terça-feira, 31 de dezembro de 2013

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By reyfman

Crown gate at Zwinger, Dresden, Germany

GOJIRA - THE GIFT OF GUILT


Contra a corrupção
Embora tenha avançado em casos importantes de desvio de recursos públicos, Justiça deve celeridade em episódios de menor repercussão
FSP
Carregado de simbolismo, o julgamento do mensalão chegou ao fim para a maioria dos réus neste ano. Diversas penas até já são cumpridas pelos condenados sem direito a mais nenhum recurso --situação, por exemplo, do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT).
Também em 2013 remeteu-se ao Supremo Tribunal Federal (STF) a investigação sobre o escândalo do cartel em licitações do Metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) durante sucessivas administrações do PSDB no Estado de São Paulo.
O mesmo tribunal ordenou, neste ano, a prisão do deputado federal Natan Donadon (ex-PMDB-RO), condenado a 13 anos em regime fechado por crimes de peculato e formação de quadrilha. Foi a primeira prisão de um político determinada pelo STF desde a promulgação da Constituição de 1988.
Ainda nessa seara, prevê-se que o caso do mensalão mineiro, ou tucano, seja julgado pelo Supremo no primeiro semestre de 2014.
São demonstrações de que o Judiciário procura responder, pelo menos em circunstâncias de grande repercussão midiática, aos anseios de moralização da política.
Tais episódios, todavia, não representam com exatidão o funcionamento da Justiça nesse campo. Segundo meta estipulada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), os tribunais deveriam julgar neste ano todas as ações relativas a corrupção e desvios dos cofres públicos distribuídas até 2011.
O ano termina, no entanto, sem que o objetivo tenha sido alcançado. Apenas 54% do plano foi cumprido: das 114 mil ações dessa natureza no estoque judicial, só 62 mil foram julgadas.
É lamentável que uma iniciativa de tamanha importância simbólica --mostrar à sociedade que políticos que lesem o patrimônio público não terão privilégios na esfera judicial-- seja tratada com descaso por alguns tribunais.
Finalizar tais processos traria um relevante efeito concreto. Políticos condenados por um órgão colegiado, conforme a Lei da Ficha Limpa, ficam impedidos de disputar eleições por oito anos.
Poucos Estados, contudo, chegaram perto de cumprir a meta, e alguns mostraram inexplicável descaso --na Bahia e no Piauí, por exemplo, o número de processos julgados não passou de 11%. São Paulo só deu conta de 54% dos casos sob sua responsabilidade.
Sem que tenham honrado o compromisso assumido, os presidentes dos tribunais brasileiros estenderam a diretriz do CNJ para 2014. No intuito de deixar o atraso menos vexatório, decidiram alargar o objetivo, incluindo o julgamento de ações distribuídas durante 2012.
Demonstração de avanço, sem dúvida; em outros tempos, talvez dessem de ombros. Mas o sinal que mais se aguarda é o de que todos os casos de corrupção serão julgados com celeridade e rigor. E esse, porém, o Judiciário ainda não deu.

