terça-feira, 30 de maio de 2017

Polícia investiga assassinato de geógrafa que relatou corrupção

Ricardo Borges/Folhapress
Rio de Janeiro, Rj, BRASIL. 12/05/2017; Arcanjo Serrano Pereira Jr( irmao), Cecilia de Goes Pereia ( Mae) e Itaura Serrano Pereira( Tia). Familiares da Geografa Patrícia de Góes Pereira, assassinada em outubro de 2015 quando trabalhava no programa de despoluição da baía de Guanabara ( Foto: Ricardo Borges/Folhapress)
Arcanjo Pereira Jr. (irmão), Cecília de Góes Pereira (mãe) e Itaura Serrano (tia), parentes da geógrafa
A cada fase da Operação Lava Jato no Rio, a família de Priscila de Góes Pereira espera por respostas. Mais do que o esclarecimento sobre o suposto esquema de corrupção no Estado, eles querem saber quem matou a tiros a geógrafa aos 38 anos.
Pereira era funcionária da gerenciadora de projetos e supervisão de obras do programa de despoluição da baía de Guanabara, o Psam (Programa de Saneamento Ambiental), iniciado em 2011.
Durante os cinco meses em que ocupou o posto, relatou a familiares divergências com empreiteiros, colegas e oferecimento de propina.
No dia 5 de outubro de 2015, ela estacionou seu carro próximo à estação do metrô Maria da Graça (zona norte). Uma pessoa se aproximou e atirou sete vezes.
Investigação da Divisão de Homicídios indica um crime profissional. Embora ela tenha ficado cerca de dez minutos dentro do carro em frente à creche da filha, só foi atacada no estacionamento, local sem câmeras.
Cerca de 20 pessoas foram ouvidas no inquérito, ainda sem conclusão. Celular e o computador da geógrafa foram apreendidos. A Folha apurou que a principal linha de investigação é de que a morte tenha sido encomendada em razão de sua atividade profissional. As demais hipóteses foram descartadas.
"Um dia ela chegou do trabalho e me disse: 'Acredita que aqueles filhos da puta me ofereceram dinheiro?'", relatou um parente, que pediu para não ser identificado.
Pereira chegou em maio de 2015 ao Psam e tinha como função monitorar o andamento de obras e fazer a interface entre o Estado e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, que financia o programa. Dependia dos relatórios de sua equipe a liberação de novos recursos do banco para o governo.
"Ela disse que foi numa obra com verba liberada mas que não tinha começado", disse o irmão, Arcanjo Serrano Pereira Jr..
Com temperamento explosivo, colecionou inimizades dentro e fora da Secretaria Estadual do Ambiente, pasta à qual o programa está ligado. A família a aconselhava a ter cuidado.
"Ela dizia: 'Aqueles velhos não vão fazer nada'", disse a tia, Itaura Serrano. Nas conversas com familiares, a geógrafa não citou nomes dos envolvidos.
A Lava Jato no Rio investiga um esquema supostamente comandado pelo ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) de cobrança de propina em obras de todas as áreas.
Delações premiadas da Odebrecht e da Carioca Engenharia já mencionaram corrupção na Secretaria do Ambiente, mas sem citar o Psam.
A geógrafa entrou no projeto por meio de Flávio Silveira, nomeado no mesmo período coordenador do Psam. Os dois se conheciam de trabalhos anteriores.
"Éramos uma equipe nova e de fato a gente começou cobrando trabalho. Mas ela nunca me falou de corrupção. Ficaria muito surpreso se fosse algo daqui [a causa do homicídio]", disse Silveira, atualmente assessor do Psam.
Quando ela entrou no programa, duas obras de R$ 435 milhões estavam contratadas. Nenhuma delas envolve empreiteiras mencionadas no suposto esquema de corrupção.
A Secretaria do Ambiente lamentou, em nota, que "o caso ainda não tenha sido concluído". Disse ainda que "associar o Psam à Lava Jato beira à raia da leviandade".
"Não há nenhum inquérito, petição, indício ou menção ao Psam, nem mesmo a citação dele nos mais de mil vídeos que expõem denúncias da operação", diz a nota. A secretaria também nega as irregularidades.
Antes, a geógrafa estava desempregada há um ano. Havia deixado o cargo de assessora na Secretaria de Obras se queixando também de assédio de corruptos.
"Saiu porque estavam roubando. Ofereceram R$ 200 mil para ela ser laranja", disse o irmão da geógrafa.
Três ex-funcionários da pasta estão presos, entre eles o ex-secretário Hudson Braga. Pereira trabalhou na recuperação da Região Serrana e em obras no interior do Estado. Nos dois casos, a Polícia Federal já encontrou indícios de corrupção.
"Sempre que sai uma operação na televisão, esperamos que falem no nome dela", disse a tia da geógrafa.

Mozart - Clarinet Concerto [Sharon Kam]


O conservadorismo tenta preservar o válido com instrumentos tangíveis
João Pereira Coutinho - FSP
"Era uma vez..." faz parte das histórias infantis. Mas o que acontece em política quando essa nostalgia de infância sequestra os melhores espíritos?
Esse é o tema do mais importante livro que li até ao momento neste ano. Foi escrito por Mark Lilla e o título é "The Shipwrecked Mind", qualquer coisa como "a mente naufragada".
Mark Lilla é, como dizem os portugueses, "muito lá de casa". O seu "The Reckless Mind", nunca editado no Brasil, é uma análise brilhante sobre o namoro grotesco dos intelectuais com o totalitarismo.

