quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

‘A cobiça cega e o Estado surdo’
JOSÉ NÊUMANNE - OESP
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), resultou da associação perversa e criminosa da cobiça cega de um capitalismo de vale-tudo, sem código de conduta nem esteio moral, com um Estado estroina, corrupto, incompetente e incapaz de garantir ordem, paz, segurança pública, a vida e a integridade física de seus cidadãos. Não se trata de um fenômeno exclusivo do subdesenvolvimento endêmico do qual países emergentes como o nosso parecem nunca sair, principalmente no que concerne ao espírito e às mentalidades. O mundo inteiro foi assaltado pela brutalidade da busca incessante da fortuna fácil e do desprezo ao trabalho e à conduta moral que deveria reger a vida em sociedade neste século 21, depois da visita à Lua e do telefone portátil, que conecta seu usuário com as notícias do dia, as cotações do mercado de capitais e as manifestações mais escabrosas da miséria humana. Incêndios em boates são comuns e ocorrem em ambientes fechados e abarrotados de material inflamável, produzindo assim vítimas de morte às centenas e crônicas de grosseria e insensibilidade, antes, e de comoção e solidariedade, depois.
No Brasil, a peculiaridade apresenta-se em algo que os comentaristas de arbitragem de futebol e os membros da Academia de Cinema de Hollywood chamariam de “o conjunto da obra”. O incêndio da boate gaúcha ocorreu numa cidade que homenageia o espírito que se identifica com o afeto materno, a mãe do Salvador, que reúne em sua aura toda a luz da generosidade, do altruísmo, da capacidade de renúncia e da piedade que um mortal é capaz de sentir e expressar. O momento também é peculiar nosso: a maior seca dos últimos 30 anos no semiárido nordestino torna a escassez ainda mais cruel, as famílias desabrigadas pelas enxurradas na Serra e na Baixada Fluminenses ainda não têm um teto para abrigá-las e o sangue de policiais e inimigos da lei continua empoçado no asfalto precário das vielas da periferia da maior cidade da América do Sul. Às vésperas do carnaval, intempéries naturais, brutalidades pessoais e deficiências institucionais reduzem a expectativa de vida de seres humanos e animais numa tragédia que se repete e se amplia indefinidamente.
Nunca se saberá quantas das mais de 230 vidas ceifadas pelo fogo na boate Kiss seriam poupadas se seus proprietários houvessem obedecido às normas de segurança de edificações às quais acorrem multidões para ouvir, cantar, dançar e se divertir. Quem permitiu que aquele bando de jovens em busca da felicidade efêmera de uma balada arriscasse a vida em meio a fiações e equipamentos eletrônicos capazes de gerar faíscas que se transformariam em labaredas no material inflamável é um assassino serial em potencial e como tal deveria ser tratado depois de contados os cadáveres carbonizados e os prejuízos materiais. Quantos dos jovens imolados deixariam de ser incinerados se não tivessem sido barrados por agentes de segurança empenhados apenas em garantir o pagamento das comandas de consumo, em vez de permitirem a fuga de uma multidão empurrada para fora do lugar pelas chamas? Neste crime se acumpliciam donos e empregados, brutos adoradores do bezerro de ouro, que levam mais em conta a dívida do que a perda da vida.
Nesta Pátria da impunidade, madrasta malvada, quem acredita que alguém será punido? Quem já o foi? Os rústicos proprietários dos barcos apinhados de passageiros que naufragam no caudal da Bacia Amazônica ou nos fios de água do Velho Chico? Quem pagou pela plateia queimada no circo de Niterói, a maior tragédia de nossa história? Quem respondeu pelo afundamento do Bateau Mouche na Baía da Guanabara ou pelos prédios que desabam em reformas mal feitas no centro do Rio? Uma Justiça leniente acaba o serviço macabro que começa na cobiça, sua colega em matéria de cegueira crônica.
No meio do caminho entre o fogo dos sinalizadores e a falta de uso do martelo do juiz figura a incapacidade do Estado brasileiro ─ municípios, Estados e União ─ de produzir leis adequadas para proteger o cidadão que trabalha, mora ou se diverte e, sobretudo, de fazer com que as existentes, muito numerosas e pouco eficazes, sejam cumpridas. Os decibéis dos equipamentos eletrônicos da balada da Kiss não perturbaram o sono dos fiscais de Santa Maria, cujo gestor municipal fez vista grossa à desobediência das próprias posturas pelo estabelecimento comercial do qual nunca se omitiu de cobrar impostos. Municípios e o Estado do Rio não gastam um centavo do que recebem da União para prevenir enchentes em seu território, mas voltam a prometer a cada verão trágico novas providências, que nunca serão tomadas nem deles cobradas nas eleições.
A presidente Dilma Rousseff foi a Santa Maria e chorou com pena das famílias que o Estado abandona ao desamparo. Assim como o imperador dom Pedro II jurou que venderia o último diamante da Coroa para não deixar um cearense morrer de fome. Fê-lo mais de cem anos antes de os sertanejos continuarem perdendo tudo, até a própria vida, por causa da sede implacável. As imagens das ruínas da obra inacabada da transposição do Rio São Francisco sem que uma gota de água fosse levada à caatinga mais próxima são a denúncia mais deslavada da hipocrisia generalizada de gestores públicos que, desde o Império até hoje, garimpam votos valiosos na miséria que os donos do poder semeiam em suas posses e colhem na máquina pública que, eleitos pelos súditos, passam a pilotar. Os maganões da República mantêm-se no poder enganando os sobreviventes da seca do semiárido, das enxurradas da Serra Fluminense e deste incêndio em pagos gaúchos.
O Estado brasileiro ─ as elites dirigentes que se apropriam do dinheiro público no poder em municípios, Estados e na União ─ é cúmplice da cobiça assassina dos empresários sem lei. Só nos resta rezar por suas vítimas e amaldiçoar os algozes da cobiça cega e do Estado surdo. Já que terminarão impunes, que lhes seja reservado o fogo eterno do inferno.
MP: integrantes da banda e donos de boate assumiram o risco de matar
Órgão pediu prorrogação de prisão e apontou dolo eventual na ação de acusados em incêndio em Santa Maria
Sérgio Roxo - O Globo
SANTA MARIA — O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP) avalia que o material colhido até agora no inquérito policial que investiga a tragédia da boate Kiss indica que os dois sócios da casa e os dois integrantes da Banda Gurizada Fandangueira, presos após o incêndio, assumiram o risco de matar, portanto devem ser enquadrados no crime de homicídio doloso. Neste caso, o dolo é eventual, pois é considerado o risco assumido. Na tragédia, 236 pessoas morreram. Na noite desta quinta-feira, segundo o G1, morreu mais um jovem.
A manifestação foi apresentada à Justiça para referendar o pedido da Polícia Civil de prorrogação das prisões por mais 30 dias. O MP também avalia que os quatro devem ficar por este período na cadeia. A polícia ainda não se manifestou sobre o indiciamento ou não dos músicos e donos da boate.
No parecer, os promotores Joel Dutra e Waleska Agostini dizem que Elissandro Callegaro Spohr, o Kiko, Mauro Hoffmann, sócios da boate, “mantinham estabelecimento comercial que não tinha condições de operar e, mais, operavam de forma temerária”.
“Primeiramente, cumpre ressaltar que os elementos investigatórios colhidos até o presente momento indicam a presença do dolo na conduta dos representados, evidenciando a prática de homicídio doloso, portanto, tendo os representados assumido o risco de produzir o resultado morte de mais de duzentas pessoas, por meio de asfixia”, diz o documento.
Para ressaltar a responsabilidade dos donos diante do ocorrido, o MP também cita o fato de que extiontores não funcionaram, e que havia falta de sinalização.
Em relação aos integrantes da banda, o Ministério Público afirma:
“Conforme a prova coletada até então, Luciano, produtor, adquiria os artefatos pirotécnicos, com ciência de que não poderiam ser utilizados em ambiente fechado. No entanto, assim agia, parecendo desimportar-se com o resultado de sua conduta, apenas visando ao lucro, uma vez que os artefatos disponíveis para utilização em ambientes fechados eram mais caros. Já Marcelo, vocalista da banda, teria ciência de tal fato e, mesmo assim, utilizava os artefatos, sendo que há notícia, inclusive, de que chegou a encostar no teto da boate tal artefato. Da mesma forma, estando com o microfone na mão, não foi capaz de alertar as pessoas acerca da existência de fogo no ambiente.”
O parecer conclui:
“Há, portanto, uma série de elementos a indicar a ocorrência de dolo eventual na condutas dos representados Mauro e Elissandro, ao menos por ora. Da mesma forma, os representados Marcelo e Luciano, integrantes da Banda Gurizada Fandangueira, com suas condutas, teriam concorrido para a prática do ilícito.”
Na madrugada do dia 27 de janeiro, centenas de jovens participavam de uma festa na boate Kiss, no Centro de Santa Maria. O fogo começou durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira. Por volta de 2h30m, um dos integrantes do grupo utilizou um sinalizador luminoso, cujas fagulhas atingiram a espuma de isolamento acústico da casa noturna, provocando o incêndio. As vítimas buscaram rotas de fuga, no entanto, segundo relato de sobreviventes, um grupo de seguranças bloqueou a única saída da boate para evitar que os clientes saíssem sem pagar. Sem conseguir sair do estabelecimento mais de 200 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos.
A maioria dos mortos foi vítima de intoxicação pela fumaça. Os bombeiros encontraram dezenas de corpos empilhados nos banheiros, onde muitos ainda tentaram se proteger, e em frente à porta da boate. O incêndio, que teve repercussão internacional, é considerado o segundo maior da História do país e a maior tragédia do Rio Grande do Sul.
Com 262 mil habitantes, Santa Maria é uma cidade universitária que fica na região central do estado.
A festa, chamada de “Agromerados“, reunia estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFMS). A maior parte deles tinha entre 16 e 20 anos. De acordo com o Corpo de Bombeiros, o plano de prevenção contra incêndios da boate Kiss estava vencido desde agosto de 2012.
Localizada na Rua Andradas, a boate Kiss costumava sediar festas e shows para o público universitário da região. A casa noturna é distribuída em três ambientes — além da área principal, onde ficava o palco, tinha uma pista de dança e uma área vip. Segundo informações do site da casa noturna, os ingressos custavam R$ 15.
O papelório do prefeito garante que não havia nada de errado na boate assassina
Augusto Nunes - VEJA
Nascido há 60 anos em Santa Maria, onde sempre viveu, Cezar Schirmer conhece rua por rua, prédio por prédio a cidade que governa. Reeleito em outubro, o prefeito teve mais de quatro anos para conhecer página por página, linha por linha a legislação municipal concebida para impedir que aconteça o que aconteceu. Político profissional há 40 anos, o ex-vereador, ex-deputado estadual, ex-deputado federal e ex-secretário de Estado sabe que, quando algum episódio ameaça a sobrevivência eleitoral, a culpa é sempre dos outros.
Se é que nunca entrou na Kiss, o prefeito cansou-se de ver o caixote comprimido pelos edifícios vizinhos que já foi fábrica de cerveja antes de virar boate pronta para fabricar massacres. Schirmer também conhece as normas que determinam a interdição ou o fechamento de casas noturnas que não dispõem de saídas de emergência adequadamente sinalizadas. A Kiss tinha uma única porta, pela qual entraram e deveriam ter saído mais de 200 vítimas de homicídio culpado. Os fiscais da prefeitura deveriam vistoriar o local regularmente. Se olhassem por alguns segundos as paredes e o teto, notariam que o dono do lugar resolvera enfeitá-los com material inflamável.
Nessa hipótese, o serial killer que explorava baladas seria obrigado a exercitar a ganância criminosa em outro ramo. E Schirmer não estaria lastimando a tragédia que nada fez para evitar. “Nunca chorei na minha vida, e agora choro toda hora”, repetiu nesta quarta-feira. Para não ter de chorar também a perda do mandato ou a morte nas urnas, o oficial graduado do PMDB gaúcho tenta terceirizar os pecados que cometeu.
Segundo o chefe da administração municipal, as investigações policiais, que já mandaram para a cadeia o dono da Kiss, devem concentrar-se no Corpo de Bombeiros, que deveria ter feito o que o prefeito e seus fiscais não fizeram. Só não têm culpa no cartório os suspeitos homiziados na prefeitura, jura Schirmer. Confira o palavrório em dilmês de bombacha abaixo transcrito (sem correções):
“Estou rigorosamente convencido de que, nas questões que envolvem a prefeitura, os documentos estavam formalmente e rigorosamente aptos para o funcionamento da boate. Os documentos da prefeitura estavam em ordem no dia da tragédia. Sobre outros documentos e questões, não posso opinar. Se há normas técnicas que não estão certas, se o prédio tem de ter cinco portas, se a lei é estadual ou federal… Houve uma vistoria em abril de 2012, que atestava que a boate estava apta para funcionamento. Os dois fiscais que fizeram a vistoria comunicaram que o alvará de incêndio venceria em agosto. O plano não foi renovado, segundo os bombeiros’.
Enquanto a cidade segue estacionada na madrugada apocalíptica, Schirmer caça álibis o tempo todo. Enquanto milhares de eleitores enfrentam a insônia sem remédio, o eleito empilha vigarices com firma reconhecida em cartório. Santa Maria só consegue pensar na dor que não passa. Ele já pensa na próxima eleição ─ e, amparado nos documentos que juntou, garante que estava tudo em ordem na boate assassina. A tragédia só aconteceu por não ter lido a papelada do prefeito.
Dilma resiste a pressão do PT e evita regular mídia
Ex-ministro Franklin Martins, que tratou de tema sob Lula, reuniu-se com presidente; Planalto deixa proposta na gaveta
João Domingos, de O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Mesmo pressionada por setores do PT e pelo ex-ministro da Comunicação Social do governo Lula Franklin Martins, a presidente Dilma Rousseff pretende manter na gaveta a proposta que cria mecanismos para o controle dos meios de comunicação, informaram auxiliares do governo. Segundo eles, Dilma não está sensibilizada com o esforço feito pelo presidente do PT, Rui Falcão, e por uma ala do partido comandada pelo ex-ministro José Dirceu, que insiste na regulação da mídia. Na quarta-feira, durante reunião com deputados do PT, em Brasília, Falcão atacou a mídia e acusou setores do Ministério Público Federal de atuação política, dizendo que eles fazem a “real oposição” ao governo. O PT promete insistir no tema da regulação ao longo do ano.
As palavras do presidente do PT foram ditas um dia depois de a Procuradoria-Geral da República confirmar que encaminhará à primeira instância as acusações do publicitário Marcos Valério contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No depoimento ao procurador-geral Roberto Gurgel, em setembro, Valério chegou a dizer que o esquema do mensalão pagou despesas pessoais de Lula.
Visita. A decisão da presidente de não mexer no projeto de controle da mídia ocorre também um dia depois de receber a visita do ex-ministro Franklin Martins, autor da proposta, entregue durante o final do governo de Lula. Franklin não quis dar detalhes da conversa com a presidente.
“O assunto de uma audiência é exclusivo da presidente Dilma, de quem sou amigo e com quem converso sempre, quase todos os meses”, disse ele ao Estado.
Prioridades do PT. No final do ano, logo depois de ter sido condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção e formação de quadrilha no processo do mensalão, José Dirceu disse que neste ano o PT tem três prioridades: regular os meios de comunicação, fazer a reforma política e provar que o mensalão foi uma farsa. Dirceu e Rui Falcão acusaram os meios de comunicação de terem “pressionado” o Supremo a condenar os réus do mensalão.
O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), afirmou que Falcão age como “pau mandado” de DircEu quando ataca a imprensa. “Se não existisse a imprensa para dar a conhecer à sociedade as malfeitorias do governo lulopetista, eles (os petistas) já teriam implantado um regime antidemocrático no qual só valeriam suas opiniões e ideias.”
O documento do 4.º Congresso do PT, realizado em 2011, “convoca o partido e a sociedade a lutar pela democratização da comunicação no Brasil, enfatizando a importância de um novo marco regulatório para as comunicações, que, assegurando de modo intransigente a liberdade de expressão e de imprensa, enfrente questões como o controle de meios por monopólios, a propriedade cruzada, a inexistência de uma Lei de Imprensa, a dificuldade para o direito de resposta, a regulamentação dos artigos da Constituição que tratam do assunto, a importância de um setor público de comunicação e das rádios e TVs comunitárias”.
Em 2004 Lula enviou ao Congresso projeto que criava o Conselho Federal de Jornalismo (CFJ). O conselho teria poderes, segundo a proposta, para “orientar, disciplinar e fiscalizar” o exercício da profissão e a atividade de jornalismo.
Diante da repercussão negativa, o governo retirou o projeto de pauta.