Dilma Rousseff "em guerra"
Presidente usa termo caro à ditadura e mostra intolerância a críticas em seu discurso de fim de ano 
Vinicius Torres Freire - FSP
"GUERRA PSICOLÓGICA" era uma expressão estimada na ditadura militar. Foi de mau gosto extremo a presidente da República recorrer a esse linguajar em seu discurso de final de ano, transmitido anteontem por TV, rádio e internet.
Na ditadura, a expressão estava cuspida em papeluchos jurídicos que procuravam criar uma fantasia sinistra e cínica de legalidade, fantasia de resto inteiramente dispensável, pois vivia-se sob arbítrio absoluto.
A presidente sabe perfeitamente disso. Sabe mais que quase todos nós, pois experimentou esses horrores na carne e na alma.
"Guerra psicológica adversa", além de jargão militar, era termo para tipificar o que os ditadores e seus capatazes consideravam "difamação do Brasil" ou a criação de "clima favorável à subversão". Ou seja, para enquadrar qualquer um por qualquer motivo pelo crime de lesa-majestade dos caprichos ditatoriais, qualquer um que aparecesse com ideias insidiosas.
O termo estava lá no no Ato Institucional 14, baixado pela junta de 1969, emenda "constitucional" que instituiu pena de morte ("legal") justamente para crimes como "guerra psicológica", revolucionária ou subversiva.
Esses decretos sombrios formalizavam a mentalidade do "Brasil: Ame-o ou Deixe-o" (ou morra discordando), bordão inventado pelos publicitários do regime.
A expressão também aparecia na Lei de Segurança Nacional. Aparecia na boca das autoridades, em discursos e entrevistas.
No seu discurso, a presidente introduz o tema da "guerra psicológica" com o chavão autoritário da "crítica positiva" (temos de "buscar soluções, e não ampliar os problemas") e o da crítica ao "pessimismo", tema recorrente nesse terceiro ano de má política econômica.
A presidente não dá nome aos bois ou aos seus demônios, aos inimigos que travam essa guerra psicológica. Seguindo outra tradição autoritária, Dilma Rousseff menciona de passagem forças ocultas, "alguns setores", que "instilam desconfiança, especialmente desconfiança injustificada", a tal "guerra psicológica", que pode prejudicar a versão presidencial do que seja o progresso do Brasil.
Sim, como era de esperar, a presidente diz que continua disposta a ouvir trabalhadores e empresários "em tudo que for importante para o Brasil". Mas "apostar" no Brasil é o caminho mais rápido para todos saírem ganhando.
Sim, a presidente está disposta a ouvir, mas deixa claro que ela está do lado do Brasil. Divergências maiores, "pessimismos", que parecem não estar no "lado brasileiro", são um atraso.
Francamente, este jornalista acredita que Dilma esteja "do lado do Brasil" (em linguagem menos nacionalista, que esteja empenhada em diminuir o sofrimento das pessoas que vivem nesta terra). Mas ficou um tanto (mais) deprimido com o tom autoritário da presidente, com a falta de grandeza demonstrada em sua incapacidade de autocrítica e de diálogo com os "pessimistas", na sua imodesta procura de bodes expiatórios, na falta de inspiração.
A "guerra psicológica" foi a cereja desse bolo azedo. É com pesar que a gente se pergunta o motivo de a presidente ter piorado ainda mais seus discursos assintáticos com essa mancha de péssima memória.
Tempo perdido
O Globo 
Os bons resultados das licitações realizadas este ano para concessões no setor de infraestrutura de transportes (rodovias e aeroportos) ou para exploração de petróleo não deixam dúvida que o governo cometeu um grave erro quando interrompeu esse processo, basicamente por preconceito ideológico.
A campanha sistemática que o PT promoveu contra a privatização antes de chegar ao poder deixou os governos Lula e Dilma em situação embaraçosa.
Politicamente, não seria possível admitir que as concessões privadas eram a opção racional para se deslanchar investimentos em infraestrutura diante da incapacidade financeira e gerencial do setor público. Os governos Lula e Dilma perderam tempo precioso tentando reinventar a roda.
Aperfeiçoamentos e ajustes nesse processo seriam naturais e recomendáveis a partir da experiência acumulada, mas o governo Lula e o de Dilma, inicialmente, estavam tão preocupados em não caracterizar concessões como uma forma de privatização que exageraram na dose de intervencionismo nas licitações que decidiram realizar. O número de interessados foi diminuindo, e os resultados nem sempre se mostraram satisfatórios.
No meio do mandato da presidente Dilma, com a economia brasileira dando clara demonstração de que a fórmula de estímulo ao consumo doméstico não seria capaz de sustentar o ritmo de crescimento que o governo vinha apregoando (em determinado momento chegando à fanfarronice de querer dar lições aos países desenvolvidos, em crise), houve uma reviravolta e os equívocos começaram a ser corrigidos.
O mercado passou a receber bem essas mudanças, e quase todas as licitações realizadas nos últimos três meses foram bem-sucedidas.
Mesmo sendo um ano eleitoral, tudo leva a crer que as licitações que o governo decidiu realizar em 2014 para concessões na infraestrutura de transporte terão bom resultado.
Falta testar o modelo em novas ferrovias, mas, se as autoridades ouvirem, também nesse segmento, as partes interessadas, o risco de dar errado será mínimo.
O preconceito contra a privatização é politicamente jurássico. O Estado tem muitas atribuições e missões a cumprir em meio a restrições orçamentárias incontornáveis. Está alicerçado em uma estrutura pesada e tem de se submeter a regras que o tornam gerencialmente incapacitado a realizar investimentos e a gerir satisfatoriamente grandes rodovias, ferrovias, portos e aeroportos.
Tais segmentos podem ser financeiramente autossustentáveis nas mãos de concessionários, em razão dos benefícios que proporcionam a seus usuários.
A economia brasileira convive há décadas com taxas de investimento insatisfatórias, que reduzem a capacidade produtiva do país.
Para resolver grande parte de seus problemas, o Brasil precisa de uma economia mais competitiva, e sem multiplicar investimentos não conseguirá atingir o grau de eficiência que tanto precisa. E, se licitação é ou não “privatização”, trata-se de discussão semântica.
Pobreza atinge níveis recordes na Itália 
James Mackenzie - Reuters
A pobreza chegou ao nível mais elevado na Itália em pelo menos 16 anos como resultado da crise econômica que provocou o aumento do desemprego e a redução do valor dos salários, de acordo com um estudo sobre coesão social divulgado nesta segunda-feira.
A pobreza relativa, definida como uma família com duas pessoas vivendo com uma renda mensal de 991 euros ou menos, afeta 12,7 por cento das famílias, o percentual mais elevado desde que a atual compilação de dados teve início, em 1997, de acordo com o relatório do instituto de estatísticas Istat.
O estudo, um compêndio de dados abrangendo itens como emprego e demografia, assinala que a pobreza se aprofundou em todas as regiões na Itália entre 2011 e 2012. A pobreza relativa passou de 4,9 para 6,2 por cento no rico norte da Itália, e de 23,3 para 26,2 por cento no sul, área mais pobre.
O relatório apresenta um quadro sombrio do impacto da pior recessão do pós-guerra no país, com níveis recordes de desemprego, renda arrochada e o declínio dos empregos permanentes e de período integral.
"Como um dos países mais afetados pela crise, a Itália registrou um declínio progressivo nos principais indicadores macroeconômicos e sociais em 2012", disse o ministro do Trabalho e ex-chefe do Istat, Enrico Giovannini, no prefácio do estudo.
"Apesar disso, a coesão social se mantém, permitindo ao país aguentar os sacrifícios com o objetivo de recuperar a estabilidade financeira e aprovar reformas importantes", escreveu.
O tom relativamente otimista contrasta fortemente com comentários recentes da federação empresarial, a Confindustria, que alertou neste mês para o fato de a recessão ter infligido danos na economia italiana comparáveis aos causados por uma guerra.
As dificuldades causadas pelo desemprego e medidas tomadas pelo governo para manter as exauridas finanças públicas sob controle alimentam crescente descontentamento no país, expresso por uma longa série de protestos, às vezes violentos, nas ruas no início deste mês.
O desemprego está no seu maior nível na Itália desde pelo menos o fim dos anos 1970. A taxa total era de 12,5 por cento em outubro, de acordo com as últimas cifras da Istat, mas alcançava 41,2 por cento entre os jovens.
Os dados do instituto mostram que o número de trabalhadores com contratos permanentes, de jornada de período integral, caiu 1,3 por cento em 2013, passando a 10,3 milhões de pessoas, enquanto o de jovens na mesma condição diminuiu 9,4 por cento.
Essas cifras são uma amostra dos desafios do governo do primeiro-ministro Enrico Letta, que planeja reformar a legislação trabalhista para reduzir o fosso entre os funcionários com contratos permanentes, que possuem uma ampla gama de benefícios e privilégios, e um crescente exército de trabalhadores temporários e de meio-período, com pouca proteção legal.
A abjeta perseguição esquerdista 
Peter Schiff - MSM 
A despeito dos esquerdistas clamarem pelo monopólio da justiça e da generosidade, a reação deles ao meu experimento que parte de um raciocínio muito básico revela que eles tão somente querem dar ao próximo aquilo que eles puderem roubar dos outros.
Tenha em mente que os comentários provêm de pessoas que poderiam ser seus vizinhos.
Enquanto a maioria dos americanos passava os últimos dias celebrando pacificamente o feriado santo junto com suas famílias, centenas – se não – milhares de pessoas que eu nunca havia visto na vida ameaçaram-me de agressões físicas, atacaram os membros da minha família, enviaram ameaças de morte, descreveram as várias doenças com que eles têm esperança que me aflijam, e me atacaram por conta da minha religião judaica.
“Eu realmente desprezo você, e estou enojado por você respirar o mesmo ar que eu respiro”, veio no Facebook de uma tal de Karen Jordan.
Depois de expressar seus votos desejando ver minha esposa e eu assassinados, Clayton Fletcher disse, “a humanidade seria muito melhor sem estes dois gigantescos desperdícios de carne e ossos humanos respirando o ar da terra.”
“Você é uma pessoa diabólica e você faz parte daquilo que está errado neste país”, escreveu-me Jeff Kernen de Eugene, no Oregon.
De Portland, no Oregon, Lydia Andy Bendorf escreveu: “Espero que você pegue câncer, Aids, 'gang grena', a praga, e sofra de uma lenta, miserável e solitária morte (sic).”
Allen Bates opinou: “Espero que você desenvolva uma psoríase no seu (palavrão).”
O blogueiro da Truth Milita escreveu: “(palavrão) seu velho (palavrão), cale a boca e morra como um bom e gentil escravo! Esses judeus me deixam tão (palavrão) doente.”
Pois bem, como foi que desencadeei esta onda de ódio tão desvairada?
Simplesmente publiquei um vídeo, no qual, em tom cômico desmascarei uma bandeira política muito popular da esquerda – a exigência que companhias lucrativas como o Walmart paguem salários mais altos.
Disfarçado como um representante de um grupo nacional de defesa dos trabalhadores, perguntei aos clientes do Walmart se eles aceitariam pagar um aumento de 15% caso esta sobretaxa fosse transferida diretamente para o pagamento de um salário de US$ 15 /hora para todos os empregados do Walmart. Embora o meu apelo por salários maiores tenha recebido apoio amplo, sem nenhuma surpresa, quase ninguém estava disposto a pagar pelo aumento ali mesmo. (N.T.: este vídeo está disponível aqui - http://www.youtube.com/watch?v=LLr5oWfoWRY)
Embora este seja precisamente o requisito indispensável para que um empregado possa ganhar mais.
Apesar do seu tamanho e da sua onipresença no território americano, a margem bruta do Walmart é sabidamente pequena (em torno de 3%). Esta cifra corresponde a um retorno sobre o investimento do acionista num período de 13 anos (fatorando o aumento do preço da ação e os dividendos ao longo daquele período de tempo). Este lucro modesto dificilmente poderia ser qualificado como um lucro fenomenal. Mesmo assim, ao ver uma família de bilionários o sangue da esquerda ferve. A verdade é que o Walmart cresceu ao ponto de se tornar a maior empresa do ramo varejeiro no mundo, não por que seus donos lucram muito, mas porque seus clientes pagam muito pouco. Parte dessa fórmula requer a manutenção dos custos num patamar baixo. Fora o preço dos produtos, o custo da folha salarial é a maior despesa da empresa.
Contudo, isso não significa que o Walmart pague salários de escravos. O fato é que o Walmart recebe 50 candidatos por cada oferta de emprego. Na média, o salário pago pelo Walmart aos seus trabalhadores é de US$ 10.10 /hora. Um aumento para US$ 15 /hora iria provocar um aumento de 50% na folha de pagamento anual que orça em US$ 26 bilhões, ou seja, US$ 13 bilhões de acréscimo em um ano. Isto é aproximadamente 80% de todo o lucro operacional da companhia, que é US$ 16 bilhões. Financiar tais aumentos sacando dos lucros seria devastador para as finanças da companhia e colocaria ela numa situação de desvantagem competitiva.
Meu experimento mostrou a auto-aniquilação que o Walmart sofreria se a exigência dos seus trabalhadores fosse colocada à frente da necessidade dos seus clientes e dos seus acionistas. A despeito dos esquerdistas clamarem pelo monopólio da justiça e da generosidade, a reação deles ao meu experimento que parte de um raciocínio muito básico revela que eles tão somente querem dar ao próximo aquilo que eles puderem roubar dos outros.
Forçados a questionar os fundamentos sobre os quais a sua própria visão de mundo está construída, esses ideólogos, ao contrário, partiram para o ataque, declarando abertamente o seu desejo de eliminar as pessoas e as ideias contrárias às presunções que eles abraçam com tanta força.
Com efeito, eles manifestaram cada uma daquelas características más que os esquerdistas atribuem aos conservadores do Tea Party. Eles afirmam não terem gostado do meu vídeo, mesmo assim não acham nem um pouco repugnante a sua própria conduta. (Verifique o que as pessoas estão escrevendo em meu mural no Facebook caso não esteja acreditando https://www.facebook.com/PeterSchiff; faz muito tempo que me envolvo em polêmicas, mesmo assim nunca havia me deparado com nada similar.)
Tenha em mente que os comentários provêm de pessoas que poderiam ser seus vizinhos. Eles são professores “educando nossas crianças” e cidadãos que votam nas eleições. Isto faz nascer a conjectura se a batalha pela mentalidade de nossa nação já não foi perdida, e se o seu destino já não está selado de vez.
No que toca ao aspecto econômico, existem muitas razões pelas quais é uma má ideia forçar companhias como o Walmart a pagar salários acima do mercado para trabalhos sem qualificação e que servem de porta de entrada no mundo de trabalho. Uma delas é que uma alteração como a proposta tornaria ainda mais difícil aos trabalhadores sem experiência conseguir o seu primeiro emprego através do qual poderão adquirir a experiência e as habilidades necessárias para ganhar maiores salários no futuro. Além disso, destruiria o conceito de propriedade privada e de mercado livre. Contudo, só posso desejar boa sorte na tentativa de mostrar essas nuances mais delicadas a pessoas que preferem ater-se à ideologia preponderando sobre tudo o mais.

