou o piloto mais experiente do lado de fora da cabine.
"Como um sujeito que tinha apenas 630 horas de voo já estava pilotando um A320?" disse Amy Fraher, uma ex-comandante da Marinha dos Estados Unidos e pilota da United Airlines. "É uma aeronave grande e sofisticada com muita potência e, nesse caso, 150 pessoas a bordo."
"Isso me incomoda", disse Fraher, que também faz palestras na Universidade de Birmingham, no Reino Unido.
"O setor está crescendo rápido demais e está se tornando muito competitivo", ela prosseguiu. "Eu vejo evidência de que, no interesse de corte de custos, o treinamento dos pilotos foi condensado" há apenas poucos anos, em vez dos sete ou oito anos que antes era a norma do setor em todo o mundo.
"Esse trajeto de carreira acelerado não dá aos pilotos jovens tempo para se tornarem mais profissionais e devidamente calejados", ela disse.
Outros, entretanto, contestam que as práticas de treinamento da Lufthansa tenham tido algum papel na queda do avião da Germanwings.
"Nós não temos evidência de que houve corte de custos na segurança", disse Christoph Drescher, secretário-geral da Associação Europeia dos Tripulantes de Cabine, que representa os comissários de bordo.
"Os colegas da Germanwings são muito bem treinados", disse Drescher. "Os padrões regulatórios são respeitados e ultrapassados."
Drescher também é representante do sindicato alemão dos comissários de bordo, que está envolvido em negociações tensas com a Lufthansa.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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