Os riscos do relaxamento
Merval Pereira - O Globo

As vantagens de curto prazo da política de flexibilização monetária (quantitative easing) adotada em praticamente todo o mundo para enfrentar a crise econômica de 2009 superam os riscos de longo prazo? Num painel do Fórum Econômico Mundial em Davos de que participaram economistas como Nouriel Roubini, professor de economia e negócios internacionais; Stanley Fischer, presidente do Banco Central de Israel; Victor Halberstadt, Professor da Leiden University da Holanda, Leonard N. Stern da Business School da Universidade de Nova York, e Davide Serra, fundador e sócio-gerente da Algebris Investments do Reino Unido e Adam S. Posen, presidente do Peterson Institute para Economia Internacional, dos Estados Unidos, discutiu-se o tema, muito importante para o mundo e, especificamente, para o Brasil.
Houve um consenso que essa política de “relaxamento” monetário certamente ajudou a prevenir maiores estragos, impedindo que uma depressão se espalhasse pelo mundo. Mas também trouxe consigo riscos de aumento de inflação, até mesmo de hiperinflação, bolhas financeiras e um legado de dívidas para as gerações futuras.
Saber quando parar é o grande desafio para os bancos centrais. Ajustar as taxas de juros é um instrumento para contrabalançar os impactos da expansão monetária, e há até mesmo a previsão de que os Estados Unidos terão que aumentar as suas taxas nos próximos anos se a economia continuar crescendo.
Frequentemente chamada de “política monetária não-convencional”, a flexibilização monetária tem efeitos de longo prazo que ainda não estão claros para os economistas. A hiperinflação é citada como uma possível consequência, mas analistas alegaram durante o debate que os bancos centrais podem aumentar a taxa de juros para conter a inflação. Foi colocada grande ênfase no risco de bolhas, como ocorreu com o mercado imobiliário. O “afrouxamento” monetário pode levar ao aumento do preço das commodities e alimentar a demanda por produtos escassos, levando a uma distorção dos mercados.
Adiando o momento em que se dará a desalavancagem, essa política permite aos países usufruirem de crescimento econômico, mas a longo prazo pode levar a uma redução do PIB. Dada a relativa novidade dessa política de flexibilização monetária (quantitative easing), e a incerteza sobre seus efeitos, várias questões ainda não têm resposta.
Alguns especialistas sugerem que a política seja ligada a objetivos específicos, como um prazo ou a medidas de inflação ou desemprego, para sinalizar seu caráter temporário, muito embora compromissos verbais dos governos jamais sejam convincentes para o mercado.
Como os bancos centrais têm intervindo em várias partes do mundo para evitar os prejuízos mais ameaçadores, há um perigo inerente a essa política, o risco moral, pois se teme que os efeitos da alavancagem exagerada ou dos riscos excessivos sejam menosprezados diante da ação protetora dos bancos centrais.
As consequências de não utilizar as políticas de expansão monetária, no entanto, podem ser muito mais perigosas para os países, pois elas podem ser interrompidas assim que as economias começarem a se recuperar, ou que os efeitos colaterais surgirem.
A questão específica da situação econômica brasileira foi debatida em outro painel, dentro de um contexto da América Latina. Foi ressaltado que o país adotou nos últimos tempos uma política mais intervencionista, aprofundada no governo Dilma Rousseff, o que prejudicou companhias estatais como a Petrobrás, que só agora começará a se recuperar com o aumento da gasolina.
Os especialistas consideram que o câmbio brasileiro não é mais flutuante, que a política fiscal está afrouxada e que a inflação está fora das metas oficiais por uma política governamental. Como resultado, a confiança do investidor tem se reduzido, fazendo com que o país cresça pouco nos últimos dois anos. Seria preciso uma mudança de rumos, que alguns analistas acreditam que virá diante da dificuldade do crescimento econômico.