Do site de Peter Schiff - http://www.schiffradio.com

Tradução: Francis Lauer

ELIÂNICAS


"Anos de sofrimento"
Eliane Cantanhêde - FSP 
BRASÍLIA - O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, não é japonês só no nome, mas também na paciência. Só ele teria engolido tantos sapos para atingir o seu maior objetivo: definir os novos caças da FAB durante a sua gestão.
Com 71 anos, mais de seis no cargo, ele aposenta hoje a família de caças Mirage, da França, e já negocia termos e prazos para a chegada dos Gripen NG, da Suécia. Já pode ir tranquilo para a casa.
Escolhido por Lula pelo seco critério de antiguidade, independentemente de méritos ou deméritos, Saito engoliu um sapo atrás do outro desde 2007, até vencer no final.
Na crise aérea, Lula escanteou a Aeronáutica e os princípios militares de ordem e hierarquia para negociar com sargentos amotinados como se sindicalistas fossem. Deu tudo errado, só então Saito entrou em ação.
Com os caças, disse que foram "anos de sofrimento". Começou quando Lula desprezou a FAB e anunciou o Rafale francês antes do relatório técnico. E não parou mais.
O relatório --antecipado pela Folha em 5 de janeiro de 2010-- analisou seis critérios, deu vitória ao Gripen NG sueco e foi aprovado pelo Alto Comando da Aeronáutica. Mas ignorado pelo governo.
Em nova manchete da Folha, três dias depois, o então ministro Jobim admitiu que revisaria o relatório, embaralhando o peso dos critérios. Claro que seria para justificar o francês, adequando as conclusões técnicas à conveniência política.
E houve mais dois relatórios, um quando Dilma tendia para o F-18 dos EUA e o último no fim deste ano, para dar suporte ao anúncio do Gripen. Apesar da surpresa geral, registrei em 12/12, neste espaço, que o dia D seria 18/12, como foi, e que o sueco estava de novo na parada.
Saito assinou todos os relatórios impostos, mas trabalhou em silêncio contra o Rafale. Preferia o F-18 e assimilava bem o Gripen, sabendo que seu comando passa, mas a FAB e o país ficam. Entra em 2014 feliz.
Petrobras perdeu 40 bilhões de reais em valor de mercado em 2013
Empresa recuou de R$ 254,8 bilhões de reais ao final de 2012 para R$ 214,6 bilhões, a maior perda do ano na Bovespa
Claudia Tozetto - VEJA
Petrobras é a empresa listada na BM&FBovespa com maior queda no valor de mercado em 2013
Petrobras é a empresa listada na BM&FBovespa com maior queda no valor de mercado em 2013 (Ricardo Moraes/Reuters)
A Petrobras foi a empresa listada na BM&FBovespa que apresentou a maior queda em valor de mercado em 2013. Pressionada pela defasagem do preço da gasolina, a companhia teve uma perda superior a 40 bilhões de reais ao longo do ano, caindo de 254,8 bilhões de reais ao final de 2012 para 214,6 bilhões de reais. Os dados constam de levantamento feito pela consultoria Economatica.
A Vale aparece em segundo lugar no ranking das maiores perdas em valor de mercado. A mineradora fechou o ano valendo 178,1 bilhões de reais, contra 215,1 bilhões de reais ao final de 2012, valor 36,9 bilhões menor – queda de 17,1%. Em terceiro lugar, a petroleira OGX, de Eike Batista, que entrou com pedido de recuperação judicial e mudou de nome para Óleo e Gás, encolheu 13,3 bilhões. A empresa valia 14,1 bilhões de reais no final de 2012 e fechou o ano de 2013 com valor de 777 milhões de reais. (confira abaixo o ranking completo).
De acordo com a consultoria, o valor total de mercado das empresas brasileiras recuou cerca de 216 bilhões de dólares em 2013, perda acentuada pela alta do dólar ante o real. Com isso, o valor de mercado das companhias fechou o ano abaixo de 1 trilhão de dólares, patamar que se mantinha constante desde 2009.
Bovespa – O mau desempenho de empresas de peso reflete no comportamento do Ibovespa ao longo do ano. O principal índice da BM&FBovespa encerrou 2013 com queda acumulada de 15,5%, ante alta de 7,4% em 2012. Foi o pior resultado entre os principais índices globais, de acordo com dados da Reuters. O índice norte-americano Dow Jones caminha para ganho anual de cerca de 26%, e o europeu FTSE 300, para valorização de cerca de 16%.
Cielo tem maior alta – A operadora de cartões de crédito Cielo, por outro lado, tem motivos para comemorar. A empresa foi beneficiada pelo aumento no número de operações com cartão de débito e crédito, o que permitiu que ela tivesse o maior crescimento em valor de mercado em 2013: passou de 31,7 bilhões de reais para 51,5 bilhões de reais, aumento de 14,2 bilhões de reais, o que representa alta de 38,2% no período.
A operadora Tim ficou em segundo lugar. No fechamento de 2012, a empresa era avaliada em 19,1 bilhões de reais e agora tem valor de mercado de 29,8 bilhões de reais, crescimento de 9,9 bilhões de reais – valorização de 50,3% de seu valor de mercado. O frigorífico JBS, que tinha valor de mercado de 17 bilhões de reais no final de 2013, segundo a Economatica, agora é avaliado em 25,1 bilhões de reais, alta de pouco mais de 8 bilhões ao longo deste ano (confira abaixo o ranking completo).

