quarta-feira, 31 de julho de 2013

Manifestantes ocupam prédio da Câmara dos Vereadores e ato termina em confronto
Mais cedo, pelo menos 700 pessoas seguiram pelas ruas da região até o MP, onde entregaram um documento ao procurador-geral da Justiça
Manifestação, que foi convocada por Black Blocs no Facebook, também ocupou escadarias da Alerj
Letícia Fernandes/Vera Araújo - O GloboConfronto entre PMs e manifestantes durante protesto em frente à Câmara dos Vereadores, na Cinelândia Foto: Marcelo Piu / Agência O Globo
Confronto entre PMs e manifestantes durante protesto em frente à Câmara dos Vereadores, na Cinelândia - Marcelo Piu / Agência O Globo
RIO - O prédio da Câmara dos Vereadores fo Rio foi ocupado na noite desta quarta-feira, e pelo menos um policial ficou ferido após um confronto entre manifestantes e PMs. Uma pessoa foi detida e levada para a 5ª (Mem de Sá). A confusão teria começado depois que detectores de metais foram derrubados dentro do prédio. Os PMs então teriam expulsados os manifestantes à força. Os militares usaram bombas de efeito moral e spray de pimenta para tentar dispersar o grupo. Manifestantes revidaram jogando pedras.
Pouco antes, houve registro de um confronto no momento em que um segundo grupo tentou entrar pela porta central do prédio. Manifestantes jogavam garrafas nos PMs, que revidam com gás de pimenta e bombas de efeito moral. Alguns também usam uma pistola da paintball para tentar afastar o grupo. Logo depois os policiais voltaram a fazer uma barreira nas escadarias do prédio. Por fora da Câmara, oito manifestantes conseguiram escalar e chegaram até a lateral da edificação. Eles penduraram faixas e cartazes na sede do Legislativo municipal.
Logo depois dos confrontos, um grupo com cerca de 100 Black Blocs seguiu até o prédio da Alerj. No local, no entanto, eles se depararam com cinco carros da PMs e seguiram pela Rua São José. Há correria no local e PMs jogam gás de pimenta nos manifestantes. O grupo correu até o Largo do Paço, mas acabaram voltar para a Cinelândia.
Com a confusão, o restaurante Amarelinho baixou as portas. O gerente do estabelecimento, José Soares de Oliveira, disse que esta é a terceira vez em que fecha devido a manifestações. Ele explicou que funciona sempre até as 2h, e que nesta quarta-feira recolheu as mesas e as cadeiras das calçadas antes das 23h. Mais cedo, os comerciantes fecharam as lanchontes na Rua Franklin Roosevelt e Avenida Churchill, próximo ao prédio do MP, com receio de atos de vandalismo.
A ocupação começou depois que manifestantes que entraram, sem resistência, pela porta lateral. Um grupo conseguiu chegar até o plenário do prédio, e um grupo de policiais e a administração do prédio negociou a saída deles do local. Alguns, no entanto, permanecem no interior da Casa. Os elevadores foram travados dentro do prédio. O advogado Luan Cordeiro, representante da OAB, conversou com os manifestantes dentro da Câmara. Alguns manifestantes teriam tentado invadir os gabinetes de alguns vereadores e arrombado portas.
Documento é entregue ao MP
Mais cedo, o procurador-geral da Justiça, Marfan Vieira, recebeu uma carta de reivindicações de cerca de 700 pessoas. O grupo, que foi convocado pelos Black Blocs, por meio do Facebook, seguiu da Cinelândia até o prédio do Ministério Público, e também ocupou as escadarias do prédio da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).
Houve um princípio de confusão na esquina da Rua México, quando um PM discutiu com um manifestante. Uma pessoa foi detida, segundo informações do advogado da OAB que acompanha o protesto. Mais cedo, alguns manifestantes chegaram a subir nas estátuas da Alerj. Um policial apreendeu uma garrafa de vinagre com um jovem. Os manifestantes gritam que estão juntos com o grupo de São Paulo. A polícia também apreendeu com um manifestante uma caixa com dez rojões. Segundo um oficial da PM, o material foi apreendido quando os manifestantes correram pela Presidente Antônio Carlos. Dois coquetéis molotov também foram recolhidos.l
O principal objetivo do ato era entregar um documento ao procurador-geral da Justiça. Pressionado pelos manifestantes que se concentraram na porta do Ministério Público estadual, Marfan Vieira fez um pronunciamento na rua:
— Recebemos a pauta de reivindicações de vocês, já lemos e verificamos que grande parte dela já é objeto de investigação do MP. Temos ações civis públicas e investigações em andamento em 95% dos casos que estavam na pauta. O MP é uma instituição de defesa da sociedade. Decidi descer porque o procurador não pode ficar encastelado. Tentamos cumprir nosso papel de estar próximos da sociedade. Não temos receio de pressões, venham do lado que vierem.
Marfan Vieira comentou sua participação num protesto contra a PEC 37:
— Entendo que a liberdade de manifestação é um direito de todos. Eu mesmo participei de uma passeata em Copacabana e vesti a camisa contra a PEC 37. Acho legítimo. Mas outra coisa são atos de vandalismo — disse Vieira, após ser cobrado pelos manifestantes a se posicionar publicamente contra o decreto do governador Sérgio Cabral que criou a comissão para investigar atos de vandalismos nos protestos na cidade.
Ainda sobre o decreto, o procurador-geral disse:
— Em momento algum, a comissão pensou em quebrar sigilo. Essa foi uma interpretação equivocada que fizeram do decreto.
Vieira garantiu que a partir desta quinta-feira a assessoria de imprensa do MP passará a publicar no site da instituição todos as investigações em andamento de forma detalhada. O procurador também se pronunciou a respeito do caso Amarildo.
— Sobre o caso Amarildo, quero informar que nesta quarta-feira, às 14h, haverá uma reunão no MP com a presença do delegado encarregado, além de promotores de Justica e o subprocurador geral de direitos humanos. O MP não tolera qualquer atentado aos direitos humanos.
Na terça-feira, na plenária do IFCS, dez pessoas foram eleitas para uma comissão que falaria com o procurador-geral de Justiça. Mariana Rios, integrante do Fórum de Lutas diz que o grupo “não tem relação com os Black Blocs:
- Mas todos nós temos uma bandeira comum, que é a saí­da do governador Sérgio Cabral. Ele já está com 12% de aprovação, uma das menores da história do Brasil. E isso reflete uma polí­tica de estado, com a criminalização dos movimentos sociais e os gastos excessivos com a Copa e as Olimpíadas. Há uma indignação bem estrutural da sociedade, que não é só do Rio.
Usina de atrasos
FSP
São pelo menos quatro as razões para considerar preocupante a notícia de que o Ibama poderá paralisar a polêmica hidrelétrica de Belo Monte em 2014, quando deveria iniciar-se o enchimento de seu reservatório.
A ameaça, tal como revelado por esta Folha, consta de parecer do instituto sobre o terceiro relatório de acompanhamento das medidas sociais e ambientais com que o consórcio Norte Energia se comprometeu. Da lista de 23 precondições para a definitiva licença de operação da usina, sete estão sendo descumpridas.
O primeiro motivo de preocupação decorre do porte de Belo Monte. A hidrelétrica no rio Xingu proverá uma média de 4.571 megawatts de eletricidade (embora sua capacidade seja de 11.233 MW).
A potência total instalada para geração de energia elétrica no país, ao final de 2012, era de 121 mil MW. Belo Monte sozinha agregaria quase um décimo de capacidade a esse parque --e de energia limpa (renovável). Se não operar em 2015, como previsto, serão acionadas termelétricas movidas a energia fóssil (óleo, gás e carvão).
Nesta altura, é incontornável construir Belo Monte, mas cabe fazê-lo de forma civilizada. Eis aqui a segunda fonte de preocupação.
Erguer uma usina dessas na Amazônia e na vizinhança de centros urbanos como Altamira, com mais de 100 mil habitantes, implica considerável impacto social e ambiental. Dar mais prioridade para a obra que para obrigações nessa vertente só favoreceria os adversários do empreendimento.
O Brasil deve a si mesmo uma prova de que é capaz de suprir as necessidades de desenvolvimento futuro sem reincidir no desprezo pelas populações e pelo ambiente.
Ao apreciar o primeiro relatório de acompanhamento da Norte Energia, o Ibama multou a empresa em R$ 7 milhões --autuação sob recurso administrativo. No segundo relatório, novos descumprimentos, mas nenhuma punição.
A agência ambiental deve por certo aguardar os esclarecimentos da empresa. Mas em algum momento sua dura avaliação terá de redundar em sanções, sob pena de reforçar a interpretação de que suas decisões são meramente políticas ­--o terceiro motivo de alarme.
Por fim, mas não menos preocupante, há o impacto propriamente dito. Não é concebível duplicar a população de uma cidade, como se espera em Altamira, represar o rio que a serve e seguir lançando nele esgotos sem tratamento.
