terça-feira, 30 de abril de 2013

Da arte de viver entre guris do crime e garis intelectuais
1.
Um assassino jamais "paga sua dívida com a sociedade", como prega o chavão estimulante de seus defensores. A vítima morta não recebe a sua parte do pagamento e a dor daqueles que a amavam não se quita com ele.
A prisão do assassino é apenas punitiva e pode até ser temporária, embora tanto melhor quanto mais longa. Mas a dívida, queiram ou não, é eterna.
2.
No Brasil, a vida humana custa nada mais que 3 anos de recolhimento na Fundação Casa, se tirada por um menor. Mesmo que este menor tenha "isqueirado" viva a sua vítima - como a dentista Cinthya Magaly Moutinho de Souza -, para torturá-la por dispor de apenas R$ 30 em sua conta na hora do assalto.

Só uma fome estimula isto: a fome de crueldade.
Em 3 anos, o bem-nutrido incendiador de Cinthya - que pode assumir o crime no lugar de seus comparsas mais velhos para aliviar a pena deles - estará solto, de ficha limpa, assim como o assassino de Victor Hugo Deppman, que não se satisfez em roubar o celular do rapaz e deu-lhe um tiro na cabeça.
Se eles terão a certeza - o que já seria um escárnio - de que pagaram sua dívida com a "sociedade"? Não creio! No Brasil de Dilma Rousseff, Gilberto Carvalho e Maria do Rosário, a "sociedade" é que tem uma dívida eterna com eles.
O mínimo que podemos fazer é andar com mais de R$ 30 no bolso.
(Sobre o assunto, leia também as análises indispensáveis de Reinaldo Azevedo:
aqui, aqui, aqui, aqui e aqui; e José Maria e Silva, aqui.)
3.
E eu não tinha escrito que, no Brasil, até o estupro se passa por crime de fome?
Fico muito aliviado, portanto, de não precisar refutar o coquetel de bobagens da jornalista Luíza Pastor na Folha de Qualquer Um, digo, de S. Paulo, não só porque
Reinaldo Azevedo já o fez de forma impecável, como também porque meu artigo "Os guris do crime" já o antecipava. Para cada guri do crime, há um caminhão de garis intelectuais dispostos a varrer sua sujeira para baixo do tapete.
Luíza Pastor - que de pastora só tem o sobrenome - ainda se refere ao seu próprio estuprador como "o menino". Isto, limito-me a acrescentar, é praxe entre aqueles que passam a mão na cabecinha de criminosos e terroristas. O "especialista" do jornal O Globo, Luciano Huck, fez a mesma coisa em relação aos traficantes de drogas tempos atrás, como escrevi no artigo "
Soletrando a Guerra 'do Rio'":
No Caldeirão mental do Huck, os “meninos e meninas” do narcotráfico “não são bandidos”, mas “nasceram no lugar errado e estão bandidos”. Pobres vítimas que, “por absoluta falta de opção” nas “comunidades dominadas pelas armas”, foram cooptadas pelos líderes do “movimento”. Que essa “absoluta falta de opção” ainda produza uma maioria honesta e trabalhadora, é um desses mistérios cuja elucidação fica para depois dos comerciais. Ou, como escreve o apresentador do “Soletrando” sobre o problema das armas: “Mais [sic] isso dever [sic] ser o tema de um outro artigo”. 
Após o atentado na Maratona de Boston, o radialista americano Rush Limbaugh fez também uma compilação de comentários jornalísticos neste sentido a respeito de Dzhokar Tzarnev, de 19 anos, um dos terroristas que explodiram três pessoas - incluindo uma de 8 anos - e mataram um policial.
Os grifos são meus:
JULIA IOFFE: This kid seemed to be out of place in Boston. He seemed to be alienated.
DON LEMON: He’s 19 years old, he’s still a kid, he’s still a teenager.
CHRISTINE ROMANS: It's not as if you look at this kid and his background, and see hardship that could have turned his heart hard.
ANDERSON COOPER: He was a seemingly normal college kid.
DEBORAH FEYERICK: Remember, this is a kid who is on a ventilator.
JESSICA STERN: Why is it that one kid is susceptible and not another.
ERIN BURNETT: All-American kid, smoked pot, went to parties. Totally normal kid.
DR. DREW PINSKY: What seems to be a normal kid in high school on the wrestling team to being radicalized.
DAVID REMNICK: This is a mixed up kid.

Pois bem. Na hora do sexo, como escrevi no artigo "Educação de quatro", as crianças devem ser tratadas como adultas. Na hora do crime, os criminosos, mesmo quando adultos, devem ser tratados como crianças (ou "kids").
É assim o discurso revolucionário esquerdista onipresente
na educação e na grande mídia americana, brasileira e outras mais: corrompe a sociedade por todos os lados, para depois acusá-la de todos os crimes.

Felipe Moura Brasil edita o Blog do Pim.
A Operação Salva Eike
Carlos Tautz
Provavelmente o círculo inferior da economia (nós) nunca saberá os detalhes da Operação Salva Eike, que o próprio e o governo brasileiro vem desenvolvendo, após o ex-homem mais rico do Brasil ter tido revelada a péssima situação financeira de suas empresas.
Mas, os contornos dessa Operação, tornados públicos aqui e ali de um noticiário sempre à serventia de Eike, são nítidos. Eles repetem a dinâmica e a lógica que permitira a ascensão econômica desse moço que produz menos do que se pensa, mas que habilmente cria uma imagem pública de que vale muito mais do que em verdade vale.
A Operação em andamento envolve dinheiro público (do BNDES e de negócios com a Petrobrás) e uma blindagem que a imprensa faz à imagem de Eike como um suposto exemplo de empreendedor que, por méritos próprios, teria chegado onde chegou.
No banco estatal, o antigo oitavo homem mais endinheirado do planeta montou um verdadeiro eikeduto que lhe garante muito dinheiro público, largamente subsidiado pelo Tesouro, apesar dos insistentes indícios de fracasso, ou de, pelo menos, dificuldades por que passam seus empreendimentos. Foi isso que aconteceu no dia 18 passado, quando Eike anunciou ter obtido mais de R$ 900 milhões em novos empréstimos do BNDES.
O esquema de apoio ao ex-exemplo de capitalista tem outra perna na Petrobras, de onde Eike tirou técnicos super qualificados, e as valiosíssimas informações que eles carregam na memória, para montar sua própria empresa de petróleo e transacionar com a estatal do petróleo.
A outra parte de sua estratégia de blindagem, que mais uma vez o ajuda agora no momento em que ele recorre às boas e velhas tetas da Viúva, é o consenso social em torno de si. Ele a estimula. E a imprensa corporativa gostosamente apoia.
Ao inflar números e possibilidades para seus negócios, Eike avança no único mercado que domina: as expectativas em torno de possíveis ganhos e a valorização de suas empresas. Assim, comprar e vender participações de suas companhias vira um grande negócio. Para o próprio Eike, é claro.
Foi isso que aconteceu há poucas semanas. Como noticiou O Globo (22/4): “Os papéis ON da petrolífera [OGX, de Eike] (com direito a voto) avançaram 18,38% a R$ 1,61, depois de terem subido mais de 19% na abertura. O motivo, segundo analistas, foi uma reportagem do jornal “Folha de S.Paulo”, no fim de semana, informando que um pacote de socorro estaria em andamento para salvar a OGX”.
Comparadas a outras corporações brasileiras, as empresas de Eike produzem e faturam pouco. Seus ganhos residem no perde e ganha desse jogo de expectativas, em que estatais aceitam negociar com um conglomerado em dificuldades e a imprensa propagandeia que tudo isso é normal no capitalismo.
Mas, boa parte da responsabilidade por volumes massivos de dinheiro público serem desperdiçados em operações de salvamento de empresários falidos é nossa. Aceitamos e reproduzimos, também gostosamente, que o ícone de capitalista brasileiro represente nosso próprio ideal de crescimento individual.
Carlos Tautz, jornalista, coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e controle social de governos e empresas.
Os irmãos Jesse e Frank James fugiam do xerife. Os manos José Genoino e José Guimarães querem algemar os juízes
Augusto Nunes - VEJA