Maiores quedas de 2013 em valor de mercado

Valor de Mercado, em milhões de reais
Empresa 31/12/2012 12/2013 Variação
Petrobras 254.852 214.688 -40.164
Vale 215.110 178.163 -36.947
OGX Petroleo 14.174 777 -13.397
Oi 14.077 5.898 -8.179
Natura 25.174 17.749 -7.425
Telef Brasil 53.000 48.514 -4.486
Eneva 6.447 2.108 -4.340
Embratel Part 13.311 9.425 -3.886
Lojas Americ 17.144 14.154 -2.989
CCR SA 34.341 31.374 -2.966

Fonte Economatica

Maiores crescimentos de 2013 em valor de mercado

Valor de Mercado, em milhões de reais
Empresa 12/2012 12/2013 Variação
Cielo 37.292 51.574 14.282
Tim Part S/A 19.818 29.800 9.982
JBS 17.077 25.148 8.072
Ambev S/A 264.302 271.276 6.975
BRF SA 36.534 42.863 6.329
Braskem 8.745 14.662 5.917
Ultrapar 24.831 30.012 5.182
P.Acucar-Cbd 23.818 27.705 3.888
Sid Nacional 17.292 20.966 3.674
Embraer 10.496 13.806 3.310

Fonte Economatica
Para inglês ver
Lauro Jardim - VEJA
Plataforma: exportação para inglês ver 
Plataforma: exportação para inglês ver
Na terceira semana de dezembro, o governo jactou-se de ter conseguido um saldo comercial de 1 bilhão de dólares. Beleza. Mas foi à custa de um velho truque que o governo usa.
Conhecido como Repetro, é um regime aduaneiro que consiste em exportar uma plataforma de petróleo que nunca saiu e nem sairá do Brasil.
Assim, o governo pôde contabilizar a “exportação” de uma plataforma de extração de petróleo no valor de 1,1 bilhão de dólares – e o que era para ser vermelho passa a ser azul da cor do mar. Não há, ressalte-se, ilegalidade na operação.
Neste ano, o Brasil exportou sete plataformas que continuam operando em mares brasileiros, num total de 7,7 bilhões de dólares.

Lutadores e prostitutas
Hélio Schwartsman - FSP 
SÃO PAULO - O que lutadores de MMA e prostitutas têm em comum? Ambas as categorias se tornaram alvo de gente que acha que sabe melhor do que os próprios envolvidos como eles devem viver suas vidas.
No Brasil, o terrível acidente com Anderson Silva inflou o coro dos que querem negar ao MMA o estatuto de esporte e até o dos que pretendem proibir a transmissão de lutas pela TV. Enquanto isso, na França, berço das liberdades individuais, o governo flerta com a ideia de tornar ilegal comprar os serviços de uma prostituta, mas não vendê-los. Segue os passos dos suecos, que adotaram medida semelhante. Não chega a ser a proibição da profissão mais antiga do mundo --a única sociedade industrializada que foi tão longe são os EUA--, mas configura um forte golpe contra as profissionais do sexo.
A lógica que alimenta esses raciocínios é a mesma: tanto os lutadores como as meretrizes são vítimas da sociedade. Trata-se, afinal, de pessoas oriundas de classes desfavorecidas que, por não ter como resistir às pressões econômicas, acabam concordando em fazer aquilo que não fariam se tivessem escolha.
Em muitos casos, mulheres caem na vida por falta de opção, não por entusiasmo com a carreira. Creio que isso é mais raro no MMA, mas admitamos que isso possa ocorrer. O problema com esse argumento é que ele é forte demais. Se generalizarmos o raciocínio, teríamos de proibir outras profissões pouco nobres, como a de limpa-fossas, que só existem porque algumas pessoas têm poucas escolhas. Ao fim e ao cabo, teríamos de, como Karl Marx, condenar todo trabalho assalariado não criativo.
No mais, não estou tão certo de que não haja lutadores e prostitutas que gostem do que fazem ou, ao menos, achem que a relação custo-benefício lhes é favorável. Para afirmar o contrário, seria necessário impor a todos um conjunto de valores morais inegociáveis, o que seria algo bem estúpido de fazer.
Feministas europeias discordam sobre legalizar a prosituição

Mariam Lau

Na Europa, ativistas estão criando um cisma entre aqueles que veem a prostituição como uma forma de opressão masculina e aqueles que a veem como uma possível forma de empoderamento feminino.
Feministas por toda a Europa Ocidental estão soando o alarme. A prostituição, elas alegam, se transformou na "escravidão branca" atual, com cada vez mais mulheres da Bulgária e Romênia, África e Ásia, sendo forçadas, enganadas ou seduzidas a venderem seus corpos.
Mas ao fazê-lo, essas ativistas estão criando um cisma no movimento, entre aquelas que veem a prostituição como outra forma de opressão masculina e aquelas que a veem como possível forma de empoderamento feminino.
Grande parte do debate está centrado na Alemanha, onde a prostituição é legal. Consequentemente, disse a autora alemã Alice Schwarzer, o país se transformou em um "El Dorado para traficantes de seres humanos, um paraíso para usuários de prostitutas de todo o continente", que chegam em grande número para frequentar os novos "megabordéis" em Colônia, Munique ou Berlim.
E, de fato, a prostituição é um grande negócio aqui. Nos bordéis ao longo das fronteiras com a França e Polônia, países onde a prostituição é ilegal, grupos de visitantes costumam receber pacotes de valor fixo. Apesar de números exatos serem raros, os especialistas estimam que há até 400 mil prostitutas na Alemanha, servindo mais de 1 milhão de clientes e gerando uma receita de 15 bilhões de euros por ano.
Schwarzer é uma defensora proeminente de que a prostituição volte a ser criminalizada, uma posição que a coloca em atrito com seus outrora aliados na esquerda. Afinal, a prostituição foi legalizada sob a coalizão de governo do social-democrata Gerhard Schroeder, em 2002. A ideia, disse a política Kerstin Müller, do Partido Verde, uma das autoras da lei, era dar às profissionais do sexo registradas uma forma de "saírem das sombras", incluindo lhes dando o  direito ao seguro social.
 
