sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Quanto perdemos?
João Cesar de Melo - IL
Por que o governo não aproveita o momento e faz o serviço completo?
Quanto a sociedade brasileira perdeu, ao longo de sua história, ao ser obrigada a manter um Estado tão gordo, tão lento, tão dispendioso?
A primeira pergunta é respondida pelos liberais há muito tempo: Porque a política tende a utilizar a máquina pública para se preservar, o que se acentua quando um governo é de esquerda, já que sua militância é muito maior e depende fundamentalmente dos salários, dos repasses e dos patrocínios do Estado.
A segunda pergunta nos lembra de que quem está na presidência ainda é um partido de extrema-esquerda que continuará evitando reduzir o Estado a uma escala que diminua seu poder.
A terceira pergunta me lembra de um caso muito triste…
Numa esquina próxima a casa onde morei em Vila Velha-ES, acontecia acidentes quase diariamente. Muitas pessoas morreram e se machucaram gravemente. Famílias foram despedaças ou passaram por grandes sofrimentos por causa da falta de sinalização. Minha mãe, que tinha uma pequena escola ali perto, vivia encaminhando ao governo pedidos de providências enquanto moradores improvisavam lombadas que sempre eram desfeitas pelo mesmo poder público que se negava a instalar um simples semáforo. Mas então, um atropelamento ganhou as manchetes dos jornais, finalmente sensibilizando o governo.
Dias depois, enquanto minha mãe acompanhava a instalação do semáforo, um homem se aproximou, olhou aquela tralha toda sendo erguida e murmurou: “Esperaram minha filha morrer…”.
Quantas dezenas pessoas morreram e sofreram por causa da ineficiência, da lentidão e da insensibilidade estatal?
Quantas pessoas foram impedidas de deixar a pobreza por meio de seus próprios esforços?
Quantas pessoas tiveram seus negócios arruinados pelas dificuldades criadas pelo governo?
Quantas tecnologias, quantas patentes, quantas fábricas, quantos quilômetros de ferrovias e de redes de esgoto deixaram de ser construídos por causa da ação parasitária do Estado?
Existem muitos estudos que especulam os prejuízos causados pela corrupção, pela burocracia, pela violência e pela precariedade da infraestrutura, mas nunca conseguiremos calcular o que realmente deixamos de ser enquanto país por estarmos a tanto tempo submetidos ao Estado.
Este “enxugamento” da máquina estatal, por mais tímido que seja, indica não apenas que o Estado pode funcionar sem os gastos que agora estão sendo eliminados, mas que muitos e muitos outros gastos poderiam e deveriam ser eliminados também.
Quem acredita que este “enxugamento” se estenderá até o ideal? Ninguém.
Sabemos que o inchamento do Estado originou-se lá trás, no Brasil colonial e prosseguiu pelo período imperial, varguista e militar até chegar à redemocratização. Os governos Collor, Itamar e Fernando Henrique Cardoso implementaram reformas na estrutura do Estado que, apesar de pequenas, foram medidas que poderiam ter sido ampliadas por Lula, principalmente se considerarmos sua popularidade e o ótimo cenário da economia mundial em seu primeiro mandato. Lula não quis. Ao contrário. Inverteu a direção e inflou o Estado como nunca antes na história desse país.
Dias atrás, Dilma confessou que não percebeu o desenrolar da crise. Até num momento como esse, sua arrogância a impede de dizer a verdade. Considerando sua característica omissão, devemos concluir que se ela hoje assume que a situação econômica é grave, que profundos cortes de despesas são necessários e que a crise se arrastará também por 2016, é porque a situação é, na verdade, muito pior.
O pior mesmo é ver que nada realmente está sendo feito para tornar o Brasil um país melhor. O que o governo tenta fazer, por meio de uma dúzia de canetadas que não podem ser chamadas de reformas, é apenas mantê-lo de pé na esperança de que o preço das commodities volte a subir e que a China voltar a crescer ao ritmo de 10 anos atrás; para voltar a entrar dinheiro, para voltarem a inflar o Estado, para o PT viabilizar sua permanência no poder.
A triste verdade: Ninguém conseguirá reparar o atraso imposto à sociedade brasileira por todos esses anos, por todas essas décadas, por todos esses séculos de escravidão estatal. Da mesma forma que nada nem ninguém devolverá ao pai sua filha perdida num atropelamento que poderia ter sido evitado, a sociedade brasileira não receberá o poder de reformar seu passado para viver um presente melhor; e seu presente é tão medíocre quanto seu passado porque é vivido sob a mesma e doentia crença de que o Estado um dia, uma dia… nos salvará.

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