Angelo Abu/Folhapress
O seu "The Stillborn God", igualmente por editar, é um dos melhores tratados recentes sobre "a grande separação": a forma como política e religião disseram adeus nos alvores da modernidade, permitindo a emergência do Estado secular moderno (e democrático).
E os ensaios de Lilla no "The New York Review of Books" são provavelmente a principal razão por que continuo a ler o jornal.
Mas "The Shipwrecked Mind" é um livro superior, apesar de breve, porque oferece uma chave de leitura sofisticada para entender o pensamento reacionário.
Escreve Lilla que o pensamento revolucionário sempre teve os seus exegetas. Mas a "reação" sempre foi desprezada pelos eruditos.
Um erro. O apelo do "era uma vez..." é hoje mais forte do que nunca. Não apenas porque encontramos várias expressões reacionárias na política moderna -do islã à Europa, sem esquecer os Estados Unidos- mas porque existe uma superioridade teórica da reação sobre a revolução. O revolucionário pode desiludir as esperanças dos crentes. O reacionário, nunca. A nostalgia, escreve Lilla, é irrefutável.
Eis a essência do pensamento reacionário: a crença de que exista um passado -próximo ou distante, pouco importa- em que as misérias do presente (pobreza, insegurança, competição etc.) não existiam.
Isso é válido para políticos como Donald Trump ou Marine Le Pen; mas a grande originalidade de Lilla está em mostrar como a nostalgia do "era uma vez..." formou e deformou vários pensadores "conservadores". Nomes grandes, como Leo Strauss, ou bem pequenos, como Éric Zemmour, sempre procuraram no passado o paraíso perdido -e, no presente, o paraíso reencontrado.
Todos eles comungam essa "mente naufragada": a consciência aguda de que, algures na história, o reto caminho se perdeu. Radicalmente nostálgicos, eles são incapazes de pensar a modernidade, exceto para a condenar. Como Dom Quixote, eles lutam perpetuamente contra "a natureza do tempo".
Citei Dom Quixote porque as melhores páginas do livro pertencem a ele. O Cavaleiro da Triste Figura é o reacionário "par excellence": enlouquecido pelos romances de cavalaria, ele veste a armadura e empunha as armas porque não compreende que o passado é passado.
Dom Quixote é um homem sem ironia. Porque só a ironia -"a armadura dos lúcidos", na feliz expressão de Lilla- permite aos homens acomodar o abismo entre o real e o ideal; entre o que existe e o que deveria existir.
Nos últimos meses, tenho recebido vários e-mails de indignação e repulsa. Motivo? Minhas condenações de Trump ou Le Pen. Como é possível, perguntam os meus ex-leitores, ser conservador e não tolerar essas duas tristes figuras?
Alguns, com ironia, exigem a devolução do dinheiro que pagaram pelo meu livro "As Ideias Conservadoras". Curiosamente, nenhum deles leu o subtítulo: "Explicadas a Revolucionários e Reacionários".
Não há nada de conservador em Trump ou Le Pen. Ambos são exemplos vivos da "mente naufragada". Ambos defendem um passado -de proteção econômica, fechamento nacional e isolamento internacional- que nunca existiu como modelo de perfeição.
São reacionários porque incapazes de pensar os problemas do presente sem recorrer ao "era uma vez..." que é típico de crianças, não de adultos.
O conservadorismo é uma ideologia de imperfeição humana, não de arrogância epistemológica. É uma ideologia que procura preservar o que é válido no presente recorrendo aos instrumentos tangíveis desse presente -e não a fantasias sobre o passado.
Perdi leitores, mas é provável que alguns tenham ficado no barco. Bem-vindos. Até porque a "mente naufragada" está, ela própria, condenada ao naufrágio.
‘Frog’, de ‘From Goiás’
José Casado - O Globo
É notável o silêncio das entidades sindicais sobre roubos no FGTS e casos como o da JBS, que confessou propina a dirigentes de fundos de pensão para obter US$ 1 bilhão
Era uma ideia bilionária. Só faltava US$ 1 bilhão. Amigos que patrocinava no governo e no Congresso cuidaram para que fosse bem recebido no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, nos fundos de pensão da Petrobras (Petros) e da Caixa (Funcef).
Era simples: o banco e os fundos das estatais pagariam US$ 1 bilhão por 12,9% das ações da sua companhia. Com o dinheiro, fecharia a compra de concorrentes nos Estados Unidos e na Austrália, dispensando bancos privados, que cobravam mais caro. Ganharia imunidade comercial e sanitária mundial, e poderia jogar como dono de um dos dois maiores açougues do planeta.
Em pouco tempo, naquele primeiro semestre de 2008, Joesley Batista avançou no negócio da JBS com BNDES, Petros e Funcef. Deu-lhe o codinonome de “Prot”, abreviatura de proteína. Como seu irmão Wesley dizia, assim era o estilo “Frog” — acrônimo de “From Goiás”.
Na reta final das negociações, foi chamado pelo presidente da fundação da Caixa, Guilherme Lacerda. “Ele disse que eu deveria ter relacionamento próximo com Paulo Ferreira”, contou Joesley a procuradores federais. Ferreira era tesoureiro do Partido dos Trabalhadores. Lacerda lembrou-lhe que precisaria do aval dos sindicalistas dirigentes dos fundos das estatais. Eram “indicados por sindicatos” e respondiam ao PT.
Lacerda levou Joesley ao tesoureiro do PT. Ferreira estava de saída do cargo e o apresentou ao sucessor, João Vaccari. Combinaram: “Vaccari recomendaria as operações aos dirigentes sob sua influência, e a gente pagaria ao PT 1% do que conseguisse obter dos fundos.”
Os presidentes dos fundos também queriam. Militantes do PT, Guilherme Lacerda (Funcef) e Wagner Pinheiro (Petros) integravam a burocracia sindical à qual Lula entregara 11 dos 33 ministérios, além de postos-chave nas estatais e respectivos fundos de previdência, em partilha com PMDB , PP e PTB. Joesley contou ter acertado com os presidentes da Funcef e da Petros “1% para cada sobre o valor das operações da JBS com os fundos (das estatais), depois do “Prot’”.
Os irmãos Batista puseram US$ 1 bilhão no bolso e multiplicaram negócios com os fundos das estatais. Lacerda e Pinheiro apostaram US$ 200 milhões da Funcef e da Petros no “Eldorado” de celulose dos Batista, cujo lastro eram fazendas de papel: alguns imóveis só foram comprados quatro anos depois dos aportes dos fundos, superavaliados em até 483%. Um deles é inviável aos eucaliptais, porque fica inundado seis meses por ano.
É notável o silêncio tumular das entidades sindicais sobre episódios como esses e outros casos de roubo a mais de 41 milhões de trabalhadores na última década e meia.
A maioria das vítimas é cotista do Fundo de Garantia — 68% têm renda de um salário. Investigações indicam perdas de 10% dos investimentos do FGTS em negócios suspeitos.
Há, também, 800 mil servidores endividados que ainda são depenados com taxas “extras” sobre empréstimos consignados. Além de 500 mil sócios dos fundos das estatais afanados nas aposentadorias e pensões.
As estranhas transações corroeram em 20 bilhões de dólares o patrimônio da Petros, Previ, Postalis e Funcef. Ontem, por exemplo, Lacerda e outros ex-dirigentes da Funcef se tornaram réus por fraude de 200 milhões de dólares com a empreiteira Engevix, condenada na Lava-Jato.
É eloquente o silêncio sindical.
Renan faz aceno a Temer ao criticar Lava Jato e elogiar nomeação para Justiça