Para Schwarzer, entretanto, esse sistema apenas preserva uma estrutura de poder misógina: "A prostituição não é uma exceção, é um fenômeno de massa". A posição de Schwarzer é comum em outras partes do Norte da Europa, onde uma espécie de "feminismo de Estado" está em ascensão há décadas. Em nome da proteção das mulheres, a Suécia criminalizou em 1999 a contratação de prostitutas, desviando a atenção da Justiça das mulheres para os usuários de prostitutas.
Essa lei funciona bem em um local como a Suécia, onde o consenso político é subordinar as necessidades e desejos pessoais de alguém ao bem comum.
"Na Suécia, há muito mais homens que se consideram feministas do que em qualquer outro lugar no mundo", disse o jornalista alemão Thomas Kirchner, um correspondente do "Süddeutsche Zeitung". "Os homens perguntam a si mesmos: eu realmente quero satisfazer minha vontade, mesmo que isso signifique apoiar um sistema que humilha e explora milhares de mulheres? Que imagem das mulheres eu quero ensinar aos meus filhos?"
O modelo sueco está sendo adotado por todo o continente: Irlanda do Norte, Bélgica, Finlândia e Lituânia estão prestes a seguir o exemplo.
Mas Schwarzer e a Suécia representam apenas um lado do debate. Organizações que representam as profissionais do sexo reagiram agressivamente. Elas argumentam que as mulheres que elas defendem –como a estudante de sociologia que ganha um dinheirinho extra no caro serviço de acompanhante, a ex-prostituta que abriu seu próprio negócio e que diz amar seu trabalho– são uma categoria social que simplesmente não existe para o movimento feminista de proibição, que vê apenas vítimas de opressão.
A resistência a esse novo feminismo de Estado em nenhum outro lugar é mais vívido do que na França, onde uma nova lei impõe uma multa de 1.500 euros a pessoas pegas solicitando uma prostituta (elas também são obrigadas a passarem por aulas de conscientização da situação difícil das prostitutas e dos riscos das profissionais do sexo). A filósofa francesa Elisabeth Badinter declarou a proposta "uma declaração de ódio à sexualidade masculina". Ela se juntou a um crescente número de franceses –tão diversos quanto o romancista Frédéric Beigbeder e o advogado Richard Malka, que defendeu Dominique Strauss-Kahn das acusações de estupro– que negam que visitar prostitutas seja algo além de uma transação privada entre adultos que consentem.
Uma petição chamada "343 Bastardos" –uma alusão à notória campanha de direitos de aborto "343 putas", de 1971– declarou que "alguns de nós usaram, usam e usarão prostitutas –e não temos vergonha". Eles acrescentaram, "todo mundo deveria ser livre para vender seus encantos, e até mesmo gostar de fazê-lo".
O que esse debate obscurece é a diferença crucial entre a prostituição em geral, que pode certamente envolver adultos que consentem fazendo o que querem com seus corpos, e o tráfico de seres humanos, que ninguém deveria tolerar e nem fornecer desculpas para ele. Infelizmente, o feminismo de Estado, em seu desejo de defender as mulheres, acaba punindo as pessoas que são mais abertas sobre sua disposição de pagar ou receber por sexo, empurrando ao mesmo tempo os males do tráfico humano e do sexo forçado ainda mais para a clandestinidade.
Em vez de reprimir os homens que frequentam prostitutas, as autoridades deveriam se concentrar nas redes criminosas que trazem as mulheres de países do Leste Europeu para a União Europeia.
Punir os usuários em geral é o tipo de fundamentalismo que não é apropriado para um movimento de libertação. Ao se tornar uma religião de Estado, o feminismo só tem a perder.
(Mariam Lau é uma correspondente de política do semanário alemão "Die Zeit".)
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Preciosa, uma bailarina negra na Academia Bolshoi: "Falaram que eu devia branquear a pele" 
Jovem norte-americana vive há dois anos em Moscou e disputará importante competição internacional em janeiro 
Sandro Fernandes - OM
Preciosa Adams carrega no nome a qualidade das melhores bailarinas. Com apenas 18 anos, a jovem norte-americana estuda há dois anos na Academia Bolshoi, em Moscou, e se forma daqui a seis meses em umas das mais prestigiosas escolas de balé do mundo. A história poderia ser o sonho de toda adolescente que desde pequena calça as sapatilhas de ponta. No entanto, como se não bastasse o competitivo mundo da dança, Preciosa teve ainda que enfrentar o preconceito por ser uma das únicas bailarinas negras que passou pela academia russa. 
Sandro Fernandes/Opera Mundi

Preciosa Adams pretende voltar para os Estados Unidos no segundo semestre de 2014 

Preciosa entrou no mundo do balé muito cedo. Aos cinco anos, começou a estudar a dança e, aos nove, entrou para um grupo comandado pelo russo Sergei Rayevsky, em Michigan, nos Estados Unidos. Durante a adolescência, a jovem estudou em Toronto, Nova York e Mônaco, antes de ganhar uma bolsa de estudos para aperfeiçoar sua técnica de balé e aprender russo, em um programa de imersão. A Rússia estava definitivamente no caminho da bailarina norte-americana. Em 2011, com apenas 16 anos, veio a mudança para Moscou.
Em seus mais de dois anos estudando na capital russa, Preciosa contou em entrevista a Opera Mundi que foi deixada de lado em muitas apresentações por causa da cor da sua pele. Segundo ela, uma professora chegou a dizer que ela deveria “tentar branquear sua negritude” e se parecer mais com o padrão esperado pelos diretores de teatro.
A bailarina parece alheia aos comentários racistas. “Eu ri. A ideia de perfeição (da professora) é ser branco, mas temos que entender que somos lindos da maneira que somos”. Preciosa diz ainda que alguns professores na Rússia tentaram intervir em seu favor, mas tudo foi em vão.
“Eu sei por que não sou colocada em apresentações em grupo (no balé da Academia Bolshoi). Eu sou muito diferente das demais. Eu não me encaixo em nenhum grupo, mas eu não me importo. Estou preparada para solos”.
A Academia Bolshoi diz que não recebeu nenhuma reclamação formal da bailarina e declarou em nota que nenhum aluno estrangeiro fez nenhuma queixa da instituição. Preciosa diz que não fez nenhuma reclamação porque não tinha certeza se isso teria algum resultado positivo. A escola diz que todos os estudantes participam de apresentações e que a norte-americana recebeu ótimas notas.
Determinada, Preciosa lamenta não ter tido mais experiência no palco, mas acredita que os anos na Rússia foram válidos pelo aprendizado. “Nunca foi um sonho dançar no Bolshoi. Eu vim aqui só para a escola (Academia Bolshoi) e para o treinamento, não pela companhia Bolshoi”. A anuidade da Academia Bolshoi custa 680 mil rublos para estrangeiros (aproximadamente R$ 50 mil).
A bailarina disse à reportagem que seus professores russos nos Estados Unidos já tinham alertado sobre a situação de racismo na Rússia. Preciosa se mudou para Moscou sabendo o que esperava, mas não pretende continuar no país. “Não quero morar na Rússia. Eu não me sinto livre aqui. Nos EUA eu posso ser negra ou gay, por exemplo. Eu sou norte-americana e sinto falta de liberdade. Não consigo respirar aqui”. O curso dela na capital russa acaba em junho de 2014.
Sobre as polêmicas de corrupção, prostituição e venda de vagas em apresentações do Teatro Bolshoi, Preciosa se limita a dizer que não se surpreende com os escândalos da companhia e nem acha que seja exagero da imprensa.
Sandro Fernandes/Opera Mundi
Em janeiro deste ano ano, o diretor artístico do Bolshoi, Sergei Filin, foi atacado com ácido na porta de sua casa, em um crime organizado por um dos bailarinos da companhia. Em março, a ex-solista do Teatro Anastasia Volochkova denunciou casos de prostituição e acirradas disputas no corpo de baile. E, no início de novembro, a bailarina norte-americana Joy Womack declarou que Filin teria dito que ela deveria pagar 10 mil dólares (R$ 23,5 mil) para poder se apresentar no palco do Bolshoi.