Não se trata de empresa privada, cabe lembrar, mas de um consórcio dominado pela Eletrobras e por fundos de pensão de estatais, financiado pelo BNDES. Para o bem ou para o mal, Belo Monte é uma obra do governo Dilma Rousseff.
EUA pagarão US$ 4,1 milhões a jovem 'esquecido' em cela
Estudante Daniel Chong, 25, ficou cinco dias isolado e teve de beber a própria urina
FSP - O governo dos EUA indenizará em US$ 4,1 milhões (R$ 9,32 milhões) um estudante de 25 anos que ficou esquecido por cinco dias em cela da unidade da DEA (agência antidrogas) em San Diego, na Califórnia.
Acusado de distribuir ecstasy, Daniel Chong foi detido em 2012 durante ação da DEA na casa de um amigo. Depois de interrogarem Chong, agentes disseram que seria liberado, mas foi esquecido preso.
Chong ocupou cela sem janela, com 3 m x 1,5 m. Para resistir, bebeu a própria urina. Quando foi encontrado, perdera sete quilos, estava coberto de fezes e desidratado. "Foi um erro de proporções inacreditáveis", disse sua advogada.

Papa começa limpeza de arcebispos suspeitos de corrupção
Banco do Vaticano abre pela primeira vez um site para dar transparência
Jamil Chade - OESP
Nem bem desembarcou em Roma depois de uma intensa visita ao Brasil, o papa Francisco começa a tomar decisões para limpar a Igreja no que se refere aos escandalos de corrupção. Nesta quarta-feira, 31, o Vaticano anunciou a renúncia de três bispos implicados em escândalos de corrupção. No mesmo dia, a Santa Sé colocou no ar um site do Instituto de Obras Religiosas, considerado como o Banco do Vaticano, e prometeu que vai, pela primeira vez, publicar as contas da instituição.
O papa, durante sua viagem ao Brasil, insistiu que uma das metas de suas reformas é o de garantir transparência nas contas da Igreja. As renúncias dos bispos seriam um alerta de que ele não vai poupar ninguém.
Nesta quarta-feira, o Vaticano indicou diplomaticamente que Francisco "aceitou a renúncia" dos arcebispos de Lubjana e Maribor, depois que um buraco de 800 milhões de euros foi encontrado nas contas da Igreja eslovena.
Na Eslovênia, as vítimas foram os arcebispos Anton Stres e Marjan Turnsek. O Vaticano apenas indicou que seguiu o parágrafo 2 do canon 401 do Código de Direito Canônico. Por essa regra, pede-se que um bispo renuncie "por doença ou causa grave".
O escândalo começou ainda em 2010, quando o Vaticano enviou um inspetor para entender porque motivo a Igreja do país pedia tantos empréstimos à Santa Sé. Descobriu-se que, por conta de operações financeiras de alto risco, a Igreja local havia perdido muito dinheiro e, para sobreviver, pediu dinheiro emprestado em bancos e até a rede de TVs. Ficou ainda claro que a imprudência já tinha começado em 2003. "Espero que o passo que dei foi correto para restituir a reputação da Igreja eslovena", disse Stres.
Outro que renunciou foi o arcebispo de Yaoundé, em Camarões, também por conta de um escândalo financeiro. Simon-Victor Tonyé Bakot chegou a ser o presidente da Conferência Episcopal de seu país, mas também era um ativo empreendedor imobiliário.
No mesmo dia, o Banco do Vaticano abriu seu novo site - www.ior.va - justamente com a meta de dar transparência a suas atividades. O banco é alvo de duras críticas e o papa já indicou que não sabe ainda se a instituição será mantida.
Em declarações à Rádio Vaticano, o presidente do Ior, Erns von Freyberg, garantiu que a meta é ser transparente e que, em 2013, pela primeira vez as contas da instituição serão conhecidas. "Vamos fornecer informações sobre as nossas reformas e o que fazemos no mundo e como podemos apoiar a Igreja e sua missão e obras de caridade", disse.
 
Fraternidade
A busca por uma reforma também está marcada pela escolha do papa, anunciada na última quarta, de que o Dia Mundial da Paz de 2014 terá a "fraternidade" como tema.
Para ele, a "globalização da indiferença" deve ser substituída pela "globalização da fraternidade". Propondo um "rosto mais humano ao mundo", ele voltou a pedir que se supere a "cultura do descartavel" e que se promova a "cultura do encontro".
Sua avaliação é que a fraternidade é o caminho para superar a pobreza, fome, subdesenvolvimento, conflitos, desigualdade, injustiça, crime organizado e fundamentalismos. Francisco ainda pede que não se tenha apenas uma ajuda assistencialista ao mais pobres.
Na quarta, o papa ainda participou da festa litúrgica de São Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus. Jesuíta, o papa não deixou de participar do evento. Mas pediu que seus colegas jesuítas tomem "caminhos criativos" e que destinem seus trabalhos para as "periferias, as tantas periferias do mundo".
Câmara do Uruguai aprova regulação da venda e cultivo de maconha
Projeto ainda precisa passar pelo Senado, onde não enfrentará uma forte oposição, dizem analistas
O Globo/Janaína Figueiredo 
Um homem mostra uma planta de cannabis em Montevidéu
Foto: PABLO PORCIUNCULA / AFP
Um homem mostra uma planta de cannabis em Montevidéu - PABLO PORCIUNCULA / AFP
MONTEVIDÉU - Depois de mais de 12 horas de debate, a Câmara dos Deputados do Uruguai aprovou o projeto de lei que prevê a regulação da venda e do cultivo da maconha no país. Foram 50 votos a favor de um total de 96 legisladores. O próximo passo é análise no Senado, onde, segundo a analistas, a norma não deve enfrentar uma forte oposição.
- A maconha é uma bosta, com ou sem lei... vou continuar criticando a gênese deste projeto, porque ele não nasceu do coração do povo, nasceu nas alturas do Executivo - criticou Pérez.
Depois de explicar por que é contra a essência do projeto e enumerar diversos problemas vinculados ao consumo de maconha, o deputado assegurou que votará em sintonia com os demais 49 congressistas que integram a bancada governista:
- Vou ter a sorte de meus companheiros, para bem ou para mal. Vamos continuar trabalhando juntos pelas mesmas coisas que trabalhamos nos últimos anos.
Em outra parte de seu discurso, ele também indicou que iria votar pela aprovação do projeto defendendo que alguma atitude tem que ser tomada para modificar o uso ilegal da droga e a violência gerada pelo tráfico.
- Eu pensei em todos os pontos de vista desse projeto - assegurou Pérez. - A maconha é inimiga do estudante. Do trabalhador. No entanto, com o sem a lei, o uso vai continuar ocorrendo. Esse é um problema de segurança nacional, de combate ao narcotráfico. Se não fizermos nada, nada vai acontecer - criticou.
Para que a proposta fosse aprovada, eram necessários ao menos 50 dos 99 votos. Pesquisas apontam que 63% da opinião pública são contrários à iniciativa, que seria respaldada pelo Senado, de acordo com a bancada governista.
Os partidos da oposição, que já haviam adiantado que se posicionariam de forma contrária à iniciativa, anunciaram nesta quarta-feira que não iriam acompanhar a votação, alegando que o projeto estimula o consumo da substância. Já defensores da proposta, como o deputado Gerardo Amarilla, argumentam que a política de repressão e proibição do consumo não gerou resultados positivos.
Uma vez aprovado na Câmara, o projeto não deve sofrer alterações no Senado. Luis Gallo, da Frenta Ampla - à qual o presidente José Mujica pertence -, garantiu ao “El País” que todos os senadores votarão a favor da proposta.
A legalização da venda da maconha está em estudo no Parlamento desde agosto do ano passado, quando o Executivo enviou uma proposta de artigo único que autorizava a produção, a venda e a distribuição pelo Estado, com o objetivo de combater o tráfico de drogas.
Depois de a Câmara elaborar um artigo alternativo, o próprio presidente recuou e impediu a adoção da iniciativa em dezembro de 2012, alegando que a ideia ainda não estava madura.
- Não votem em uma lei porque têm maioria no Parlamento, a maioria tem de estar nas ruas. As pessoas têm que entender que, com tiros e colocando as pessoas na prisão, o que estamos fazendo é alimentar um mercado de drogas - afirmara Mujica aos legisladores.
Com base nesta posição de levar em conta a opinião pública, Pérez pediu ao presidente para rever a decisão de impulsionar a aprovação do projeto, mas não obteve apoio de Mujica.
Um herdeiro masculino, mas um trono adequado para rainhas
Katrin Bennhold - IHT
23.jul.2013 - AP

Jornalistas se reúnem para acompanhar a saída do bebê real do hospital, acompanhado da mãe, Kate Middleton, e do pai, o príncipe WilliamJornalistas se reúnem para acompanhar a saída do bebê real do hospital, acompanhado da mãe, Kate Middleton, e do pai, o príncipe William
Houve certa ironia no nascimento de um herdeiro masculino para a coroa britânica na semana passada. Pela primeira vez na história, uma menina se tornaria a futura rainha, independentemente de quaisquer futuros irmãos, após as regras da sucessão terem sido transformadas em neutras em gênero no início deste ano.