ELIÂNICAS

Saudade do dr. Ulysses
Eliane Cantanhêde - FSP
BRASÍLIA - O PMDB mantém hoje o terceiro cargo na linha sucessória (presidência do Senado) e ganha o segundo (a da Câmara) na próxima segunda-feira, mas pode começar a perder o primeiro (a Vice-Presidência da República) a partir da terça.
Reportagem de Natuza Nery, ontem na Folha, dá contornos ao mapa que Lula desenha para as eleições de 2014 e aponta uma linha cruzada: Michel Temer sai da Vice-Presidência e Gabriel Chalita entra na cabeça de chapa para destronar os tucanos do governo de São Paulo. O PMDB trocaria a vice pelo Bandeirantes.
Tudo para pôr Eduardo Campos (PE) na vice e explodir sua pretensão de sair da base aliada para se lançar candidato contra Dilma. Ele é o eixo sobre o qual todos os demais atores de 2014 se movem.
A construção não parece nada fácil, com resistências de todos os lados, a começar dos principais interessados: PT, PMDB, Temer e Campos. Mas as histórias das candidaturas de Dilma Rousseff ao Planalto e de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo desautorizam o descrédito de analistas e o desdém dos que sonham com o Bandeirantes. Quando Lula quer, Lula pode.
Ele sabe que Campos, a favor, quebra o maior galho, mas, contra, vira um problemão. Tanto que é disputado a tapa por Dilma, a favorita, e por Aécio Neves, virtual nome do PSDB. Com uma diferença: os petistas têm muito mais cacife para segurar Campos do que os tucanos para atraí-lo.
Mas, ao admitir trocar Temer (e o PMDB) por Campos (e o PSB), Lula eleva o passe do pernambucano à estratosfera. Com chance de ser vice da chapa mais forte, por que ele aceitaria ser na mais fraca? A ideia de ser vice de Dilma pode até lhe dar a chance de tentar inverter a chapa de oposição para Campos-Aécio.
Dê o que dê a roleta de Lula, o PMDB é vencedor. Deve ter o Senado com Renan, a Câmara com Henrique Alves e -dúvida atroz- disputar a Vice-Presidência ou o governo de São Paulo. E seja o que Deus quiser.
Congresso rebaixado
Escolha de políticos do PMDB sem estatura para presidir o Senado e a Câmara mergulha em descrédito um Legislativo perdulário e domesticado
FSP - Editorial
A começar pelo Senado, hoje, o Congresso Nacional renova seus presidentes para dois anos de mandato. Renova, ressalte-se, só no sentido formal do termo -raras vezes, como agora, os favoritos representaram tão bem o que há de atrasado na política brasileira.
Renan Calheiros é o favorito para voltar a presidir o Senado. O peemedebista de Alagoas, cabe lembrar, não conseguiu concluir sua primeira passagem pelo posto. Renunciou, em 2007, quando foram expostos vínculos comprometedores, ainda não esclarecidos, entre ele e um lobista de empreiteira.
Nem se questione a atitude de um homem público capaz de inscrever-se novamente para tarefa da qual abriu mão em circunstância tão constrangedora. O alheamento diante do anseio da sociedade por lisura e caráter na política tornou-se um traço indelével de certas figuras nacionais.
O que não deveria ser mais tolerado é a conduta coletiva de alçar políticos sem estatura aos cargos mais importantes. Esse endosso irresponsável -que inclui a presidente Dilma Rousseff e mesmo setores da oposição- mergulha em descrédito o Legislativo.
Não bastasse o longo e notório currículo de Calheiros, uma pequena dose de pragmatismo e bom-senso bastaria para evitar sua indicação. Ele é alvo de denúncia no Supremo Tribunal Federal, em torno do escândalo que o levou à renúncia em 2007. Há probabilidade de que se torne réu e enfrente julgamento em pleno exercício da presidência. O Senado deveria poupar-se desse desgaste.
Melhor destino dificilmente se reserva para a Câmara, que elege na segunda-feira seu presidente. Conhecido como "Henriquinho" no ambiente de Brasília, não é pelo epíteto que Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), o candidato favorito, inspira expectativas reduzidas.
Uma série recente de reportagens desta Folha ilustrou como ele trafega há décadas no circuito paroquial de verbas, obras e cargos da administração federal. Dinheiro de suas emendas foi parar na conta da empreiteira de um assessor seu -cuja sede oficial, depauperada, era guarnecida pelo bode Galeguinho, que terminou como emblema da história diminutiva.
O orçamento anual de R$ 8,5 bilhões do Congresso, que emprega 21 mil pessoas, supera a disponibilidade somada de recursos para Salvador e Recife, onde vivem 4,2 milhões. A despesa mensal de R$ 130 mil por deputado equivale a 72 vezes o salário médio do trabalhador nas principais metrópoles.
Câmara e Senado precisam de lideranças que compreendam e revertam tamanho divórcio entre representados e representantes, além de eliminar a atual subordinação ao Executivo. Esse é o requisito para o resgate da imagem do Legislativo, tarefa que passa por um drástico corte de despesas e privilégios nas duas Casas.
Não se espere dos favoritos nas eleições legislativas tal choque de sobriedade. O que falta à dupla em estatura para o cargo sobra na disposição de manter tudo como está.
França suspende venda de pílula Diane 35
Medida passa a valer daqui a três meses, mas médicos já não devem receitar o remédio, indicado contra acne
Anúncio veio após relatório ligando pílula a mortes; riscos já são conhecidos e estão na bula, diz laboratório
GIULIANA MIRANDA - FSP
Após a confirmação de quatro mortes ligadas ao uso da pílula Diane 35, um remédio para a acne amplamente receitado como contraceptivo, as autoridades sanitárias da França decidiram interromper sua comercialização.
A proibição começa a valer daqui a três meses, mas os médicos já devem parar de receitar a pílula.
A agência, no entanto, desaconselhou a interrupção abrupta para quem está usando a medicação. A orientação é para que as mulheres francesas visitem um médico para trocá-la por uma das várias alternativas disponíveis no mercado.
A suspensão vale também para os genéricos do medicamento, que é uma combinação de acetato de ciproterona e etinilestradiol.
No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) disse estar acompanhando o caso, mas, até agora, não há nenhuma alteração em relação ao uso do medicamento em vista.
As autoridades francesas pediram ainda que a EMA (Agência Europeia de Medicamentos) conduza uma ampla investigação sobre o uso e as possíveis complicações da Diane 35 no continente.
OS CASOS
Um relatório da agência francesa divulgado recentemente indicou que, nos últimos 25 anos, o uso de Diane 35 esteve relacionado a quatro mortes e a mais de uma centena de complicações graves, como trombose venosa profunda, embolia e AVC (Acidente Vascular Cerebral).
Embora o medicamento seja aprovado na França e em muitos países, inclusive no Brasil, como remédio para a acne, ele é amplamente receitado como contraceptivo.
"O uso de Diane 35 como contraceptivo já é consagrado e amplamente descrito na literatura médica", diz Marta Franco Finotti, presidente da Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).
Segundo Finotti, não há motivo para pânico.
"Não existe nenhuma evidência nova de perigo. Um possível aumento de problemas cardiovasculares já é conhecido. Por isso, é importante que o médico, antes de prescrever a medicação, avalie outros fatores de risco."
Na França, a pílula tem cerca de 315 mil usuárias. A representante da Febrasgo estima que 1,5 milhão de mulheres usem Diane 35 ou seus genéricos no Brasil.
A multinacional alemã Bayer, que fabrica a pílula, não confirma esses números.
OUTRO LADO
Em nota, a farmacêutica afirmou que vai cooperar com as autoridades francesas, mas diz que, até agora, não tomou conhecimento de qualquer novo fato que "leve a uma mudança na avaliação positiva do risco-benefício do Diane 35".
No início da semana, a Bayer reafirmou que o remédio é destinado ao tratamento da acne, "não sendo indicado com um método de contraceptivo oral".
A empresa afirma que os riscos de ocorrência de problemas cardiovasculares nas usuárias estão claramente descritos na bula.