Os irmãos Jesse e Frank James
Faz tempo que a bandidagem do faroeste brasileiro se porta como dona do vilarejo, constatou o comentário de 1 minuto para o site de VEJA. Primeiro, pararam de esconder o rosto na hora do assalto. Depois, deixaram de afastar-se às pressas da cena do crime: se não permanecem por lá, atravessam a rua para divertir-se no saloon. Em seguida, os vilões resolveram prender o xerife. E agora querem dar ordens ao juiz, informa o recrudescimento da sórdida ofensiva contra o Supremo Tribunal Federal movida pela bancada dos companheiros delinquentes.
O golpe não vai dar certo, previu a reportagem de capa de VEJA. Mas os golpistas continuarão tentando botar abaixo o estado democrático de direito, acertou novamente o texto que relata as obscenas manobras urdidas por deputados e senadores do PT ─ com o patrocínio do Planalto ─ para submeter o Judiciário ao Legislativo. A tropa de choque é permanentemente abastecida por comparsas na reserva. Nesta segunda-feira, por exemplo, Nazareno Fonteles achou sensato recolher-se ao baixíssimo clero. Imediatamente entrou no palco o inevitável Marco Maia.

Os irmãos José Guimarães e José Genoíno
Em voz alta ou aos sussurros, às claras ou nas catacumbas das comissões, os devotos do autoritarismo populista conspiram para algemar o Supremo Tribunal Federal antes que a frota de camburões recolha os mensaleiros condenados a merecidíssimas temporadas na cadeia. Há algo de muito errado com um país em que meliantes ligados por laços de sangue se fantasiam de representantes do povo para insultar impunemente os os homens da lei.
Nos filmes que contam a saga dos irmãos Jesse e Frank James, a dupla passa boa parte do tempo galopando na pradaria ou enfurnados num desfiladeiro para escapar do delegado. Aqui, os irmãos José Guimarães e José Genoino são dois prontuários com imunidades parlamentares. Pecadores juramentados, deveriam estar ajoelhados no milho desde a infância. Continuam à solta, homiziados na Câmara. E nunca dormiram num catre.
Guimarães era deputado estadual no Ceará quando um de seus assessores, José Adalberto Vieira, foi preso em São Paulo pela invenção da cueca-cofre. Além de 200 mil reais na mala, Vieira carregava 100 mil dólares nas partes baixas ao ser capturado no aeroporto de Congonhas, pronto para voar rumo a Fortaleza. O irmão de Genoino safou-se do caso de polícia ocorrido em julho de 2005 pelas trilhas da mentira. Passados oito anos, virou líder da bancada do PT na Câmara. E continua mentindo, comprova o artigo de Ricardo Noblat.
Ele jura que o partido não tem nada a ver com a abjeção oficialmente proposta pelo petista piauiense Nazareno Fonteles e aprovada às pressas por uma Comissão de Constituição e Justiça cuja composição agride a Constituição e debocha da Justiça. Ao lado do futuro presidiário João Paulo Cunha, segue alojado nessa comissão o irmão eleito pelo PT paulista. Condenado no julgamento do mensalão por corrupção ativa e formação de quadrilha, José Genoino continua liberado para atacar a imprensa independente e desafiar o STF.
A solidez dos laços que unem José Genoino e José Guimarães avisa que um não consegue viver longe do outro. Simples: há lugar para os dois no presídio de Tremembé.
Caxirola vira mico - e Brown pode perder jogada bilionária
Protesto logo na estreia do instrumento inventado pelo cantor baiano ameaça tirar o objeto da Copa. Brown e seus sócios pretendiam vender 50 milhões de chocalhos de plástico a 29,90 reais cada - um negócio de quase R$ 1,5 bilhão
VEJA
Carlinhos Brown já é especialista num inusitado fenômeno: a chuva de objetos de plástico. Em 2001, o cantor baiano foi alvo de uma tempestade de garrafas ao cantar A Namorada no Rock in Rio. Mas quando viu a torcida do Bahia arremessando suas caxirolas no gramado da Arena Fonte Nova, em Salvador, no fim de semana, Brown deve ter ficado ainda mais preocupado. Afinal, a manifestação hostil logo na estreia do objeto, escolhido pelo governo para ser o instrumento oficial da Copa do Mundo no Brasil, colocava em risco um negócio de quase 1,5 bilhão de reais. É essa a receita pretendida pelo cantor e seus sócios com a fabricação do produto, cujo preço previsto é de 29,90 reais. Vender até 50 milhões de chocalhos de plástico por esse valor, com os parceiros sonhavam, seria difícil. Brown, porém, apostava na febre da Copa para garantir o sucesso do produto. A chuva de caxirolas de domingo colocou em dúvida a segurança do instrumento, que pode ser usado para atingir os jogadores nas novas arenas brasileiras. Nos estádios do Mundial, não há grades nem alambrados separando o campo da torcida. Além disso, a distância do público para o gramado é muito menor. De acordo com reportagem publicada nesta terça-feira pelo jornal Folha de S. Paulo, a estreia da caxirola alarmou o Comitê Organizador Local da Copa. Agora, o COL e a Fifa sinalizam com a possibilidade de excluir o instrumento da lista de objetos permitidos nos estádios do Mundial.
O temor se deve principalmente à falta de ligação e costume do torcedor brasileiro com o instrumento, um projeto pessoal de Brown que mirava justamente a Copa (e os possíveis lucros decorrentes da presença de torcedores no mundo todo no país). Ao contrário da vuvuzela, que atazanou os visitantes no Mundial de 2010, na África do Sul, a caxirola é uma invenção artificial para o evento - usar um chocalho para torcer é tão exótico para um brasileiro quanto entrar num estádio vestindo terno e gravata. No caso africano, a Fifa cedeu aos apelos dos torcedores locais e permitiu que a vuvuzela, que já tinha décadas de tradição, fosse usada em todas as partidas da Copa. Caso perca a boquinha nos estádios do torneio, Brown verá o lucro da empreitada despencar. O cantor e seus parceiros comerciais não revelam quais serão os porcentuais de cada um no negócio. Brown patenteou a invenção - apesar de o instrumento ser basicamente igual ao caxixi, o chocalho de palha que acompanha o berimbau. A fabricação e distribuição ficou com uma multinacional chamada The Marketing Store. O plástico é produzido pela Braskem. Elas não revelam quanto Brown receberá de royalties pelo produto, que já está chegando às grandes redes varejistas e lojas de material esportivo. A semelhança com o caxixi é reforçada pelo fato de o plástico imitar a textura da palha. Dentro da caxirola, no lugar das sementes que fazem barulho no caxixi, há grãos de plástico.
Ao vender a ideia ao governo e à Fifa, Carlinhos Brown garantiu que o objeto era à prova de vandalismo, já que o instrumento é bastante leve. Ainda assim, os torcedores baianos não tiveram a menor dificuldade em acertar o gramado com a caxirola (que, no evento-teste da Arena Fonte Nova, foi distribuída gratuitamente à torcida). Antes do duelo entre Bahia e Vitória, o público baiano teve de encarar uma aula com Carlinhos Brown. Cercado de dezenas de percussionistas, o cantor mostrou como usar o instrumento para torcer. Pelo visto, pouca gente prestou atenção - a participação da caxirola no clássico só foi notada quando as primeiras delas começaram a atingir o gramado. Muito elogiada pela presidente Dilma Rousseff - que, na semana passada, tocou caxirola ao lado de Brown e disse que o instrumento "tem um sentido transcendental de cura" -, ela já preocupa os estrangeiros que se preparam para visitar o Brasil na Copa do ano que vem. Em artigo publicado no site do diário britânico The Guardian, o jornalista John Crace pede aos brasileiros que deixem de lado a novidade apresentada pelo cantor e chancelada pelo Ministério do Esporte. "Mal posso esperar", ironizou o colunista sobre a perspectiva de assistir às partidas da Copa com o barulho dos chocalhos de Brown. "Se você achava que as vuvuzelas eram ruins, espere só até ouvir as caxirolas", reclama Crace.

