Nova Petrobras, segundo Bendine
Empresa teria liberdade de preços e para contornar políticas de governo que elevaram seus custos
Vinicius Torres Freire - FSP
REDUZIR A DÍVIDA é uma prioridade maior da Petrobras. A empresa devia o
equivalente a 4,8 vezes o seu "lucro", ao final de 2014. Em 2010, essa
medida de endividamento relativo equivalia 1 e deve ir a perigosos 6 em
2016, segundo analistas privados da petroleira. A direção da empresa vai
trabalhar para baixar esse indicador crítico de saúde financeira para
3, em cinco anos.
Não é uma meta formal, explica Aldemir Bendine, presidente da empresa,
mas um plano de trabalho da "vida normal" da nova Petrobras, sem a
"ansiedade" e o drama dos episódios que precederam a publicação do
retardadíssimo balanço de 2014 (o balanço do primeiro trimestre sai
entre 15 e 20 dias). Não estão previstas medidas heroicas, mas um
"trabalho de formiga".
Não deve haver captações enormes de dinheiro novo tão cedo ("este ano
está equacionado"), mas a Petrobras já contaria com muitas ofertas
"picadas" de financiamento que permitiriam à empresa trocar dívida velha
por nova a custo, juros, inferior ("tivemos uns 40" ofertantes
diferentes). A empresa vai, sim, captar no mercado doméstico, mas sempre
com lastro em dinheiro de fora.
Os preços domésticos de venda de derivados estariam em bom nível, 20%
acima do mercado mundial, segundo estimativas internas da empresa. A
Petrobras agora teria "liberdade de formação de preços", que seriam
repensados em um "horizonte de 180 dias", para amortecer a volatilidade
de preços do barril e do câmbio.
O plano de "desinvestimento", venda de ativos, é o que já foi anunciado,
US$ 13,7 bilhões até 2016: pequenas termelétricas, pequenos negócios de
venda de derivados, poços com produção em declínio. Vender parte da
empresa na BR Distribuidora ou na petroquímica Braskem é um assunto que
não está nem na prancheta, até porque o preço está muito ruim, "seria
vender na bacia das almas".
A empresa pode faturar mais, porém, no que Bendine chama de "sinergias
que não estão sendo exploradas em muitos ativos". Para dar apenas um
exemplo, vender direito de passar cabos de teles por dutos da empresa,
entre muitos negócios variados que poderiam gerar bilhões.
Reduzir custo e investimento é, claro, um meio de conter as necessidades
de financiamento. O que a empresa fará sobre a política de conteúdo
nacional (comprar equipamentos que sejam, em dois terços, produzidos no
país), em geral mais caros? De ser obrigada a ter 30% de cada negócio de
exploração do pré-sal? "A depender da época, cada modelo tem vantagens e
desvantagens. Existem leis e regulações", diz Bendine,
diplomaticamente, mas "há entendimento" de que a empresa não será
obrigada em determinados negócios, "caso o caixa não permita."
"Dada a realidade do mercado" (baixa mundial de preços do petróleo e de
equipamentos, além de problemas com fornecedores nacionais), "não é
possível o cumprimento" de certas regulações. Além do mais, a questão
não seria premente.
A empresa não precisa adquirir equipamentos e tão cedo não deve haver
leilões do direito de explorar o pré-sal. De resto, dada a produtividade
do pré-sal, "sobra" equipamento. Ainda assim, o plano de longo prazo da
empresa deve exigir "discussões" de mudanças com os reguladores a
respeito da política pública para a empresa.
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