Escolas alemãs têm dificuldade para lidar com onda de imigrantes
Katja Irle - Der SpiegelKatja Irle/Reprodução/Der Spiegel
Zacharias, 15, de origem grega, estuda alemão com a professora Sandra Tauer na August Lämmle Intermediate School, em Leonberg, perto de Stuttgart, no sudoeste da Alemanha
Zacharias, 15, de origem grega, estuda alemão com a professora Sandra Tauer na August Lämmle Intermediate School, em Leonberg, perto de Stuttgart, no sudoeste da Alemanha
A Alemanha está passando por um bem documentado boom de imigrantes provenientes dos países duramente atingidos pela crise do euro. Menos visíveis, no entanto, são os filhos desses imigrantes. Eles raramente têm algum conhecimento de alemão e as escolas estão tendo dificuldade para atender suas necessidades.
A palavra alemã Sachertorte é um problema para Zacarias, de 15 anos. O denso bolo austríaco de chocolate pode ser gostoso, mas o jovem só consegue pronunciar seu nome se falar de forma lenta e suave.
Selbstständig, que significa trabalhador autônomo, sai um pouco mais naturalmente. "Essa palavra significa fazer negócios", diz o estudante, sentado na sala de aula de seu curso intensivo de imersão na língua alemã. Durante anos, a família de Zacarias vendeu churrasquinho grego em Tessalônica, a segunda maior cidade da Grécia – até que a crise do euro estourou e seu pai teve que vender o negócio.
Foi dessa forma que Zacarias acabou indo parar, ao lado de outros 26 estudantes, no "curso preparatório internacional" da August Lämmle Intermediate School, em Leonberg, perto de Stuttgart, no sudoeste da Alemanha. A maioria dos alunos, com idade entre 11 e 16 anos, vem de países afetados pela crise do euro – e esse contingente cresce a cada semana.
"Nós conseguimos sentir o grau dos problemas e da debilidade econômica dos países aqui, pelo número de alunos presente nesta classe", diz o diretor da escola, Philipp Steinle. Quanto mais alunos de um mesmo país, pior é a situação desse país.
O crescente número de estudantes do sul da Europa e do Leste europeu nas escolas de ensino básico e fundamental da Alemanha é uma tendência visível em todo o país, e está fazendo com que o sistema de ensino alemão enfrente dificuldades para atender às necessidades dos alunos.

O Departamento Federal de Estatística da Alemanha não contabiliza separadamente crianças ou jovens quando mensura os dados relacionados à imigração, mas os números gerais são bastante claros: nos primeiros seis meses de 2012, houve um forte aumento na quantidade de imigrantes provenientes de países que estão imersos na crise do euro em comparação com o mesmo período de 2011 – o total de espanhóis cresceu 53% e o de gregos, 78%.
E, ao lado de acadêmicos, estudantes e trabalhadores altamente qualificados encontram-se muitas famílias da classe trabalhadora com filhos, que migraram na esperança de encontrar um emprego no mercado de trabalho alemão.
Escassez de professores de alemão
As escolas alemãs encontram-se diante de um desafio imenso, pois quase todos os alunos imigrantes recém-chegados têm conhecimento zero da língua alemã. Alguns deles conseguem alcançar um bom nível de proficiência rapidamente e passam a integrar cursos regulares em poucas semanas – mas, para os outros, o processo de aprendizado pode demorar meses.

O ritmo acelerado com que o número de alunos estrangeiros vem crescendo semana a semana só faz piorar o problema, de acordo com vários diretores de escolas espalhadas por todo o país. Muitos dizem que não têm pessoal suficiente para ensinar alemão como segunda língua a esses alunos imigrantes nem orçamento para contratar novos professores freelancers.
Zacarias e seus colegas de classe em Leonberg têm sorte. A programação deles inclui 25 horas semanais de instrução especializada em língua alemã – uma carga horária que muitas outras escolas apenas sonham em alcançar.
"Sem os funcionários adicionais e os voluntários que temos aqui também não conseguiríamos", diz Steinle, diretor da escola. A professora de Zacarias, Sandra Tauer, foi contratada temporariamente pela August Lämmle School para dar conta do fluxo de estudantes imigrantes. Ela atua na organização sem fins lucrativos Teach First Deutschland (Ensinando Primeiro a Alemanha), que apoia escolas para alunos com baixo desempenho escolar e que exigem muito acompanhamento pedagógico em cinco estados alemães.
O pai de Zacarias, acabou encontrando trabalho no serviço municipal de remoção de neve e já está na Alemanha há um ano. Zacarias diz que a Grécia parece um país distante agora, apesar de sua presença quase constante nas manchetes dos jornais. Pergunte a ele sobre as políticas de austeridade da chanceler alemã Angela Merkel e ele responderá com fúria.
"Os gregos odeiam os alemães, Merkel é muito dura", Zacarias deixa escapar. "A Grécia vai acabar em breve; o país foi salvo para morrer". Ele consegue visualizar seu futuro, mesmo estando distante de sua terra natal. Ele quer ir para a universidade na Alemanha e depois, para os Estados Unidos. Mas, primeiro, diz ele, é preciso terminar o ensino fundamental.
Da mesma maneira que a família de Zacarias, muitos imigrantes de países atingidos pela crise do euro acabam indo para os estados de Baden-Württemberg e da Baviera, no sul da Alemanha, que são potências econômicas do país. Neste último, os chamados "cursos de transição", onde os alunos sem conhecimento prévio de alemão são preparados para as aulas regulares, têm registrado lotação máxima desde o ano passado. O Ministério da Educação do estado da Baviera informou que, no ano passado, havia 845 alunos matriculados nesses cursos – contra apenas 470 em 2010. As escolas de outros estados alemães têm registrado um crescimento especialmente acelerado no número de estudantes da originários Bulgária e da Romênia.
"Se eu tenho um futuro, esse futuro está na Alemanha"
Outro ponto digno de nota em meio à tendência da imigração nas escolas alemãs é o número de alunos provenientes de países nos quais suas famílias já eram imigrantes.
"Este é um fenômeno totalmente novo, provocado pela crise do euro", diz Michaela Menichetti, comissária da integração do distrito escolar de Reutlingen, também localizado nos arredores de Stuttgart. Para muitos estudantes, a chegada à Alemanha representa a segunda vez que eles começam a vida do zero. "Temos alunos turcos que estão vindo para a Alemanha depois de passarem pela Bulgária, além de estudantes nascidos na Rússia que vieram de Portugal e gregos provenientes da Rússia. É um enorme desafio para as escolas".
Isabel, 16 anos, é uma dessas estudantes. Ela nasceu na Alemanha, mas mudou-se com sua família de volta para a Sicília, terra de seus pais, quando tinha quatro anos de idade. "Meu pai sempre ganhou menos na Itália, é por isso que estamos de volta aqui", diz ela. Depois de sete meses em Munique, Isabel agora vive com os pais e as duas irmãs em Leonberg. "Eu estava totalmente perdida no começo", diz ela, acrescentando que agora já conseguiu se estabilizar. "Eu prefiro estar na Itália, mas se eu tenho um futuro, esse futuro está na Alemanha".
Isabel, Zacarias e seus colegas de classe sabem que a língua alemã é parte integrante desse futuro. Uma das novas palavras do vocabulário deles, aprendida em sala de aula, é Kehrwoche, um fenômeno específico da região onde eles moram, que está relacionado ao período e à frequência com que as famílias locais devem limpar os espaços comuns, como calçadas e escadas.