Trakoscan Castle, Croatia (by Boris Frkovic)

DÓRICAS

Lição do abismo
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
O Dia que Durou 21 Anos é um documentário para ser visto e compreendido em duas dimensões, a explícita e a implícita. Trata da influência do governo dos Estados Unidos no golpe militar de 1964, mas não é só isso.
Subjacente às urdiduras norte-americanas no Brasil, o argumento do jornalista Flávio Tavares confere nitidez à linha tênue que separa as palavras ditas das intenções pretendidas quando o nome do jogo é Poder.
No filme, Newton Cruz, um dos mais coléricos personagens do período, diz uma frase que surpreende pela autoria e deixa patente a diferença entre o discurso de defesa da democracia que justificou a conspirata para derrubar João Goulart e a prática que logo revelaria o intuito de instalar uma ditadura militar longeva no País.
"Disseram que iriam arrumar a casa, mas ninguém leva 20 anos para arrumar uma casa", aponta o aposentado general quase ao final dos 77 minutos de projeção. Para além do relato em si, a constatação convida o pensamento a passear pelo terreno das razões alegadas e dos métodos utilizados por aqueles com vocação autoritária.
Gente refratária ao contraditório, obstinada na perseguição de seus objetivos, convicta de que seus fins justificam o emprego de quaisquer meios e, sobretudo, partidária da ideia de que alternância no exercício do poder é praticamente um crime de lesa-pátria.
O procedimento mais tradicional observado nesses grupos é o uso da força, a truculência sem ambiguidades, a ilegalidade impudente. Assim foi a partir daquele dia de março/abril do qual se ouvirá falar muito, junto com Copa e eleições, em 2014 por ocasião da passagem de seu meio século.
Há, porém, outras maneiras de o autoritarismo se expressar. Ladinas, sorrateiras, mas sempre ao abrigo do discurso de defesa de ideais democráticos. Ambas as formas são perigosas, mas a segunda pode ser mais ruinosa justamente porque não ataca de frente preferindo comer o mingau pelas beiradas.
Persistentemente, construindo o cerco à atuação dos adversários, o enfraquecimento das instituições e a debilitação dos instrumentos de guarda da legalidade, nos detalhes. Um aqui, outro ali, sem nunca descuidar de distribuir benesses pontuais e promover uma sensação geral de bem-estar a fim de que seus propósitos não despertem reações.
E, se despertarem, que possam ser atribuídas aos invejosos, aos conspiradores, aos preconceituosos, aos inimigos do povo, aos que não se conformam com o êxito dos locatários do poder que pretendem dele se tornar proprietários.
De onde é preciso estar atento. Não se deixar confundir nem iludir. Nunca menosprezar gestos aparentemente laterais, insignificantes, pitorescos até.
Nada tem de inocente a proposta apresentada por um deputado supostamente secundário do PT para que se derrube o pilar do sistema republicano de equilíbrio entre Poderes e se submetam decisões da Corte Suprema ao crivo do Legislativo ou de plebiscitos.
Não houvesse imprensa livre para denunciar e Judiciário independente para reagir, a proposta poderia prosperar. Se hoje tivéssemos o conselho de controle e fiscalização dos meios de comunicação proposto no início do primeiro mandato de Lula, se os ministros indicados por governos do PT ao STF tivessem se curvado à lógica de que à indicação deveria corresponder conduta submissa, talvez a ideia do deputado Nazareno não fosse tratada como a ignomínia que é.
De onde é preciso prestar muita atenção à tal de Comissão Especial de Aprimoramento das Instituições instalada em novembro na Câmara por iniciativa do PT, com a tarefa de rediscutir os papéis do Executivo, Legislativo e Judiciário.
Disso já trata a Constituição que, uma vez respeitada, cuida bem de manter afastados do Brasil os males do arbítrio.
Queda na arrecadação acende uma luz vermelha
O Estado de S.Paulo
Enquanto a presidente Dilma Rousseff entregava-se, ontem, em Mato Grosso do Sul, a mais uma maratona pré-eleitoreira, cantando as formidáveis conquistas do Brasil Novo que o ex-presidente Lula e ela estão construindo - pelo menos do alto dos palanques e pelos canais de TV -, informações bem menos alvissareiras sobre o Brasil presente e real eram divulgadas em Brasília.
A principal vinha da Receita Federal, na véspera do fim do prazo para os contribuintes apresentarem suas declarações: a arrecadação, em março, teve queda de 9,32% em relação ao mesmo mês do ano passado e tornou negativo o saldo do primeiro trimestre do ano. É que nos dois primeiros meses (janeiro e fevereiro) tinha sido contabilizado um crescimento de 3,67% , mas o resultado de março levou a uma queda real de 0,48% no trimestre, em comparação com o mesmo período de 2012.
O desempenho negativo da arrecadação em março foi devido, principalmente, à queda de 48,25% no pagamento do ajuste anual do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), fato que sem dúvida reflete o arrefecimento da atividade econômica em 2012, já denunciado pelo exíguo crescimento do PIB, e, consequentemente, a queda de desempenho das empresas.
Para uma comparação mais representativa, no ano passado a Receita recebeu, a título de ajuste anual do IRPJ e da CSLL, quase R$ 12 bilhões. Neste ano, o valor caiu para R$ 6,2 bilhões.
Além disso, houve neste ano, de janeiro a março, um aumento do volume de desonerações tributárias sobre a folha de salários, Cide-combustíveis, IPI e IOF do crédito da pessoa física, implicando uma renúncia fiscal R$ 5,044 bilhões maior do que a do mesmo período do ano passado.
Em resumo, levando em conta apenas as desonerações e o recolhimento do IRPJ e da CSLL, a perda de arrecadação em 2013 chegou a um total de R$ 10,8 bilhões, em comparação com o mesmo período de 2012. A própria Receita enfatiza que o desempenho ruim deste ano foi fortemente influenciado pela queda da produção industrial.
Esses dados todos oferecem um quadro cuja perspectiva aconselha maior parcimônia na distribuição de benesses eleitoreiras às empresas, aos Estados e municípios, às pessoas físicas, em termos de créditos e salários, e maior empenho em investimentos, que permitam a retomada da atividade industrial.
De olho na Copa, jornal inglês critica Caxirola: "poupem-nos"
Terra
O lançamento da caxirola, instrumento musical licenciado pela Fifa e que deve ser amplamente usado durante a Copa do Mundo de 2014, foi ironizado nesta segunda-feira pelo jornal inglês The Guardian. A publicação comparou o pequeno chocalho feito de plástico e inventado pelo músico Carlinhos Brown com as vuvuzelas que marcaram o Mundial de 2010, na África do Sul.
"Se você achava que as vuvuzelas eram ruins, espere até ouvir a caxirola", escreveu John Crace, em um dos blogs da publicação. "Poupem-nos do som da Copa do Mundo de 2014 no Brasil" foi a chamada para o texto.
O instrumento foi lançado no clássico entre Bahia e Vitória, pelo Campeonato Baiano, neste domingo, na Arena Itaipava Fonte Nova. Espécie de chocalho, a caxirola não empolgou e chegou a ser jogada no campo como protesto pelo resultado da partida – o Vitória venceu por 2 a 1.
Para o The Guardian, o lançamento do instrumento é uma prova de que nenhum momento de espontaneidade deixará de ser explorado comercialmente. De acordo com a análise, as vuvuzelas africanas eram mais autênticas, não pareciam planejadas.
"Parecia que os amantes do futebol na África do Sul estavam empolgados por sediar o Mundial e estavam aproveitando da sua própria maneira".
O jornalista descreve a Caxirola como uma peça de plástico nas cores verde e amarelo, pequena suficiente para caber em uma mão e parecida com uma  granada, que faz "um inofensivo e não muito alto chocalhar".
"Os brasileiros deveriam ter ido além e entregado garrafas de valium para os fãs de futebol chacoalharem", disse o texto, citando a medicação calmante forte e de acesso controlado.
 
