Raphael Minder - NYT
Laura Leon/The New York Time
Antes de embarcar em um trem com destino a Paris na semana passada,
armado com um fuzil de assalto e com intenção de provocar um banho de
sangue, disseram as autoridades, Ayoud El-Khazzani passou a etapa final
de seu período problemático na Espanha em Algeciras, cidade portuária da
Espanha, morando em um bloco de apartamentos decrépito com seus pais, a
uma distância de caminhada da mesquita local.
A mesquita, Taqwa, estava sob vigilância policial desde o primeiro dia em que começaram as obras para transformar o que antes era uma oficina de automóveis em um local de adoração, reconheceu em uma entrevista Nordi Mohamed Ahmed, vice-presidente da associação que dirige a mesquita.
Mas apesar das autoridades apontarem para a mesquita como parte crucial da transformação de El-Khazzani de um vendedor de haxixe insignificante em alguém suspeito de ser um radical, Mohamed Ahmed disse que a pregação no local não foi a culpada.
"As mulheres são autorizadas a rezar aqui", ele disse, "o que certamente não aconteceria se este fosse um local radical".
A mesquita, Taqwa, estava sob vigilância policial desde o primeiro dia em que começaram as obras para transformar o que antes era uma oficina de automóveis em um local de adoração, reconheceu em uma entrevista Nordi Mohamed Ahmed, vice-presidente da associação que dirige a mesquita.
Mas apesar das autoridades apontarem para a mesquita como parte crucial da transformação de El-Khazzani de um vendedor de haxixe insignificante em alguém suspeito de ser um radical, Mohamed Ahmed disse que a pregação no local não foi a culpada.
"As mulheres são autorizadas a rezar aqui", ele disse, "o que certamente não aconteceria se este fosse um local radical".
Mesmo assim, a associação de El-Khazzani com a mesquita, onde seu pai
ajudou na reforma e continua como zelador, e onde seu irmão já serviu
como tesoureiro, aparentemente bastou para persuadir as autoridades
espanhóis a também colocá-lo sob vigilância.
Sua prisão após ter sido dominado pelos passageiros, incluindo dois militares americanos em férias e o amigo deles, aumentou a desconfiança –desagradável, para as pessoas daqui– à mesquita. Também ressaltou a intensa vigilância pelas autoridades espanholas de várias ameaças potenciais que estão se multiplicando rapidamente, assim como em um número crescente de países europeus, e expondo as falhas de compartilhamento de inteligência entre eles.
Os serviços de inteligência espanhóis informaram aos seus pares franceses que El-Khazzani, 25 anos, que tinha uma carteira de residência espanhola, mas passaporte marroquino, era uma ameaça potencial em fevereiro de 2014, enquanto partia de Algeciras para a França. Mas isso contribuiu pouco para deter seu plano de realizar o que o presidente francês, François Hollande, disse que teria sido "um massacre".
Antes disso, El-Khazzani morava com seus pais, que emigraram de Tétouan, Marrocos, se juntando a eles primeiro em Madri, em 2007, e depois aqui, em um dos bairros mais pobres de uma cidade industrial. Em Madri, ele foi detido por suspeita de venda de haxixe em Lavapiés, um bairro de imigrantes, e detido duas vezes em 2009.
Antonio Sanz, o representante da região sulista de Andaluzia no governo nacional, disse na segunda-feira que El-Khazzani poderia ser um exemplo de "fusão entre radicalismo e narcotráfico".
Mesmo que El-Khazzani não exercesse um papel oficial na mesquita de Taqwa, ele é lembrado por amigos aqui não apenas como devoto, mas também determinado a não se envolver com a rede de tráfico de haxixe em Algeciras, uma cidade de cerca de 117 mil habitantes que é o principal porto de trânsito entre a Espanha e o Marrocos.
"Ele era respeitoso, nunca procurava por encrenca e realmente não era um dos sujeitos perambulando pelas ruas", disse Javier Sánchez, 23 anos, que mora dois andares acima do apartamento da família El-Khazzani e jogava futebol regularmente com El-Khazzani.
Mas o aparente esforço de El-Khazzani de se endireitar levou a sua crescente associação com a mesquita de Taqwa, que François Molins, o promotor-chefe em Paris, descreveu em uma coletiva de imprensa na terça-feira como "conhecida por suas pregações radicais".
El-Khazzani encontrou emprego de meio expediente em uma casa de chá marroquina, mas nunca um emprego estável –como quase todas as pessoas entrevistadas em seu antigo bairro, El Saladillo. A taxa de desemprego em Algeciras se encontra em 40%.
Quando os serviços de inteligência espanhóis alertaram a França sobre os movimentos de El-Khazzani, ele estava partindo da Espanha para a França após conseguir um contrato de trabalho, assim como muitos outros marroquinos à procura de emprego que moravam em Algeciras, em uma subsidiária francesa de uma empresa de telecomunicações, a Lycamobile.
O contrato, que exigia que ele distribuísse panfletos para clientes potenciais nos arredores de Paris, era uma oportunidade de recomeçar após uma juventude de desemprego e ausência de vínculos, segundo seu pai e outros moradores de El Saladillo.
"Ele partiu para a França achando que tinha encontrado um bom emprego, mas em vez disso eles o chutaram para fora e o deixaram sem nada e sem dinheiro", disse o pai de El-Khazzani. "Eu não sei o que deu errado."