Pedro Ladeira/Folhapress
Senador defendeu a troca de Osmar Serraglio, a quem vinha desferindo críticas
Senador defendeu a troca de Osmar Serraglio, a quem vinha desferindo críticas
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) fez acenos ao governo nesta segunda-feira (29) ao criticar a Lava Jato e elogiar as mudanças feitas na Esplanada dos Ministérios pelo presidente Michel Temer.
O gesto foi feito na véspera de a bancada do PMDB decidir sobre a permanência de Renan na liderança do partido. Diante das críticas que o alagoano vem fazendo ao Palácio do Planalto, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), ameaça tirá-lo do posto.
O senador defendeu a troca de Osmar Serraglio, a quem vinha desferindo críticas, por Torquato Jardim, no Ministério da Justiça.
Segundo ele, o Palácio escolheu um auxiliar "digno do nome que pode exercer, neste momento difícil, o papel de interlocução na vida nacional", disse. "Um ministro que cobre dos poderes que eles sejam leais à Constituição Federal", acrescentou.
Renan fez ainda duras críticas à Operação Lava Jato e, especialmente, à colaboração firmada pelos irmãos Batista com o Ministério Público Federal.
Joesley Batista, um dos donos do grupo J&F, gravou diálogo com Temer e acusa o presidente de ter tentado "comprar" o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
O senador disse que os acordos de delação que vêm sendo fechados não estão de acordo com a legislação que trata do tema. "Essas não são as delações que a o legislador queria", e defendeu ainda mudanças, afirmando que "excessos precisam ser corrigidos".
REFORMA TRABALHISTA
Embora venha fazendo críticas à reforma da CLT, o líder do PMDB descartou que possa alterar os integrantes do PMDB na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) a fim de impor uma derrota ao governo.
Em meio à crise política, o Palácio do Planalto quer dar continuidade à tramitação da reforma trabalhista no Senado para dar impressão de "normalidade". Para isso, a intenção é aprovar nesta terça (30) o relatório do projeto na CAE.
Na semana passada, Renan se opôs à leitura do texto na Comissão e ameaçou, nos bastidores, modificar a composição do PMDB no colegiado. Com isso, o partido teria uma postura oposta ao que deseja o governo.
"Foi 3x2 na CAE, é reflexo do que a bancada pensa", disse Renan, em referência à maioria de votos que o governo tem na Comissão. "Isso [integrantes] reflete proporcionalmente o que pensa a bancada. Na medida que você substitua para um lado ou para o outro, você está desfazendo a proporção da bancada", disse.
Sobre uma possível destituição do cargo de líder do PMDB no Senado, Renan desconversou. "Nessa altura da minha vida, o que eu posso temer?"
Qual é a do PSDB?
Dirão alguns — generosos — que o partido se move com discrição não para trair, mas por um compromisso responsável com o Brasil. A agenda das reformas vai como desculpa  
Carlos Andreazza - O Globo
A ser verdade o que diz a imprensa, o PSDB — não sozinho — conspira contra o governo que integra. É o que se lê — diariamente — nos jornais: reuniões e mais reuniões em que se conchava sobre a sucessão de um presidente que, publicamente, os tucanos dizem apoiar. Incontornável é que, até aqui, o partido não negou — ao menos não com ênfase digna a um aliado — que forneça linha a essa costura. Os encontros são inegáveis — o que vende pano barato à capa da conspiração.
Dirão alguns — generosos — que o PSDB se move com discrição não para trair, mas por um compromisso responsável com o Brasil. A agenda das reformas vai como desculpa. Ciente de que é o fiel da balança da tal governabilidade, o partido — enquanto trama as amarras de uma sucessão presidencial controlada — permaneceria ao lado de Michel Temer para que o país não parasse de vez. É bonito discurso. Pode ser procedente. Mas prefiro a hipótese de que assim aja por não ter ainda um nome de consenso em função do qual desertar. Terá?
Seja como for, fato é que se ganha tempo também na dissimulação. Ao próprio presidente — que decerto não desconhece o que se alinhava — não interessa esticar essa corda agora. Melhor é se deixar enganar. Progressivamente enfraquecido junto ao empresariado, o que se terá agravado com a saída de Maria Silvia Bastos da presidência do BNDES, Temer precisa do PSDB; que, afinal, ainda não devolveu os ministérios e cargos que ocupa, a única medida real para ruptura em Brasília. Devolverá?
Sabe-se que o impeachment é uma impossibilidade. Rodrigo Maia não aceitará qualquer dos pedidos. É também sabido que a investigação contra o presidente no Supremo perdeu força, certamente credibilidade, minada pela imperícia do Ministério Público. De modo que toda a atividade política está hoje voltada ao julgamento da chapa Dilma/Temer no Tribunal Superior Eleitoral, marcado para o próximo dia 6. Segundo se fala abertamente, tão escancaradamente que até Marina Silva conseguiu se manifestar a favor, a cassação seria o melhor caminho, porque o mais rápido, para derrubar o presidente.
É o que o PSDB, em todos os sentidos do verbo, espera — e até onde, diz-se, o partido vai com o governo. Será? Se Temer perder, confia-se em que os tucanos não o acompanharão nos recursos — inclusive ao STF — a que tem direito. Fala-se muito, há dias, em que o presidente estaria isolado. É falso. Ele provavelmente estará — estará, PSDB? — caso vencido no TSE.
Temer sabe disso, daí porque outra coisa ora não faça do que trabalhar para sustentar os votos que julgava ter antes da delação dos Batista — e para conquistar outros. Ele diz que não renuncia. Mas fará cálculos até a véspera do julgamento. Se sua contabilidade se indicar insuficiente a que escape da cassação, ainda assim comprará a instabilidade de se pendurar, mais ou menos só, em recursos que lhe dariam — no máximo — seis meses de sobrevida?
Seis meses, no entanto, representam um semestre de governo a girar — ainda que mal e porcamente. Temer também sabe disso. Desembarcará o PSDB — integralmente, para valer — dessa máquina?
Não vi ainda um estadista — um Fernando Henrique Cardoso da vida — para apontar o indecoroso de se tratar como natural, como aceitável, que o Tribunal Superior Eleitoral, cujos julgamentos têm (ou deveriam ter) natureza técnica, encampe a condenação de alguém (Michel Temer, no caso) por algo, relativo a 2017, absolutamente estranho ao processo em questão, de 2014.
Ou não é isso o que se deseja? Ou não é para isso que se torce? Que se resolva logo, no abafa, esse troço — não é isso?
Vamos mesmo nos desdobrar nesse jeitinho oportunista apenas porque consiste na trilha mais curta para derrubar o presidente?
Em que grau de torpeza institucional este país investirá ao dar campo para que uma corte superior proceda como se seus ministros fossem políticos julgando — politicamente — um impeachment no Congresso?
É altamente representativo, aliás, que, na origem desse processo de cassação, esteja o PSDB. Sem muita expectativa de que a coisa prosperasse, o partido, lá em 2014, pretendia apenas atrapalhar a gestão de Dilma Rousseff. Ninguém pensava em Temer. O impeachment de Wanda-Janete-Iolanda, contudo, fez com que os tucanos, reembarcados no poder, se convertessem em vidraça para a atiradeira cujas pedras eles próprios haviam fornecido. Arrependeram-se. E disso muito já se falou.
Tucaníssima, porém, é esta última reviravolta, com a qual, apreensivos, os bicudos se equilibram na amurada: sustentáculo de Temer, com o corpo no governo e as intenções no próximo, o PSDB torce para que a pedrada que arremessou seja certeira, mas que não fira o partido a ponto de sangrar a foto do desembarque.
Mantega admite ter conta não declarada no exterior