Ministro “caxirola”
Renato Maurício Prado - O Globo
Não podia ser mais desastrada a estreia da tal caxirola, maldito chocalho que Carlinhos Brown inventou e o Ministro Aldo Rebello resolveu apadrinhar, pra fazer, na Copa do Brasil, as vezes das insuportáveis vuvuzelas do Mundial da África do Sul.
Uma imitação patética. A indigesta corneta africana, pelo menos, tinha um sentido cultural, pois é hábito antigo naquele país soprá-la nos estádios. Bizarro e desagradável, mas tradicional. Nos nossos campos, entretanto, o único som que embala os jogos são os cantos das torcidas — criativos, entusiasmados e empolgantes. Pra que criar, então, um instrumento barulhento e tornar nossas partidas de futebol sonoramente irritantes? Há muita gente lucrando com isso. E não é o povo brasileiro...
No evento teste realizado no domingo passado, em Salvador, 50 mil caxirolas foram distribuídas gratuitamente aos torcedores de Bahia e Vitória, na Fonte Nova. Quem pagou? Boa pergunta...
Possíveis negociatas à parte, fato é que os tais chocalhos não somente provocaram um barulho infernal e insuportável, como se tornaram objetos descartáveis, passíveis, portanto, de serem lançados no gramado (como foram) por torcedores irritados.
Genial, não? Além de maltratarem os ouvidos alheios, os guizos de plástico ainda viram projéteis para arremesso no campo. Ainda bem que a Fifa já proibiu qualquer instrumento de som no Mundial de 2014. Tomara que a fiscalização seja rigorosa.
Perdidos na floresta
José Paulo Kupfer - O Estado de S.Paulo
Cinco anos depois da instalação da maior crise econômica global desde os anos 30, os esforços para sua superação - vamos direto ao ponto - deram em nada até agora. A situação, a rigor, principalmente na Europa do euro, tem se deteriorado. É o que deve se confirmar com a divulgação, prevista para os próximos dias, de uma gorda lista de indicadores de conjuntura.
Não será surpresa se os índices de confiança na recuperação da economia insistirem em recuar, em sintonia com projeções de crescimento abaixo de zero e taxas de desemprego nas alturas de 12% da força de trabalho, com picos escabrosos como os 27% registrados na Espanha. Nos Estados Unidos, o cenário não é tão cinzento, mas o ânimo voltou a cair com os fracos resultados do primeiro trimestre. Nos dois lados do Atlântico, a timidez dos investimentos só consolida a percepção de que uma recuperação que mereça o nome continua fora da linha do horizonte.
A constatação de que os economistas continuam sem respostas aos desafios colocados pela crise global torna o ambiente ainda mais sombrio. Até agora, nenhuma ideia tem conseguido apontar um caminho seguro para a retomada do crescimento e a redução do desemprego. Na verdade, a crise persistente tem mais derrubado certezas do que promovido esperanças.
Nas últimas semanas, por exemplo, o cansaço com a falta de perspectivas abriu espaço para ataques mais agressivos aos princípios de austeridade fiscal, que predominaram até aqui na ação dos governos das economias encalacradas. A ideia de que a retomada do crescimento, em economias endividadas, só ocorre depois de completado um ciclo de contração fiscal sofreu golpes profundos com a descoberta de que alguns dos mais influentes estudos empíricos que a sustentam continham erros metodológicos suficientes para invalidar suas conclusões.
Já houve problemas com um estudo de Alberto Alesina e Silvia Ardagna, prestigiosos economistas de Harvard, que procurava demonstrar, com base em levantamentos históricos, que o padrão de saída de crises anteriores de dívida se baseava em políticas de contração fiscal. O trabalho, que defendia a teoria da "contração expansionista", sustentou as determinações de austeridade fiscal da troica - Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e Comissão Europeia -, nos países do sul da Europa, durante os primeiros anos da crise. Mas, já em 2010, o próprio FMI levantou dúvidas sobre as conclusões do estudo.
O mesmo ocorreu agora com outro estudo empírico, também de economistas de Harvard, segundo o qual o crescimento tende a se manter baixo quando a dívida bruta pública atinge o limite de 90% do PIB. De autoria dos estrelados Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart, o trabalho, como se descobriu, omite ou despreza informações relevantes e até contém erros na fórmula de organizar os dados numa planilha Excel.
No embate entre defensores da austeridade fiscal e advogados da expansão dos gastos públicos, o aperto fiscal perdeu um round importante. Mas isso não significa vitória definitiva para os "keynesianos", que receitam políticas fiscais expansionistas para enfrentar recessões.
Diferentemente das crises em que essa fórmula mostrou sucesso, o atual ativismo dos bancos centrais, ao evitar depressões, impediu a pulverização das dívidas, tirando potência da solução pela via da ampliação do déficit público - afinal, pelo menos parte do incremento de renda promovido pela expansão fiscal acaba destinada ao pagamento de dívidas e, além disso, é grande o aumento do risco de insolvência se as dívidas, já altas, aumentarem ainda mais.
Não é nada confortável verificar que, tanto tempo depois de sua eclosão, os economistas que formam a nata do pensamento econômico contemporâneo ainda estão perdidos na floresta da crise.

