Margot Sanger Katz - NYT
Kayana Szymczak/The New York Times
Becky Lopes-Filho e seu filho, Sebastian Lopes-Filho, bolachas d'água em um parque em Cambridge, no Estado americano de Massachusetts
Depois de décadas de uma alimentação cada vez pior e de um aumento acentuado da obesidade, os hábitos alimentares dos norte-americanos começaram a mudar para melhor.
A quantidade de calorias
consumidas diariamente pelo adulto norte-americano médio, que chegou a
um pico por volta de 2003, está sofrendo a primeira queda consistente
desde que as estatísticas federais começaram a acompanhar o assunto,
mais de 40 anos atrás. A quantidade de calorias que a criança
norte-americana média consome diariamente caiu ainda mais –-em pelo
menos 9%.
A queda aconteceu na maioria dos grupos demográficos –-inclusive entre as famílias de alta e baixa renda, brancos e negros-– embora varie um pouco de acordo com o grupo.
Na mudança mais marcante, a quantidade de refrigerantes super-calóricos consumida pelo norte-americano médio caiu 25% desde o final da década de 1990.
Enquanto o consumo de calorias diminuiu, as taxas de obesidade parecem ter parado de subir entre os adultos e crianças em idade escolar e caíram entre as crianças menores, o que sugere que a redução de calorias está fazendo diferença.
A reversão parece vir do fato de as pessoas compreenderem cada vez mais que estão prejudicando a saúde comendo e bebendo demais. A consciência começou a crescer no final dos anos 1990, graças a uma explosão de pesquisas científicas sobre os custos da obesidade, e a campanhas de saúde pública nos últimos anos.
Os dados encorajadores não significam o fim da epidemia de obesidade: mais de um terço dos adultos norte-americanos ainda são considerados obesos, apresentando um risco maior de diabetes, doenças cardíacas e câncer. Os americanos ainda estão comendo poucas frutas e vegetais e muita comida industrializada, ainda que em menor quantidade, dizem especialistas.
Mas as mudanças nos hábitos alimentares sugerem que o que antes parecia um declínio inexorável da saúde pode finalmente estar mudando de rumo. Desde meados dos anos 1970, quando os hábitos alimentares dos Estados Unidos começaram a mudar rapidamente, o consumo de calorias esteve num crescimento quase constante.
"Eu acho que as pessoas estão entendendo a mensagem, e a alimentação está melhorando lentamente", disse Dr. Dariush Mozaffarian, reitor da Escola Friedman de Ciências e Políticas da Nutrição na Universidade Tufts.
Barry Popkin, professor da Universidade da Carolina do Norte que tem estudado extensivamente os dados alimentares, descreveu a tendência como um "ponto de virada".
Não há uma forma perfeita de medir o consumo de calorias nos EUA. Mas três grandes fontes de dados sobre os hábitos alimentares apontam na mesma direção. Diários alimentares detalhados acompanhados por pesquisadores do governo, dados dos códigos de barras dos alimentos e estimativas sobre a produção de alimentos, todos mostram reduções na quantidade de calorias consumidas pelo norte-americano médio desde o início de 2000. Esses sinais, junto com a interrupção do aumento da taxa de obesidade nacional, convenceram muitos pesquisadores de saúde pública de que as mudanças são significativas.
As mudanças alimentares foram mais significativas nos lares com crianças. O filho de 4 anos de idade de Becky Lopes-Filho, Sebastian, estava sempre no topo do peso da tabela de crescimento. Lopes-Filho, 35, é gerente de operações de uma pizzaria em Cambridge, Massachusetts, e seu filho, assim como ela, adora comer. À medida que ele foi crescendo, ela foi ficando mais preocupada com o desejo dele por doces. Em vez de um cookie por dia, ela agora vem tentando limitar a um por semana. "Se deixar, ele perde o controle", disse ela. "Acho que ele tenderia a ser uma criança super obesa."
Não existe um momento específico em que as atitudes dos EUA em relação à alimentação mudaram, mas os pesquisadores apontam um estudo de 1999 como um avanço. Naquele ano, os pesquisadores dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças publicaram um artigo no Journal of American Medical Association que foi muito divulgado.
