Após dois anos de uma seca histórica, México permanece em situação crítica
Frédéric Saliba - Le Monde
Cerca de 3,2 milhões de hectares de plantações destruídas, mais de 4 milhões de cabeças de gado mortas de sede ou sacrificadas, quase 10 mil comunidades sem água corrente...
O balanço da pior seca no México nos últimos 71 anos é avassalador. Durante dois anos, 22 dos 31 Estados mexicanos sofreram uma queda nas chuvas que atingiu 50% em certas regiões. Uma seca histórica, seguida de uma geada invernal que devastou as terras agrícolas em 2011.
As chuvas voltaram há pouco tempo e, no sábado (28), o ministro da Agricultura, Francisco Mayorga, declarou que “a seca havia terminado”. De fato, não há mais carcaças de bovinos sobre solos ressecados, finalmente regados por tempestades tardias. Mas as sequelas permanecem. “Na Cidade do México, os dirigentes pensam que a chuva resolveu o problema”, lamentou, no dia 10 de julho, César Duarte, o governador do Estado de Chihuahua (norte). “Mas não chove comida, nem espiga, nem pasto. Essas perdas jamais serão recuperadas.” Sem colheitas há três ciclos agrícolas, os camponeses não têm sementes de milho, de feijão ou de aveia para plantar, alertou, em meados de julho, Jorge Herrera, governador do Estado de Durango.
Para evitar o pior, o governo lançou, em janeiro, um programa emergencial de 37,3 bilhões de pesos (R$ 5,75 bilhões) dedicado à compra de caminhões-cisternas, perfurações de poços e distribuição de alimentos. Sem contar os milhares de hectares de forragem para o gado a serem replantados e as indenizações concedidas aos produtores afetados.
Para minimizar a escassez, as importações de grãos aumentaram 47,5% no primeiro trimestre, segundo o Ministério da Agricultura. Mas a demanda tem feito os preços dispararem. O valor total das sementes importadas subiu 75%, passando de US$ 2,1 bilhões para US$ 3,8 bilhões. Dos cerealistas aos produtores de laticínios, passando pelos pecuaristas, toda a cadeia produtiva foi afetada, até os consumidores.
Lentidão dos auxílios públicos
O preço do quilo de carne aumentou cinco vezes, segundo o governo de Durango. Nesse Estado, os camponeses do vilarejo El Nogalito vendiam o quilo de feijão a 6 pesos antes da seca, relata o jornal “Reforma”. Agora eles precisam comprá-lo a 27 pesos para seu consumo pessoal.
As populações rurais pobres, que praticam uma produção de subsistência, são as principais afetadas pela falta de alimentos. Nas montanhas áridas do Estado de Chihuahua, os índios Tarahumaras foram os mais expostos aos riscos de fome que provocaram ondas de emigração temporária ou definitiva para os vilarejos da região. Vitimas da lentidão dos auxílios públicos, milhares de membros dessa etnia, orgulhosa e autônoma, estão deixando suas terras ancestrais para se juntar aos boias-frias sem segurança social, nos ranchos especializados em agricultura intensiva.
E de quem é a culpa? Para Waldo Ojeda, pesquisador do Instituto Mexicano de Tecnologia da Água, “o aquecimento climático acentua a variabilidade das temperaturas e das precipitações, mas a seca também está ligada a uma falta de planejamento dos cultivos em escala nacional. Sem falar no desmatamento e na irrigação abusiva das zonas desérticas”.
Para evitar futuras catástrofes, a conferência dos governadores de Estados vem estudando desde meados de julho a construção de gigantescos aquedutos que permitam transportar água a partir das regiões do sudeste, que sofrem inundações recorrentes, até o centro e o norte do país, vítimas da aridez. “Esses projetos faraônicos não são viáveis do ponto de vista econômico”, diz Ojeda. “É melhor pensar em um uso mais racional de nossos recursos hídricos.”
Segundo esse especialista, é preciso agir rápido: “As medidas do governo contra a seca são somente paliativas, sendo que se trata de um fenômeno cíclico que voltará a afetar o país daqui a alguns anos.”
Tradutor: Lana Lim
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