Os alemães que vivem em outras regiões geralmente zombam da palavra, que veem como o epítome da presunção dos alemães do sul – ponto de vista compartilhado por muitos dos estudantes imigrantes. Mehdi, iraniano de 16 anos, diz que ainda fica surpreso com o rigor da programação de limpeza vigente no sul da Alemanha. "Nós não temos nada parecido no Irã", diz ele. "Nós fazemos limpeza quando queremos". 
Tradutor: Cláudia Gonçalves
Governo britânico trabalha para evitar migração em massa de búlgaros e romenos
Walter Oppenheimer - El Pais
Matt Dunham/AP
23.jan.2013 - O primeiro-ministro britânico, David Cameron, passa por mapa da Europa ao chegar para fazer um discurso em que anunciou um referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia
23.jan.2013 - O primeiro-ministro britânico, David Cameron, passa por mapa da Europa ao chegar para fazer um discurso em que anunciou um referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia
Faltam 11 meses para que búlgaros e romenos tenham pleno direito a trabalhar em qualquer país da EU (União Europeia). No entanto, o temor de uma segunda onda migratória procedente do Leste Europeu semelhante à que acompanhou a ampliação de 2004 colocou a imigração no centro do debate político britânico.
O governo reconheceu que não tem poder para prolongar o período transitório que ainda limita o acesso de trabalhadores da Romênia e da Bulgária ao mercado de trabalho, mas estuda a implantação de medidas de dissuasão: desde limitar seus direitos sociais ao acesso a ajudas públicas até lhes explicar que no Reino Unido não se vive tão bem quanto acreditam.
A imigração, muito mais que os debates filosóficos sobre a UE, está por trás dos sucessos eleitorais esporádicos do Partido pela Independência do Reino Unido (UKIP, na sigla em inglês). Ele está se transformando em potencialmente decisivo nas eleições de 2015. Não porque vá ganhar muitos assentos - nunca conseguiu nenhum, devido à peculiaridade do sistema eleitoral britânico -, mas porque pode acabar roubando votos dos conservadores e assim facilitar uma vitória trabalhista.
Antes, em 2014, o UKIP será o centro das atenções durante as eleições europeias. E o fato de que as restrições que limitam o direito de búlgaros e romenos a trabalhar no Reino Unido acabarem exatamente em 2014 transformou essas eleições em um termômetro talvez decisivo sobre o futuro político do primeiro-ministro David Cameron.
As restrições foram impostas em 2005, diante do ingresso da Bulgária e da Romênia na UE em 1º de janeiro de 2007. Seus cidadãos podem visitar livremente a Grã-Bretanha, mas precisam de uma autorização especial para trabalhar. Restrições semelhantes ou de outro tipo também foram aplicadas por Alemanha, Áustria, Bélgica, França, Luxemburgo e Holanda. A Espanha, que em princípio não impôs obstáculos, conseguiu autorização da Comissão Europeia para limitar o acesso de trabalhadores romenos devido aos efeitos da crise econômica. Os romenos, cuja língua é relativamente próxima do castelhano devido a sua origem latina comum, são a colônia de imigrantes comunitários mais numerosa na Espanha.
Algo semelhante já ocorreu com o Reino Unido, quando foi um dos poucos países que não impôs obstáculos à entrada de trabalhadores da Polônia e outros países do Leste Europeu quando ingressaram na UE em 2005. O governo trabalhista da época subvalorizou o impacto migratório dessa ampliação, e em vez de 20 mil por ano chegaram centenas de milhares de imigrantes. A Comissão de Igualdade e Direitos Humanos britânica estima que chegaram até 1,7 milhão de trabalhadores desses países entre 2004 e 2009, embora muitos tenham voltado em seguida, e o saldo líquido é estimado em cerca de 700 mil trabalhadores.
As cifras agora seriam muito mais modestas, mesmo porque Romênia e Bulgária somam 29 milhões de habitantes, contra os 75 milhões dos países da ampliação de 2004. Mas uma organização que defende a imposição de limites à imigração, a Migration Watch, já estima que virão 250 mil búlgaros e romenos em cinco anos.
O debate político sobre a imigração é muito mais sonoro hoje do que dez anos atrás, pelo menos na Grã-Bretanha. E isso parece ter deixado nervoso o governo de Cameron, que chegou ao extremo de fazer uma campanha de publicidade para explicar a búlgaros e romenos as desvantagens que representariam para eles tentar se instalar no Reino Unido. Uma campanha que muitos meios de comunicação qualificaram de "farsa".
Alguns ministros, como o titular de Governo Local, Eric Pickles, prognosticaram que a chegada de búlgaros e romenos provocará uma crise por falta de moradias. Mas a ministra do Interior, Theresa May, advertiu em novembro que não há meios de o governo restringir a chegada de trabalhadores desses países. Entretanto, já então lançou a ideia de dissuadi-los limitando seu acesso a serviços públicos ou às ajudas sociais.
Agora Downing Street admitiu que está estudando como restringir o acesso aos serviços públicos ou medidas como, por exemplo, facilitar o retorno para casa aos imigrantes que não encontrarem trabalho em três meses ou não tiverem meios para subsistir durante seis meses. Mas tudo isso não é tão fácil, porque há um quadro legal europeu que é preciso respeitar. E é aí que o UKIP começa seu discurso contra a imigração: é tudo culpa da União Europeia...
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Ministra da Justiça da França 'rouba a cena' com discurso pelo casamento gay e enfurece conservadores
Hélène Bekmezian - Le Monde
Thomas Samson/AFP
Christiane Taubira é ministra da Justiça da França
Christiane Taubira é ministra da Justiça da França
A cena mais surpreendente não ocorreu no Palais Bourbon. São 20h de terça-feira (29), os deputados abriram oficialmente os debates sobre o projeto de lei "casamento para todos" há quatro horas e a sessão foi suspensa para o jantar. Do lado de fora, bem ao lado da Assembleia, na praça Édouard-Herriot, há entre 200 e 300 pessoas, ajoelhadas, protegidas por atentos policiais da tropa de choque. Elas rezam.
"Eu peço a Deus que esse projeto de lei não seja aprovado", diz pelo megafone o pregador desta vigília organizada sob a luz tênue dos postes pelo movimento católico integrista Civitas. Ele recita "Santa Maria mãe de Deus, rogai por nós, pobres pecadores". Os fiéis repetem em coro.
Em frente, no restaurante Le Bourbon, jantam juntos os dois únicos deputados da UMP [União por um Movimento Popular] a terem assumido publicamente a posição a favor do casamento homossexual: Franck Riester e Benoist Apparu, que aprecia com ironia – e com um sorriso – "essa musiquinha ambiente para o jantar". De volta à câmara, esses dois não se largarão mais. Assim como durante a sessão da tarde, eles permanecem sentados lado a lado, solidários na luta, os únicos da direita a não aplaudirem os oradores de seu grupo.
Apesar de Hervé Mariton e de Philippe Gosselin, principais protagonistas da oposição a esse texto, bastante envolvidos desde o começo nos trabalhos em comissão, a direita hoje só tem olhos para Henri Guaino. O deputado do departamento de Yvelines, que descobriu ter um fervor contra o "casamento para todos", teve a honra de defender a primeira moção de rejeição da direita – houve duas delas, rejeitadas, como esperado. Um belo meio de reconquistar popularidade junto a seus colegas, que lhe processavam por ilegitimidade no início da legislatura (além disso ele deixou a câmara pouco depois, e não voltou mais).
Emprestar de André Malraux seu tom para falar na tribuna é eficaz, e um verdadeiro desafio conseguir dizer "espermatozoides" no tom do ex-ministro da Cultura de Charles de Gaulle. Declamar slogans como "o casamento não é um direito, é uma instituição" só pode empolgar uma direita plantada em sua visão tradicional da família.
E voltar a falar desses "franceses simples e dignos" contrários ao casamento homossexual – ele já os havia mencionado durante seu primeiro questionamento ao governo no dia 15 de janeiro – diante de um governo que, segundo ele, só lhe respondeu com um "cale-se!", é garantir para si um belo sucesso entre a oposição. "Actors Studio!", lhe lança várias vezes a esquerda, que se uniu para ridicularizar o ex-redator de discursos de Nicolas Sarkozy, que em sua defesa garante: "Não, eu não terei vergonha quando meus filhos, meus netos lerem as palavras que usei neste debate".
Com os ouvidos atentos, uma mulher bate nervosamente com os dedos no balaústre que separa a plateia, lotada. Quinze anos depois de ter brandido uma bíblia aos prantos durante debates sobre os pactos de união civil, foi como simples espectadora que Christine Boutin assistiu aos debates sobre o casamento.
Do outro lado da câmara, em pé acima das fileiras da UMP e também vestida de branco, Frigide Barjot a encara. Mas a militante dos anti-casamento gay não parece tão tensa quanto a presidente do partido democrata-cristão, que cerra os pulsos enquanto fala a ministra da Justiça, Christiane Taubira, em preâmbulo aos debates. É o máximo que ela consegue exprimir: o público na plateia não pode emitir nenhuma manifestação partidária.
Já os deputados se manifestaram em voz alta durante a fala da ministra da Justiça. Após um início tímido, com Taubira pronunciando seu discurso sem olhar anotações, revelou seu talento de oratória, com sua voz sempre calma, lenta e determinada. Foi em uníssono que os deputados socialistas responderam "Nada!" quando ela perguntou: "O que o casamento homossexual tirará dos casais heterossexuais?" "Ridículo! É de chorar!", responde a direita, que em seguida repetirá à imprensa que "não é Badinter que quer", em referência ao discurso do ministro da Justiça pela abolição da pena de morte.
Já a maioria está encantada, eletrizada, e solta retumbantes aplausos. No Twitter, os deputados socialistas se derramam em elogios: "Taubira fantástica", escreve Razzy Hammadi, "tremendo discurso", comenta Bernard Roman, "que prazer e que orgulho ouvir o discurso de Christiane", concorda Jean-Marie Le Guen.
Ausente da sessão de perguntas ao governo que precedeu o debate, a ministra não assistiu às primeiras ofensivas da direita. Em seguida, ao longo do debate, a UMP foi aos poucos se vendo prensada, constrangida e às vezes obrigada a passar mais tempo negando ter qualquer homofobia do que desenvolvendo seus argumentos.
Como Hervé Mariton, que, sentado de pernas e braços cruzados na primeira fileira, fez uma objeção para perguntar se "se dizer enojado é uma maneira respeitosa de iniciar o debate". "Não moleste cada orador que vem à tribuna!", acabou se enervando o presidente Claude Bartolone, diante de suas falas intempestivas.
Em defesa do deputado do departamento de Drôme, deve-se dizer que os deputados do Partido Socialista não se contiveram quando ele inaugurou a discussão geral para a direita. Quando na tribuna ele perguntou no seu tom educado, "posso lhes contar uma anedota?", a resposta brotou dos bancos socialistas: "Não!" Mas algumas horas antes, o presidente da bancada do PS, Bruno Le Roux, havia avisado: "Nós previmos cerca de 200 horas de possíveis discussões." Na quarta-feira (30), para manifestar a opinião da UMP, entraram na disputa as duas figuras de proa do partido, Jean-François Copé e François Fillon.
Tradutor: Lana Lim

