sábado, 30 de maio de 2015

Rearranjo no PIB
Num resultado antevisto, economia recua no 1º trimestre; haverá ainda alto custo social antes de país conhecer uma retomada
FSP
A queda de 0,2% no PIB do primeiro trimestre (na comparação com o último de 2014) confirmou o quadro recessivo já indicado pela piora do emprego, das vendas no varejo e da produção industrial.
Está em curso uma forte mudança estrutural, fruto dos enormes equívocos perpetrado no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (PT). Sem dúvida doloroso, o rearranjo deve deixar a economia em melhores condições de crescimento nos próximos anos.
Entre todos os indicadores divulgados nesta sexta-feira (29), chama a atenção a retração de 1,5% no consumo das famílias no período, ritmo observado somente em momentos de crise aguda, como no último trimestre de 2008 ou durante o apagão de energia em 2001.
Trata-se de dado relevante porque o consumo tende a oscilar menos que itens como os investimentos, sempre mais suscetíveis aos humores da conjuntura.
Se as famílias gastaram menos no trimestre, não foi uma simples variação momentânea, mas consequência do cenário anuviado: o desemprego aumenta desde janeiro deste ano e a renda real (desconsiderada a inflação) encolhe de forma significativa.
Os próximos meses serão difíceis. A maior perda de empregos formais (98 mil vagas) ocorreu em abril, e não há sinais de estabilização. Projeta-se queda de até 1,5% no PIB no ano, com o fundo do poço a ser atingido no terceiro trimestre.
A mudança fundamental em relação aos últimos anos é que o consumo interno (soma de gastos de famílias e do governo) agora cai mais que a oferta de bens e serviços. Assim, em breve se consolidará uma tendência de redução da inflação que levará o Banco Central a encerrar a política de alta de juros.
A economia nacional parece se reacomodar de modo a superar os desequilíbrios dos últimos anos. Na tentativa quase desesperada de impulsionar o crescimento, o governo Dilma estimulou o consumo interno, expandindo gastos públicos. Ocorre que o problema não estava na falta de demanda.
O desafio, ao contrário, era destravar a produção e os investimentos, algo que não ocorreu em parte devido ao intervencionismo estatal. Daí resultou o consumo interno acima da capacidade de produção do país, com a inflação em alta.
O ajuste chegou a fórceps, e o melhor que o governo tem a fazer é persistir na arrumação de contas.
Quanto ao setor privado, a redução dos custos internos e a desvalorização do real contribuirão para incentivar a produção. A menor pressão inflacionária permitirá a redução dos juros em alguns meses. A retomada virá e pode até surpreender em 2016, mas não sem antes cobrar um alto custo social. 

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