Campos quer Beltrame
Merval Pereira - O Globo
O secretário de Segurança do Estado do Rio, José Mariano Beltrame, é o novo sonho de consumo dos políticos. Cotado para vice na chapa oficial do governo do Rio do PMDB, encabeçada por Pezão, Beltrame recebeu inesperado convite: o governador Eduardo Campos (PE), preocupado em montar palanque competitivo no Rio, sondou-o sobre a possibilidade de tê-lo como candidato a governador pelo PSB.
Nada indica que Beltrame tenha sido picado pela mosca azul, mas ele não está disposto a aceitar ser vice de Pezão.
Diz que está na hora de encerrar sua missão no Rio, e, numa piada politicamente incorreta, responde a quem lhe pergunta sobre o assunto: “Eu não sou vascaíno para querer ser vice.” Mais ainda politicamente incorreta quando se sabe que o governador Sérgio Cabral é um vascaíno doente.
Somente uma solução milagrosa o faria mudar de ideia, admite: que fiquem subordinadas a ele como vice-governador as áreas da saúde, educação e assistência social do futuro governo.
Isso porque ele está preocupado com as medidas sociais que considera indispensáveis para dar consequência às medidas policiais que estão sendo tomadas com sucesso na implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas comunidades antes dominadas pelo tráfico de drogas.
A escolha de Beltrame como vice na chapa oficial do governo do Rio, que chegou a ser anunciada como certa por Picciani, tem o objetivo claro de explicitar a continuidade desse trabalho que vem tendo sucesso na liberação de áreas da cidade onde reinavam os traficantes.
Mas Beltrame está angustiado com o que vem depois, que ele considera imprescindível para o sucesso definitivo da operação de segurança, as chamadas UPPs sociais, nome, aliás, de que ele não gosta.
Beltrame já disse em diversas entrevistas que as questões sociais não são resolvidas com as UPPs, pois a polícia apenas cria um ambiente favorável a que os serviços públicos possam chegar às favelas e comunidades carentes.
Ele teme que, se a questão social não for resolvida, as UPPs sofram com esse desgaste da ação do governo. E fica preocupado com o acúmulo de responsabilidade que recai sobre os policiais que estão trabalhando nas áreas de risco, pois os moradores se acostumam a identificar a polícia como responsável por questões que não lhe dizem respeito, como os serviços de recolhimento de lixo ou fornecimento de água e luz.
A ideia de trabalhar com os serviços públicos básicos ligados ao esquema de polícia pacificadora daria a eles maior aderência ao que precisa ser feito nas áreas pacificadas, mas o próprio Beltrame admite que não é possível fazer dessa a única prioridade do governo.
Ele se angustia com o ritmo da instalação dos serviços públicos nessas regiões e teme o desgaste do trabalho das polícias pacificadoras.
Não é o fuzil que fará com que a vida dos cidadãos melhore, repete sempre Beltrame, mas a chegada do estado a esses lugares, que lá não atuava ou tinha uma atuação prejudicada pelo domínio territorial dos traficantes.
O convite feito por Campos não parece ter empolgado o secretário de Segurança, que não pretende assumir uma carreira política e sente-se parte de um projeto do governador Sérgio Cabral. Mas não tão parte a ponto de aceitar ser o vice de Pezão sem as garantias suficientes de que a ação social nas comunidades carentes será a grande prioridade da próxima administração.
Sair da esfera desse grupo político do PMDB do Rio para tentar a sorte numa campanha isolada pelo PSB não parece ser do estilo de Beltrame, embora caísse como uma luva no projeto de Campos, que joga na disputa entre o PMDB e o PT, que deve lançar o senador Lindbergh Farias como candidato a governador.
Se antes Campos achava que, em eventual briga política PT x PMDB, poderia sobrar para o PSB a candidatura Lindbergh, hoje já há convicção nos meios políticos de que o PT assumirá a candidatura do senador do Rio mesmo contrariando o desejo de Cabral.
A incógnita é saber como Cabral reagirá: se aceitará que Dilma tenha dois palanques no Rio, coisa que ele continua dizendo que não tem cabimento, ou se romperá a aliança com Lula e Dilma para apoiar outro candidato, o que é mais improvável que a primeira hipótese.
Tanto que Campos já busca uma alternativa, e o potencial candidato do PSDB, Aécio Neves, está procurando no PDT aliança que tenha o deputado Miro Teixeira como candidato a governador.
Declarada a gandaia fiscal
O Estado de S.Paulo
A farra fiscal está mais aberta do que nunca e já se pode considerá-la oficializada, depois da entrevista do secretário do Tesouro, Arno Augustin, ao jornal Valor. Em nome do formalismo, alguns poderão exigir, talvez, um carimbo presidencial sobre a palavra adequada - algo como farra, gandaia ou esbórnia.
Mas os fatos e as palavras são claros. O tratamento cada vez mais irresponsável das contas públicas é um dado bem conhecido. E a entrevista é mais que suficiente para eliminar qualquer ilusão de seriedade no manejo das finanças de governo, se ainda houver por aí alguma velhinha de Taubaté.
Deste ano em diante, o superávit primário, o dinheiro posto de lado para o serviço da dívida pública, "será sempre uma variável da economia", disse o secretário. Não será mais, acrescentou, uma variável ligada à própria dívida. Isso se estenderá, acrescentou, até 2016, se for reeleita a presidente Dilma Rousseff. Faltou esclarecer por que só até 2016, mas esse tipo de restrição é pouco significativo no caso da gestão petista. Em outras palavras, abram alas porque mais gastança vem aí.
A irresponsabilidade, praticada há vários anos e agora exibida como bandeira de governo, vem travestida de política contracíclica. Essa conversa é velha e é parte do repertório do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Mas há uma novidade importante. O secretário Arno Augustin, conhecido por sua proximidade com a presidente Dilma Rousseff, apresentou esse estilo de ação como estratégia permanente. Sem abandonar o cuidado fiscal, disse ele, o governo deverá adequar a ação fiscal aos ciclos econômicos, elevando o gasto em tempos difíceis e contraindo a despesa em fases de prosperidade.
Como prova de sua boa-fé, mencionou os resultados fiscais a partir de 2008. Ninguém pode levar a sério essa argumentação, exceto por ingenuidade. É bem conhecida a arrumação dos resultados fiscais com despesas classificadas como investimentos e com truques cada vez mais escandalosos, como os tirados da cartola no fim do ano passado.
As declarações realmente significativas são outras. A administração federal, disse o secretário, continuará abatendo investimentos e desonerações da meta de superávit primário e ainda autorizará maior investimento de Estados e municípios quando o crescimento econômico for muito lento.
Não se trata só de rever as condições impostas a governos estaduais e municipais quando suas dívidas foram refinanciadas. Isso seria razoável, mas a conversa é outra. A ordem é generalizar a esbórnia fiscal. Tudo pela reeleição?
Política anticíclica é um nome bonito para a gastança - uma farra inútil, como têm sido as desonerações mal planejadas. Tanto nos anos bons quanto nos difíceis, a inclinação do governo petista foi sempre pela gastança. Há pelo menos seis anos, essa tendência foi reforçada com a política de favores a grupos escolhidos como favoritos. O Tesouro vem aumentando seu endividamento para reforçar o caixa dos bancos federais, especialmente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e facilitar o fornecimento de recursos a empresas "campeãs".
Ao contrário do afirmado pelo secretário, o endividamento tem crescido. A dívida bruta do governo geral (administrações federal, estaduais e municipais e INSS) passou de 54,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em dezembro de 2011 para 58,7% em dezembro de 2012. Subiu para 59,2% em janeiro deste ano e ficou praticamente estável em fevereiro, na marca de 59,1%. A dívida líquida é mascarada por créditos muito discutíveis, como aqueles correspondentes a empréstimos fornecidos aos bancos da União.
O secretário prometeu mais ênfase ao investimento que ao gasto corrente. Mas o governo tem sido incapaz de realizar tanto os investimentos orçamentários quanto aqueles dependentes das estatais. Não por falta de dinheiro, mas de competência. Em 2012, a União só investiu 40% do total previsto no Orçamento. Mais de metade do desembolso foi de restos a pagar. Por que isso mudaria?