Pouco depois, o ministro da saúde David Satcher publicou um relatório –-"Chamada para Ação para Prevenir e Diminuir o Sobrepeso e a Obesidade"-– inspirado no famoso relatório de 1964 sobre o tabaco. O relatório de 2001 resumia as evidências crescentes de que a obesidade era um fator de risco para várias doenças crônicas, e dizia que controlar o peso das crianças deve ser uma prioridade para prevenir o aparecimento de doenças relacionadas à obesidade.
Lentamente, as mensagens parecem ter caído no esquecimento do público. Em 2003, 60% dos norte-americanos diziam que queriam perder peso, de acordo com a Gallup, acima dos 52% em 1990 e 35% na década de 1950.
O governo Obama aumentou a pressão. A Lei da Saúde Acessível, aprovada em 2010, exigia que redes de restaurantes publicassem o conteúdo calórico de suas refeições. O governo federal também mudou as exigências, tornando a merenda escolar mais saudável, embora a iniciativa tenha gerado reações contrárias.
As campanhas de saúde pública contra a obesidade têm se concentrado num tema mais do que qualquer outro: as bebidas.
As mensagens contra os refrigerantes acertaram o alvo. Os norte-americanos, em média, compravam 151 litros de refrigerantes calóricos por ano em 1998, de acordo com dados de vendas da publicação Beaverage Digest, do setor de bebidas, analisados pelo Centro para Ciência de Interesse Público. Esse número caiu para 30 litros em 2014, mais ou menos o nível que os americanos compravam em 1980, antes de as taxas de obesidade decolarem.
"Acho que cada vez mais, a atitude neste país é de que não é uma boa ideia tomar muito refrigerante", disse Satcher, hoje professor da Morehouse School of Medicine, em Atlanta.
As empresas de bebidas têm reagido fazendo propaganda de bebidas dietéticas e investindo fortemente em novos produtos, incluindo chás gelados e água aromatizada.
"Muitas das mudanças que estamos vendo são motivadas pelo consumidor", disse John Sicher, editor da Beverage Digest.
Talvez a maior ressalva à tendência seja que ela não parece se estender aos norte-americanos mais pesados. Entre as pessoas com mais sobrepeso, o peso e a cintura continuaram aumentando nos últimos anos.
A redução recente nas calorias parece ser boa notícia, mas só isso não será suficiente para reverter a epidemia de obesidade. Um artigo de Kevin Hall, pesquisador do Instituto Nacional de Saúde, estimou que para os norte-americanos voltarem ao peso corporal dos anos 1978 até 2020, um adulto médio teria de reduzir o consumo de calorias em 220 por dia. As reduções recentes são apenas uma fração dessa mudança.
Tradutor: Eloise De Vylder
A queda aconteceu na maioria dos grupos demográficos –-inclusive entre as famílias de alta e baixa renda, brancos e negros-– embora varie um pouco de acordo com o grupo.
Na mudança mais marcante, a quantidade de refrigerantes super-calóricos consumida pelo norte-americano médio caiu 25% desde o final da década de 1990.
Enquanto o consumo de calorias diminuiu, as taxas de obesidade parecem ter parado de subir entre os adultos e crianças em idade escolar e caíram entre as crianças menores, o que sugere que a redução de calorias está fazendo diferença.
A reversão parece vir do fato de as pessoas compreenderem cada vez mais que estão prejudicando a saúde comendo e bebendo demais. A consciência começou a crescer no final dos anos 1990, graças a uma explosão de pesquisas científicas sobre os custos da obesidade, e a campanhas de saúde pública nos últimos anos.
Os dados encorajadores não significam o fim da epidemia de obesidade: mais de um terço dos adultos norte-americanos ainda são considerados obesos, apresentando um risco maior de diabetes, doenças cardíacas e câncer. Os americanos ainda estão comendo poucas frutas e vegetais e muita comida industrializada, ainda que em menor quantidade, dizem especialistas.
Mas as mudanças nos hábitos alimentares sugerem que o que antes parecia um declínio inexorável da saúde pode finalmente estar mudando de rumo. Desde meados dos anos 1970, quando os hábitos alimentares dos Estados Unidos começaram a mudar rapidamente, o consumo de calorias esteve num crescimento quase constante.
"Eu acho que as pessoas estão entendendo a mensagem, e a alimentação está melhorando lentamente", disse Dr. Dariush Mozaffarian, reitor da Escola Friedman de Ciências e Políticas da Nutrição na Universidade Tufts.