Mas a fonte da Trafalgar Square daqui se tornou azul em 23 de julho, não cor-de-rosa. Os homens tiveram primazia ao trono britânico apesar de rainhas o terem ocupado por 125 dos últimos 200 anos. Agora que as mulheres têm acesso igual, esse acesso pode ser bloqueado por grande parte do século, após uma sucessão por pelo menos três príncipes: o recém-nascido príncipe George; seu pai, o príncipe William; e seu avô, o príncipe Charles.
Foi notável a grande margem de público a favor de uma princesa: os corretores de apostas informaram uma chance de 7 para 10 de o bebê ser uma menina, com base em centenas de milhares de libras em apostas.
Essa inclinação pró-menina representa uma ruptura na história --e não é preciso voltar quatro séculos e meio até Henrique 8º mandar a pobre Anne Boleyn ser decapitada por fracassar em lhe dar um herdeiro do sexo masculino. Quando a atual rainha estava em trabalho de parto e prestes a dar à luz Charles, em 1948, uma pessoa teria dito ao seu marido, o príncipe Philip, a caminho do Palácio de Buckingham: "Eu espero que você tenha um menino".
Desta vez os comentários foram raros, embora não totalmente ausentes. A correspondente da "CNN" Victoria Arbiter parabenizou a duquesa de Cambridge por produzir um herdeiro masculino. "Vejam quão brilhante Kate é. Há mulheres por toda a história da família real britânica que entraram em pânico por não conseguirem dar à luz um menino, e aqui estamos. Kate conseguiu. Na primeira vez."
Uma reação mais comum foi de decepção. "Preciso dizer: eu fiquei decepcionada por não ser uma menina", postou no Twitter Katie Razzall, uma repórter e apresentadora da emissora britânica "Channel 4", logo depois do anúncio. Zoe Williams, escrevendo no jornal "The Guardian", parecia igualmente desapontada: "Infelizmente não teremos a chance de testar as novas regras para a sucessão".
Um artigo de primeira página no "The Times" de Londres, no dia seguinte ao nascimento, resumiu o espírito: "O reescrever da história terá que esperar".
Mas uma rainha potencial teria reescrito a história?
Quando a rainha Vitória assumiu o trono em 1837, as ativistas pelos direitos da mulher da época esperaram em vão que ela apoiasse a causa delas. Nem a atual rainha, Elizabeth 2ª, foi uma campeã do feminismo. Mas, se o Reino Unido foi um dos primeiros países a eleger uma líder --Margaret Thatcher em 1979--, foi em parte porque os eleitores estavam acostumados à visão de uma mulher como chefe de Estado.
"O simples exemplo dessas duas rainhas proeminentes preparou os britânicos para Thatcher", disse Arianne J. Chernock, uma especialista em história real britânica da Universidade de Boston.
No século 21, o efeito do modelo real parece bastante diferente.
Um motivo para a Lei de Sucessão à Coroa, que aboliu a primogenitura masculina em abril, não ter sido controversa foi por ter simplesmente se adequado à realidade. A rainha Vitória reinou no Reino Unido por quase 64 anos, e Elizabeth está em seu 62º ano. Mas outro motivo é o fato de a própria instituição da monarquia ter se tornado cada vez mais "feminizada", disse Chernock.
"Ela é agora uma instituição quase exclusivamente cerimonial, que cuida de filantropia e de parecer adequada ao papel, e não mais detentora de poder real", disse. "Os monarcas representam, trabalham em caridade, são seguidos por sua moda. Essas são qualidades que culturalmente associamos mais às mulheres."
Nesse aspecto, uma princesa poderia ter reforçado, em vez de mudado, os estereótipos de gênero no século 21 --e um rei, de certo modo, apresenta uma maior probabilidade de quebrar esses estereótipos: "É desajeitado ser um homem da realeza porque você não pode ser um líder masculino tradicional --você é uma figura decorativa dessa instituição bastante feminizada", disse Chernock.
O príncipe Charles, que é o próximo na linha de sucessão, "suportou insinuações de que é grosso, pomposo, insensível e excessivamente subsidiado", escreveu o semanário "The Economist" nesta semana. Até mesmo o arquimonarquista 'Daily Mail' escreveu um artigo recentemente sobre o cortesão contratado para carregar sua almofada favorita, em um tom que o jornal normalmente reserva aos requerentes de asilo.
Isso poderia explicar o desapontamento expressado no site britânico da revista feminina britânica "Cosmopolitan": "Acabou o sonho de uma rainha moderna, conquistando o mundo com sua graça como Diana e Kate, vestida decadentemente em excesso de roupas de grife".
O comentário corrente sobre a barriga e o código de vestuário de gravidez da duquesa antes conhecida como Kate Middleton, nos últimos sete meses, ecoou a obsessão da mídia pela falecida mãe de seu marido, Diana, a princesa de Gales. Quão rapidamente a duquesa voltará à forma sem dúvida será a próxima. Como brincou pelo Twitter a colunista Hadley Freeman, do jornal "The Guardian", logo após o nascimento: "Eu espero que Kate já tenha perdido o peso ganho na gravidez a esta altura. Afinal, já se passaram quatro horas, não é?"
Certamente haverá alguns efeitos colaterais que os arquitetos da nova lei de sucessão podem não ter antecipado. Algumas aristocratas têm usado as mudanças para fazer lobby por leis de herança neutras em gênero por todo o espectro da nobreza, por exemplo. E outras monarquias que ainda contam com a primogenitura masculina, como a Espanha, foram cutucadas a promover seu próprio debate sobre a sucessão.
Mas, por mais que as mulheres da realeza se conformem com as expectativas, elas ainda têm agendas lotadas. E há uma área onde elas provavelmente desafiarão as tradições, não importa o que aconteça: no debate público sobre o equilíbrio entre maternidade e vida profissional.
A atual rainha já enfrentou sua cota de julgamento. Seu filho tinha 5 anos quando ela foi coroada, em 1953. Uma soberana jovem com uma agenda ativa, ela também era uma mãe jovem criticada por parecer fria demais com seus filhos em público e por perder seus aniversários.
A mídia sem dúvida ficará de olho nas escolhas feitas pela duquesa de Cambridge.
"Kate não será uma mãe que fica em casa", disse Chernock. "Essa simplesmente não é uma opção."
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Como vender uma boa ideia
Richard Branson - NYT 
Pergunta: Eu tenho uma meta, uma visão e um plano estratégico. Qual é o melhor lugar para encontrar investidores potenciais ou financiamento? Como eu apresento minha ideia?
–Sandra, leitora da revista "Entrepreneur"
Resposta: Quando você estiver se preparando para falar aos investidores sobre sua ideia para um negócio, as pessoas lhe dirão para preparar uma abordagem de elevador, um resumo padrão que vende uma ideia de negócio em um minuto ou menos. Mas há muito mais locais e situações onde você pode encontrar um investidor potencial --qualquer pessoa, de um líder empresarial a um parente--, e você terá que convencer essa pessoal de que seu negócio será bem-sucedido. Por que limitar a si mesma ou a sua imaginação a elevadores? Você precisa pensar nisso como uma abordagem para qualquer lugar.
Nos últimos meses, empreendedores me apresentaram suas ideias em dois ambientes muito mais interessantes do que elevadores. Um foi enquanto eu estava andando de bicicleta na África do Sul. Alguns membros da equipe da Virgin e eu estávamos no país em março, para o Cape Argus Pick n Pay Cycle Ride, um percurso de 109 quilômetros. Eu não andava de bicicleta desde que era menino, de modo que decidimos usar um treinamento de última hora para levantar dinheiro para o Centro Branson de Empreendedorismo da África do Sul, uma organização sem fins lucrativos que fornece assistência e treinamento para novos empreendedores, assim como para a Fundação JAG, que lida com problemas da comunidade por meio do esporte. Nós concordamos em ouvir algumas propostas rápidas dos participantes durante o Passeio com Richard.
Sessenta pessoas se inscreveram no passeio e apresentaram suas ideias para mim, para Josh Bayliss, que é presidente-executivo do Virgin Group, e para Tracey Webster, que é a nova presidente-executiva do Centro Branson na África do Sul. Os empreendedores tinham que pensar com seus pés (literalmente, enquanto pedalavam) e fazer suas ideias se destacarem das dos demais ciclistas em nosso pelotão. O fator novidade manteve todos rindo, o fato de estarem ofegantes ajudou todos a manterem suas propostas sucintas, e o exercício fez o cérebro de todos funcionar --nós ouvimos algumas boas ideias iniciais e as desenvolvemos juntos. E todos nós completamos a corrida no dia seguinte, de modo que a prática foi de ajuda.
