Brian X. Chen - NYT
Peter Earl McCollough/The New York Times Pulak "Potluck" Mittal, um engenheiro de software de 23 anos de idade, prepara um Soylent V1.3
Toda noite, o desenvolvedor de software Aaron Melocik segue uma rotina
alimentar precisa. Ele mistura dois litros d'água, três colheres e meia
de sopa de óleo de macadâmia e um saco de 500 gramas de um pó chamado
Schmoylent. Depois, ele derrama a bebida bege em garrafas e a deixa
resfriando antes de levar os recipientes para o trabalho no dia seguinte
na Metrodigi, uma startup de tecnologia para educação.
No
escritório, Melocik guarda uma garrafa de Schmoylent na geladeira e leva
a outra para sua mesa. Das 6h30 até as 15h30, ele toma a primeira
garrafa como café da manhã, e a segunda no lugar do almoço. Ele consome
cerca de 500 gramas de Schmoylent por dia para poder se concentrar no
trabalho em vez de parar para comer alguma coisa."Isso simplesmente tira a comida da minha equação da manhã até mais ou menos as 19h", disse Melocik, 34, que vem seguindo essa dieta "tecnológica" desde fevereiro.
Tempos de expansão no Vale do Silício pedem trabalho duro, e o trabalho duro --pelo menos na terra da tecnologia-- significa que programadores, engenheiros e investidores estão adotando refeições líquidas com nomes como Schmoylent, Soylent, Schmilk e People Chow. Os produtos cheios de proteína que vêm em forma de pó são baratos, rápidos e fáceis de preparar-- basta misturar com água, ou no caso do Schmilk, com leite. Embora atletas e pessoas que fazem dieta já consumam jantares líquidos há anos, os funcionários do Vale do Silício estão cada vez mais sorvendo suas refeições para que possam voltar mais rápido ao trabalho no computador.
A demanda por algumas dessas bebidas em pó, que normalmente misturam nutrientes como magnésio, zinco e vitaminas, é tão grande que alguns engenheiros dizem estar em listas de espera que vão de um a seis meses para receber seus primeiros pedidos. E as bebidas estão decolando em todos os círculos sociais de tecnologia. Os investidores de risco também colocaram dinheiro nas empresas que fornecem esses substitutos de refeição, e alguns, como Alexis Ohanian, um dos fundadores do Reddit, estão entre os adeptos das bebidas.
"Meu sonho, num mundo ideal, seria pegar uma bebida já pronta no aeroporto, pré-preparada, nos refrigeradores", diz Ohanian, que investiu na Soylent e trata a bebida como uma refeição alternativa.
O empresário, que costuma viajar de avião entre Nova York e San Francisco a trabalho, diz que bate uma quantidade de Soylent e bebe durante o dia todo quando tem preguiça de preparar algo para comer.
Em março, a empresa de capital de risco Andreessen Horowitz serviu martinis de Soylent e Soylent Whites em um coquetel na conferência South by Southwest em Austin, Texas. Alguns funcionários da empresa, que investiu na Soylent, passaram até por uma desintoxicação com Soylent, tomando somente o líquido durante vários dias, disse Chris Dixon, sócio da Andreessen Horowitz. Ele disse que não fez isso.
Outros programadores estão adaptando os substitutos de refeição para ocasiões sociais.
Recentemente, num sábado à noite, em seu apartamento com móveis da Ikea no bairro Haight, em San Francisco, Pulak "Potluck" Mittal, um engenheiro de software de 23 anos de idade, preparou um jantar para meia dúzia de amigos de tecnologia. No cardápio havia noodles pad thai e um acompanhamento de Soylent.
Um convidado, Dan Carroll, fundador da startup de tecnologia da educação Clever, elogiou Mittal por misturar pasta de amendoim em uma bebida com cor de aveia para acompanhar o pad thai.
"Foi muito bem pensado, isso de você realmente adaptar a experiência do Soylent à comida", disse Carroll.
O crescimento dos substitutos de refeição espelha a efervescência das startups do Vale do Silício --e inclui uma dose de confiança. Os fabricantes das novas bebidas dizem que seus produtos são melhores do que os pós que estão no mercado há anos, porque estes últimos tendem a ter muito açúcar e superestimar o uso da proteína. Por outro lado, o Soylent e o Schmoylent são misturas de nutrientes que permitem que alguém consuma apenas essas refeições e tenha uma vida saudável, segundo eles.
O Soylent, o Schmilk e alguns outros normalmente têm um sabor de massa de panqueca granulosa e sem gosto. Mas isso não importa, porque os substitutos de refeição poupam tempo e dinheiro aos profissionais de tecnologia. Enquanto uma refeição costuma custar mais de US$ 50 nos restaurantes da região do Vale do Silício, uma semana de Soylent ou Schmoylent totaliza US$ 85.
Alexandros Kostibas, um dos fundadores da Habit Monster, uma startup de software de San Francisco que quase foi à falência recentemente por causa dos custos altos, disse que recebe menos do que paga a seus empregados, e bebe Soylent em parte porque é mais econômico do que comer fora. Ele disse que o jantar congelado já era uma opção, mas que o Soylent é uma alternativa mais saudável e mais rápida.
"Acho que os engenheiros estão prontos para abandonar essa ilusão de que temos jantares de família", disse. "Vamos acabar com toda essa fachada de marketing e ingerir as calorias o mais rápido que pudermos."
O tempo perdido comendo é, no jargão do Vale do Silício, um "ponto fraco" até mesmo para o alto escalão da tecnologia.
Elon Musk, fundador da Tesla, disse uma vez: "Se existisse uma forma de eu não comer para poder trabalhar mais, eu não comeria. Eu gostaria que existisse uma forma de consumir nutrientes sem ter de sentar para comer", de acordo com um novo livro sobre o empreendedor, escrito por Ashlee Vance. Musk não respondeu à reportagem se ele tinha experimentado Schmilk ou Soylent.
Quando Mittal começou a trabalhar na Clever este ano, a empresa o apresentou aos colegas por e-mail, dizendo que ele era um ávido consumidor de Soylent. Logo depois, disse Mittal, alguns colegas de trabalho o abordaram para pedir para experimentar um pouco.
"Tenho sido uma espécie de traficante de Soylent para vários colegas de trabalho", disse Mittal. Mas o Soylent, Schmilk e Schmoylent são gostos adquiridos. Mittal disse que muitos de seus colegas não acabam viciados em Soylent. Os poucos que ainda estão bebendo não estão muito entusiasmados.
"Estou ficando enjoado do gosto", disse Dan Sparks, engenheiro da Clever, para Mittal em uma mensagem eletrônica recente. "Estou pensando em começar a acrescentar sabor."
Tradutor: Eloise De Vylder
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