Texeira Constenla - El País
AP
Sylvia Plath, poeta e romancista norte-americana que se suicidou em 1963
Sylvia Plath (1932-1963), autora de uma das grandes obras poéticas do
século 20 ("Ariel"), e ganhadora de um Pulitzer póstumo em 1982, se
encarregava de datilografar os versos de seu marido, Ted Hughes
(1930-1998). Na Universidade de Cambridge eles se conheceram, se
apaixonaram e casaram. Tiveram dois filhos.
A cooperação inicial
se fraturou com a convivência, o sucesso dele e a crise de criatividade
dela. "É Sylvia quem limpa a casa e atua como secretária de seu marido.
E o faz por medo de perdê-lo, porque pensa que se não o fizer ele
encontrará alguém que o faça", afirma a escritora Laura Freixas, que se
aprofundou sobre a relação do casal, ao qual dedicará uma conferência em
2 de junho próximo, dentro do ciclo "Nem elas musas, nem eles gênios",
que se realiza no CaixaForum em Madri, para abordar histórias de casais
de criadores nos quais o papel feminino ficou obscurecido por seu
cônjuge.É uma questão que a própria Plath constatou em seu diário. "Tenho ciúme dos homens. Uma inveja profunda e perigosa que pode corroer, imagino, qualquer tipo de relação. Uma inveja nascida do desejo de ser ativa e fazer coisas, não ser passiva é só escutá-las", escreveu em páginas onde convivem vários antagonismos: "Pode uma mulher autossuficiente, excêntrica, ciumenta e com pouca imaginação escrever algo que realmente valha a pena? E pode formar um casal?"
Enquanto a carreira de Hughes decola, a vida de Plath desmorona. Ela é assaltada pela fera da depressão ("Você tem medo de ficar sozinha com sua própria mente", confessa) e o monstro do ciúme. Finalmente, Hughes a abandona - e a seus filhos - e parte com Assia Wevill. Durante os dois anos seguintes, Plath constrói os poemas que a "farão famosa", diz ela a sua mãe. Em 11 de fevereiro de 1963, com 30 anos, enfiou a cabeça no forno e abriu o gás. De sua morte nasceu seu mito. E a lenda negra de Hughes, estopim do suicídio e censor dos diários da poeta, o que justificou com a desculpa de proteger seus filhos pequenos.
"Uma mulher com ambições artísticas pode ser muito vulnerável; por um lado, enfrenta o telhado de vidro e por outro, a solidão. Na medida em que elas triunfam, parece-lhes mais difícil encontrar alguém igual", afirma Freixas, uma das escritoras que mais refletiram sobre a desigualdade no âmbito da cultura e que preside a associação Clássicas e Modernas, que luta contra essa discriminação. Freixas acaba de publicar "El silencio de las madres" ("O silêncio das mães" - ed. Aresta), que reúne 32 artigos sobre o assunto.
A relação de Camille Claudel (1864-1943) e Auguste Rodin (1840-1917), que dividiram dez anos de intensa criatividade, acabou no colapso físico, psíquico e artístico da escultora, que só nas últimas décadas está recebendo o reconhecimento que não teve em vida. Claudel, que aos 12 anos já chamava a atenção com suas esculturas, transformou-se em amante, modelo e ajudante de Rodin depois de chegar a Paris. Ele tinha 44 anos e era casado; ela, 19, e nunca se libertou do papel de amante.
Nessa década, deram o melhor de si, embora um entre aplausos e outra entre silêncios. Na opinião de Rosa Montero, que escreveu em várias ocasiões sobre essa relação, a invisibilidade "acabou sendo tão asfixiante que a escultora se separou dele para tentar levar adiante sua própria obra. Foi a luta final, desesperada e inútil". Mergulhou na pobreza e no delírio. Em 1913, sua família a internou no hospital psiquiátrico de Montdevergues, onde permaneceu por três décadas. Nunca mais voltou a esculpir.
A vida de Clara Wieck Schumann (1819-1896) e Robert Schumann (1810-1856) não alcançou as notas trágicas das anteriores, mas encarna "o exemplo paradigmático do patriarcado", na opinião de Marisa Manchado, compositora e vice-diretora do Conservatório Teresa Berganza de Madri, que abordou a relação entre ambos. "Clara foi a grande pianista do século 19, com reconhecimento unânime como virtuosa, mas também foi uma grande compositora e ainda hoje se diz que foi menor", afirma Manchado, que considera que o Trio para piano em sol menor Opus 17, composto por ela em 1846, "está à altura dos trios canônicos de Beethoven".
Clara Wieck, educada por seu pai, o reconhecido professor de piano Friedrich Wieck, estreou como pianista aos 11 anos. Sua carreira não parou de crescer. "Aos 15, é recebida na corte de Viena, onde lhe dão o título de virtuosa, algo raríssimo sendo tão jovem, estrangeira e mulher", lembra Manchado.
Depois de se casar com Robert Schumann, apesar da oposição familiar, prossegue sua carreira de intérprete, começa a de mãe de família numerosa e a de defensora da música de seu marido, que introduz nos círculos da elite europeia e a qual divulgará com afinco depois de sua morte. "Era a verdadeira 'superwoman'. E pôs seu talento a serviço dos homens. Primeiro de seu pai, depois de Liszt, seu marido e Brahms", afirma Manchado. A própria Wieck minimizou a criatividade que possuía: "Uma mulher não deve desejar compor. Nunca houve alguma capaz de fazê-lo. Deveria crer que eu serei capaz?", indagava-se em 1839. Anos depois escreveu sua Opus 17.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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