JOÃO BOSCO LEAL

As curvas da reta
Há aproximadamente cinco décadas, as drogas, lícitas ou não, estão sendo utilizadas por jovens, pilares de sustentação da sociedade, seu futuro. Como resultado, atualmente no mundo, milhões de pessoas de uma a seis décadas de vida estão envolvidas drogas.
Grande parte da sociedade, principalmente a classe mais abastada financeiramente, passou a fazer vista grossa ou achar normal a utilização das mesmas em festas fechadas de boates, clubes ou residências.
Diante dessa facilidade, admissão e permissividade, muitos que nunca as haviam experimentado acabam cedendo e as experimentam. Alguns ficam somente nessa experiência, mas a grande maioria acaba se viciando.
O mesmo ocorre com as bebidas alcoólicas que atualmente são utilizadas por pessoas cada vez mais jovens ou até antes da sua juventude. Pode até parecer algo sem muita importância, mas não é principalmente porque, elas ainda não possuem sequer seus órgãos digestivos e filtrantes naturais totalmente desenvolvidos.
Essas crianças ou jovens certamente terão uma vida menos saudável e, como continuarão bebendo, abrirão também as possibilidades para novas experiências, como as drogas ilegais, cuja utilização leva pessoas honestas e muitas vezes socialmente bem posicionadas, para o caminho da ilegalidade.
E esse tipo de comportamento leva a outros também não socialmente apropriados, como as mentiras, primeiro para esconder a utilização das mesmas e depois para enganar a si própria, quando tenta buscar explicações e desculpas, ou até menciona orientação médica para seu uso, como a de que uma taça de vinho ao dia faz bem.
Realmente sempre se ouve dizer que essa taça diária faz bem, mas quem a pronuncia normalmente não bebe somente uma taça. São pessoas que passam a sentir necessidade do uso diário de alguma bebida e, quando o organismo já sente essa falta, como também a do cigarro, ela pode até tentar mentir para si própria, mas no fundo sabe que já é uma viciada.
As drogas, lícitas ou ilícitas viciam, e mesmo quando esse vício é de um medicamento clinicamente indicado para determinada ocasião, não se consegue abandoná-lo sem uma ajuda médica, que, sabendo como age a droga, provavelmente também saberá qual o processo menos doloroso para o abandono de seu vício.
A vida é como uma escada, ou uma estrada com várias ramificações, desvios. Podemos subir, descer, permanecer na mesma altura, virar a direita, à esquerda, fazer o contorno ou seguir em frente. A escolha é pessoal, mas os resultados, as consequências, serão diferentes diante de cada escolha.
Entretanto, ela é tão bela que, quando percebemos que a escolha realizada não foi a melhor, normalmente ainda temos uma chance de voltar e recomeçar a escalada ou o caminho. Quem fez uma curva quando deveria seguir por uma reta, só precisa ter a humildade de reconhecer o erro e a vontade de querer acertar.
Através da verdade, aquele que errou o caminho, mas reconheceu esse erro e buscou ajuda, conseguirá novas oportunidades.
Sempre haverá parentes, amigos, namorados ou qualquer outra pessoa, muitas vezes até uma desconhecida, disposta a nos ajudar em uma nova tentativa de escolha.
Em todas as áreas, o passo mais importante é reconhecer os erros e retomar o caminho.
João Bosco Leal www.joaoboscoleal.com.br
*Jornalista e empresário

Oxford, England (by rick ligthelm)

DÓRICAS

Insensato mundo
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
A frase, no original de Millôr Fernandes, é a seguinte: "Vossa Excelência chegou ao limite da ignorância e, no entanto, prosseguiu".
O Congresso certamente não ignora o cenário em que ocorre a eleição das presidências de suas duas Casas. Até porque não há um dia em que não exista uma nova notícia desabonadora sobre aqueles que já são tidos como escolhidos para comandar a Câmara e o Senado.
Além das suspeitas de todo tipo (processos, inquéritos, fisiologismo, nepotismo, uso indevido de verba parlamentar, manipulação de emendas etc.) há os fatos.
O deputado Henrique Eduardo Alves - concluíram os aliados de então, PSDB e PMDB - não servia para ocupar a vaga de vice-presidente na chapa de José Serra, em 2002, porque em processo de divórcio litigioso sua ex-mulher revelou a existência de depósitos de R$ 15 milhões em contas no exterior sem a devida declaração.
O senador Renan Calheiros foi levado a concluir, em 2007, que não servia para presidir o Senado por causa da história das despesas pessoais pagas por lobista de empreiteira, apresentação de documentação falsa como prova de defesa, uso de laranjas em emissoras de rádio e por aí vai.
Portanto, deputados e senadores não ignoram que, ao menos em tese e por critérios razoáveis de avaliação, nenhum dos dois serviria para ocupar postos de tanto destaque que, entre outras atribuições, os colocam na linha de sucessão da Presidência da República.
Tomando por base a frase de Millôr, dela fiquemos com o conceito da insistência, mas afastemos a hipótese de a motivação se sustentar na ignorância. Imprudência, talvez?
Uma boa dose, sem dúvida. Mas a receita leva outros ingredientes: covardia, descaso, desrespeito, petulância, malícia, zombaria, cinismo, desprovimento completo de espírito público e tudo o mais que compõe o quadro de tranquilidade com que suas excelências chegam ao limite da desmoralização e, no entanto, prosseguem.
Transitam à beira do abismo caminhando sempre em frente sem dar atenção às inevitáveis consequências. Desta vez, óbvias, pois a escolha está sendo feita mediante absoluta clareza quanto ao potencial de problemas que os dois candidatos dados como vitoriosos têm de criar para o Parlamento.
Como não é de se supor que estejam cegos e surdos, os parlamentares só podem estar sendo pautados por um compadrio de motivação inexplicável - ao menos à luz do dia.
Ressalvadas as exceções de um grupo de 70 e poucos deputados e um senador aqui, outro ali, o Congresso caminha silenciosamente para uma sessão legislativa conturbada e, por isso mesmo, paralisante.
Nos últimos anos assistimos ao mal que escândalos envolvendo lideranças importantes fazem aos trabalhos do Poder Legislativo. Mesmo conhecendo a situação em que ficam políticos atingidos por denúncias, deputados e senadores não têm pejo de assinar dois contratos com a crise.
A não ser para os próprios, Henrique e Renan, e para a presidente Dilma Rousseff, que tende a atrair mais prestígio em contraponto ao desprestígio do Congresso, a insistência em desprezar as evidências não rende vantagem para ninguém.
O PMDB acumula poder, é verdade. Mas o fará combalido. Os parlamentares que silenciam automaticamente se associam à ruína e cada vez mais se expõem a cobranças e restrição de movimentos.
Hoje, entrar num avião, ir a um restaurante, circular no shopping não é algo simples para um político sem o risco de ser alvo de algum constrangimento.
É de se perguntar - e não encontrar explicação plausível - em nome de qual razão eles cometem tão completa insensatez. Tempo ainda haveria para evitar o desastre se não faltasse juízo.
Desconto prometido por Dilma na conta de luz não é real
Outros reajustes já programados para as distribuidoras de energia podem reduzir o desconto de cerca de 18% anunciado pelo governo
Naiara Infante Bertão - VEJA
Os consumidores da distribuidora de energia CPFL no interior de São Paulo ficaram confusos ao saber que 4 regiões receberam autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para reajustar o valor da conta de luz. A dúvida de cerca de 320 mil clientes residenciais era compreensível: como um aumento é possível se a presidente Dilma Rousseff havia anunciado em rede nacional de televisão, na semana passada, um desconto médio de 18% para todas as casas brasileiras?
O desconto anunciado pela presidente é válido para todo o país desde a quinta-feira 24 de janeiro – a redução é garantida pelo aporte de 8,4 bilhões de reais do Tesouro Nacional, com a retirada de encargos da tarifa e da antecipação da renovação das concessionárias que aconteceria entre 2015 e 2017. Portanto, um consumidor que pagou 100 reais pelo último consumo de energia desembolsará 82 reais, em média, na próxima data de vencimento.
A confusão em relação ao reajuste de tarifas acontece porque as 63 distribuidoras de energia do país passam anualmente por uma revisão tarifária para corrigir, basicamente, perdas com a inflação ocorridas no ano anterior. A Aneel segue um calendário que prevê a revisão das tarifas a partir de fevereiro. O ciclo dura o ano todo e vai até dezembro. Isso significa que todos os brasileiros sofrerão, em algum momento, um novo ajuste na conta de luz, independentemente das promessas da presidente.
A partir do novo valor (os 82 reais médios já com o desconto), as distribuidoras poderão acrescentar os reajustes previamente autorizados pela Aneel. Essa conta pode fazer com que o desconto prometido pela presidente seja, na prática, menor do que o valor bradado em rede nacional, com tom de discurso político. 
A Aneel informou que o desconto real de todas as distribuidoras varia de 18% a 25,94%, dentro da proposta de redução do governo. Mas, na região atendida pelas distribuidoras de Mococa e do Leste Paulista, por exemplo, já haverá um aumento de 3,35% e de 1,83%, respectivamente, de acordo com os reajustes programados. Por isso, é preciso consultar a situação de cada empresa para ver o índice de redução oferecido pelo governo e o porcentual de reajuste aprovado pela Aneel.
No caso da Leste Paulista, por exemplo, o cliente que pagava 100 reais passa a pagar 76,62 reais (redução de 23,38%, segundo a tabela da Aneel). Sobre esse novo valor, haverá um acréscimo de 1,83%, o que levará a conta para 78,02 reais.