Marcus Leoni/Folhapress
SÃO PAULO, SP, 09.05.2017: GUIDO-MANTEGA - O ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega. (Foto: Marcus Leoni/Folhapress)
O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega
O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega admitiu, em petição enviada nesta segunda (29) ao juiz Sergio Moro, que possuía uma conta oculta na Suíça, jamais declarada à Receita Federal.
O saldo da conta era de US$ 600 mil, fruto da venda de um imóvel herdado do pai, segundo ele.
O dinheiro teria sido recebido antes de Mantega assumir o ministério da Fazenda, em 2006.
A defesa do ex-ministro afirma na petição que ele "não espera perdão nem clemência", mas que demonstra "sua total transparência frente às investigações em curso".
Na petição, o advogado Fábio Tofic Simantob voltou a afirmar que Mantega "jamais solicitou, pediu ou recebeu vantagem de qualquer natureza" na condição de ministro.
O ex-ministro também diz abrir mão "de todo e qualquer sigilo bancário, financeiro e fiscal" em prol da investigação.
Ele promete ainda entregar o extrato da conta assim que o receber da instituição financeira.
INVESTIGAÇÃO
Mantega foi alvo da 34ª fase da Operação Lava Jato, em setembro de 2016. Na época, Moro chegou a determinar sua prisão temporária -mas, ao saber que ele acompanhava naquele dia uma cirurgia para tratamento de câncer de sua mulher, revogou a medida. O ex-ministro ficou cerca de seis horas detido.
Segundo o magistrado, o fato de ele acompanhar a esposa na cirurgia e em sua recuperação no hospital afastava o risco de que ele interferisse na colheita das provas. Para investigadores, a data em que a operação foi deflagrada foi "uma infeliz coincidência".
A investigação ainda está em andamento. O ex-ministro não foi ouvido pela Polícia Federal, tampouco denunciado pelo Ministério Público Federal até agora.
Mantega é acusado de ter solicitado R$ 5 milhões ao empresário Eike Batista para saldar dívidas de campanha da ex-presidente Dilma Rousseff. A acusação foi feita pelo próprio Eike, em depoimento espontâneo à Procuradoria. Mantega era presidente do Conselho de Administração da Petrobras à época do pedido, em novembro de 2012.
O ex-ministro também aparece em planilhas de Marcelo Odebrecht, delator e ex-presidente do grupo Odebrecht, com o codinome "pós-Itália". Ele é acusado pelos delatores da empreiteira de solicitar doações eleitorais em caixa dois, também para a campanha de Dilma.
Mantega nega as suspeitas e, em entrevista à Folha, disse estar sendo vítima de uma humilhação. Ele afirma que as acusações são inverossímeis e que jamais "deu moleza" às empresas que agora o acusam de ter solicitado propina em troca de vantagens fiscais e tributárias.
Delegados temem intervenção política na PF para esvaziar Lava-Jato
Aécio e Serra foram flagrados articulando mudança no Ministério da Justiça, lembra associação

O presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Carlos Sobral, criticou a decisão do presidente Michel Temer de trocar o ministro Osmar Serraglio pelo ministro Torquato Jardim no comando do Ministério da Justiça. Para Sobral, a mudança pode ser a senha para uma eventual intervenção política na Polícia Federal com o objetivo de esvaziar a Lava-Jato e outras investigações sobre corrupção. O delegado lembra que, em recentes diálogos captados a partir da delação de executivos da JBS, os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e José Serra (PSDB-SP), dois investigados na Lava-Jato, foram flagrados articulando a saída de Serraglio.
— Essa troca nos traz muitas preocupações sobretudo pelo contexto. Em dois diálogos publicizados recentemente, dois investigados (Aécio e Serra) falam sobre a necessidade de trocar o ministro da Justiça por um outro mais forte. Mais forte no sentido de interferir na PF — afirmou Sobral.
Os diálogos de Aécio e Serra foram gravados na Operação Patmos, que já resultou na abertura de inquérito contra Temer, Aécio e outros por corrupção, obstrução de Justiça e organização criminosa. Numa conversa com o empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, Aécio critica uma suposta falta de pulso de Serraglio, defende a aprovação do projeto sobre abuso de autoridade e defende a indicação de delegados amigos para presidir inquéritos contra ele e outros aliados.
"O ministro é um bosta de um caralho, que não dá um alô, peba, está passando mal de saúde pede pra sair. Michel tá doido. Veio só eu e ele ontem de São Paulo, mandou um cara lá no Osmar Serraglio, porque ele errou de novo de nomear essa porra desse (...). Porque aí mexia na PF. O que que vai acontecer agora? Vai vim um inquérito de uma porrada de gente, caralho, eles são tão bunda mole que eles não (têm) o cara que vai distribuir os inquéritos para o delegado. Você tem lá cem, sei lá, 2.000 delegados da Polícia Federal. Você tem que escolher dez caras, né?, do Moreira, que interessa a ele vai pro João", disse o senador.
Numa outra conversa, Aécio trata do mesmo assunto com Serra. Logo depois que as delações da Odebrecht foram tornadas públicas, Serra liga para o colega e também defende a saída de Serraglio.
"Deixa eu te falar uma coisa, cara. Eu tô preocupado. Olhando do ponto de vista macro, né... da política. Eu acho que precisa ter um ministro da Justiça forte, viu Aécio". Do outro lado da linha, veio o reforço. "Eu também acho. Sempre achei", responde Aécio. "E realmente forte. Não precisa ser da área, porque vai ficar da área... vai ficar aquele problema todo " acrescenta Serra. A partir daí, os dois decidem tratar no assunto numa conversa pessoal.
Segundo Sobra, um ministro da Justiça pode interferir de várias maneiras para enfraquecer a atuação da polícia. Uma delas é o corte de verbas para grandes operações. Uma outra é a indicação política para cargos estratégicos da instituição.
— Sem autonomia, a Polícia Federal é muito dependente do ministro da Justiça — afirma o delegado.
'Tem que tirar esse cara', disseram Aécio e Joesley sobre chefe da Polícia Federal
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou ao empresário Joesley Batista ter pressionado o presidente Michel Temer, junto com outros empresários, para que fossem feitas mudanças na Polícia Federal que incluíam a substituição do diretor-geral do órgão, Leandro Daiello.
A conversa foi gravada pelo próprio Joesley no hotel Unique, em São Paulo, em 24 de março, e anexada ao acordo de delação que o grupo J&F fechou com a Procuradoria Geral da República.
Aécio disse a Joesley que o governo deveria aproveitar a crise gerada pela Operação Carne Fraca para a troca.
Joesley ponderou que era uma boa chance para trocar Daiello. "Não vai ter outra. Porque nós nunca tivemos uma chance onde a PF ficou por baixo, né?", disse o empresário. Aécio concordou: "Aí vai ter quem vai falar, 'é por causa da Lava Jato'. [O governo pode responder] 'Não, é por causa da Carne Fraca'".
"Tem que tirar esse cara", disse Joesley. Aécio repetiu: "Tem que tirar esse cara".
Na conversa, Daiello não foi citado diretamente, mas sim de forma cifrada. Em determinado momento, por exemplo, Aécio disse que "ele próprio [Daiello] já estava preparado para sair".
Em outro ponto do diálogo, afirma era uma boa hora para o governo fazer um "mea culpa" e "o cara da Polícia Federal chegar e cair".
Na passagem entre os governos Dilma Rousseff e Michel Temer, no ano passado, circularam rumores de que Daiello estava disposto a deixar a direção-geral da PF. Ele ocupa o cargo desde 2011.
Aécio criticou ainda a nomeação de Osmar Serraglio para o Ministério da Justiça, dizendo que ele "não dá nenhum alô", sugerindo que não tentava interferir na Lava Jato. Serraglio deixou o cargo neste domingo (29) e Torquato Jardim o substituiu.
Aécio contou a Joesley que outros empresários estavam "pressionando" Michel Temer a tomar medidas contra a PF. Ele disse que participou de um jantar com Temer, o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, e uma pessoa citada apenas como Pedro.
"Pressionaram. A polícia tem que fazer um gesto. Errou. Não adianta os caras ficarem falando que não, a Polícia Federal tem que falar: 'Ó, realmente foi um erro do delegado que, enfim, não dimensionou a porra. Era um negócio pontual. Em três lugares. Já está contido e tal'. O laudo, pãpãpã, e zarpar com esse cara", disse o senador.
Aécio disse que estava pressionando Temer para que apoiasse o projeto que trata de "abuso de autoridade".
OUTRO LADO
O encontro narrado pelo senador, entre Temer e banqueiros, ocorreu na noite anterior ao diálogo, na casa do empresário Carlos Jereissati. O senador confirmou à reportagem ter viajado com Temer para São Paulo, conforme disse no diálogo com Joesley. O Palácio do Planalto informou que o presidente deu carona ao senador em 23 de março.
O governo não disse qual assunto foi tratado. A assessoria do tucano disse que o senador "teve um longo despacho sobre a pauta de reformas". O Bradesco disse que Trabuco esteve com Aécio no dia 24, em encontro com o presidente do BB, Paulo Caffareli, para tratar da mudança na presidência da Vale.