Modelo para jovens bailarinas

Preciosa não quer ser vista como um modelo no mundo do balé, ainda dominado por dançarinas brancas. “Tudo é um processo. Na época da minha mãe, todas as mulheres faziam alisamento. Agora tudo mudou. Somos mais naturais. Ninguém quer estar restrito a um padrão, uma norma que a sociedade e a TV decidiram”. E completa. “A sociedade coloca muita pressão sobre o que é aceitável ou não. Mas depende do indivíduo decidir se você vai seguir isso”.
Preciosa vai em janeiro à Suíça participar do Prix de Lausanne, uma competição para as maiores companhias de balé da Europa. Vencer o concurso praticamente significa poder escolher em que balé a bailarina quer dançar.
“Quero trabalhar em uma companhia onde eu conquiste uma vaga apenas pelo fato de eu saber dançar”, conclui Preciosa.
Cartas oficiais viram esperança para mexicanos que tentam asilo nos EUA

Damien Cave - NYT
Rodrigo Cruz-Perez/The New York Times

O oficial C. Ramon Contreras Orozco emitiu centenas de cartas para moradores que buscam asilo político aos Estados Unidos devido à violência do tráfico de drogas, em seu escritório em La Ruana, no México 
O oficial C. Ramon Contreras Orozco emitiu centenas de cartas para moradores que buscam asilo político aos Estados Unidos devido à violência do tráfico de drogas, em seu escritório em La Ruana, no México
Famílias preocupadas se amontoam em seu pequeno escritório aqui diariamente. Outras centenas apareceram na fronteira com os EUA em San Diego, a 2.400 quilômetros de distância, segurando uma carta de aspecto oficial que ostenta seu nome, apostando que sua descrição da violência nesta área central do México as ajudará a conseguir asilo nos EUA.
A carta rapidamente se tornou um documento de esperança para os desesperados. E seu autor, uma obscura autoridade local chamada C. Ramon Contreras Orozco, continua a entregá-las, criando um emaranhado burocrático que está pondo à prova a política de asilo dos EUA.
"Estou tentando ajudar", disse Contreras, que é "jefe de tenencia", uma espécie de tabelião de imóveis, nesta cidade marcada por batalhas, onde um cartel das drogas declarou guerra aos moradores. "As pessoas continuam me dizendo que temem por suas famílias e precisam partir."
Os pedidos de asilo na fronteira com o México estão disparando: mais que duplicaram, de 13.800 em 2012 para 36 mil no ano fiscal de 2013. As autoridades americanas acreditam que as cartas de Contreras foram apresentadas em quase 2 mil dos casos mais recentes, transformando-o em um ponto focal da ansiedade sobre a violência no México e tornando sua carta um caso de estudo para questões contenciosas dos dois lados da fronteira.
De fato, ao produzir documentos que salientam a incapacidade do México de proteger a população civil nesta região de abacates, cítricos e drogas, Contreras, 38 - um plantador de limões que ocupa seu primeiro cargo no governo -, conseguiu envergonhar seu país e marcar seu caminho na última disputa sobre imigração nos EUA.
"Estou apenas verificando a realidade", disse ele, suando em uma mesa pequena em um escritório sem ar-condicionado. "Não estou fazendo nada errado."
As autoridades mexicanas de qualquer modo se frustraram com a atenção dada a esta área agrícola que escorregou para o caos, com os cartéis de drogas combatendo grupos armados de autodefesa. E em Washington deputados influentes como o republicano Robert Goodlatte, presidente da Comissão de Justiça da Câmara, estão cada vez mais preocupados que os criminosos estejam abusando do processo de asilo, trapaceando para entrar no país e desaparecendo durante alguns anos até que seus casos sejam julgados.
Os esforços de Contreras levantaram as duas preocupações. Em 2013, a maioria dos pedidos de asilo com base em um "temor verossímil de perseguição ou tortura" eram da América Central. Mas dos cerca de 2.500 casos que vieram do México, Contreras estimou que quase 80% envolveram suas cartas. As autoridades do Departamento de Segurança Interna disseram que consideram isso mais ou menos preciso.
E cada caso é um enigma. As afirmativas de Contreras sobre os perigos que correm são suficientes para dar às famílias que emigram uma chance de asilo nos EUA? As cartas que estão aparecendo na fronteira em San Diego são originais?
Às vezes sim, outras não, segundo autoridades de imigração. As circunstâncias com frequência são tão obscuras que até membros da mesma família portando a mesma carta dizem que receberam decisões diferentes em seus pedidos para ficar nos EUA e pedir asilo.
"As cartas são um produto da necessidade", disse o reverendo Manuel Amezcoa, 49, padre católico que trabalha nesta parte do México. "Mas os resultados são complicados."
Tudo começou em meados de março, disse Contreras, quando uma jovem apareceu em seu escritório suplicando por uma maneira de encontrar seu avô nos EUA. Algumas semanas antes, em 24 de fevereiro, moradores tinham formado um grupo de autodefesa e desafiado publicamente o cartel de drogas Cavaleiros Templários, que conduziram uma batalha armada perto da praça da cidade, em frente ao escritório de Contreras.
Os Cavaleiros Templários tornaram um risco mortal colher ou embalar limões, tirando o principal ganha-pão deste vale fértil. A gasolina também se tornou rara porque os fornecedores temiam entregá-la e o presidente municipal acabara de fugir em meio a acusações de ligações com o cartel, de repente tornando Contreras, que costumava passar a maior parte do tempo certificando transferências de propriedade, tudo o que restava do governo local.
A carta, disse ele, foi uma reação ao desespero, criada por ele e sua secretária enquanto a jovem esperava por uma resposta. Naquela altura, disse ele, estava óbvio que seu Estado natal de Michoacán, que luta com a violência da guerra das drogas há quase uma década, não era mais apenas uma terra sem lei; era inabitável.
"Este é um Estado falido", disse Contreras. "O governo não pode dar assistência em nada."
Autoridades federais rejeitaram essa avaliação, notando que tropas adicionais reduziram a violência em certas áreas. Mas aqui, em uma parte do país que especialistas em segurança descrevem como o campo de batalha mais duro do México na guerra contra o crime organizado, famílias inteiras recorrem a Contreras para encontrar uma saída.
Autoridades da Segurança Interna dos EUA enfatizam que o processo de asilo sempre foi complexo, com as autoridades avaliando uma série de evidências para determinar se os requerentes cumprem o critério legal de "medo verossímil", que geralmente lhes permite ficar nos EUA livremente enquanto o processo de asilo é julgado. Também há salvaguardas e verificações pessoais, dizem as autoridades da Segurança Interna, para evitar os criminosos e fraudes que, segundo Goodlatte, estão se tornando uma parte maior do sistema.
"As determinações de medo verossímil são ditadas por um estatuto antigo, e não uma questão de escolha", disse Peter Boogaard, um porta-voz da Segurança Interna.
A maioria dos pedidos de asilo é finalmente rejeitada por um juiz. Em 2012, somente 1% dos pedidos do México foram concedidos - 126 pessoas, uma fração dos 482 mil imigrantes que receberam a residência legal.
Mas, com autoridades de asilo diferentes tomando as decisões iniciais de "medo verossímil" depois das entrevistas, os primeiros resultados variam. E aqui nesta região que tem uma longa história de imigração até a possibilidade de asilo alimenta rumores e sonhos. Em várias cidades onde atiradores do cartel incendiaram ônibus, cortaram a eletricidade e encheram valas comuns com cadáveres, a carta significa uma esperança impressa. A maioria das pessoas que partiram com elas não voltou, disse Contreras, alimentando uma sensação de que o esforço está funcionando.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Refugiados africanos marcham por asilo político em Israel 
Nos último dias, autoridades israelenses iniciaram prisões em massa de refugiados que moram no sul de Tel Aviv 
Guila Flint - OM 
Milhares de refugiados africanos, acompanhados por ativistas israelenses, marcharam na noite deste sábado (28/12) em Tel Aviv, em protesto contra o encarceramento de eritreus e sudaneses que pedem asilo político em Israel.
Os manifestantes fizeram uma passeata que começou no sul da cidade e terminou na Praça Rabin, no centro, portando cartazes com os dizeres “Liberdade”, “Somos refugiados” e “Ouçam nosso apelo”, em inglês, hebraico, árabe e tigrínia.
Nos últimos dias as autoridades israelenses iniciaram prisões em massa de refugiados que moram no sul de Tel Aviv. A polícia da Imigração aparece de repente na região, prende todos os refugiados que encontra nas ruas e os envia para a prisão de Holot, que fica no deserto do Negev, no sul do país.
"Nos próximos dias vamos convidar os infiltrados a se deslocarem para o campo aberto de Holot", disse o ministro do Interior, Gidon Saar.
Guila Flint/Opera Mundi