ELIÂNICAS

A nova polarização
Eliane Cantanhêde - FSP
BRASÍLIA - Enquanto Judiciário e Legislativo se digladiavam, a eleição presidencial avançava bastante na semana passada, com ações e reações do governo e das oposições.
Aécio Neves, do PSDB, lançou a ideia de um mandato presidencial de cinco anos, sem direito a reeleição. Eduardo Campos, do PSB, mordeu a isca e ligou ao "concorrente" para endossar a ideia, que tem lá sua serventia simbólica, como mote para unir a oposição, mas nenhuma serventia prática. Que Congresso vai aprová-la? Só se for o de Marte, quem sabe o de Saturno?
Um movimento na mesma direção, a da união, mas em sentido contrário, de Aécio para Campos, foi quando o socialista apresentou-se no programa do seu partido na TV e não deixou dúvidas --é candidato e, apesar dos cargos do PSB no governo, está na oposição. Foi a vez de Aécio retribuir e dar as "boas-vindas" a ele na seara oposicionista.
Aécio e Campos também atraíram Marina Silva, da futura Rede, para a dança contra a candidata favorita de todas as pesquisas, que é Dilma Rousseff. Os três são contra o projeto que inibe a criação de novos partidos, um petardo petista com alvo certo: a candidatura de Marina.
Com isso, vai surgindo uma nova polarização nacional. O "PT versus PSDB" evolui para um enfrentamento "governo versus oposições". Lula e Dilma fortalecem suas alianças, particularmente com o PMDB. Aécio, Campos e Marina ensaiam um jogo articulado para o primeiro turno, que pode ou não sobreviver. Depende de como a campanha evoluir. Se Aécio, Campos e Marina ficarem pau a pau, o acordo e o ensaio viram pó.
Até lá Lula, Dilma e seus artilheiros não economizam munição para segurar aliados e evitar dispersão para as hostes adversárias, sobretudo para a candidatura Eduardo Campos. Ele e Marina são os alvos da vez.
A eleição, portanto, está como o diabo, os jornalistas e os políticos em busca de vantagens gostam.
O custo do trabalho no Brasil: salário é baixo, produtividade também
Indústria nacional paga mais que a do México. Valor cresceu 38% desde 2008
Produtividade em queda afeta resultado e deixa país atrás de emergentes
Lucianne Carneiro - O Globo
Juliana e Dalton trabalham sem carteira há anos. Quando o filho nasceu, ela sentiu falta da licença-maternidade
Foto: Daniela Dacorso
Juliana e Dalton trabalham sem carteira há anos. Quando o filho nasceu, ela sentiu falta da licença-maternidade - Daniela Dacorso
RIO - O custo da hora do trabalhador brasileiro é baixo, mas a produtividade também, o que afeta o custo total do trabalho no país. O valor da hora que a indústria paga por aqui é quase o dobro do México, mas cerca de um terço do que se vê nos Estados Unidos e em países europeus. E o preço da hora no Brasil vem em franco crescimento desde 2008: a alta acumulada chegou a 38%. Ganho salarial e câmbio explicam essa valorização. Especialistas afirmam, no entanto, que a produtividade vem comprometendo o desempenho do trabalho. O custo e a produtividade são o tema do terceiro dia da série de reportagens sobre os 70 anos da CLT.
Em 2011, a hora de trabalho na indústria era de US$ 11,65 no Brasil, quase o dobro dos US$ 6,48 do México, mas abaixo dos US$ 15,91 da Argentina, segundo dados do Escritório de Estatísticas do Trabalho dos Estados Unidos (BLS, na sigla em inglês). Os números são bem menores que os registrados em países desenvolvidos como Estados Unidos (US$ 35,53), França (US$ 42,12) e Alemanha (US$ 47,38).
Ao mesmo tempo, dados da instituição de pesquisa americana The Conference Board apontam que o desempenho da produtividade no país está aquém do de outros emergentes. Em 2012, a produtividade no Brasil caiu 0,3%, na contramão do crescimento de 1,8% no mundo e de 4,8% nas maiores economias emergentes. O comportamento do país foi classificado pela entidade como um “declínio dramático”. O Brasil já vinha registrando desaceleração: a expansão da produtividade, que tinha sido de 4,1% em 2010, caiu para 0,7% em 2011.
— Nosso grande problema aqui no Brasil não é o custo do trabalho isoladamente, mas a produtividade do trabalhador, que cresceu pouco nas últimas décadas — afirma Eduardo Zylberstajn, professor de Economia da Fundação Getulio Vargas.
A falta de mão de obra qualificada e a disputa por pessoal com o setor de serviços, o mais dinâmico da economia, fez cair a produtividade da indústria. Apesar da queda da produção de 2,7% em 2012, o quadro foi reduzido em 1,4%, e os salários subiram 4,3%, segundo a pesquisa do IBGE.
Qualificação, ambiente regulatório e investimento em equipamentos são alguns dos aspectos que deveriam melhorar no país para garantir maior produtividade, na avaliação do ex-ministro do Trabalho e economista da Gávea Investimentos Edward Amadeo:
— O nível educacional no Brasil ainda é muito ruim, temos um ambiente hiper regulado e o país investe pouco em equipamentos. Nos países asiáticos, um terço do PIB vai para investimentos, enquanto aqui é apenas um quinto.
Patrão paga 183% mais que valor da carteira
Estudos apontam que o custo do trabalho para o empregador no Brasil varia entre 65,7% e 183% a mais que o valor do salário de carteira do trabalhador. No livro “As Normas e os Fatos”, o sociólogo e professor do Instituto de Estudos Políticos e Sociais da Uerj Adalberto Cardoso estima que o desembolso total do empregador chegue a 65,7%. Já o professor da FEA/USP José Pastore fez um levantamento nos anos 90 em que estimava esse custo em 102%. Pesquisa recente do Centro de Microeconomia Aplicada da Fundação Getulio Vargas calcula que o valor pode chegar a 2,83 vezes o salário de carteira, para um vínculo trabalhista de um ano. Para cinco anos, o custo cai para 2,55 vezes.