Então, em maio, eu ouvi algumas ideias cheias de entusiasmo durante um voo da AirAsia, no qual eu trabalhei como comissária de bordo --eu estava pagando uma aposta que perdi dois anos antes para o presidente-executivo da AirAsia, Tony Fernandes, sobre a equipe de quem se sairia melhor na Fórmula 1. Alguns passageiros me passaram propostas e eu convidei aqueles que me entregaram as que mais chamavam atenção para falar sobre suas ideias. Uma mulher até mesmo usou uma barba para assegurar que chamaria minha atenção. Quanto a mim, eu estava vestido de comissária de bordo, com batom, collant e sapato vermelho. Foi uma experiência bastante surreal, mas várias pessoas compartilharam propostas excelentes, e eu consegui colocar algumas delas na direção certa.
É claro, nem todo mundo encontrará investidores potenciais andando de bicicleta ou em um voo. Atualmente eu recebo muitas ideias originais e interessantes pelas redes sociais. Como fazer sua ideia se destacar? Se a sua ideia é realmente inovadora, tente tornar sua proposta igualmente inovadora. Muitas pessoas têm boas ideias e às vezes uma apresentação singular pode fazer toda a diferença.
Uma das propostas mais incomuns que já fiz envolveu um truque de mágica. Quando estávamos trabalhando para começar a Virgin Atlantic, eu me encontrei com a Airbus, na esperança de comprar um avião. Na condição de nova empresa, nós precisávamos desesperadamente de um grande desconto, e eu lhes disse que, se vendessem o avião deles para nós e nossa companhia aérea fosse bem-sucedida, o que certamente seria, eles veriam muito mais negócios a longo prazo. Mas a Airbus não concordou com o preço que podíamos pagar.
Eu sabia que os executivos deles provavelmente já tinham ouvido propostas como a que fiz, de modo que decidi fazer a minha se destacar. Ao nos sentarmos para o almoço, perguntei aos executivos: "Vocês acham que existe alguma chance de o seu presidente-executivo ser hipnotizado?" "Claro que não", eles responderam. Eu disse ao presidente-executivo, Jean Pierson: "Se eu puder hipnotizar você em cinco minutos, você nos dá o desconto de US$ 2 milhões?" Ele e todos os outros concordaram, e apertamos mãos.
Cerca de três minutos depois, eu perguntei que hora era. Pierce olhou para seu pulso e descobriu que seu relógio tinha desaparecido. Ele pareceu preocupado. Eu então olhei para meu pulso, onde agora havia dois relógios. Os executivos acreditaram que eu tinha hipnotizado Pierson e ele me entregou seu relógio, em vez de eu ter sido ágil o suficiente para pegar seu relógio durante o aperto de mãos!
A Airbus nos deu o desconto como prometido, o que foi fundamental para o início das atividades da Virgin Atlantic. Apesar da minha abordagem ter sido heterodoxa, ela funcionou.
Seja qual for a sua ideia, siga esses passos simples. Explique como seu novo negócio fará a diferença, mas o faça de modo interessante. Mostre seu conhecimento de modo gentil, destaque sua experiência e os pontos fortes de sua equipe e fundamente sua ideia com mensagens simples, realistas. Não use jargão. E, mais importante, o faça de modo rápido. Você nunca sabe: a pessoa para a qual você está apresentando sua ideia pode precisar pegar o elevador.
Boa sorte!
Tradutor: George El Khouri Andolfato
A vingança das amantes
Thomas L. Friedman - NYT   
De vez em quando, você lê uma notícia tão reveladora que pensa: será que vamos olhar para trás, daqui a cinco anos e dizer: "Nós deveríamos ter visto isso chegando. Aquela história foi o sinal de alerta".
Foi isso que aconteceu comigo diante de um artigo de 25 de julho do "The Washington Post" sobre como as amantes abandonadas de funcionários corruptos do governo chinês se tornaram as mais importantes delatoras do país – usando a Internet para expor as travessuras dos altos burocratas. O "Post" detalhou o caso de Ji Yingnan de 26 anos, que era noiva de Fan Yue -vice-diretor da Administração Estadual de Arquivos- até que ela descobriu que ele era casado e tinha um filho o tempo todo que estiveram juntos.
Para se vingar, Ji "divulgou centenas de fotos on-line que oferecem um raro vislumbre da vida de um funcionário do governo central chinês, que -apesar de seu modesto salário- podia esbanjar com sua amante", comprando-lhe inúmeros artigos de luxo, disse a reportagem do "Post". A primeira vez que "eles foram às compras, segundo Ji, o casal foi à loja Prada e pagou US$ 10.000 (em torno de R$ 20.000) por uma saia, uma bolsa e um lenço. Um mês depois de se conhecerem, Fan alugou um apartamento para eles que custava US$ 1.500 por mês e gastou mais de US$ 16.000 em lençóis, utensílios domésticos, um desktop e um laptop da Apple. Então, ele comprou para ela um Audi A5 prata, que custa nos Estados Unidos cerca de US$ 40.000... "Ele colocava dinheiro na minha bolsa todos os dias", disse Ji, em uma carta ao Partido Comunista reclamando do comportamento de Fan.
E fica pior. O "Post" relatou que "um blogueiro chinês conhecido, que postou fotos e vídeos de Ji em seu site, conversou com Fan no mês passado. Fan disse ao blogueiro que não gastou tanto dinheiro quanto disse Ji e alegou que foi menos de US$ 1,7 milhão, mas mais do que US$ 500.000. "Esta mulher não é boa. É gananciosa demais", teria dito Fan, segundo o blogueiro Zhu Ruifeng.
Oh, entendo. Foi menos que US$ 1,7 milhão. Bom saber! Esse cara é um burocrata sênior dos arquivos do Estado. Que tipo de atividade ilícita ele desenvolvia nas salas do arquivo para ganhar esse tipo de dinheiro? Todo governo tem corrupção, incluindo o nosso. Mas a da China tem potência industrial. Meu colega David Barbosa, no ano passado, expôs como a mãe, o filho, a filha, o irmão mais novo, a esposa e o cunhado do então primeiro-ministro Wen Jiabao tinham acumulado coletivamente US$ 2,7 bilhões em ativos. Mas quando você vê quanto um vice-diretor de arquivos foi capaz de acumular -e como gastou descaradamente- você começa a se preocupar.
Quando visitei a China em setembro, escrevi sobre o novo lema entre os empresários chineses que conheci: "Faça o seu dinheiro e saia". Mais do que nunca, percebi uma falta de confiança no modelo econômico chinês. Esperamos que a China consiga fazer uma transição estável do comunismo de partido único para um sistema mais consensual, multipartidário –e uma diversificação estável de sua economia de baixo salário, alta exportação e comando estatal- como fizeram a Coreia do Sul, Taiwan, Indonésia e Cingapura. Sua enorme poupança vai ajudar.
O mundo não suportaria uma transição caótica na China. Com os Estados Unidos presos em um crescimento lento, a Europa atolada em estagnação e o mundo árabe implodindo, a China tem sido um motor econômico vital para a economia global. Se a redução do ritmo de crescimento e da taxa de emprego na China se unir ao descontentamento crescente com a corrupção dos funcionários públicos –que estão tentando ganhar o seu, enquanto é possível- não teremos uma transição estável na China. E se um sexto da humanidade começar a passar por uma transição política/econômica instável e incerta, isso vai sacudir o mundo.
Seria ótimo se os repórteres chineses, blogueiros, grupos de cidadãos e, sim, amantes com o poder da Internet pudessem expor a corrupção de forma a ajudar a tornar a transição necessária e também possível. Mas esses agentes virtuosos da sociedade civil só terão êxito se encontrarem aliados no Partido Comunista, se conseguirem capacitar os quadros do partido que entendem o risco que a corrupção galopante impõe à estabilidade e ao futuro de seu partido.
A história de Ji e Fan é muito divertida. Mas se é apenas a ponta de um iceberg de corrupção que desestabilizará a China, não será motivo de riso. O comportamento bom ou ruim das autoridades chinesas não apenas irá nos afetar –desde o valor da nossa moeda até o nível das nossas taxas de juros e a qualidade do ar que respiramos- mas pode ser o que mais nos afetará fora do nosso próprio governo.
Há razão para preocupação.
"A ousadia que os líderes chineses demonstraram ao fazerem crescer sua economia, que saiu de quase nada para se tornar a segunda maior do mundo, não foi acompanhada, é claro, do desenvolvimento de instituições democráticas e, mais importante, do desenvolvimento de uma boa e honesta administração", disse Jeffrey Bader, ex-assessor do presidente Barack Obama para assuntos da China e autor do livro "Obama and China"s rise" (em tradução livre: Obama e a ascensão da China).