 Mas também pode ocorrer o inverso: nem sempre a revisão é um peso a mais na carteira. É o caso dos consumidores residenciais da CPFL Jaguari, que receberam uma redução adicional de 3,51% aos 18% já cortados pela presidente. Situação idêntica aos da CPFL Santa Cruz, que terão um desconto adicional de 5,7% na conta de luz.
 Antes de qualquer reajuste entrar em vigor, a Aneel realiza uma consulta pública para verificar se o pedido da distribuidora é legítimo. A Cemig, por exemplo, pleiteia um reajuste de 11,2% para os consumidores residenciais. O valor será decidido até abril. Enquanto isso, os 7 milhões de consumidores terão um desconto imediato de 18,14%.
Estranho será se a Aneel chancelar o aumento de 11,2% pedido pela Cemig, que foi uma das três empresas que não aceitou os termos propostos pelo governo federal para antecipar a renovação das concessões. Desta forma, ficará evidente que o discurso da presidente Dilma Rousseff de "energia mais barata para todos" separou, realmente, o Brasil em “nós” e “eles”.

ELIÂNICAS

Vai pra casa, Renan!
Eliane Cantanhêde - FSP
BRASÍLIA - Apesar de não ter feito campanha ostensiva (tinha mais a esconder do que a mostrar?), o senador Renan Calheiros será lançado como fato consumado hoje para ser eleito e empossado amanhã na presidência do Senado.
Mesmo que não houvesse nada ilegal contra Renan, ele deveria desistir dessa aventura que custa caro a ele e ao Senado e custará ainda mais com a posse: se insistir, ele será alvo diário de suspeitas e até de agressões.
A "denúncia consistente" da Procuradoria-Geral da República ao Supremo, por exemplo, pairará todo o tempo sobre Renan, principalmente enquanto os jornalistas -e, portanto, os cidadãos- não descobrirem qual é exatamente o crime a que se refere. Ontem, a pressão já era enorme.
Fora do Congresso, nos gramados, manifestantes instalaram 81 kits de limpeza, cada um representando um senador, para protestar contra a volta de Renan à presidência do Senado -de onde ele saiu pelos fundos, há cinco anos, por denúncias.
Dentro, Renan era jogado ao mar pelo PSB, aliado ao Planalto, e pelo PSDB, que liberou a bancada, enquanto senadores "independentes" se reuniam em torno de Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon (ambos PMDB), Pedro Taques (PDT) e Randolfe Rodrigues (PSOL), buscando um candidato único de oposição.
Renan, porém, continuava franco favorito, num clima em que o senador Romero Jucá tenta se agarrar desesperadamente ao osso da liderança do governo, quatro mensaleiros acumulam o mandato de deputado com condenações no Supremo e Afif Domingos (PSD) espana o terno para cumular a posição de vice-governador do tucano Alckmin com um ministério da petista Dilma.
Rui Falcão (PT) diz que a imprensa desqualifica a política e isso já levou ao nazismo e ao fascismo. Há controvérsias, colega. Quem está detonando a política e o Congresso, remetendo você para momentos históricos tão dramáticos? A imprensa ou os próprios políticos e o Congresso?
Sem saber, agricultor ajudou no resgate do irmão em Santa Maria
BBC - Brasil
Caio Quero/BBC Brasil
O agricultor Jovani Rosso
O agricultor Jovani Rosso
O agricultor Jovani Rosso, de 26 anos, estava próximo ao palco quando foram acesos os sinalizadores que acabariam por incendiar a boate Kiss, no centro de Santa Maria, Rio Grande do Sul, matando pelo menos 234 pessoas na madrugada do último domingo. O número de mortos subiu de 231 para 234 na tarde desta terça (29).
Assim que o fogo começou, iniciou-se um grande tumulto de pessoas tentando sair da casa noturna. Rosso estava entre aqueles que conseguiram escapar da boate sem maiores ferimentos. Mas ele logo perceberia que o desastre tinha proporções maiores.
"Eu vi que tinha um monte de gente lá dentro, e chegou um momento em que o pessoal parou de sair", disse Rosso à BBC Brasil.
Morador da cidade de Manoel Viana, a cerca de 180 km de Santa Maria, ele havia ido com um grupo de sete amigos para a boate. Entre eles estava seu irmão Delvani Rosso, de 20 anos.
Quando percebeu que muitos não estavam conseguindo deixar a casa noturna em chamas, Rosso, assim como outros frequentadores que estavam lá no momento, decidiu entrar para ajudar. Colocou a camisa no rosto para tentar se proteger da espessa fumaça produzida pela combustão do isolamento acústico da boate e passou a retirar o máximo de pessoas que podia.
"Havia muita fumaça. Eu entrava até o meu limite, uns 30, 40 metros no máximo e ia puxando as pessoas para fora. Elas estava todas deitadas, nenhuma se mexia, algumas estavam pretas, queimadas", disse.
"Eu só pensava em salvar as pessoas, o máximo que eu pudesse, nem me importei muito com o resto."
A fumaça impedia que ele conseguisse ver quem ele estava resgatando.
Pouco depois, ele teria uma surpresa: em vídeos gravados pelos populares e publicados na internet, viu que seu irmão e alguns amigos estavam entre as pessoas puxadas da boate por ele e outras pessoas.
"Os bombeiros ainda não estavam entrando. Eu puxava as pessoas e levava até eles do lado de fora", disse Rosso, que pegou uma lanterna emprestada de policiais para conseguir enxergar melhor o interior da casa. No total, Jovani perdeu quatro amigos no incêndio.
Interior
A família de Rosso agora enfrenta agora um novo drama. Delvani Rosso está com queimaduras em cerca de 70% do corpo e problemas pulmonares.
Internado no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital de Caridade, em Santa Maria, até a manhã desta terça-feira ele aguardava transferência para Porto Alegre, o que só acontecerá quando seu quadro se estabilizar.
"A situação dele é muito crítica. Ele está sendo medicado para ver se reage para podermos transportá-lo para Porto Alegre", diz José Luiz Rosso, pai de Jovani e Delvani.
Enquanto a polícia investiga as circunstâncias do incêndio, José Luiz critica o fato de o local estar funcionando com um alvará vencido e pede maior segurança para casas do tipo.
"Entram os jovens para se divertir, e acaba em uma tragédia com 231 corpos. Eu peço que os prefeitos façam o dever deles, tem que haver regras para boates. Enquanto não estiver em dia não pode funcionar."
Claramente abalado, Jovani Rosso diz não ter parado para pensar em como será sua vida após o desastre. "Mas vai ser diferente, depois de todos os amigos que perdi e com o risco de perder meu irmão."
Punição a responsáveis por tragédia deve demorar anos, dizem advogados
BBC - Brasil
A punição aos responsáveis pela tragédia em Santa Maria, que deixou mais de 230 mortos, deve levar anos devido à quantidade de atores envolvidos no processo e à lentidão da Justiça brasileira, de acordo com especialistas ouvidos pela BBC Brasil.
Eles alertam que, por mais que o inquérito da polícia e a apresentação da denúncia pelo Ministério Público (MP) sejam concluídos rapidamente, o julgamento pode ser longo por causa da complexidade do caso.
Segundo os especialistas, apesar de a casa noturna ser a principal cena de investigação policial, há muitos elementos que ainda precisam ser esclarecidos, como a participação de cada um dos envolvidos no incêndio e na subsequente morte dos jovens.
"Ainda é preciso definir quais foram os papéis de cada um dos atores. Houve negligência dos donos da casa noturna? Os seguranças impediram a saída do público? Por que um integrante da banda acendeu um sinalizador? Isso foi a causa do incêndio?", enumera Carlos Ari Sundfeld, professor de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
"É claro que as provas e os indícios constarão no inquérito policial e na denúncia do MP. Mas há muitos atores envolvidos. O recolhimento das evidências não pode ser feito de maneira açodada, pois, do contrário, o juiz pode requerer revisão do processo, o que atrasaria o julgamento", acrescenta.
Recursos
Na avaliação dos especialistas, também será preciso discutir o tipo de crime cometido pelos envolvidos na tragédia: se os acusados tiveram ou não intenção de matar.
Além disso, mesmo depois de julgados em primeira instância, os acusados poderiam recorrer da condenação - dependendo do caso, em liberdade - em tribunais superiores, por meio da interposição de recursos.
"A legislação brasileira é ultrapassada e acaba por reforçar a cultura de irresponsabilidade, que, no fim das contas, acaba por gerar a sensação de impunidade no país", afirma Odete Medauar, professora de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
"Ou seja, trata-se daquela velha sensação de que ninguém no Brasil é punido", acrescenta.
Prisão temporária e preventiva
Segundo a polícia de Santa Maria, quatro envolvidos na tragédia permanecem presos temporariamente.
A prisão temporária deles foi decretada na última segunda-feira e durará cinco dias, podendo ser prorrogada por igual período.
Especialistas afirmam que, se necessário, depois desse tempo, a prisão preventiva dos suspeitos pode ser decretada.
"Porém, isso tende a ser pouco provável, uma vez que ela só é pedida em casos excepcionais, como, por exemplo, se há ameaça de fuga ou se há risco à população", afirma Sundfeld.
Segundo os especialistas, as responsabilidades dos acusados podem variar nas esferas cível (indenizações), penal (crimes) e administrativa (processo disciplinar).
Na última terça-feira, em uma entrevista coletiva, o delegado Marcelo Arigony, responsável pelo caso, e o promotor Cesar Augusto Carlan disseram que agentes públicos poderiam ser responsabilizados pela tragédia na boate Kiss.
Assim, além dos donos da casa noturna e dos integrantes da banda que acenderam o sinalizador, que teria provocado o incêndio, a Prefeitura e o Corpo de Bombeiros também poderiam ser responsabilizados pela tragédia.
"Eles poderiam ser considerados corresponsáveis pelo crime, uma vez que a lei determina os deveres do ofício", diz o jurista Roberto Delmanto Júnior.
Penas
A definição das penas dependerá do entendimento do Judiciário. Segundo o advogado criminalista Carlos Kauffmann, se o juiz entender que houve homicídio culposo (quando não há intenção de matar), as penas podem variar de um a até três anos de prisão.
"Nesse caso, as penas devem ser convertidas em prestação de serviços à comunidade", afirma Kauffmann.
Por outro lado, para o criminalista, o Ministério Público pode entender que o incêndio foi causado por dolo eventual, quando o acusado, apesar de não ter a intenção de matar, assume concretamente o risco do resultado.
"Nessa hipótese, que, apesar de ser menos provável, parece ser a adotada pelo MP, uma vez que houve prisão temporária, o caso poderia ir a um tribunal do júri e demoraria mais tempo. As penas variariam de seis a 20 anos de prisão, dependendo da qualificadora", acrescenta Kauffmann.
Para parte dos especialistas ouvidos, no entanto, a pressão popular e a repercussão negativa do caso para o Brasil podem contribuir para que o episódio não caia no "esquecimento".
"Por mais que o processo seja demorado, acredito que não deva haver 'pano quente' nessa história, devido à quantidade de mortes, sobretudo de jovens", conclui Medauar, da USP.