— O estudo considera a indústria têxtil, e há alguma variação dependendo do setor. Mas a questão é que o custo da empresa com o trabalhador é muito maior que o valor da carteira — diz André Portela Souza, que coordenou o estudo.
Sem vínculos formais com empresas, o casal Juliana Veronezi e Dalton Coelho trabalha há mais de dez anos por conta própria. Ela é professora de teatro musical e ele é regente de coral e professor de música. Os dois se organizam financeiramente para lidar com a falta de décimo terceiro salário, por exemplo, e têm planos de previdência privada para garantir a renda na aposentadoria.
— O único momento em que senti falta da carteira foi quando tive meu filho. Tive que voltar a dar aula um mês depois, sem direito a licença-maternidade — conta Juliana, mãe do pequeno Vinicius.
Marco Maia começa coleta de assinaturas para PEC que limita poderes do STF
Iolando Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Em meio à crise instalada nos últimos dias entre o Legislativo e o Judiciário, o ex-presidente da Câmara deputado Marco Maia (PT-RS) iniciou hoje (29) a coleta de assinaturas para apresentação de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para impedir que o Supremo Tribunal Federal (STF) suspenda liminarmente lei ou emenda constitucional por decisão monocrática nas ações diretas de inconstitucionalidade ou declaratórias de constitucionalidade.
A crise entre os Poderes Legislativo e Judiciário foi instalada em função da aprovação na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ) da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 33, que submete decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) ao Congresso Nacional, e pela liminar concedida pelo ministro do STF, Gilmar Mendes, suspendendo a tramitação no Senado do projeto de lei que dificulta a criação de partidos.
Marco Maia diz que a produção de leis e atos normativos pelo Congresso é feita por meio de muitos debates e longas votações e que essas matérias não podem ser suspensas pela decisão de um único ministro do STF. “Queremos evitar que decisões tomadas de forma monocrática impeçam a tramitação ou a efetivação de lei aprovada pelo Congresso Nacional. Não é razoável que decisões que são tomadas de forma democrática, por ampla maioria do Parlamento, constituindo mudanças na Constituição ou nas leis existentes no Brasil, sejam impedidas de entrar em efetividade pela decisão tomada por apenas um ministro do STF”, disse Marco Maia.
Para que a proposta seja apresentada à Mesa Diretora da Câmara são necessárias no mínimo 171 assinaturas válidas de deputados. Depois de acolhida pela mesa, a matéria precisa ter sua constitucionalidade aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Aprovada pela CCJ, a proposta tem que ser aprovada por comissão especial para depois ser aprovada em dois turnos pelo plenário da Câmara para ser encaminhada à apreciação e votação do Senado também em dois turnos de votação.
Projeto de impunidade
FSP
A Associação Internacional de Procuradores decidiu agraciar a Procuradoria-Geral da República do Brasil com uma de suas mais altas honrarias na reunião da entidade, em setembro. A distinção será conferida pelos trabalhos de investigação e denúncia do mensalão.
Trata-se, sem dúvida, de merecido reconhecimento mundial ao caráter histórico desse julgamento, que poderá servir como divisor nas águas da impunidade no país. Além disso, a láurea desfere um golpe nos que pretendem aprovar proposta de emenda constitucional para reduzir os poderes de investigação do Ministério Público.
Diante da tensão entre o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, terminaram em segundo plano as manifestações realizadas na semana passada contra a PEC 37/2011. O tema, no entanto, merece particular atenção.
A proposta confere às polícias federal e civil a exclusividade na apuração de infrações criminais. Se aprovada, deixará claro que procuradores da República e promotores não poderão conduzir inquéritos para embasar suas denúncias.
A atual redação da Constituição dá margem para divergências. O texto atribui ao Ministério Público a função de "promover" ações penais, mas nada diz sobre envolvimento em investigações criminais.
Por essa razão, já chegou a uma centena o número de ações que questionam, no STF, inquéritos encabeçados pelo Ministério Público. No ano passado, a corte resolveu tomar uma decisão definitiva a respeito desse tema, mas o julgamento foi interrompido e ainda não há data para ser retomado.
Não seria o caso de concluir que os deputados --que já aprovaram a PEC 37 nas respectivas comissões da Câmara e a deixaram pronta para ser votada em plenário-- apenas buscam, benevolamente, pôr fim à ambiguidade da Carta. Enquanto é difícil enxergar benefícios que poderiam resultar da restrição, os prejuízos parecem evidentes.
Perde-se, de saída, a independência desse órgão nas investigações, um trunfo nada desprezível. Basta lembrar que os chefes das polícias sempre estão submetidos ao Poder Executivo, não raras vezes alvo dos inquéritos.
Se não se pode negar que o Ministério Público comete alguns abusos, que se implementem balizas para manter a atuação do órgão dentro de limites razoáveis.
Não é aceitável que, a fim de corrigir excessos, se sacrifique a experiência acumulada pelo Ministério Público com o trabalho ora internacionalmente reconhecido. O despropósito só faz dar mais razão ao apelido de PEC da Impunidade.
Tribunal declara constitucional segunda reeleição de Evo Morales
Decisão que provocou uma onda de protestos da oposição na Bolívia
O GLOBO