Mas, se os líderes chineses não atacarem esta questão, acrescentou, "então haverá mais corrupção, mais alienação das pessoas comuns e mais questionamentos sobre a estabilidade da China. Isso seria uma má notícia não só para a China, mas para os Estados Unidos, cujo futuro está entrelaçado com o da China".
Tradutor: Deborah Weinberg
Detroit, a nova Grécia
Paul Krugman - NYT 
19.jul.2013 - Bill Pugliano/Getty Images/AFPA cidade de Detroit (EUA), que tem dívidas de US$ 15 bilhões, declarou na quinta-feira (18) a maior falência municipal da história americana
A cidade de Detroit (EUA), que tem dívidas de US$ 15 bilhões, declarou na quinta-feira (18) a maior falência municipal da história americana
Desde que Detroit declarou falência --ou pelo menos tentou declarar--, a situação jurídica da cidade ficou complicada. Eu não fui o único economista a ter uma sensação ruim em relação ao provável impacto em nosso discurso político. Será que a história da Grécia iria se repetir mais uma vez?
Claramente, algumas pessoas gostariam que isso acontecesse. Mas vamos colocar essa conversa na direção certa antes que seja tarde demais.
OK, vamos esclarecer sobre o que eu estou falando. Como você deve se lembrar, há alguns anos a Grécia mergulhou em uma crise fiscal. Isso foi ruim, mas teve efeitos limitados sobre o restante do mundo. Afinal de contas, a economia grega é bem pequena (na verdade, a economia da Grécia é apenas 1,5 vez maior do que a economia da região metropolitana de Detroit). Infelizmente, muitos políticos e formuladores de políticas públicas usaram a crise grega para roubar o debate, mudando o foco das discussões da criação de empregos para a retidão fiscal.
Mas a verdade é que a Grécia foi um caso muito especial, que gerou poucas ou bem poucas lições para a política econômica geral --e, até mesmo na Grécia, os déficits orçamentários constituíam apenas uma parte do problema. No entanto, durante algum tempo o discurso político em todo o mundo ocidental ficou completamente "helenizado" --todo mundo era a Grécia ou estava prestes a se transformar na Grécia. E esse caminho intelectual equivocado causou um enorme dano para as perspectivas de recuperação econômica.
Por isso, agora os críticos do déficit têm uma nova questão para interpretar mal. Independentemente dos reiterados fracassos das previsões sobre a materialização da crise fiscal dos EUA, a queda acentuada das estimativas sobre os níveis da dívida norte-americana e a forma como grande parte das pesquisas que os críticos usaram para justificar suas críticas foram desacreditadas. Mas vamos nos concentrar obsessivamente sobre os orçamentos municipais e sobre as obrigações dos fundos públicos de pensão!
Ou, na verdade, não vamos, não.
Será que os problemas de Detroit são a ponta do iceberg de uma crise nacional do setor público de fundos de pensão? Não. É verdade que os fundos de pensão estaduais e locais estão realmente subfinanciados: especialistas do Boston College dizem que o déficit total está em US$ 1 trilhão. Mas muitos governos têm adotado medidas para solucionar esses déficits. Essas medidas ainda não são suficientes. Segundo as estimativas do Boston College, este ano as contribuições totais recebidas pelos fundos de pensão serão, aproximadamente, US$ 25 bilhões menores do que deveriam ser. Mas em uma economia de US$ 16 trilhões, esse não chega a ser um problemão --e mesmo que você faça suposições mais pessimistas, como alguns, mas não todos, os auditores dizem que você deveria fazer, ainda assim esse não seria um problemão.
Então será que Detroit foi apenas excepcionalmente irresponsável? Novamente, não. Aparentemente, Detroit teve uma governança especialmente ruim, mas a maior parte da cidade foi apenas uma vítima inocente das forças de mercado.
O quê? As forças de mercado fazem vítimas? É claro que fazem. Afinal de contas, os entusiastas do livre mercado gostam de citar Joseph Schumpeter em relação à inevitabilidade da "destruição criativa" --mas eles e seu público cativo invariavelmente se imaginam como os destruidores criativos, e não como aqueles que são criativamente destruídos. Bem, adivinhem: alguém sempre acaba sendo o equivalente moderno do produtor de chicotes para charretes --e esse pode ser você.
Às vezes, os perdedores gerados pelas mudanças econômicas são indivíduos cujas competências se tornaram obsoletas. Às vezes, esses perdedores são empresas que atendiam a um nicho de mercado que não existe mais. E, às vezes, eles são cidades inteiras que perderam seu lugar no ecossistema econômico. O declínio acontece.
Na verdade, no caso de Detroit o problema parece ter sido agravado pela disfunção política e social. Uma consequência dessa disfunção tem sido um grave caso de "expansão dos postos de trabalho" pela área metropolitana da cidade, com as vagas deixando o núcleo urbano mesmo quando o nível de emprego na grande Detroit ainda estava aumentando, e até mesmo enquanto outras cidades observavam um renascimento em seus centros. Menos de 25% dos empregos oferecidos na área metropolitana de Detroit estão localizados a 10 milhas (16 km) do distrito comercial central tradicional. Na grande Pittsburgh, outra ex-gigante industrial cujos dias de glória passaram, esse percentual é de mais de 50%. E a vitalidade relativa do centro de Pittsburgh pode explicar porque a antiga capital do aço está mostrando sinais de renascimento, enquanto Detroit só continua afundando.
Então, vamos discutir seriamente como as cidades podem gerenciar melhor essa transição quando suas fontes tradicionais de vantagem competitiva se acabam. E vamos também ter uma discussão séria sobre as nossas obrigações, como país, para com os nossos concidadãos que tiveram a má sorte de viver e trabalhar no lugar errado, na hora errada --pois, como eu disse, o declínio acontece, e algumas economias regionais vão acabar encolhendo, talvez drasticamente, independentemente do que fizermos.
O importante é não deixar que a discussão seja roubada novamente --ao estilo grego. Há pessoas influentes que gostariam que você acreditasse que a morte de Detroit é, fundamentalmente, um conto de irresponsabilidade fiscal e/ou de funcionários públicos gananciosos. Mas ela não é. Em grande parte, ela é apenas uma daquelas coisas que acontece de vez em quando em economias em constante mudança.
Tradutor: Cláudia Gonçalves
Investigação à paisana: Apple enfrenta novas críticas por condições em fábricas na China
Hilmar Schmundt e Bernhard Zand - Der Spiegel
29.mar.2012 - Tim Cook (E), diretor-executivo da Apple, visita instalações da Foxconn (uma das fábricas responsáveis por produzir os eletrônicos da marca) em Zhengzhou, na China29.mar.2012 - Tim Cook (E), diretor-executivo da Apple, visita instalações da Foxconn (uma das fábricas responsáveis por produzir os eletrônicos da marca) em Zhengzhou, na China
A Apple pode ter abandonado o fornecedor Foxconn logo após um escândalo sobre as condições de trabalho deploráveis em suas fábricas chinesas, mas parece que as violações dos direitos trabalhistas também são abundantes na Pegatron, sua nova parceira.
Tim Cook tem tentado ser uma pessoa melhor. Ou, pelo menos, tentado se parecer com uma. No ano passado, o CEO da Apple visitou pessoalmente a China para dar uma olhada na Foxconn, uma controversa fornecedora da empresa.
Relatórios sobre as condições de trabalho deploráveis dos trabalhadores migrantes e os baixos salários, bem como uma onda de suicídios, estavam danificando a imagem da Apple, então Cook prometeu melhorias e também andou procurando novas fábricas onde os iPads, iPhones e computadores da empresa pudessem ser produzidos.
Um dos novos parceiros da Apple é a fábrica de produtos eletrônicos Pegatron, de Taiwan, que opera várias fábricas na China. Mas recentemente vazou a informação de que seus trabalhadores estão ainda em piores condições do que os da Foxconn.
Num relatório intitulado "As promessas não cumpridas da Apple", previsto para ser publicado nesta semana, a China Labor Watch (CLW) chega a uma conclusão preocupante: mais de 10 mil trabalhadores estudantes supostamente trabalham em fábricas parceiras da Apple e muitos "estagiários" têm idade entre 16 e 18 anos. Escolas e professores embolsam uma parte de seus salários na forma de "taxas de transporte e de inscrição". Um estudante que estava se formando em educação pré-escolar teve de assinar um contrato de seis meses. Esse trabalho estudantil não é incomum na China.
O relatório incriminador é baseado em pesquisas de vários investigadores da CLW que trabalhavam à paisana em fábricas de computadores Apple, iPads e iPhones. Eles realizaram mais de 200 entrevistas com seus colegas e fizeram algumas descobertas chocantes.
A jornada de trabalho é muito longa, com sete dias por semana, turnos que excedem 12 horas e não é incomum os funcionários fazerem 80 horas extras por mês. Parece que os "relatórios de frequência falsificados" ajudam a disfarçar os números reais.