Cream - White Room


silenceformysoul:
“Miquel Carbonell i Selva (1854-1896) - Safo, 1881
” 
Miquel Carbonell i Selva (1854-1896) - Safo, 1881
We are made wise not by the recollection of our past, but by the responsibility for our future. - George Bernard Shaw

Gordon Lightfoot - If You Could Read My Mind


silenceformysoul:
“Herbert Draper (1863 – 1920) - Water Nymph
”silenceformysoul:
“Herbert Draper (1863 – 1920) - Water Nymph
”Herbert Draper (1863 – 1920) - Water Nymph
Progress is impossible without change, and those who cannot change their minds cannot change anything. - George Bernard Shaw
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Buongiorno a tutti voi amici!

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Em defesa da PF
Enquanto a crise política atinge o Congresso e prejudica as maquinações legislativas contra a Lava-Jato e o combate à corrupção de um modo geral, as ameaças avançam em duas outras frentes 
O Globo
Enquanto a crise política atinge o Congresso e prejudica as maquinações legislativas contra a Lava-Jato e o combate à corrupção de um modo geral, as ameaças avançam em duas outras frentes. Uma está no Supremo, onde há quem pretenda rever o veredicto, com cláusula vinculante — para ser seguido por todos os tribunais —, de que pena pode ser cumprida na confirmação da sentença pela segunda instância; e a outra frente o presidente Michel Temer abriu ontem, com o movimento audacioso de substituir, no Ministério da Justiça, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) pelo advogado Torquato Jardim, tirando este do Ministério da Transparência, antiga Controladoria-Geral da União (CGU). Jardim não esconde desgostar da Lava-Jato.
Também ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), é provável que o presidente o veja como alguém que possa ajudá-lo no julgamento da sua chapa com Dilma Rousseff, pelo tribunal, a partir de 6 de junho. Um objetivo evidente, porém, é controlar, enfim, a Polícia Federal, sonho de todo político implicado em malfeitos.
Não por acaso, em uma das gravações feitas por Joesley Batista de conversa com Aécio Neves, o tucano dirige pesadas críticas a Serraglio, por ele não interferir na distribuição de inquéritos, para entregá-los a delegados confiáveis. Inclusive, ensina como se faz.
A audácia de Temer está no fato de esta intervenção na PF ser esboçada depois que, a pedido da Procuradoria-Geral da República, o ministro Edson Fachin, do Supremo, instaurou inquérito para investigar o presidente, a partir das delações de Joesley Batista. É como se Temer se preparasse para manipular a PF, a fim de não ser investigado como estabelecem os protocolos policiais: isenção, rigor, obediência à lei.
Por sinal, é o que vem demonstrando Leandro Daiello, diretor-geral da PF desde 2011, ao conduzir investigações importantes sob os governos Lula, Dilma e, agora, Temer. Neste sentido, Torquato Jardim não precisaria ter dito, no domingo, que ouviria Temer sobre mudanças na Polícia. Afinal, ela tem dado demonstrações de seriedade e correção durante todo este tempo. A não ser que queiram mudar este padrão.
A Polícia Federal tem subordinação administrativa ao Executivo, mas não pode ser usada como guarda pretoriana dos governantes de turno.
Mudança na Justiça é para interferir na PF
Merval Pereira - O Globo
Não vejo nenhuma outra razão para mudança tão intempestiva no ministério da Justiça que não seja uma tentativa de interferir no trabalho da Polícia Federal. Se o novo ministro Torquato Jardim fosse escolhido para tentar negociar no TSE - do qual já foi ministro - a favor do Temer não precisaria ser ministro da justiça, poderia ficar no ministério da Transparência e usar sua influência em conversas de bastidores. Havia muitas críticas quanto à fraqueza de Osmar Serraglio à frente do ministério e a gravação do Aécio com o Joesley mostrou claramente essa situação, mas se o novo ministro mudar o diretor ou tentar interferir na PF a favor do governo vai criar uma crise política  muito grande.
Temer dá ultimato ao PMDB do Senado para resolver caso Renan
Líder do PMDB diz que não vai cair e agradece visita do presidente a Alagoas
 