Evo Morales (à esquerda) com o presidente chileno Sebastián Piñera
Foto: Victor R. Caivano / AP
Evo Morales (à esquerda) com o presidente chileno Sebastián Piñera - Victor R. Caivano / AP
LA PAZ — Numa decisão que provocou uma onda de protestos da oposição, o Tribunal Constitucional da Bolívia determinou nesta segunda-feira que o presidente Evo Morales e seu vice, Alvaro Garcia, têm o direito de buscar um terceiro mandato em 2014.
“O mandato presidencial é calculado a partir da refundação” afirmou o presidente do TCP, Ruddy Flores. “Se eles foram eleitos em vigência do novo regime constitucional estão habilitados para a reeleição”.
A oposição recebeu a notícia com protestos. O senador Bernard Gutiérrez, chefe da bancada do partido Convergência Nacional, afirmou que a decisão põe em xeque a autonomia e a imparcialidade do tribunal.
- Como os magistrados devem um favor político ao partido do governo, não fizeram mais que retribuir o favor, que garantiu sua permanência no Poder Judiciário - afirmou Gutiérrez, segundo a rede “Erbol”.
No Twitter, o opositor Samuel Doria Medina, líder da Unidade Nacional, expressou sua decepção e insistiu que Morales iria cumprir um terceiro mandato e não um segundo como sustentam seus seguidores.
“Evo Morales podia tentar a reeleição com uma reforma da constituição e por um referendo, mas tem medo do povo”, escreveu em sua conta na rede social.
Congelamento não segura preços em mercados da Argentina
De março a abril, alta foi de 8,8% para 4.960 itens, diz consultoria
Janaína Figueiredo - O Globo

Consumidores esperam para comprar carne em mercado na periferia de Buenos Aires
Foto: Marcos Brindicci/ReutersConsumidores esperam para comprar carne em mercado na periferia de Buenos Aires Marcos Brindicci/Reuters
BUENOS AIRES - Passados três meses desde que o governo de Cristina Kirchner decidiu recorrer ao congelamento de preços, entidades de defesa do consumidor e consultorias concordam que a medida desacelerou a inflação, mas não conteve integralmente os aumentos em supermercados. De acordo com a ONG Consumidores Livres, comandada pelo ex-deputado socialista Hector Polino, entre 1º de fevereiro e 15 de abril, o valor de uma cesta de 38 produtos básicos foi reajustado em 1,85%. No mesmo período de 2012, o percentual alcançara 6,20%. Outros estudos já apontam alta, entre março e abril, de 8,8% para um grupo de 4.960 itens.
— A inflação não desapareceu dos supermercados, mas diminuiu bastante. A questão é até quando o governo poderá manter esta política, que não resolve o problema — disse Polino ao GLOBO.
Em meados de 2012, a ONG foi acusada pelo governo de ter violado a Lei de Defesa do Consumidor, por divulgar dados sobre inflação no jornal “Clarín”, considerado inimigo pela Casa Rosada. O caso ainda está aberto nos tribunais, e a entidade foi retirada do registro oficial de associações de defesa do consumidor.
Conforme a ONG, entre 1º de janeiro (quando o congelamento ainda não estava em vigor) e 1º de abril, alguns alimentos sofreram reajustes expressivos: cebola (48%), laranja (25%), pão (14,75%), farinha (9,89%) e chá (8,65%). Polino estima que este ano a inflação ficará entre 23% e 25%, taxa similar à de 2012, conforme cálculo das principais consultorias do país.
O congelamento aplicado pelo polêmico secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, que também está à frente do Indec (o equivalente local ao IBGE), acusado de manipular as estatísticas oficiais, não inclui despesas como roupas, calçados, transporte, mensalidades escolares, clubes, farmácias e telefonia celular. Alguns itens são mais controlados do que outros. Os planos de saúde, por exemplo, só podem aplicar reajustes com autorização do Ministério da Saúde.
Reajustes foram maiores no interior
Nas últimas seis semanas, a consultoria Elypsis monitorou preços que deveriam estar congelados e constatou, numa amostra de 53 mil produtos, um aumento, em média, de 1%. Os reajustes são maiores em supermercados e armazéns da Grande Buenos Aires e do interior do país, onde o governo não exerce controle tão rigoroso. Nos grandes supermercados da capital e das grandes cidades, os preços se mantiveram estáveis, segundo a Elypsis. Dos 53 mil produtos monitorados, 4.960 sofreram aumentos entre a primeira semana de março e a primeira semana de abril. Em média, os reajustes foram de 8,8%.
— Temos um congelamento parcial — disse Claudia Collado, da ONG Ação do Consumidor (ADELCO).
Para ela, a situação dos consumidores é de incerteza, porque não sabem que preços encontrarão nos mercados.
Segundo o Indec, em março a inflação alcançou 0,7%, abaixo do 1,54% calculado por consultorias privadas que — para evitar perseguição — entregam as estatísticas a deputados opositores, que divulgam mensalmente o Índice de Preços do Congresso. O índice mostra inflação acumulada em 12 meses de 24,43%.
Principais jornais alemães ficaram sem credenciais para acompanhar julgamento de neonazistas
Efe
Ismail Yozgat, pai de vítima supostamente assassinada por neonazista. O jovem de 21 anos foi baleado em abril de 2006 num cibercafé em Kassel, Alemanha
Ismail Yozgat, pai de vítima supostamente assassinada por neonazista. O jovem de 21 anos foi baleado em abril de 2006 num cibercafé em Kassel, Alemanha
O tribunal em Munique, Alemanha, onde o julgamento da célula terrorista neonazista NSU deverá começar em 6 de maio enfrenta nova controvérsia em torno das credenciais para a mídia, após vários jornais alemães não terem obtido assentos em uma loteria de passes para a imprensa. Foi a segunda tentativa de alocar assentos depois de a mídia turca ter ficado de fora na primeira tentativa.
O tribunal de Munique onde ocorrerá o maior julgamento neonazista na história da Alemanha enfrentou na segunda-feira novas queixas em torno de processo de credenciamento da mídia, quando os principais jornais alemães não obtiveram passes para os 50 assentos destinados à imprensa.
No mês passado, jornalistas turcos ficaram de fora quando o tribunal fez sua primeira tentativa de alocação de credenciais, com uma política de primeiro a chegar é o primeiro atendido. Isso causou protestos, porque a maioria das vítimas da célula terrorista Clandestinidade Nacional Socialista (NSU) é descendente de turcos. A última integrante sobrevivente da NSU, Beate Zschäpe, será julgada a partir de 6 de maio, juntamente com quatro supostos cúmplices.
O tribunal adiou o início do julgamento de sua data original de 17 de abril para resolver o problema, após o Tribunal Constitucional Federal, em resposta a uma queixa de um jornal turco, ordenar que ele alocasse assentos para jornalistas estrangeiros.
Em uma tentativa de ser justo, ele decidiu sortear os passes para a imprensa. O venerável "Frankfurter Allgemeine Zeitung" e outro jornal nacional, o "Die Welt", não conseguiram credenciais no sorteio realizado na segunda-feira. O "Die Tageszeitung", outro importante jornal alemão, também não conseguiu um assento.
Todos os três disseram na segunda-feira que consideram uma ação legal contra a alocação. Entre as publicações que obtiveram assentos no sorteio estão jornais menos conhecidos, como o jornal local "Hallo Munich" e a revista feminina "Brigitte".
"O julgamento mais importante deste ano e os três grandes jornais de qualidade ficam de fora, diferente do jornal de classificados 'