Temer diz a Dilma que não pode fazer nada por CPMF
Vice avisa presidente que será difícil aprovar proposta de recriação de imposto
Dilma pediu ajuda a peemedebista, que ficou contrariado ao saber da iniciativa com atraso pelos jornais
MARINA DIAS/ANDRÉIA SADI - FSP
O vice-presidente Michel Temer disse à presidente Dilma Rousseff que
haverá muita resistência no Congresso à sua proposta de recriação da
CPMF e que não poderá fazer nada para levar a ideia adiante se ela
insistir no assunto.
Comunicada de que contrariara o vice ao deixá-lo de fora das tratativas
sobre a recriação do imposto, a presidente telefonou a Temer na tarde de
quinta (27) e pediu ajuda para defender a volta do tributo.
O vice, porém, criticou a proposta e previu dificuldades para obter a aprovação da iniciativa no Congresso.
Segundo a Folha apurou, a conversa foi dura e descrita por
aliados de Dilma e Temer como o primeiro embate direto entre eles. Até
agora, os dois mantinham uma relação distante, mas cordial.
A assessoria do vice-presidente negou que Temer não vá colaborar com o
governo e disse que ele fez sugestões a Dilma para tentar diminuir as
resistências à volta da CPMF. Em nenhum momento, segundo a assessoria,
houve embate ou discussão entre os dois.
O debate sobre a recriação do imposto sobre transações financeiras,
extinto em 2007 e agora visto pela equipe econômica como essencial para
equilibrar as contas públicas, pegou Temer de surpresa.
Em viagem a São Paulo, o vice disse na manhã de quinta que havia só "um
burburinho" sobre o assunto, sem saber que Dilma estava reunida no
Palácio da Alvorada com a equipe econômica e o ministro da Saúde, Arthur
Chioro, para discutir o imposto.
Temer ficou irritado porque soube da notícia pelos jornais. Depois que o
assunto veio a público, Dilma pediu que o ministro da Fazenda, Joaquim
Levy, telefonasse a Temer para tentar contornar a situação.
O peemedebista disse então ao ministro o que repetiria horas depois à
própria Dilma. Segundo ele, a proposta não será aprovada no Congresso e
vai apenas gerar mais desgaste para o governo.
Levy reagiu dizendo que terá apoio dos governadores, que recentemente
prometeram ajudar a barrar projetos que aumentam os gastos públicos,
como o que reajusta os salários do Poder Judiciário e foi vetado por
Dilma.
Mas o vice insistiu dizendo que deputados e senadores votarão contra.
Temer falou também com o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral
(PT-MS), que apontou a "inviabilidade" do imposto.
UNIÃO
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aproveitou para
ironizar a proposta nesta sexta: "Acho que o governo pode unir o PMDB
novamente com a nova CPMF. Todos contra: eu, Michel Temer e [o
presidente do Senado], Renan Calheiros [AL]".
Não foi a primeira vez que a presidente manteve o vice longe de um
assunto importante do governo. Quando Dilma sugeriu a convocação de uma
Constituinte para discutir a reforma política após os protestos de junho
de 2013, Temer foi o último a saber.
Na época, a ideia foi levada pelo Planalto ao ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso (PSDB) antes mesmo que Temer fosse consultado.
O vice também ficou fora da discussão sobre a proposta orçamentária de
2016, da decisão de cortar dez dos 39 ministérios e do jantar que a
presidente ofereceu a empresários no início desta semana, no Palácio da
Alvorada.
A reação dos peemedebistas assustou o governo, que, diante das críticas
recebidas do principal aliado e de políticos e empresários que se opõem
ao imposto, precisam definir até esta segunda (31) se e como a proposta
será apresentada ao Congresso.
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