O presidente Michel Temer deu um ultimato para o caso do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), líder do partido no Senado, que está fazendo duras críticas ao governo e contra as reformas. Temer disse ao ex-presidente José Sarney e ao presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), que não admitia mais o tom de Renan e que resolvessem o assunto até esta terça-feira, quando a bancada do Senado se reunirá. Irritado, Temer reclamou das palavras usadas por Renan contra ele e está disposto a demitir os aliados do senador caso ele mantenha esse tom.
Para constranger Renan, Temer viajou ontem para Alagoas, onde liberou recursos para o estado, governado por Renan Filho.
O senador Renan disse ao GLOBO nesta segunda-feira que fará um pronunciamento ainda hoje no Senado fazendo uma análise da crise, mas "agradecendo ao final o presidente". Segundo peemedebistas, Renan passou o final de semana em Brasília fazendo um périplo junto aos demais senadores pedindo apoio para se manter no comando da bancada.
Até então, Renan tinha maioria na bancada, mas o último discurso do ex-presidente do Senado irritou a muitos. O próprio Sarney, ao qual Renan é seguidor, tentou acalmar Temer, mas acabou liberando aliados dentro da bancada a votar como quiserem numa eventual votação.
Renan disse ao GLOBO que não vai sair da liderança.
— Nessa crise, um dia após o outro é uma eternidade. Eu não vou cair. Farei um pronunciamento e, lá no final, vou agradecer a ele (Temer) por ter ido a Alagoas — disse Renan.
Ele pretende fazer um pronunciamento ainda nesta segunda-feira.
A ONU e a soberania nacional
A ONU, do alto e sublime trono no isolamento de seus desconhecidos burocratas, condenou o governo brasileiro “pelo uso excessivo de força policial… de violência”. Declararam, pela Comissão Internacional dos Direitos Humanos, que o uso de armas de fogo contra protestos deve ser “excluído”. Ora, quem observou os fatos ocorridos na última quarta-feira (24) também não pôde deixar de notar a queima de vários prédios de Ministérios em Brasília, os inúmeros policiais feridos ou mortos, as armas letais dos delinquentes, o ódio atroz nos discursos e o pesado armamento do tráfico em São Paulo.
Diante de um cenário declarado de guerra civil, em ambas as cidades, a força policial deveria tomar que ação, segundo o beautiful people de Bruxelas? Abraçar os criminosos e sussurrar-lhes nos ouvidos mensagens de paz e tolerância? Oferecer-lhes margaridas em troca dos coquetéis molotov? Entoar-lhes Imagine de Lennon para acalmar os ânimos? Apanhar mansamente e deixar que a ordem, as vidas e o patrimônio dos brasileiros fossem destruídos pela revolta violenta de minorias que babam raiva e fogo? A polícia desarmada no Brasil só faria sentido se os bandidos também o fossem; se blackblocs e sindicalistas extremistas tão frequentemente não nos ameaçassem fisicamente.
A hipocrisia tem a qualidade ímpar de resguardar para o hipócrita o monopólio da virtude inatacável e para o detratado toda a vileza que, lançada sem piedade e com exageros, compensa e dissocia discursiva e desproporcionalmente os erros e males perpetrados pelo agente. Que ação tomaria a ONU, caso revoltosos semelhantes aos brasileiros tomassem de assalto sua sede em Bruxelas, ateassem fogo nas ruas, quebrassem suas vidraças e comprometessem a integridade física dos burocratas e da população belga? Certamente veríamos uma amostra da mais ordenada e eficaz repressão policial armada. Suponho que até a OTAN iria lá para intervir, fosse o caso.
Enquanto o Brasil sangra e chora com mais de 70.000 homicídios por ano, entre inocentes e culpados; enquanto nossas crianças têm suas consciências e potencial individual destroçados por métodos educacionais já abandonados nos países que os criaram (França); enquanto nossos grandes heróis são esquecidos e substituídos por anti-heróis lava-jateiros; enquanto o país sucumbe numa crise moral sem precedentes; enquanto a nossa alta cultura tenta a passos lentos se recriar; enquanto o cidadão de bem não tem o direito de ter uma arma em casa para sua própria defesa; e enquanto ainda não conseguimos derrubar aqueles que há 50 anos nos causaram esses males e hoje integram nossas cúpulas, temos de ouvir da ONU que não podemos tentar manter o resto de ordem e decência que nos são devidas pelos limitados meios que dispomos nesse caos nacional.
O que as Nações Unidas querem tornar inamovível, a mais de dez mil quilômetros de distância, é que importa ao Brasil, nação soberana que é, temer mais notinhas de condenação e repúdio de órgãos internacionais que a salvaguarda do seu povo, que a segurança nacional. O Brasil não há de se pôr genuflexo perante estrangeiros pacifistas. Precisamos de pacificadores, mas SI VIS PACEM, PARA BELLUM, diz o adágio latino. Ou seja, se desejas a paz, prepara-te para a guerra. Mata-se neste país por ano mais do que as guerras do Oriente Médio e não há um plano estratégico vindo da ONU para nos ajudar, senão uma notinha pública dizendo que devemos excluir o uso de armas em protestos, que o órgão esqueceu de mencionar que são pra lá de violentos.
Como bom brasileiro, não reconheço qualquer organização internacional que, alheia à realidade brasileira mesma, deseja regrar sobre nossa vida e soberania nacional segundo princípios abstratos, aplicáveis apenas a ambientes herméticos e controlados como os frios escritórios da ONU na Europa.
Análise: Torquato, uma escolha meio Dilma, meio Lula
Novo ministro pode ajudar a salvar Temer da degola como fez Thomaz Bastos com ex-presidente do PT no mensalão

A decisão de Michel Temer de deslocar o advogado Torquato Jardim para o Ministério da Justiça remete a nomeações feitas por Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, que foram essenciais em momentos de crise.

