Novo desalento
Ausência de plano de longo prazo, isolamento político de Dilma e
irresponsabilidade do Congresso ajudam a piorar quadro econômico
FSP
Depois de breve alívio em abril, a apreensão sobre o futuro da economia
voltou a aumentar, e o pessimismo não se deve apenas a uma degradação
dos indicadores econômicos acima do que se esperava.
Contribuem para o desalento a incapacidade do governo Dilma Rousseff
(PT) de apresentar um plano maior e mais duradouro de rearranjo da
economia, o renovado isolamento político da presidente e o
descompromisso do Congresso com a razão e a responsabilidade.
O total de salários pagos nas maiores metrópoles do país foi, em maio deste ano, 5,7% menor que no mesmo mês de 2014.
Em abril, estimava-se inflação pouco superior a 8% em 2015, cifra que já
havia sido em muito revista para cima, dado o choque de preços que o
governo tabelou até 2014. Agora, mesmo a projeção do Banco Central
alcança os 9%, taxa inédita faz 12 anos.
O BC reiterou ademais sua intenção de conduzir a inflação à meta de
4,5%, tão desprezada nos últimos cinco anos. Trata-se da promessa de
elevar ainda mais os juros, por mais tempo.
Quase tão certo quanto o aperto monetário extra é o fracasso parcial do
plano de redução do desequilíbrio das contas do governo, o tão falado
ajuste fiscal.
Há pouco mais de um mês, os ministros da área econômica apresentaram uma
versão menos fantasiosa do Orçamento de 2015, na qual se contava,
entretanto, com uma alta irrealista de mais de 5% na arrecadação
federal. O mês de maio deu cabo da ilusão. A receita continua a cair,
mais de 3%, em relação a 2014. Não será possível alcançar a meta de
economia de gastos.
Sabia-se desde o início do ano que o ajuste possível seria modesto,
dadas as dificuldades práticas e políticas. Mesmo esse plano, contudo,
terá de ser reduzido.
Mais importante, não se vislumbra a apresentação de medidas para cumprir
o pacto implícito de que a situação estará sob controle daqui a dois ou
três anos --condição para que o estado presente da economia não se
deteriore ainda mais.
Como se não fosse o suficiente, a inquietação com o futuro se agrava
quando se observa o Congresso --a Câmara, em particular-- a ultrapassar
os limites de sua irresponsabilidade habitual em matéria de contas
públicas, votando outra medida ruinosa para a Previdência.
O desarranjo se intensifica outra vez devido aos escândalos de corrupção
pública e privada e ao descrédito do governo Dilma --criticado por dois
terços do eleitorado, sitiado pelo PMDB e desacreditado pelo próprio
PT, que abertamente condena a política econômica.
Não se sabe de onde a presidente Dilma Rousseff buscará forças para
tanto, mas tal maré de problemas apenas poderá ser superada, no médio
prazo, caso o governo apresente um plano profundo, ambicioso e pactuado
de reformas.
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