O treinamento e os equipamentos de segurança são inadequados – a CLW sustenta que muitas salas de montagem não oferecem rotas de fuga suficientes no caso de incêndio. Os kits de primeiros socorros também são poucos e ficam distantes entre si. A agência de fiscalização também alega que os trabalhadores só podem reclamar um número limitado de dias de licença de saúde por mês. Um trabalhador que fica em casa por mais de sete dias não recebe licença saúde remunerada.
Além disso, alguns trabalhadores Pegatron são obrigados a ficar em seus locais de trabalho o dia inteiro, mesmo mulheres grávidas e os trabalhadores menores de idade trabalham bem mais de oito horas por dia, de acordo com a CLW.
Algumas fábricas praticam a discriminação, não contratando uigures e tibetanos, bem como pessoas com tatuagens. A CLW lista mais de 36 violações da lei chinesa. Até que a Apple interveio, uma fábrica confiscava documentos pessoais dos trabalhadores "por longos períodos de cada vez, efetivamente impedindo-os de sair da fábrica", relata um investigador.
Na semana passada, a companhia norte-americana se recusou a comentar as denúncias.

Abuso diário

Uma das fábricas da Pegatron fica localizada no leste de Xangai, a caminho do aeroporto de Pudong. O complexo é tão grande que chega quase a ser um bairro, compreendendo salas de montagem, torres de escritórios e dormitórios.
De acordo com um trabalhador de 25 anos de idade, Li Jun (o nome foi alterado pela Spiegel porque ele não quer ser identificado por seu nome verdadeiro), o local abriga cerca de 100 mil trabalhadores. Vestido com jeans e uma camisa xadrez, Li parece um estudante universitário típico. Até suas mãos estão perfeitamente limpas.
Como um novato sem treinamento, ele ganha um salário mensal de 3.200 yuan (392 euros). Ele descreveu seus turnos de 12 horas, que começam às nove da manhã, explicando que uma pausa de 50 minutos para o almoço e uma pausa de 40 minutos para uma refeição à noite não são remunerados.
Oito dessas 12 horas são horas de trabalho "base", pelas quais ele recebe 10 yuan (€ 1.20) por hora, enquanto que a taxa para as duas horas e meia restantes de trabalho extra, bem como durante os turnos de fim de semana, é de 15 yuan (€ 1,80).
Um dos maiores problemas, segundo ele, é a superlotação crônica e a necessidade resultante de passar um tempo precioso esperando na fila – no refeitório ou nas inspeções de segurança. "Todo dia, eu tinha que levantar às sete e nunca conseguia voltar para o meu dormitório antes de 10 da noite", afirma.
Ele fez pesquisas para a CLW em outras fábricas, mas disse que nunca experimentou um ambiente tão desgastante como na Pegatron. Li Jun admite que a forma como os chineses se comunicam tende a ser muito franca, mas que a falta de civilidade na Pegatron é particularmente censurável.
"O líder do grupo sempre usava algumas expressões muito grosseiras, como 'Cao ni ma' (foda-se sua mãe), 'sha bi' (vaca estúpida) e 'se você não quer trabalhar aqui, caia fora!'", diz ele.
Muitos trabalhadores também sofrem humilhação em público em reuniões não pagas realizada todas as manhãs e todas as noites. "É como uma chamada militar, com os trabalhadores em uma fila esperando levar broncas do líder do grupo", para ser gritado pelo seu líder do grupo", diz Li Jun.
Alguns ficaram tão chocados com o tom que se demitiram. Infelizmente, quem trabalha menos de cerca de doze dias na Pegatron não recebe nada, de acordo com o relatório da CLW. Se os trabalhadores querem fazer uma reclamação, eles podem utilizar uma linha direta dos funcionários ou deixar um bilhete na caixa de cartas do "vice-presidente".
Mas o investigador da CLW Li Jun diz que nos 40 dias em que trabalhou na Pegatron, ninguém jamais ousou telefonar e, embora ele tenha visto algumas cartas na caixa de correio, eles nunca foram recolhidas. A maioria dos trabalhadores não sabe se a fábrica tem um sindicato ou qualquer organização que sirva como um conselho de trabalhadores.

Pagando o preço

Ma Liu (o nome também foi alterado) também trabalhou à paisana para CLW. Ele trabalhou na AVY Precision Technology, uma fábrica em Suzhou que pertence ao império Pegatron. Ele trabalhou na fabricação da parte de trás dos iPads, fazendo furos para os fones de ouvido e dando acabamento às bordas.
Os níveis de ruído eram terríveis e os trabalhadores eram obrigados a respirar o ar contaminado com produtos químicos, diz ele, e não havia nenhum kit de primeiros socorros.
Quando ele machucou dois dedos com a máquina, não foi autorizado a deixar o seu posto para procurar bandagens, apesar de estar sangrando muito, diz ele. Depois de 40 minutos, o líder do grupo lhe deu um pedaço de "fita plástica industrial" para cobrir sua ferida e instruiu-o a continuar trabalhando.
Ma é um experiente advogado especializado em direito do trabalho. Ele fez uma pesquisa em mais de 80 companhias e diz que AVY Precision Technology é uma das piores que ele já inspecionou. Os funcionários são muitas vezes obrigados a fazer 136 horas extras por mês. "A Pegatron está no processo de repetir muitos dos erros que a Foxconn cometeu", diz Ma. "Por que seria diferente quando fábricas com mais de 10 mil funcionários aumentam dez vezes sua capacidade?"
"A Apple escolheu estes fornecedores porque seus preços são mais baratos", disse Li Qiang, que coordena a CLW de Nova York. "Mas esses preços mais baixos se dão à custa de piores condições de trabalho na fábrica."
"Nós seguimos a norma do governo local, então não nos preocupamos", afirma um porta-voz da Pegatron. "A proteção dos trabalhadores é a nossa maior prioridade."
Traduzido do alemão por Jane Paulick.
Tradutor: Eloise de Vylder
EUA podem vigiar 'quase tudo' na web, diz novo documento
Programa permite busca de conteúdo sem autorização prévia, segundo papéis fornecidos por Edward Snowden
Agência afirma que uso do XKeyscore ajudou a capturar, até 2008, 300 terroristas; EUA negam interceptar conteúdo
GLENN GREENWALD - "GUARDIAN"
Um programa altamente sigiloso da Agência de Segurança Nacional (NSA) americana permite a analistas fazer buscas sem autorização prévia em vastos bancos de dados com e-mails, chats e históricos de navegação de milhares de pessoas, segundo documentos fornecidos por Edward Snowden, que denunciou abusos dos serviços de inteligência dos EUA.
A NSA se vangloria do programa --chamado XKeyscore-- em seu material de treinamento, que diz ser o "sistema de mais amplo alcance" para desenvolver inteligência baseada em dados virtuais.
Segundo os papéis, o XKeyscore tem acesso a 700 servidores em 150 pontos do mundo, inclusive no Brasil.
Os arquivos servem para destacar uma das afirmações de Snowden em sua entrevista ao "Guardian" em junho: "Sentado à minha mesa, eu podia grampear qualquer um, você, seu contador, um juiz federal ou até mesmo o presidente, se eu tivesse um endereço pessoal de e-mail".
Funcionários do governo dos EUA negam veementemente essa última alegação.
Mas os documentos do XKeyscore detalham como os analistas podem utilizar o sistema para vasculhar os imensos bancos de dados da agência por meio de um formulário em rede unificado, que registra apenas uma justificativa ampla para a busca.
A solicitação não é revisada por um tribunal nem por representantes da NSA.
Um documento da agência diz que o programa cobre "quase tudo que um usuário típico faz na internet", o que inclui o conteúdo de e-mails, sites visitados e buscas, e não apenas os metadados (no caso de um telefonema, por exemplo, os "metadados" informam quem ligou para quem, de onde e por quanto tempo, sem o teor da ligação).
Os analistas também podem usar o XKeyscore a fim de obter interceptação constante e em tempo real das atividades de um internauta.
Pelas leis dos EUA, a NSA tem a obrigação de requerer mandado individualizado no Tribunal de Vigilância de Inteligência Estrangeira apenas se o alvo da vigilância for uma "pessoa norte-americana", mas não para interceptar comunicações entre americanos e alvos estrangeiros.
No entanto, o XKeyscore oferece a capacidade de vigilância eletrônica extensa de americanos, sem mandado, desde que informações simples de identificação, como um endereço de e-mail ou IP (número de registro de um computador conectado), sejam conhecidas do analista.
Um slide de treinamento ilustra as atividades digitais que são constantemente recolhidas pelo XKeyscore e a capacidade do analista para solicitar informações de bancos de dados o tempo todo.
Segundo a NSA, 300 terroristas foram capturados por meio de informações obtidas via XKeyscore até 2008.
Conselheiro de Obama diz ser hipócrita indignação da Europa com espionagem
Gregor Peter Schmitz - Der Spiegel
Em entrevista à Spiegel, o conselheiro de Obama John Podesta chamou de hipócrita a indignação da Europa por conta do escândalo de espionagem da NSA, mas disse que os EUA também precisam de um debate nacional sobre as leis de vigilância.