DÓRICAS

Conforme a música
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
Enquanto pede à Procuradoria-Geral da República que investigue um ato da presidente da República que não requer investigação, pois o uso eleitoral de cadeia de rádio e televisão na semana passada foi explícito, o PSDB vai deixando de lado o que seria no momento o serviço primordial de um partido que se pretende alternativa de poder.
Os tucanos buscam abrigo nas asas do Ministério Público a fim de dar a impressão de que fazem oposição. No mais, dançam conforme a música orquestrada pela situação.
No campo em que poderiam abrir espaço para exercer o contraditório e falar à opinião pública, o Congresso Nacional, comportam-se como governistas: aceitam formalmente constrangidos a candidatura de Renan Calheiros à presidência do Senado e, na Câmara, submetem-se a um acerto feito entre PT e PMDB.
Acordo este que em tese não deveria lhes dizer respeito não falasse mais alto o medo de ficar de fora da divisão de postos na Mesa Diretora. Em nome de assentos que na prática não lhe conferem poder algum de ação devido à esmagadora submissão da maioria aos ditames do Planalto, firmam compromisso com o compadrio interno e acentuam a falta de comprometimento com a sociedade.
Três dias antes da eleição o PSDB esboçou reação por intermédio do senador Aécio Neves, que sugeriu ao PMDB a indicação de um nome mais apropriado, sem dizer com todos os efes e erres que gente em débito com a Justiça e com o decoro não pode comandar o Congresso.
A bancada no Senado se reúne hoje para decidir se parte para a abstenção ou se apoia o nome de Pedro Taques. Faz isso quando o quadro parece consolidado, aos 42 do segundo tempo, depois que o procurador-geral da República ofereceu denúncia contra Renan Calheiros ao Supremo Tribunal Federal e em meio a cobrança de apoio por parte do PMDB que alega ter "ajudado" os tucanos a salvar o governador Marconi Perillo na malfadada CPI do Cachoeira.
Se o PSDB pretende ganhar a próxima eleição presidencial, perdeu uma excelente oportunidade de se diferenciar da geleia geral, marcando posição num processo de troca de comando para a Câmara e o Senado que sintetiza a degradação do Legislativo.
Teria aí um bom início de afirmação partidária, mas preferiu o conforto de seus aposentos no muro do qual ensaia descer na última hora e da forma que escolheu para fazer oposição: devagar, quase parando.
Guichê. Certeiro o título de reportagem do Estado publicada nesta terça-feira sobre uma das várias legendas em processo de formação: "Candidato a partido, PROS busca clientela".
O Partido Republicano da Ordem Social, como reza o nome, não quer dizer absolutamente nada. Recolhe assinaturas (ao preço de R$ 0,25 cada) para registro na Justiça Eleitoral à cata apenas de clientes.
Para ter acesso às transações permitidas no sistema de coligações em eleições proporcionais e assim, quem sabe, chegar ao Congresso Nacional, para ter acesso às verbas do fundo partidário e ao tempo à propaganda de rádio e televisão sempre à disposição de eventuais locatários, para se transformar em mais um balcão de negócios.
Depois das maneiras desabridas com que o PSD conseguiu vasta clientela de 50 deputados, quase cinco centenas de prefeitos, e agora está prestes a indicar para um ministério no governo do PT o vice-governador na administração paulista do PSDB, tudo é permitido.
De onde a legenda aspirante não se acanhou. Aproveitou reunião de prefeitos em Brasília para panfletar sua plataforma: "Insatisfeito com seu partido? Quer sair sem perder o mandato? O PROS é a mais nova opção".
Como isca na pescaria, não exige ficha limpa. "É só assinar a ficha".
Puro Stanislaw Ponte Preta, no perigoso terreno da galhofa onde se encena o festival de besteiras que assola o País.
O tigre e a jaula 
Merval Pereira - O Globo
Dois anos após a eclosão da Primavera Árabe, o caminho para a democracia na região continua difícil e imprevisível, e está longe de estar garantido, concluiu o âncora da BBC Nik Gowing depois de uma mesa-redonda em Davos sobre o atual estágio do desenvolvimento da democracia nos países árabes afetados pelos processos revolucionários que derrubaram ditadores na Líbia, na Tunísia, no Egito, no Iêmen, países hoje governados por líderes escolhidos em eleições democráticas impensáveis anos atrás.
O progresso que a democracia vem fazendo no norte da África e no Oriente Médio é um fato, mas políticos e estudiosos colocam sempre uma necessária cautela ao falar do assunto, ressaltando que os focos terroristas no Mali e na Argélia são realidades que não podem ser negadas.
Amr Moussa, ex-secretário-geral da Liga dos Estados Árabes (2001 a 2011) e candidato derrotadonas eleições presidenciais, embora admitindo que o presidente do Egito, Mohamed Morsi, foi escolhido em eleições democráticas, ressalta que “democracia não é apenas eleição”.
Para haver uma democracia sustentável, precisamos ir além, diz ele, lembrando o papel da oposição, as demonstrações que tomam conta das ruas neste momento como sendo evidências de que os cidadãos querem mais, não estão satisfeitos com o que já conquistaram.
Para ele, não se pode sair do passado sem olhar para o futuro. A sociedade árabe está ganhando porque o povo não desiste de lutar pela dignidade humana, mas há preocupações que permanecem apesar dos avanços, como os direitos humanos das mulheres, que participaram da revolução e não estão satisfeitas com a nova Constituição, que as marginaliza.
Há também receio de que grupos terroristas islâmicos coloquem em perigo a democracia, e, nesse sentido, a reação da França no Mali, agora com o apoio do Reino Unido, é uma boa indicação de que os países ocidentais não deixarão que as instituições democráticas entrem em colapso.
Os partidos políticos que não queiram a democracia também terão que ser combatidos, como acontece agora no Egito diante da tendência autoritária do governo comandado pela Irmandade Muçulmana.
Dois anos atrás ninguém imaginaria que teríamos eleições democráticas na Líbia, no Egito, na Tunísia e no Iêmen, lembrou Ahmet Davutoglu, ministro das Relações Exteriores da Turquia.
Embora admita que ainda há um longo caminho a percorrer, o ministro turco acha que o processo histórico está seguindo seu curso e que a democracia é o melhor sistema para se lutar pela dignidade humana, e é isso que o povo árabe está fazendo.
Navi Pillay, alta comissária para Direitos Humanos da ONU, está convencida de que a democracia “não falhará” porque, no Oriente Médio e no Norte da África, as populações saíram de ditaduras e não querem um retorno à situação anterior. Ela reclamou da nova Constituição do Egito, que não respeitaria as convenções internacionais.
Moussa lembrou que a oposição abandonou as negociações sobre a Constituição porque ela não reconhecia os direitos das mulheres.
O articulista do “New York Times” Thomas Friedman foi o autor da metáfora do dia, ao dizer que, na Praça Tahir, ele sentiu como se houvessem tirado um tigre da jaula: “Ele não voltará mais, e, se tentarem colocá-lo à força novamente lá dentro, ele atacará e morderá”.
No entanto, ele lembrou que os fundamentos da democracia ainda estão longe de serem alcançados nos países da Primavera Árabe: autodeterminação, direito de voto, liberdade, instituições de proteção aos direitos individuais, Judiciário independente, liberdade de imprensa e livre-comércio.
“Temos até agora a autodeterminação, que seria o hardware da democracia. Precisamos do software, que são as liberdades garantidas por instituições.” Friedman disse que uma verdadeira democracia só existirá quando for testada por uma imprensa livre e uma oposição forte. “Não temos isso ainda no Egito”, afirmou.