Rearranjo no PIB
Num resultado antevisto, economia recua no 1º trimestre; haverá ainda alto custo social antes de país conhecer uma retomada
FSP
A queda de 0,2% no PIB do primeiro trimestre (na comparação com o último
de 2014) confirmou o quadro recessivo já indicado pela piora do
emprego, das vendas no varejo e da produção industrial.
Está em curso uma forte mudança estrutural, fruto dos enormes equívocos
perpetrado no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (PT). Sem
dúvida doloroso, o rearranjo deve deixar a economia em melhores
condições de crescimento nos próximos anos.
Entre todos os indicadores divulgados nesta sexta-feira (29), chama a
atenção a retração de 1,5% no consumo das famílias no período, ritmo
observado somente em momentos de crise aguda, como no último trimestre
de 2008 ou durante o apagão de energia em 2001.
Trata-se de dado relevante porque o consumo tende a oscilar menos que
itens como os investimentos, sempre mais suscetíveis aos humores da
conjuntura.
Se as famílias gastaram menos no trimestre, não foi uma simples variação
momentânea, mas consequência do cenário anuviado: o desemprego aumenta
desde janeiro deste ano e a renda real (desconsiderada a inflação)
encolhe de forma significativa.
Os próximos meses serão difíceis. A maior perda de empregos formais (98
mil vagas) ocorreu em abril, e não há sinais de estabilização.
Projeta-se queda de até 1,5% no PIB no ano, com o fundo do poço a ser
atingido no terceiro trimestre.
A mudança fundamental em relação aos últimos anos é que o consumo
interno (soma de gastos de famílias e do governo) agora cai mais que a
oferta de bens e serviços. Assim, em breve se consolidará uma tendência
de redução da inflação que levará o Banco Central a encerrar a política
de alta de juros.
A economia nacional parece se reacomodar de modo a superar os
desequilíbrios dos últimos anos. Na tentativa quase desesperada de
impulsionar o crescimento, o governo Dilma estimulou o consumo interno,
expandindo gastos públicos. Ocorre que o problema não estava na falta de
demanda.
O desafio, ao contrário, era destravar a produção e os investimentos,
algo que não ocorreu em parte devido ao intervencionismo estatal. Daí
resultou o consumo interno acima da capacidade de produção do país, com a
inflação em alta.
O ajuste chegou a fórceps, e o melhor que o governo tem a fazer é persistir na arrumação de contas.
Quanto ao setor privado, a redução dos custos internos e a
desvalorização do real contribuirão para incentivar a produção. A menor
pressão inflacionária permitirá a redução dos juros em alguns meses. A
retomada virá e pode até surpreender em 2016, mas não sem antes cobrar
um alto custo social.
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