No auge do mensalão, em 2005, Márcio Thomaz Bastos, no comando da Justiça desde o início do primeiro mandato de Lula, foi essencial para para traçar a estratégia jurídica que ajudou a livrar Lula. O experiente advogado, chamado de "god" (Deus) por seus pares, foi o principal artífice da tese de que os milhões de reais daquele escândalo não passavam de "recursos não contabilizados", um eufemismo para caixa dois, que por si só já era um eufemismo para os crimes de corrupção do mensalão.
No ano passado, durante o impeachment, outro advogado no Ministério da Justiça foi fundamental para a defesa de Dilma Rousseff. Embora derrotado jurídica e politicamente, José Eduardo Cardozo foi o responsável por martelar em entrevistas e artigos a tese de que aquele era o julgamento de uma presidente honesta que não havia cometido crime de responsabilidade.
Com desenvoltura diante dos microfones e das câmeras, não conseguiu salvar a chefe da guilhotina, mas ajudou a sedimentar a tese do "golpe" - e foi um dos poucos dilmistas que saíram do processo de impeachment melhor do que entraram.
Ao nomear Torquato Jardim para a Justiça, Temer tenta construir uma saída mezzo Thomas Bastos, mezzo Cardozo.
O novo titular da pasta transita entre os gabinetes jurídicos de Brasília há quarenta anos. Ainda no final dos anos 1970, foi assessor do Supremo Tribunal Federal (onde foi instaurado um inquérito contra o presidente); nos anos 1980 e 1990, foi ministro do Tribunal Superior Eleitoral (onde Temer enfrenta um processo de cassação). Ou seja, terá um papel privilegiado para os chamados "embargos auriculares", as negociações de bastidor destinadas a encontrar uma saída jurídica para salvar o mandato do presidente. Essa é a faceta que remete a Thomaz Bastos.
Por outro lado, é tão loquaz quanto o antecessor dos anos Dilma. Só nos últimos quatro dias, falou à GloboNews, à "Folha de S.Paulo", e ao "Estado de S. Paulo". Se se recuar mais algumas semanas, deu entrevista também ao GLOBO. Fez declarações inclusive ao "Diário do Piauí", em maio do ano passado, em que minimizou a Lava-Jato. Nas entrevistas mais recentes, um de seus principais objetivos foi desqualificar o áudio da comprometedora conversa de Temer com o empresário Joesley Batista.
As próximas semanas serão decisivas para definir se Torquato Jardim vai entrar para a história como um ministro que ajudou a salvar um presidente da degola, como Thomaz Bastos, ou como um auxiliar que caminhou junto para o cadafalso até o final, como Cardozo.
Líderes Europeus: como sonâmbulos rumo ao desastre
Giulio Meotti - MSM
Viver o aqui e agora: os líderes mais importantes da Europa não têm filhos, entre eles estão a chanceler alemã Angela Merkel (à esquerda) e Mark Rutte (à direita), primeiro-ministro da Holanda.
(Imagem: Ministro-presidente Rutte/Flickr)
Nunca houve tantos políticos sem filhos governando a Europa como nos dias de hoje. Eles são modernos, de mente aberta, multiculturais e sabem que “tudo termina com eles”. No curto prazo não ter filhos é um alívio, já que significa não gastar dinheiro com a família, sem sacrifícios e ninguém para se queixar sobre as consequências futuras. Conforme consta em uma pesquisa investigativa financiada pela União Europeia: “sem filhos, sem problemas!“.
Ser mãe ou pai, no entanto, significa que se aposta, de forma legítima, no futuro do país que se governa. Os líderes mais importantes da Europa não estão deixando filhos.
Os líderes mais importantes da Europa não têm filhos: a chanceler alemã Angela Merkel, o primeiro-ministro holandês Mark Rutte e o candidato francês à presidência Emmanuel Macron. A lista continua com o primeiro-ministro sueco Stefan Löfven, o primeiro-ministro luxemburguês Xavier Bettel e o primeiro-ministro escocês Nicola Sturgeon.
Uma vez que os líderes da Europa não têm filhos, parece que eles não têm porque se preocupar com o futuro do continente. O filósofo alemão Rüdiger Safranski assinala:
“para aqueles que não têm filhos, pensar em termos das gerações vindouras perde a relevância. Portanto eles se comportam cada vez mais como se fossem os últimos e se consideram como se estivessem no fim da cadeia”.
“A Europa está cometendo suicídio ou no mínimo os líderes europeus decidiram se suicidar”, ressaltou Douglas Murray no jornal The Times. “Os europeus hoje têm pouca vontade de ter filhos, de lutar por si ou até mesmo de defender seu ponto de vista em uma discussão”. Em seu último livro que leva o título de A Estranha Morte da Europa, Murray chamou isso de “um cansaço civilizatório existencial”.
Angela Merkel tomou a decisão fatal de abrir as portas da Alemanha para um milhão e meio de migrantes para conter o inverno demográfico de seu país. Não é nenhuma coincidência que Merkel, que não tem filhos, seja chamada de “Mãe Misericordiosa dos migrantes. Merkel evidentemente não deu a mínima se o influxo massivo desses migrantes iria mudar a sociedade alemã, provavelmente para sempre.
Dennis Sewell recentemente escreveu no Catholic Herald:
“é a tal concepção de que é a ‘civilização ocidental’ que aumenta enormemente o pânico demográfico. Sem ela a solução seria fácil: a Europa não precisa se preocupar em encontrar jovens para sustentar os idosos em sua decadência. Há muitos migrantes batendo na porta, tentando escalar o arame farpado ou se aventurar em embarcações precárias para chegar às nossas costas. Basta deixá-los entrar”.
O status de não ter filhos de Merkel é um reflexo da sociedade alemã: de acordo com estatísticas da União Europeia 30% das alemãs não têm filhos, sendo que essa percentagem salta para 40% entre as universitárias. A ministra da defesa alemã Ursula von der Leyen salientou que, a menos que a taxa de natalidade volte a crescer, o país terá que “apagar as luzes“.
Segundo um novo estudo publicado pelo Institut national d’études démographiques, um quarto das mulheres europeias nascidas na década de 1970 poderá permanecer sem ter filhos. Os líderes europeus não são diferentes. Uma em cada nove mulheres nascidas na Inglaterra e no País de Gales em 1940 não tiveram filhos ao atingirem a idade de 45 anos, em comparação com uma em cada cinco das que nasceram em 1967.
O político francês Emmanuel Macron rejeitou a afirmação do presidente francês François Hollande segundo a qual “a França tem um problema com o Islã”. Ele é contra a suspensão da cidadania dos jihadistas e continua insistindo, apesar de todas as evidências em contrário, que o Estado Islâmico não é islâmico: “o que representa um problema não é o Islã, mas certos comportamentos tachados de religiosos e depois impostos àqueles que praticam aquela religião”.
Macron prega uma espécie de buffet multicultural. Ele fala do colonialismo como “crime contra a humanidade“. Ele é a favor de “fronteiras abertas“, e para ele, novamente, apesar de todas as evidências em contrário, não existe nenhuma “cultura francesa”.
Segundo o filósofo Mathieu Bock-Coté, Macron, de 39 anos, casado com sua ex-professora de 64 anos, é o símbolo da “feliz globalização, livre da memória da glória francesa perdida”. Não é nenhuma coincidência que “Manif Pour Tous”, um movimento que lutou contra a legalização do casamento gay na França, urgiu para que se votasse contra Macron como sendo o “candidato antifamília“. O slogan de Macron, “En Marche!”, (Em Marcha!) encarna as elites globalizadas que reduzem a política a um exercício, a uma performance.
É por isso que o líder turco Erdogan incentiva os muçulmanos a terem “cinco filhos” e os imãs islâmicos exortam os fiéis a “terem filhos“: para conquistar a Europa. Os supremacistas islâmicos estão trabalhando incessantemente para criar um choque de civilizações no coração da Europa, e eles retratam os países anfitriões ocidentais colapsando: sem população, sem valores, abandonando sua própria cultura.
Olhando para Merkel, Rutte, Macron e outros, será que esses supremacistas islâmicos estão tão errados? Nossos líderes europeus estão andando como sonâmbulos para o desastre. Por que eles deveriam se preocupar, se no final da vida deles a Europa não será mais a Europa? Conforme esclarece Joshua Mitchell em um ensaio “nos encontrarmos a nós mesmos se torna mais importante do que construir um mundo. A longa cadeia de gerações já fez isso por nós. É hora de nos divertirmos”.