Barry Popkin, professor da Universidade da Carolina do Norte que tem estudado extensivamente os dados alimentares, descreveu a tendência como um "ponto de virada".
Não há uma forma perfeita de medir o consumo de calorias nos EUA. Mas três grandes fontes de dados sobre os hábitos alimentares apontam na mesma direção. Diários alimentares detalhados acompanhados por pesquisadores do governo, dados dos códigos de barras dos alimentos e estimativas sobre a produção de alimentos, todos mostram reduções na quantidade de calorias consumidas pelo norte-americano médio desde o início de 2000. Esses sinais, junto com a interrupção do aumento da taxa de obesidade nacional, convenceram muitos pesquisadores de saúde pública de que as mudanças são significativas.
As mudanças alimentares foram mais significativas nos lares com crianças. O filho de 4 anos de idade de Becky Lopes-Filho, Sebastian, estava sempre no topo do peso da tabela de crescimento. Lopes-Filho, 35, é gerente de operações de uma pizzaria em Cambridge, Massachusetts, e seu filho, assim como ela, adora comer. À medida que ele foi crescendo, ela foi ficando mais preocupada com o desejo dele por doces. Em vez de um cookie por dia, ela agora vem tentando limitar a um por semana. "Se deixar, ele perde o controle", disse ela. "Acho que ele tenderia a ser uma criança super obesa."
Não existe um momento específico em que as atitudes dos EUA em relação à alimentação mudaram, mas os pesquisadores apontam um estudo de 1999 como um avanço. Naquele ano, os pesquisadores dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças publicaram um artigo no Journal of American Medical Association que foi muito divulgado.
Pouco depois, o ministro da saúde David Satcher publicou um relatório –-"Chamada para Ação para Prevenir e Diminuir o Sobrepeso e a Obesidade"-– inspirado no famoso relatório de 1964 sobre o tabaco. O relatório de 2001 resumia as evidências crescentes de que a obesidade era um fator de risco para várias doenças crônicas, e dizia que controlar o peso das crianças deve ser uma prioridade para prevenir o aparecimento de doenças relacionadas à obesidade.
Lentamente, as mensagens parecem ter caído no esquecimento do público. Em 2003, 60% dos norte-americanos diziam que queriam perder peso, de acordo com a Gallup, acima dos 52% em 1990 e 35% na década de 1950.
O governo Obama aumentou a pressão. A Lei da Saúde Acessível, aprovada em 2010, exigia que redes de restaurantes publicassem o conteúdo calórico de suas refeições. O governo federal também mudou as exigências, tornando a merenda escolar mais saudável, embora a iniciativa tenha gerado reações contrárias.
As campanhas de saúde pública contra a obesidade têm se concentrado num tema mais do que qualquer outro: as bebidas.
As mensagens contra os refrigerantes acertaram o alvo. Os norte-americanos, em média, compravam 151 litros de refrigerantes calóricos por ano em 1998, de acordo com dados de vendas da publicação Beaverage Digest, do setor de bebidas, analisados pelo Centro para Ciência de Interesse Público. Esse número caiu para 30 litros em 2014, mais ou menos o nível que os americanos compravam em 1980, antes de as taxas de obesidade decolarem.
"Acho que cada vez mais, a atitude neste país é de que não é uma boa ideia tomar muito refrigerante", disse Satcher, hoje professor da Morehouse School of Medicine, em Atlanta.
As empresas de bebidas têm reagido fazendo propaganda de bebidas dietéticas e investindo fortemente em novos produtos, incluindo chás gelados e água aromatizada.
"Muitas das mudanças que estamos vendo são motivadas pelo consumidor", disse John Sicher, editor da Beverage Digest.
Talvez a maior ressalva à tendência seja que ela não parece se estender aos norte-americanos mais pesados. Entre as pessoas com mais sobrepeso, o peso e a cintura continuaram aumentando nos últimos anos.
A redução recente nas calorias parece ser boa notícia, mas só isso não será suficiente para reverter a epidemia de obesidade. Um artigo de Kevin Hall, pesquisador do Instituto Nacional de Saúde, estimou que para os norte-americanos voltarem ao peso corporal dos anos 1978 até 2020, um adulto médio teria de reduzir o consumo de calorias em 220 por dia. As reduções recentes são apenas uma fração dessa mudança.
Tradutor: Eloise De Vylder
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