Milhares de refugiados participaram de manifestação nas ruas de Tel Aviv 
Para o governo israelense, que não verificou individualmente o status dos imigrantes, os 50 mil eritreus e sudaneses que se encontram em Israel são "infiltrados ilegais que vieram em busca de trabalho".
No entanto, segundo a lei internacional, eles são refugiados, pois fugiram de países onde corriam perigo de vida. Nessas circunstâncias, Israel, que é signatário da convenção internacional sobre os direitos de refugiados, não pode expulsar os africanos, que entraram a pé no país, depois de cruzarem o deserto egípcio do Sinai.
Caçada humana
A israelense Orly Feldheim, uma das organizadoras da passeata, disse a Opera Mundi que "é inconcebível que o Estado de Israel realize verdadeiras caçadas humanas e envie os refugiados para campos de concentração".
"O tratamento que Israel está dando aos refugiados africanos é uma vergonha, exigimos que eles sejam reconhecidos como refugiados e que possam viver aqui de maneira digna e livre, até que seja possível seu retorno a seus países", disse.
O que as autoridades israelenses qualificam como "campo aberto de Holot" é uma prisão com sistema semiaberto, que fica no meio do deserto.
Em Holot os prisioneiros devem se apresentar para chamadas três vezes por dia e são obrigados a dormir no local. Entre as chamadas eles teoricamente podem sair do local, mas de fato não têm como desfrutar da suposta liberdade, pois a prisão fica longe dos centros urbanos do Negev e eles estão expressamente proibidos de trabalhar.
Os prisioneiros que se ausentam de Holot por mais de 48 horas são enviados para a prisão de Saharonim, também no deserto do Negev, onde o sistema é totalmente fechado.
Guila Flint/Opera Mundi

O ativista israelense Uri Gotlib, em meio às manifestações de refugiados africanos
O refugiado sudanês Mutasim Ali, de 27 anos, chegou em Israel em 2009, depois de atravessar a pé o deserto do Sinai.
"Estamos protestando pois a situação está ficando cada vez pior, as autoridades israelenses estão prendendo milhares de pessoas que não cometeram crime algum, estamos pedindo abrigo, somos refugiados", disse Ali a Opera Mundi.
Ali fugiu da região de Darfur, onde centenas de milhares de pessoas foram assassinadas. Ele contou que sua família ficou no Sudão, mas como Israel não tem relações diplomáticas com seu país, a comunicação com os familiares fica muito difícil.
"Tenho medo de telefonar para meus parentes no Sudão, pois como não há relações diplomáticas, um telefonema daqui pode lhes causar danos", disse.
Jogos de guerra na Ásia
FSP
As três maiores economias do mundo --EUA, China e Japão-- estão envolvidas em preocupante agitação militar no leste da Ásia. O pretexto é um punhado de ilhotas no oceano Pacífico; o pano de fundo é o aumento calculado da agressividade de Pequim em suas disputas territoriais com os vizinhos.
A atual escalada começou há pouco mais de um mês, quando Pequim decretou que uma vasta porção do mar do Leste da China passaria a ser zona de defesa aérea. Pela resolução, quem quiser sobrevoar essa área precisa notificar as autoridades chinesas.
O perímetro estabelecido pela China, contudo, inclui uma área sob domínio sul-coreano e parte de um arquipélago em disputa com o Japão, atualmente administrado por Tóquio --as ilhas Diaoyu, ou Senkaku (para os japoneses).
Num desafio à China, os EUA, aliados do Japão, enviaram dois bombardeiros B-52 à região, no final de novembro. Dias depois, japoneses e sul-coreanos seguiram o exemplo. Não houve retaliação.
Mais recentemente, o governo japonês anunciou inédita estratégia de segurança nacional, com aumento de 5% de gastos nos próximos cinco anos, totalizando US$ 240 bilhões. Os recursos adicionais serão empregados sobretudo em melhorias na vigilância do arquipélago Diaoyu/Senkaku.
Houve, além disso, tensão no campo simbólico. Na semana passada, o premiê do Japão, Shinzo Abe, foi ao santuário Yasukuni, em Tóquio, dedicado a japoneses mortos em conflitos desde 1868.
A visita, a primeira do gênero desde 2006, gerou duros protestos na China e na Coreia do Sul, que consideram o local um símbolo do passado militarista japonês.
O endurecimento da China em disputas territoriais --houve episódios semelhantes com Filipinas e Vietnã-- coincide com sua ascensão ao posto de segunda maior economia do mundo, o que se deu em 2010. Há, ademais, a percepção de que os EUA têm no leste da Ásia uma de suas prioridades militares a curto e médio prazo.
A fim de evitar confrontos, mecanismos internacionais de negociação sobre segurança e limites territoriais precisam ser aprimorados. Não interessa a ninguém um conflito militar envolvendo as maiores economias do mundo, duas das quais são potências nucleares.
Para ajudar pacientes pobres, Índia quer abolir patentes de remédios contra câncer