Spiegel: De acordo com uma pesquisa recente, cerca de três quartos dos americanos acreditam que a espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA) está infringindo seus direitos de privacidade. Uma proposta para restringir programas como este foi rejeitada por uma estreita margem de votos no Congresso. Os norte-americanos estão começando a temer um estado de vigilância?
Podesta: Estamos em território desconhecido, enfrentando uma rápida mudança tecnológica que simplesmente inundou o regime jurídico existente. O foco da mídia nas últimas semanas tem girado quase que exclusivamente em torno da tentativa de Edward Snowden de conquistar o recorde mundial de escala mais longa num aeroporto. Mas o foco em Snowden distrai a atenção da problemática mais importante sobre as informações que ele forneceu para a mídia.
Spiegel: E qual é essa problemática?
Podesta: Ao contrário da última vez que tivemos um debate nacional sobre a vigilância doméstica da NSA na época das "escutas telefônicas ilegais", em 2005, hoje existe uma estrutura jurídica para apoiar o Prism e os outros programas. Portanto, o desafio não está enraizado no fato de a NSA ter ultrapassado seus limites legais. Em vez disso, novos produtos e serviços, um maior poder de processamento, e o custo decrescente de armazenar enormes quantidades de dados significam que a vigilância numa escala sem precedentes já não é apenas tecnologicamente possível, mas também é financeiramente viável pela primeira vez. Já passou da hora de iniciarmos um novo debate nacional sobre o que queremos que nossas leis de vigilância permitam, particularmente à luz da velocidade com que a tecnologia e a sociedade estão mudando.
Spiegel: E você acredita que esse debate continuará apesar do fracasso da proposta no Congresso?
Podesta: O povo norte-americano tem o direito de conhecer e compreender as leis sob as quais vivem. E a tendência é que ele exija respostas cedo ou tarde. Veja os debates sobre os ataques dos aviões teleguiados: temos visto uma aliança entre a esquerda e a direita contra os teleguiados por medo de que eles possam ser usados para fins domésticos. Obama teve de se pronunciar publicamente sobre sua política de segurança nacional e conseguiu acalmar grande parte desses críticos. Em retrospecto, a única questão foi por que ele esperou tanto tempo para fazer aquele discurso.
Spiegel: Então você quer que o presidente Obama faça um discurso semelhante sobre a espionagem?
Podesta: Seria um bom conselho para que ele se envolvesse num debate público. Mas ele também deve estabelecer uma comissão nacional para examinar esses problemas a fundo. As comissões presidenciais têm um longo histórico de investigar de forma ampla e imparcial muitos assuntos de segurança nacional, de Pearl Harbour ao 11 de setembro. A comissão deve se encarregar de oferecer recomendações para um quadro jurídico flexível que possa facilmente acomodar avanços tecnológicos e manter o respeito pelas liberdades civis. Ela também poderia examinar as atividades do setor privado.
Spiegel: Que atividades, por exemplo?
Podesta: Ao mesmo tempo em que a nova tecnologia permite que os governos se envolvam numa vigilância que antes não era tecnicamente viável, os consumidores estão divulgando voluntariamente pilhas de dados pessoais para empresas privadas – e essa divulgação é regida por aqueles longos acordos de termos e condições – aqueles que as pessoas clicam no botão "concordo" sem pensar duas vezes. Toda vez que postamos algo pessoal no Facebook, estamos ajudando essa empresa a construir um perfil sofisticado sobre nós que ela usa para vender anúncios direcionados. Enquanto isso, nossos smartphones com tecnologia GPS integrada monitoram onde estamos e as empresas de telefonia e provedores de Internet coletam metadados em cada ligação que fazemos e cada e-mail que mandamos. Nos Estados Unidos, as decisões judiciais da época anterior à Internet sugerem que a informação que é dada voluntariamente a essas empresas pode ser obtida facilmente pelo governo. Essa regra legal podia fazer sentido numa época anterior ao Facebook e aos iPhones, mas precisamos de uma análise séria para ver se isso ainda faz sentido hoje.
Spiegel: Você fala muito sobre os direitos dos norte-americanos. Mas os europeus estão furiosos porque a NSA pode espioná-los com quase nenhuma restrição.
Podesta: Precisamos de uma melhor fiscalização das nossas agências de vigilância e precisamos de mais transparência no Tribunal de Vigilância de Inteligência Estrangeira. Certamente podemos satisfazer nossas necessidades de segurança nacional sem sacrificar o respeito à privacidade pessoal, valor que por muito tempo foi um ícone da vida norte-americana. O presidente poderia acalmar alguns dos críticos internacionais se explicasse melhor o que os EUA estão fazendo.
Spiegel: Em vez disso você ouve em Washington que os europeus são "chorões" e "hipócritas".
Podesta: Bem, eu concordo que a raiva europeia é em grande parte hipócrita. A maioria dos governos de lá já sabiam há muito tempo o que os EUA vinham fazendo e muitas vezes cooperaram estreita e voluntariamente. Eu entendo por que os líderes da Europa precisam falar publicamente contra o Prisme outros programas, mas eles ainda agem como hipócritas.
Tradutor: Eloise de Vylder
Oliver Stone critica Dilma por não dar asilo a Snowden
Para cineasta de esquerda, Brasil ‘foi rápido demais’ ao negar visto
O Globo

Reprodução do Twitter
RIO - O cineasta e documentarista de governos de esquerda da América Latina, o americano Oliver Stone (Platoon, 1986), disse que Dilma Rousseff não foi “astuta” como o antecessor Lula e que o “Brasil foi rápido demais ao negar asilo a #Snowden” - o ex-técnico da CIA que revelou como os EUA usam a internet para espionar virtualmente qualquer pessoa do planeta.
“Muito desapontado com Dilma Roussef, presidente do Brasil. Não tão astuta quanto Lula. Brasil foi rápido demais em negar asilo a #Snowden”, escreveu Stone em sua conta oficial no Twitter, nessa terça-feira (30).
Stone é um admirador de figuras como Fidel Castro, Hugo Chávez e outros líderes de esquerda da região. Ele filmou “Comandante”, em 2003, sobre Fidel, e “Castro in Winter”, lançado ano passado, com uma entrevista feita em 2009, após a saída de Fidel do comando de Cuba.
Além da produção mais politizada, Stone filmou “Assassinos por Natureza”, em 1994, e “Nascido em 4 de Julho”, de 1989.
Queda de popularidade de Dilma faz ala do PT desejar volta de Lula
El Pais
24.jul.2013 - Ricardo Stuckert/Instituto Lula
O ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff durante ato do PT em Salvador, na Bahia
O ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff durante ato do PT em Salvador, na Bahia
Passado o furacão Francisco, o Brasil volta à dura realidade política que os protestos de junho passado deixaram de pernas para o ar.
E o cenário se animou com uma enigmática frase da presidente Dilma Rousseff: "Lula não voltará porque ele nunca saiu", disse em entrevista concedida dias atrás ao jornal "Folha de S.Paulo".
Há apenas dois meses, dava-se como certa a reeleição de Rousseff para um segundo mandato nas eleições do próximo ano. "Vamos elegê-la no primeiro turno", havia anunciado com segurança o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu maior apoiador.
Mas, de repente, as pessoas saíram às ruas. O "gigante Brasil" despertou, e o cenário mudou radicalmente. Dilma perdeu 50 pontos de popularidade. Hoje, com mais prudência, o governista PT (Partido dos Trabalhadores) já reconhece que as eleições presidenciais "estão abertas" a todas as incógnitas.
Nem mesmo o esforço feito pela mandatária de sair ao encontro das exigências dos manifestantes, quando as ruas ainda rugiam, foi suficiente. A população quer mais.
Os partidos aliados, que há dez anos governam com o PT, agora, diante da queda de popularidade da presidente, dão sinais de querer abandonar o barco e migrar para outros possíveis candidatos, como a ecologista Marina Silva ou opositor Aécio Neves, do PSDB, ou, ainda, o jovem Eduardo Campos, líder do PSB (Partido Socialista do Brasil).
Diante desse vendaval, uma parte do PT que nunca tinha visto com bons olhos a presidência de Rousseff agora tramaria a volta de Lula, que acaba de afirmar que está bem de saúde depois do câncer que teve detectado em 2011 --há alguns dias até desmentiu uma recaída.
Nesse ambiente de tensão política, Dilma pronunciou sua sibilina frase de que Lula não precisa voltar porque nunca saiu. Em seguida, a oposição falou em um "lapso freudiano", de reconhecimento implícito de que Lula continuou governando nesses anos com ela, que não gozou de independência.
Tratou-se de um escorregão da presidente? Nem todos pensam assim.