Alain Jochimek, o diretor francês da Lycamobile, disse à rádio "France Info" que a empresa não renovou o contrato de curto prazo de El-Khazzani porque ele não possuía os documentos de trabalho para permanecer na França.
Ignacio Álvarez-Ossorio, um professor de estudos árabes da Universidade de Alicante, disse que El-Khazzani parece se "encaixar no perfil" do radicalismo islâmico na Espanha, que se limita a pessoas economicamente marginalizadas e "com muito menos escolaridade" do que alguns dos combatentes islâmicos criados na França ou no Reino Unido.
Na terça-feira, uma dúzia de homens compareceu para as orações do anoitecer em Taqwa. Mohamed Ali Mustafa Amar, outro membro da associação da mesquita, explicou que até 100 pessoas costumam estar presentes nas orações de sexta-feira, mas que alguns fiéis agora estão mantendo distância por causa da atenção indesejada causada por seu ex-integrante.
"São pessoas humildes que vêm para rezar a Deus e certamente não pensam em terrorismo", ele disse. "É absurdo procurar por algo radical aqui."
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Sua prisão após ter sido dominado pelos passageiros, incluindo dois militares americanos em férias e o amigo deles, aumentou a desconfiança –desagradável, para as pessoas daqui– à mesquita. Também ressaltou a intensa vigilância pelas autoridades espanholas de várias ameaças potenciais que estão se multiplicando rapidamente, assim como em um número crescente de países europeus, e expondo as falhas de compartilhamento de inteligência entre eles.
Os serviços de inteligência espanhóis informaram aos seus pares franceses que El-Khazzani, 25 anos, que tinha uma carteira de residência espanhola, mas passaporte marroquino, era uma ameaça potencial em fevereiro de 2014, enquanto partia de Algeciras para a França. Mas isso contribuiu pouco para deter seu plano de realizar o que o presidente francês, François Hollande, disse que teria sido "um massacre".
Antes disso, El-Khazzani morava com seus pais, que emigraram de Tétouan, Marrocos, se juntando a eles primeiro em Madri, em 2007, e depois aqui, em um dos bairros mais pobres de uma cidade industrial. Em Madri, ele foi detido por suspeita de venda de haxixe em Lavapiés, um bairro de imigrantes, e detido duas vezes em 2009.
Antonio Sanz, o representante da região sulista de Andaluzia no governo nacional, disse na segunda-feira que El-Khazzani poderia ser um exemplo de "fusão entre radicalismo e narcotráfico".
Mesmo que El-Khazzani não exercesse um papel oficial na mesquita de Taqwa, ele é lembrado por amigos aqui não apenas como devoto, mas também determinado a não se envolver com a rede de tráfico de haxixe em Algeciras, uma cidade de cerca de 117 mil habitantes que é o principal porto de trânsito entre a Espanha e o Marrocos.
"Ele era respeitoso, nunca procurava por encrenca e realmente não era um dos sujeitos perambulando pelas ruas", disse Javier Sánchez, 23 anos, que mora dois andares acima do apartamento da família El-Khazzani e jogava futebol regularmente com El-Khazzani.
Mas o aparente esforço de El-Khazzani de se endireitar levou a sua crescente associação com a mesquita de Taqwa, que François Molins, o promotor-chefe em Paris, descreveu em uma coletiva de imprensa na terça-feira como "conhecida por suas pregações radicais".
El-Khazzani encontrou emprego de meio expediente em uma casa de chá marroquina, mas nunca um emprego estável –como quase todas as pessoas entrevistadas em seu antigo bairro, El Saladillo. A taxa de desemprego em Algeciras se encontra em 40%.
Quando os serviços de inteligência espanhóis alertaram a França sobre os movimentos de El-Khazzani, ele estava partindo da Espanha para a França após conseguir um contrato de trabalho, assim como muitos outros marroquinos à procura de emprego que moravam em Algeciras, em uma subsidiária francesa de uma empresa de telecomunicações, a Lycamobile.
O contrato, que exigia que ele distribuísse panfletos para clientes potenciais nos arredores de Paris, era uma oportunidade de recomeçar após uma juventude de desemprego e ausência de vínculos, segundo seu pai e outros moradores de El Saladillo.
"Ele partiu para a França achando que tinha encontrado um bom emprego, mas em vez disso eles o chutaram para fora e o deixaram sem nada e sem dinheiro", disse o pai de El-Khazzani. "Eu não sei o que deu errado."
Alain Jochimek, o diretor francês da Lycamobile, disse à rádio "France Info" que a empresa não renovou o contrato de curto prazo de El-Khazzani porque ele não possuía os documentos de trabalho para permanecer na França.
Ignacio Álvarez-Ossorio, um professor de estudos árabes da Universidade de Alicante, disse que El-Khazzani parece se "encaixar no perfil" do radicalismo islâmico na Espanha, que se limita a pessoas economicamente marginalizadas e "com muito menos escolaridade" do que alguns dos combatentes islâmicos criados na França ou no Reino Unido.
Na terça-feira, uma dúzia de homens compareceu para as orações do anoitecer em Taqwa. Mohamed Ali Mustafa Amar, outro membro da associação da mesquita, explicou que até 100 pessoas costumam estar presentes nas orações de sexta-feira, mas que alguns fiéis agora estão mantendo distância por causa da atenção indesejada causada por seu ex-integrante.
"São pessoas humildes que vêm para rezar a Deus e certamente não pensam em terrorismo", ele disse. "É absurdo procurar por algo radical aqui."
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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