Giulio Meotti, editor cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano.
Publicado no site do Gatestone Institute – https://pt.gatestoneinstitute.org
Tradução: Joseph Skilnik
Resultado de imagem para albert einstein"A força desencadeada pelo átomo transformou tudo menos nossa forma de pensar. Por isso caminhamos para uma catástrofe sem igual." 
Albert Eisntein
Temer ofendeu sua biografia e seu estilo ao chamar a tropa
Elio Gaspari - FSP
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, teve toda razão quando disse que havia uma "baderna" na Esplanada dos Ministérios, com a vandalização de prédios públicos. Infelizmente, não era a única. Era a mais visível e predatória, mas nem era mais perigosa.
A baderna de um governo sitiado foi pior, indicando que o palácio de Temer começa a funcionar com a lógica do bunker. Isso aconteceu com o de Dilma e deu no que deu. O maior bunker de todos os tempos foi o de Hitler. Em maio de 1945, com os russos a poucos quarteirões, a cúpula nazista lutava pelo poder, até que Martin Bormann triunfou, recebeu o testamento do Führer e foi para a rua. Andou um pouco e tomou um tiro.
Na tarde de quarta-feira (24), o presidente Michel Temer assinou um decreto autorizando o uso das Forças Armadas para manter a ordem na capital. Jungmann disse que a medida havia sido pedida pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Falso, retrucou Maia. Ele pedira o uso da Força Nacional de Segurança. Baderna nº 1, o Legislativo pede uma coisa e o Executivo entrega outra.
Jungmann explicou que chamara a tropa do Exército porque só havia 150 homens da Força Nacional em Brasília. Baderna nº 2, não havia a tropa especifica na capital, apesar da tensão em que estava o país. Jungmann disse que botou a tropa na rua porque a Polícia Militar de Brasília perdeu o controle da situação diante da ação de mascarados. Eram 250. Baderna nº 3, pois o efetivo da PM é de 13 mil homens, a capital tem um dos melhores índices de policiamento, a Esplanada dos Ministérios é a vitrine da cidade e o governador não foi consultado. No dia seguinte, o decreto foi revogado.
Em março de 2016, quando o deputado Raul Jungmann estava na oposição a Dilma Rousseff e integrava o "estado-maior informal do impeachment", ele comentou as informações de que havia conversas de militares com políticos, advertindo que "se a política não resolver a crise, a crise vai resolver a política". Sabe-se lá o que isso queria dizer.
Sempre que se mexe com tropa, vale a pena lembrar o que disse o marechal Castello Branco em agosto de 1964. Ele reclamava dos civis a quem chamava de "vivandeiras alvoroçadas [que] vêm aos bivaques bulir com os granadeiros e provocar extravagâncias do poder militar".
*
BRANCOS E NEGROS
É fato sabido que 60% da população carcerária brasileira é composta por negros. Em 2012, para cada grupo de 100 mil brancos havia 191 encarcerados. Para cada 100 mil negros havia 292 trancados. O Brasil mudou.
A Lava Jato não prendeu um único negro. Mais: trancou brancos de sobrenomes poderosos. No século passado, a política mineira girava em torno de dois patriarcas, Tancredo Neves e José de Magalhães Pinto. A Lava Jato pegou seus netos ilustres.
SEM GRAMPO
Para quem quer se proteger dos grampos, aqui vão duas lições. Nursultan Nazarbayev, presidente do Cazaquistão, a terra de Borat, conversa coisa importante com dignitário estrangeiro na sauna. Fez isso nos anos 90 com o secretário de Estado americano.
O doutor tem 76 anos e está no poder desde 1984, quando se tornou dono do partido comunista. Sua base de apoio quer trocar o nome da capital (Astana), batizando-a com seu nome. No Brasil, conta a lenda que no século passado o governador de Mato Grosso, Julio Campos, recebeu na piscina uma ex-namorada do senador Roberto Campos. Ela de biquíni e ele de calção, teriam conversado dentro d'água.
CADÊ?
Em dezembro passado, depois que o ministro Geddel Vieira Lima foi abatido por um grampo, Temer anunciou que instalaria equipamentos capazes de de evitar que as conversas em seu gabinete fossem gravadas. Informou-se que dois sistemas estavam sendo testados e nunca mais se falou no assunto. Nenhuma geringonça eletrônica salvaria Temer de Joesley Batista, porque ele o recebeu no escurinho do Jaburu.
CASOS PARA A OAB
A Ordem dos Advogados do Brasil, que se mete em tudo, poderia ser mais ágil diante das malfeitorias dos seus associados. No acervo da colaboração da JBS está o depoimento de Ricardo Saud, o caixeiro da empresa. Descrevendo o metabolismo das propinas, ele informou: "No final, nós vamos ter tratado com mais de cem escritórios de advocacia, todas notas falsas".
Essa modalidade de disfarce para os capilés vem do século passado, mas Saud listou e documentou transações com dezenas de escritórios. Num caso, mencionou um mimo de R$ 1,2 milhão lavado com notas frias do escritório Erick Pereira Advogados.
Erick Wilson Pereira esteve na lista tríplice de candidatos ao Superior Tribunal de Justiça e até a última quinta-feira seu escritório tinha página na rede, com direito a foto colorida do ex-ministro do STF Cezar Peluso intitulando-o "consultor". Crocodilagem.
6 DE JUNHO
O início do julgamento da cassação da chapa de Dilma e Temer para o dia 6 de junho foi marcado pelas almas dos velhos anarquistas e socialistas do movimento operário de São Paulo.
No dia 6 de junho de 1917, começou uma greve no Cotonificio Crespi. Ninguém dava nada por ela e em poucas semanas parou 40 mil trabalhadores. Há cem anos, uma das reivindicações dos grevistas era o fim das contribuições compulsórias para um Comitê Pró-Patria, da colônia italiana.
Um século depois, os trabalhadores e empresários brasileiros sustentam compulsoriamente o Sistema S (R$ 16 bilhões em 2016) e a máquina dos sindicatos (R$ 3,5 bilhões).
Joias mais valiosas compradas por Cabral não foram encontradas pela PF 
ITALO NOGUEIRA - FSP
As joias mais caras adquiridas, de acordo com o Ministério Público Federal, pelo ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) e a ex-primeira-dama Adriana Ancelmo não foram encontradas no apartamento do casal nas duas operações realizadas pela Lava Jato.
A Polícia Federal concluiu a análise das 124 joias e 13 relógios encontrados no imóvel. O laudo indica que as peças apreendidas valem R$ 4,8 milhões.
O valor é menor do que os R$ 6,5 milhões gasto pelo casal em apenas duas joalherias de acordo com denúncia apresentada em dezembro pela procuradoria. Os dois são acusados de ocultar o patrimônio adquirido com propina por meio da aquisição desses bens em dinheiro vivo.
Cruzamento feito pela Folha entre os laudos e as listagens entregues pelas joalherias H. Stern e Antônio Bernardo indica que as peças mais valiosas não foram apreendidas pela Polícia Federal.
Estão entre os exemplares ainda não encontrados o brinco espeto de turmalina com diamantes, que custa R$ 612 mil, e o anel de ouro amarelo com rubi, estimado em R$ 600 mil, os dois mais caros da lista.
A joia mais valiosa analisada pela PF foi um par de brincos em formato de flores com 24 diamantes, avaliado pelos peritos em R$ 240 mil. Esta, contudo, não foi adquirida em nenhuma das duas lojas mencionadas.
Os valores das peças atribuídos nos laudos levaram em consideração a listagem entregue pelas joalherias ou pesquisa de mercado, em outros casos.
O brinco espeto de turmalina com diamantes foi comprado na Antônio Bernardo junto com um colar (R$ 229 mil) e um anel (R$ 159 mil) no dia 18 de julho de 2012, aniversário da ex-primeira-dama. Nenhuma das três peças foi apreendida, indica o cruzamento da reportagem.
Já o anel de ouro amarelo com rubi foi adquirido na H. Stern com um brinco amarelo com rubi (R$ 400 mil) no mês em que eles completaram dez anos de casados. Essas joias também não constam da lista da PF.
O valor adquirido pelo casal de acordo com as investigações pode ser até maior do que R$ 6,5 milhões. Após o oferecimento da denúncia, a H. Stern firmou delação premiada e apontou compras de R$ 6 milhões para o casal, quase o triplo do inicialmente informado. A diretora comercial da joalheria, Maria Luiza Trotta, afirma ter vendido uma peça de R$ 1,8 milhão a Adriana Ancelmo.
O apartamento do casal foi alvo de mandado de busca e apreensão no dia 17 de novembro, data da deflagração da Operação Calicute, e no dia 6 de dezembro, quando Adriana Ancelmo foi presa. Cabral é acusado de cobrar propina de 5% dos contratos no Estado e sua mulher, de ajudá-lo a lavar o dinheiro e ocultá-lo.
OUTRO LADO
O advogado Alexandre Lopes, que representa Ancelmo, afirmou que as joalherias atribuíram à sua cliente "joias jamais adquiridas por ela".
Em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, a ex-primeira-dama disse que nunca comprou joias com dinheiro vivo ou fez aquisições "de valores altos". Ela negou também que as joias compradas nas duas datas festivas fossem dela.
"Não foi comprado por mim. Não foi presente. Honestamente acredito que meu marido não tenha comprado. Quero crer que ele não tenha comprado para outra pessoa", disse, único momento em que sorriu no depoimento.
A defesa de Cabral informou que se manifestará apenas no processo.