Gardiner Harris - NYT
Lynsey Addario/The New York Times

Enfermeiras cuidam de Sudershan Talwar, paciente com câncer de mama, em Nova Deli, na Índia Enfermeiras cuidam de Sudershan Talwar, paciente com câncer de mama, em Nova Deli, na Índia
Alka Kudesia precisa de um medicamento caro para tratar seu câncer de seio, mas se recusa a dizer isso para seus filhos, por temer que eles façam empréstimos para comprar o remédio e passem o resto da vida endividados.
"Nós mal podemos pagar pelo tratamento que já estou recebendo", disse Kudesia, 48, com uma resignação tranquila. "Meus filhos estão começando na vida. Não quero ser um peso para eles."
O remédio, Herceptin, é um dos mais eficazes para uma forma agressiva de câncer de seio. Mas na Índia, ao custo de pelo menos US$ 18 mil por uma etapa do tratamento, somente uma pequena fração das mulheres que precisam dele o recebem.
O governo indiano ameaçou no ano passado permitir a produção de versões genéricas mais baratas do Herceptin. Seu fabricante, a Roche Holdings da Suíça, inicialmente resistiu, mas cedeu os direitos de patente este ano em grande medida porque concluiu que perderia uma ação nos tribunais indianos.
As desavenças sobre o Herceptin e outros medicamentos contra câncer fazem parte de uma nova fase crítica na longa luta para tornar os remédios acessíveis aos mais pobres do mundo, que começou para valer há mais de uma década, quando ativistas fizeram campanhas de sucesso para tornar acessíveis os remédios contra Aids para milhões de africanos.
"O câncer é a próxima questão HIV/Aids, e a luta apenas começou", disse Shamnad Basheer, professor de direito na Universidade Nacional de Ciências Jurídicas de Bengala Ocidental, em Calcutá.
As autoridades comerciais dos EUA manifestaram preocupações sobre o tratamento da Índia às patentes de medicamentos, incluindo seus motivos para às vezes desrespeitá-las. O presidente Barack Obama discutiu a questão no início deste ano com o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, durante uma reunião na Casa Branca, segundo autoridades dos EUA.
Executivos da indústria farmacêutica internacional, que depende cada vez mais das vendas em mercados emergentes como Índia, China e Brasil, alegam que os esforços da Índia para cancelar patentes ameaçam o sistema global para descoberta de tratamentos, enquanto pouco fazem para resolver os desafios à saúde que a maioria dos pacientes enfrenta.
"Estamos abertos para discutir a melhor maneira de levar medicamentos inovadores aos pacientes", disse Daniel Grotzky, porta-voz da Roche, que tem uma grande carteira de medicamentos contra o câncer. "Mas uma sociedade que quer desenvolver novos remédios e tecnologia deve recompensar a inovação por meio de uma sólida proteção à propriedade intelectual."
Alguns especialistas em saúde dizem que investir em um diagnóstico precoce do câncer de seio e melhorar os testes, a cirurgia e o acesso à radioterapia é mais importante que o acesso a drogas caras.
"A quimioterapia não é a principal questão para o controle do câncer na Índia", disse o doutor Richard Sullivan, professor de política para o câncer e saúde global no Centro de Câncer Integrado King's Health Partners em Londres.
Mas ativistas de saúde dizem que argumentos semelhantes foram feitos pelo governo americano e a indústria farmacêutica quando buscavam proteger patentes sobre remédios para Aids durante a maior parte da década de 90, posição de que o ex-presidente Bill Clinton disse ter-se arrependido. Seria injusto retardar o aperfeiçoamento do acesso aos remédios contra o câncer até que o sistema de tratamentos na Índia fosse consertado, dizem eles. Eles notam que o número de pessoas que morrem de câncer por ano na Índia é mais que o dobro do das vítimas de Aids.
Enquanto o mundo fez progresso contra desnutrição e doenças infecciosas, mais pessoas vivem até idade avançada e morrem de doenças crônicas como doenças cardíacas e câncer, que hoje causam dois terços das mortes globalmente. Em 2012 houve 14,1 milhões de novos casos de câncer em todo o mundo e 8,2 milhões de mortes por câncer, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). E o número de casos de câncer de seio está aumentando. Cerca de 6,3 milhões de mulheres viviam com a doença no ano passado.
O aumento da incidência de câncer já é um grande peso para o sistema de saúde deficiente da Índia. As indianas, embora tenham menor probabilidade de contrair câncer de seio do que as americanas, têm uma probabilidade muito maior de morrer da doença. Cerca de 115 mil mulheres aqui são diagnosticadas com câncer de seio todo ano, e em 2008 aproximadamente 54 mil morreram da doença, segundo a OMS.
Nos cruzamentos de Nova Déli, mulheres carregando receitas de médicos pedem dinheiro para os tratamentos. A Índia tem apenas 27 centros de câncer públicos para 1,2 bilhão de pessoas. O governo prometeu acrescentar 50 nos próximos anos, mas especialistas médicos dizem que mesmo isso será amplamente inadequado.
A Índia, que é um dos principais produtores mundiais de medicamentos genéricos, há muito tempo vê com ceticismo os direitos de patentes de remédios. Ela já considerou inválidas as patentes que protegem as vendas exclusivas dos medicamentos anticâncer Gleevec da Novartis, Sutent da Pfizer e Tarceva da Roche. Em uma decisão notável em 2012, o governo concordou que a patente que protege o Nexavar da Bayer, também um remédio contra o câncer, era válida, mas a anulou de qualquer maneira porque uma companhia de genéricos prometeu reduzir o preço do tratamento mensal de US$ 4.500 para cerca de US$ 140.
O governo agora quer cancelar os direitos de vendas exclusivas de dois outros medicamentos contra o câncer. A Roche cedeu sua patente do Herceptin no início deste ano em parte porque considerou que era uma batalha perdida. Cada um desses passos foi recebido com aprovação na Índia e profunda reprovação de grupos empresariais, legisladores e laboratórios farmacêuticos dos EUA.
Uma comissão do governo indiano logo deverá anunciar o início de um processo formal para colocar de lado patentes de 15 outros remédios, segundo um membro da comissão que concordou em falar sobre deliberações secretas sob a condição do anonimato. Malini Aisola, da Fundação de Saúde Pública da Índia, disse que a lista completa "vai gerar comoção em todo o mundo".
Para os laboratórios, o aspecto mais preocupante dos esforços da Índia em reduzir os preços dos medicamentos é que outros países comecem a seguir seu exemplo. Tanto a Indonésia como as Filipinas adotaram recentemente leis de patentes baseadas nas da Índia, e legisladores do Brasil e da Colômbia propuseram medidas semelhantes.
"Uma das preocupações do setor não é apenas o que a Índia está fazendo na Índia, mas nós percebemos que o mundo inteiro está observando", disse Amy Hariani, do Conselho Empresarial EUA-Índia, que é afiliado à Câmara de Comércio dos EUA e combate as políticas de patentes indianas.
Para o governo Obama, a briga sobre as patentes de medicamentos no mundo em desenvolvimento é um campo minado. A indústria de medicamentos foi um grande contribuinte da campanha de Obama e um dos primeiros e cruciais apoiadores de seu programa de saúde. Mas assessores de Obama esperam evitar os erros do governo Clinton, que foi duramente criticado por ativistas da Aids por sua posição inicial contra fornecer drogas antirretrovirais genéricas para a África.
Cerca de 25 mil mulheres indianas se beneficiariam do tratamento com Herceptin por ano, mas no máximo 1.500 o recebem, segundo Kalyani Menon-Sen, uma defensora de pacientes em Nova Déli que liderou uma campanha por uma versão genérica.
Kudesia, temerosa de contar a seus filhos sobre o Herceptin por causa do custo, já tem problemas para pagar seu coquetel de medicamentos genéricos menos caros.
Para economizar, ela disse que agora deve deixar o apartamento de três quartos e US$ 80 mensais que divide com sua sogra e filho e vender a maior parte de suas posses. Comprar Herceptin está fora de questão. Ela reza para Krishna, Rama e outros deuses hindus por ajuda.
"Eu quero passar o resto do tempo que tenho resolvendo nossas dívidas, e não agravando-as", disse. "Não posso dizer a meus filhos que há outra droga que pode me ajudar."
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves