Maryline Baumard - Le Monde
Emile Anquetil não aprecia muito o debate que tem criado polêmica na fronteira franco-belga. O sexagenário passa dias felizes a 50 metros do território francês e a dois passos dos "gens du voyage" (nômades) instalados na área de acolhimento de Wattrelos, no departamento do Norte --"aqueles que as pessoas gostariam de ver sumir", ele explicou enquanto lavava seu trailer, na segunda-feira (25). "É preciso deixar a era dos muros", acredita Anquetil. "Berlim destruiu o seu, e farão o mesmo aqui, se construírem um. Passei metade da minha vida brincando de gato e rato com os agentes alfandegários para permitir que volte a existir uma fronteira."
A comuna de Wattrelos, limítrofe com Mouscron, na Bélgica, de fato
pretende erguer uma separação de 2,4 metros de altura e 5 centímetros de
espessura ao longo de 20 metros, entre a nova área de acolhimento,
prevista para 2016, e os primeiros moradores belgas. Esse novo
acampamento, previsto para receber as caravanas de 14 famílias nômades
que estão sedentarizadas há anos, estará mais próximo da fronteira do
que o anterior.
Antes mesmo de começarem as obras, a separação se deparou com dois obstáculos de aspecto simbólico. É difícil construir um muro sobre o traçado de uma fronteira que foi abolida pela Europa, sobretudo quando a ideia é tirar de vista um grupo de habitantes. Esse debate, que chegou até as instâncias europeias e depois voltou para o prefeito, é polêmico o suficiente para que, entre os ânimos mais exaltados, a "cerca" tenha se tornado um "muro" e a "área de nômades" tenha virado um "acampamento de ciganos".
A decisão foi tomada em dezembro de 2014. "Nós convocamos uma reunião pública à qual compareceram moradores belgas e franceses, bem como David Demestre, o porta-voz dos nômades. A cerca gradeada que propúnhamos foi considerada insuficiente. Os departamentos técnicos sugeriram torná-la opaca, e depois se decidiram, pressionados pela sala, por uma cerca de placas de concreto", lembra Henri Gadaut, o primeiro-adjunto do prefeito socialista de Wattrelos.
No início do ano, Gadaut foi explicar o projeto do outro lado da fronteira. A polêmica não nasceu naquele momento, mas sim no dia 15 de maio, quando o burgomestre de Mouscron, o centrista Alfred Gadenne, contou ao jornal belga "La Dernière Heure" ter arrancado esse muro dos franceses, e depois se retratou, diante do alvoroço causado.
Olivier Girardin e sua esposa, Christine van der Kampen, que moram no local, mantêm sua opinião. "A janela de nossa sala foi quebrada pela terceira vez por tiros de carabina de ar comprimido. No final de semana de 8 de maio, encontrei três bolinhas no jardim", lamenta Girardin. "Querem nos tachar de racistas sendo que só queremos desfrutar de nosso jardim e não ver nosso imóvel continuar se desvalorizando", diz Christine. Na vizinhança, as opiniões variam, e a vizinha deles, Anaïs Lamarque, 25, é a favor do diálogo. "Alguns anos atrás surpreendi adolescentes pescando carpas do meu laguinho com uma rede. Falei olho no olho com eles e isso nunca mais se repetiu."
E, como em uma história digna de constar nas melhores antologias belgas, aqueles que mais querem hoje a divisória são os próprios nômades. "Esse muro será muito bom para nossa intimidade e para a tranquilidade entre vizinhos", afirma David Demestre. "É importante para a segurança de nossos filhos e evitará que alguns deles façam besteira do lado de fora", diz o chefe do clã. Para essas famílias francesas, não existe um "muro da vergonha" e não é esse escândalo todo que parece ser.
No dia 25, um burburinho de raiva tomava conta da área. "Uma reportagem na televisão mostrou imagens de ciganos para falar de nosso acampamento, é uma afronta. Somos 'gens du voyage', franceses", lembra Pierre Desmetre, irmão de David, mostrando sua carteira de identidade. "Já tivemos de engolir as declarações de desprezo do burgomestre belga, que fala de nós como coisas que colocam perto de sua fronteira, e agora nos chamam de ciganos", lamenta o porta-voz, citando um povo que é mais discriminado que o dele...
Antes mesmo de começarem as obras, a separação se deparou com dois obstáculos de aspecto simbólico. É difícil construir um muro sobre o traçado de uma fronteira que foi abolida pela Europa, sobretudo quando a ideia é tirar de vista um grupo de habitantes. Esse debate, que chegou até as instâncias europeias e depois voltou para o prefeito, é polêmico o suficiente para que, entre os ânimos mais exaltados, a "cerca" tenha se tornado um "muro" e a "área de nômades" tenha virado um "acampamento de ciganos".
A decisão foi tomada em dezembro de 2014. "Nós convocamos uma reunião pública à qual compareceram moradores belgas e franceses, bem como David Demestre, o porta-voz dos nômades. A cerca gradeada que propúnhamos foi considerada insuficiente. Os departamentos técnicos sugeriram torná-la opaca, e depois se decidiram, pressionados pela sala, por uma cerca de placas de concreto", lembra Henri Gadaut, o primeiro-adjunto do prefeito socialista de Wattrelos.
No início do ano, Gadaut foi explicar o projeto do outro lado da fronteira. A polêmica não nasceu naquele momento, mas sim no dia 15 de maio, quando o burgomestre de Mouscron, o centrista Alfred Gadenne, contou ao jornal belga "La Dernière Heure" ter arrancado esse muro dos franceses, e depois se retratou, diante do alvoroço causado.
Olivier Girardin e sua esposa, Christine van der Kampen, que moram no local, mantêm sua opinião. "A janela de nossa sala foi quebrada pela terceira vez por tiros de carabina de ar comprimido. No final de semana de 8 de maio, encontrei três bolinhas no jardim", lamenta Girardin. "Querem nos tachar de racistas sendo que só queremos desfrutar de nosso jardim e não ver nosso imóvel continuar se desvalorizando", diz Christine. Na vizinhança, as opiniões variam, e a vizinha deles, Anaïs Lamarque, 25, é a favor do diálogo. "Alguns anos atrás surpreendi adolescentes pescando carpas do meu laguinho com uma rede. Falei olho no olho com eles e isso nunca mais se repetiu."
E, como em uma história digna de constar nas melhores antologias belgas, aqueles que mais querem hoje a divisória são os próprios nômades. "Esse muro será muito bom para nossa intimidade e para a tranquilidade entre vizinhos", afirma David Demestre. "É importante para a segurança de nossos filhos e evitará que alguns deles façam besteira do lado de fora", diz o chefe do clã. Para essas famílias francesas, não existe um "muro da vergonha" e não é esse escândalo todo que parece ser.
No dia 25, um burburinho de raiva tomava conta da área. "Uma reportagem na televisão mostrou imagens de ciganos para falar de nosso acampamento, é uma afronta. Somos 'gens du voyage', franceses", lembra Pierre Desmetre, irmão de David, mostrando sua carteira de identidade. "Já tivemos de engolir as declarações de desprezo do burgomestre belga, que fala de nós como coisas que colocam perto de sua fronteira, e agora nos chamam de ciganos", lamenta o porta-voz, citando um povo que é mais discriminado que o dele...
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