sexta-feira, 24 de abril de 2015

Dúvidas no recomeço
Resta saber se o PT vai deixar o trio trabalhar, mesmo sendo o beneficiário do sucesso. O sucesso de Dilma, Levy e Temer relaciona-se diretamente às chances do PT em 2018
Murillo de Aragão - Blog do Noblat
Winston Churchill dizia que os americanos terminavam fazendo a coisa certa depois de fazer várias coisas erradas. A afirmação vale para o Brasil. Depois de destruir a credibilidade fiscal do país com a contabilidade criativa, o governo trouxe Joaquim Levy para consertar o estrago.
Depois de destruir a harmonia da base política e sofrer sucessivas derrotas, o governo trouxe Michel Temer para a coordenação política a fim de recuperar a governabilidade perdida. Fazer a coisa certa depois de errar muito é um caminho natural. Faz parte do aprendizado do ser humano. O duro é que o timing que é sempre muito ruim.
A destruição da credibilidade fiscal foi alertada por anos a fio antes que a coisa certa acontecesse. No campo político, o governo precisou sofrer derrotas sucessivas no Congresso e contrariar as análises políticas mais primárias e óbvias para então fazer o que tinha de ser feito.
Sem harmonizar a relação com o PMDB não há paz política à vista. Da mesma forma que, sem alguém como Joaquim Levy, não se recuperaria a credibilidade econômica do país. Com a dupla Levy-Temer tendo espaço e poder para trabalhar, o segundo mandato de Dilma começa de verdade. E com chances de se recuperar.
Evidente que a relação com o Congresso não será tranquila, como na época Lula. Mas isso não significa que será permanentemente trágica para o governo. O Congresso mudou sua perspectiva em relação ao Executivo e isso é uma nova realidade. Com Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha vão dialogar em condições mais favoráveis para o governo do que com o outro interlocutor, o que não quer dizer que a agenda do Congresso será deslocada para uma situação periférica.
Para conseguir recuperar a qualidade da articulação política, Temer terá de ter poder para concluir e executar acordos. Com autonomia e poder de decisão, o vice-presidente tem espaço para resolver boa parte dos problemas do governo no Congresso. A solução Michel Temer dá boas perspectivas para a aprovação do ajuste fiscal, que deve entrar pra valer na agenda de maio.
Para a oposição, o funcionamento adequado da dupla Levy-Temer é uma má notícia. Pois as chances de o governo funcionar melhor são claras. Como bem pontuou o editorial de o estado de São Paulo, em 21 de abril, ao fazer o dever de casa fiscal o segundo mandato de Dilma pode ser um mandato de arrumação.
Resta saber se o PT vai deixar o trio trabalhar em paz, mesmo sendo o beneficiário do sucesso. O sucesso de Dilma, Levy e Temer relaciona-se diretamente às chances do PT em 2018. As pistas dos temas que serão debatidos no 5o Congresso Nacional do PT mostram que os problemas moram dentro de casa. A miopia política pode terminar prevalecendo sobre o pragmatismo. Coisas do Brasil.

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