Herança dos erros do primeiro mandato
Pela retração do primeiro trimestre, é
possível que este ano a economia encolha mais que o estimado. A causa
está no passado, e não na atual correção de rumos
O Globo
A retração da economia brasileira, que o IBGE calcula ter sido da ordem
de 0,2% no primeiro trimestre (em relação aos três meses anteriores) ou
de 1,6% na comparação com o mesmo período do ano passado, não
surpreendeu. Somente a agropecuária ainda registra crescimento (4,7%).
Indústria e serviços recuam (-0,3% e -0,7%, respectivamente). Consumo e
investimento, idem (-1,5% e -1,3%). Em suas projeções, o governo tem
trabalhado com uma expectativa de um encolhimento em torno de 1,2%, mas
já há analistas financeiros mais pessimistas projetando uma queda de até
2% para o Produto Interno Bruto de 2015 — em bases anuais, o PIB
retrocedeu 0,9%.
Alguma recuperação é esperada para o segundo semestre, mas não
suficiente para compensar o tombo do início do ano. O próprio IBGE vem
confirmando em seus indicadores o aumento do desemprego, com tendência
para alcançar o patamar de 8% da população economicamente ativa. Os
especialistas preveem que aproximadamente 100 mil empregos formais serão
fechados este ano, em momento que o número de entrantes no mercado de
trabalho permanece expressivo.
O Brasil está pagando o preço de políticas públicas equivocadas no
segundo mandato do presidente Lula e no primeiro de Dilma. O
artificialismo inibiu investimentos que poderiam tornar a economia
brasileira mais eficiente e mais preparada para enfrentar ventos
contrários. Assim, o país não resistiu à acentuada queda nas cotações
internacionais das commodities e à desaceleração do crescimento na Ásia.
É possível que, na luta política, procurem jogar sobre o ajuste
fiscal a responsabilidade do esfriamento da economia neste primeiro
trimestre. Não passará de uma demonstração de desonestidade intelectual.
Sobre
os dados do IBGE, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, lembrou que no
período ainda havia grandes incertezas: dúvidas sobre o balanço auditado
da Petrobras e insegurança diante do ajuste, se seria ou não aprovado
pelo Congresso. Mas boa parte dele já passou pelo Legislativo, mesmo não
integralmente, e hoje já não existe a sensação de falta de rumo.
O ajuste contribui para um ambiente mais favorável no mundo dos
negócios, que poderá ganhar considerável reforço se o governo anunciar
agora em junho regras para novas concessões de infraestrutura que deixem
de agredir o mercado, como cansou de fazer até o ano passado.
Enquanto não se consegue colher os frutos dessas mudanças, as
estatísticas econômicas vão registrar número pouco animadores. E a
resposta deve ser paciência e perseverança, pois não será pouca a
pressão política (inclusive de dentro do próprio governo e da sua base
de apoio parlamentar) para que se abandone o caminho da correção de
rumos.
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