domingo, 31 de maio de 2015

Relaxe, o Exterminador ainda está bem longe
John Markoff - NYT
AP/Carolyn Kaster
"Não entendo por que algumas pessoas não estão preocupadas", disse Bill Gates "Não entendo por que algumas pessoas não estão preocupadas", disse Bill Gates
Em filmes de ficção científica como "Ex Machina" e "Chappie", os robôs se movem com uma destreza impressionante –-e com frequência maligna. Eles parecem confirmar os piores medos de importantes cientistas e especialistas em tecnologia como Elon Musk, Stephen Hawking e Bill Gates, que recentemente alertaram para o possível surgimento de máquinas conscientes de si mesmas, prontas para fazer mal à espécie humana.
"Não entendo por que algumas pessoas não estão preocupadas", disse Gates em uma entrevista no Reddit.
"Acho que devemos ser muito cautelosos com a inteligência artificial", disse Musk durante uma entrevista no MIT. "Se eu tivesse que opinar sobre qual é a maior ameaça à nossa existência, seria provavelmente esta", acrescentou. Ele também disse que a inteligência artificial vai "invocar o demônio".
E Hawking disse à BBC que "o desenvolvimento total da inteligência artificial pode significar o fim da espécie humana."
Não tão rápido. No mês que vem, a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (Darpa, na sigla em inglês), um braço de pesquisa do Pentágono, realizará a etapa final da competição de seu Desafio de Robótica, em Pomona, Califórnia. Com US$ 2 milhões em prêmios em dinheiro para o robô que apresentar o melhor desempenho em uma série de tarefas orientadas para o resgate em menos de uma hora, o evento oferecerá o que os engenheiros chamam de "ground truth" [a verdade absoluta] –-um teste de realidade do estado da arte no campo da robótica móvel.
Uma prévia do trabalho deles sugere que ninguém precisa se preocupar com um Exterminador criando o caos num futuro próximo. Com um ano e meio para melhorar suas máquinas, os especialistas em robótica, que compartilharam detalhes sobre seu trabalho em entrevistas antes do concurso que acontece em junho, parecem ter feito um progresso limitado.
No concurso anterior, em dezembro de 2013 na Flórida, os robôs, que eram protegidos das quedas por cordas, eram extremamente lentos para realizar tarefas como abrir portas e entrar em salas, limpar entulho, subir escadas e dirigir numa pista com obstáculos. (Os robôs tiveram de ser colocados nos veículos por pessoas.)
Os repórteres que cobriram o evento recorreram a analogias como "assistir à tinta secar" ou "assistir à grama crescer".
Este ano, os robôs terão uma hora para completar um conjunto de oito tarefas que provavelmente levam menos de dez minutos para serem realizadas por um ser humano. E os robôs tendem a falhar em muitas. Desta vez, eles vão competir sem cabos, por isso algumas quedas podem ser inevitáveis. E eles ainda vão precisar de ajuda para subir no banco do motorista de um veículo de resgate.
Vinte e cinco equipes devem participar da competição. A maioria dos robôs tem duas pernas, mas muitos têm quatro pernas, vários têm rodas, e um "transformer" foi projetado para andar sobre duas ou quatro pernas. Esse robô, chamado Chimp por seus projetistas da Universidade Carnegie Mellon, pesa 200 quilos.
Nenhum dos robôs será autônomo. Operadores humanos guiarão as máquinas através de redes sem fio que podem atrasar um pouco o fluxo dos dados, para simular a intermitência das comunicações durante uma crise. Isto dará uma vantagem para máquinas que podem agir de forma semiautônoma, caminhando automaticamente em terrenos irregulares ou pegando e girando uma maçaneta para abrir uma porta, por exemplo. Mas as máquinas continuarão em grande parte impotentes sem seus supervisores humanos.
"A coisa mais extraordinária que tem acontecido nos últimos cinco anos é que parece que fizemos um progresso extraordinário na percepção das máquinas", disse Gill Pratt, gerente do programa Darpa encarregado do Desafio de Robótica.
Hardwares e softwares de reconhecimento de padrões possibilitaram que os computadores fizessem um progresso excepcional na visão computadorizada e na compreensão da fala. Por outro lado, diz Pratt, pouco progresso foi feito em termos de "cognição", ou seja, nos processos de alto nível, similares aos humanos, necessários para que os robôs planejem e ganhem verdadeira autonomia. Como resultado, tanto no Concurso Darpa quanto no campo da robótica no geral, voltou-se a enfatizar a ideia de parcerias homem-máquina.
"É extremamente importante lembrar que o Desafio de Robótica Darpa diz respeito a uma equipe de seres humanos e máquinas trabalhando juntos", disse ele. "Sem a pessoa, essas máquinas mal poderiam fazer qualquer coisa."
Há décadas, pesquisadores de inteligência artificial vêm observando que as tarefas mais simples para os seres humanos, como procurar uma moeda no bolso, são as mais desafiadoras para as máquinas.
"A ideia intuitiva é que quanto mais dinheiro você gastar em um robô, mais autonomia você vai conseguir colocar nele", diz Rodney Brooks, especialista em robótica do MIT e cofundador de duas empresas pioneiras no campo, iRobot e Rethink Robotics. "A verdade é o contrário disso: "quanto mais barato o robô, mais autonomia ele tem".
Por exemplo, o robô Roomba da iRobot é autônomo, mas a tarefa de aspirar que ele executa ao vagar pelos cômodos é extremamente simples. Em contrapartida, o Packbot da empresa, projetado para desarmar bombas, é mais caro e deve ser operado à distância ou controlado via wireless por seres humanos.
O primeiro desafio Darpa, há mais de uma década, teve um grande efeito sobre a percepção dos robôs. E também ajudou a incitar um interesse maior pelos setores de inteligência artificial e robótica.
Durante o primeiro desafio Darpa em 2004, nenhum dos veículos robóticos foi capaz de completar mais de 11 dos 240 quilômetros do percurso. No entanto, durante o desafio de 2005, um prêmio de US$ 2 milhões foi reivindicado por um grupo de pesquisadores de inteligência artificial da Universidade de Stanford cujo veículo derrotou um concorrente da Carnegie Mellon em uma disputa apertada.
O concurso fez com que o Google decidisse começar um projeto de um carro autoguiado, que por sua vez estimulou a indústria automotiva a investir em peso na tecnologia de veículos autônomos.
Desenvolver um carro para dirigir numa estrada sem obstáculos foi uma tarefa muito mais simples do que o atual Desafio de Robótica Darpa, que exige que os robôs dirijam e, enquanto estão andando, contornem obstáculos, removam escombros, usem a visão, peguem as coisas com destreza e realizem tarefas com ferramentas.
"Nós tivemos uma tarefa relativamente fácil", disse Sebastian Thrun, especialista em robótica que liderou a equipe de Stanford em 2005 e depois começou o projeto de carro autoguiado do Google. "Hoje eles estão fazendo coisas mais difíceis."
Tradutor: Eloise De Vylder           

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