Merval Pereira, um dos analistas políticos mais agudos, interpreta a frase como a melhor forma de neutralizar a facção de seu partido que tenta substituí-la por Lula. Como se dissesse: se meu governo vai mal, se o Brasil não cresce, se a sociedade sai à rua contra nós, Lula é responsável comigo meio a meio, já que ele "nunca saiu". Quer dizer, continua governando comigo.
Lula sempre defendeu que Rousseff era a "melhor candidata" do PT; "melhor gestora" que ele e com uma grande personalidade. A um amigo seu que lhe perguntou por que havia escolhido como candidata uma mulher, respondeu: "Porque ela é mais homem que nós dois juntos".
Por que substituí-la, então? Lula disse aos militantes do partido que ele fundou: "Serei o maior defensor da candidatura de Dilma". E já começou a fazê-lo.
As cartas da política estão embaralhadas, entretanto. Como se fosse pouco, o papa animou os milhares de fiéis católicos a continuarem gritando na rua a favor de maiores conquistas sociais e pediu aos políticos que, em vez de reprimir os protestos, "dialoguem" com a rua sem poupar esforços.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Via cffnts

By Amarildo
O governo Dilma está parecendo biruta de aeroporto
Ricardo Noblat - O Globo
O governo Dilma está perdidinho desde que começou a despencar nas pesquisas de avaliação de desempenho.
A queda coincidiu com as manifestações de rua nas principais cidades do país.
O governo sugeriu a instalação de uma Assembleia Nacional Constituinte exclusiva para fazer a reforma política.
Ninguém que foi às ruas pedir reforma política.
O governo desistiu da ideia.
Então sacou uma segunda mais absurda ainda por falta de tempo útil para ser executada: um plebiscito. Destinado a aprovar a reforma política.
Gorou o plebiscito. Ninguém quis. Nem o PT.
Aí o governo decidiu mexer com os médicos ou aspirantes a médico.
Que tal tornar obrigatório um período de dois anos de permanência no SUS para a obtenção do diploma de graduação?
Os médicos foram para as ruas, indignados.
Há pouco, o governo deu o dito pelo não dito.
"Esqueçam minha proposta".
Não passa pela cabeça dos governantes sondar previamente possíveis interessados ou atingidos por suas medidas antes de pô-las a circular?
Evitaria passar por vexames.
O governo está parecendo aquelas birutas de aeroportos que indicam para onde sopram os ventos de superfície.
Governo desiste de aumentar curso de Medicina em dois anos
Obrigatoriedade de trabalho no SUS durante dois anos após graduação, como residência, é mantida
Meta é universalizar o acesso às vagas de residência até 2017 para que a regra comece a valer em 2018
BRASÍLIA — O governo enterrou de vez a proposta de estender de seis para oito anos a duração do curso de Medicina, mas a obrigação de trabalhar por dois anos no Sistema Único de Saúde (SUS) continua viva. Embora com algumas alterações, os dois anos no SUS deverão ser feitos por meio dos programas de residência médica. Essa possibilidade já havia sido citada na semana passada pelos ministros Alexandre Padilha (Saúde) e Aloizio Mercadante (Educação). A intenção do governo é, até 2017, universalizar o acesso às vagas de residência e, a partir de 2018, tornar obrigatória a realização da residência na rede pública.
A medida foi discutida pelo grupo de trabalho formado pela Comissão de Especialistas em Ensino Médico para debater a medida provisória (MP) publicada em 9 de julho que criou o programa Mais Médicos. A extensão do curso de seis para oito anos, com a obrigatoriedade de trabalhar no SUS, era um dos pontos mais polêmicos da MP.
Pela proposta, o primeiro ano da residência tem que ser feito na atenção primária em saúde e serviço de urgência e emergência, nas áreas de clínica médica, cirurgia geral, pediatria, ginecologia e obstetrícia, medicina de família e comunidade, e psiquiatria, todos na rede pública. O segundo ano será na especialização escolhida, mas também terá que ser desenvolvido no SUS.
O grupo de trabalho também propôs que o internato - o período de dois anos finais dos atuais cursos de medicina - seja feito na atenção primária em saúde na rede do SUS e na sua estrutura de urgência e emergência.
A possibilidade de trazer médicos estrangeiros sem passar pelo exame de revalidação do diploma e a falta de vínculos trabalhistas - outros dois pontos polêmicos do programa - não foram tocados.
A proposta inicial do governo era fazer com que os estudantes que ingressassem no curso de medicina a partir de 2015 tivessem que passar dois anos no SUS para obter o diploma. O chamado segundo ciclo está presente na MP do Mais Médicos. A partir da publicação da MP, o Congresso tem 120 dias para mudá-la e aprová-la. Caso contrário, a medida perde validade.
- O que vamos fazer é médicos que tenham uma vivência mais rica na medicina. Serão especialista na sua área, mas, acima de tudo, especialistas em ser humano - disse Mercadante.
O ministro falou depois de participar de uma reunião com reitores e coordenadores de cursos de medicina de universidades federais, além da Associação Brasileira de Educação Médica (Abem) e do Fórum Nacional de Dirigentes de Escolas Médicas (Formed). Também participaram da reunião o ministro Alexandre Padilha e secretários do governo.
A Justiça e a queda do PIB
O Estado de S.Paulo
Ao discursar na sessão de abertura do Simpósio de Altas Cortes de Justiça, realizado em Haia, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, afirmou que o declínio do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, em 2013, levará a uma queda nas receitas governamentais em 2014, obrigando os diversos tribunais do País a se ajustar a uma nova realidade orçamentária.
Entre outros temas, o encontro discutiu o impacto das crises econômicas sobre a Justiça e as medidas tomadas pelos tribunais do mundo inteiro para compensar a redução de seus orçamentos. Nos Estados Unidos, por exemplo, o orçamento da Justiça Federal para 2013 sofreu um corte de US$ 350 milhões. Dos 50 Estados americanos, 42 também promoveram cortes orçamentários e reduziram os horários de atendimento à população. Só a Justiça estadual da Califórnia fechou 25 varas e exonerou 175 servidores judiciais. No Reino Unido, discutiu-se a possibilidade de privatizar os serviços administrativos dos tribunais. Muitos dirigentes de cortes supremas reconheceram que, em alguns casos, os cortes orçamentários podem pôr em risco a autonomia administrativa e a independência dos tribunais.
No discurso, o ministro Joaquim Barbosa reconheceu, realisticamente, que a redução de verbas pode afetar a independência da magistratura. Mas lembrou que, para afastar esse risco, o Judiciário tem de ser menos perdulário na gestão de seus recursos e mais responsável na definição de suas prioridades. Segundo o ministro, desde que as estimativas de crescimento do PIB foram sendo reduzidas pelas autoridades econômicas os tribunais superiores foram obrigados a reduzir seu orçamento em R$ 166 milhões.
No Conselho Nacional de Justiça, que também é presidido por ele, o corte orçamentário foi de R$ 16,6 milhões. No Supremo, que tem um orçamento anual de R$ 500 milhões, a redução foi menor, de R$ 2,5 milhões. As maiores distorções estão nas Justiças estaduais, afirmou Barbosa. Enquanto o orçamento da Justiça Federal equivale a cerca de 2% do Orçamento da União, a Justiça de Rondônia recebe quase 9% do orçamento estadual.
O ministro Joaquim Barbosa sempre criticou os gastos excessivos dos tribunais brasileiros com a construção de palácios faraônicos e o uso de expedientes administrativos para aumentar os vencimentos de juízes, por meio de benefícios como auxílio-alimentação. No primeiro semestre, ele se opôs veementemente contra a aprovação, pelo Congresso, da Emenda Constitucional (EC) 73, que aumentou de cinco para nove o número de Tribunais Regionais Federais (TRFs). Segundo o ministro, a emenda amplia os gastos da Justiça Federal com a contratação de servidores e aquisição de frotas para desembargadores, sem que a demanda justifique a criação desses TRFs. Recente pesquisa do Ipea confirma o argumento, lembrando que um dos TRFs praticamente não terá trabalho por falta de processos.
Há algumas semanas, o presidente do STF acolheu um recurso impetrado por uma associação de procuradores federais e concedeu liminar suspendendo a criação dos quatro TRFs. A associação lembra que, pela Constituição, só o Judiciário pode propor projetos que alterem sua estrutura administrativa. A EC 73 foi de autoria de um senador.
Por coincidência, no mesmo mês em que discursou em Haia, propondo que a Justiça seja realista e responsável na gestão de recursos orçamentários, a imprensa divulgou uma nota de protesto de uma associação de juízes federais, afirmando que Barbosa não teria "isenção" para conceder a liminar. Também foi noticiado que o TJSP pagou R$ 191 milhões a seus juízes em 2013, a título de "quitação de vantagens eventuais". Os recursos vieram de um fundo originariamente criado para financiar a modernização administrativa da Corte. Isso mostra que setores da Justiça ainda não se deram conta de que o quadro econômico está em rápida mudança e de que terão de se adequar a um contexto de baixo crescimento, queda de receita e corte de despesas.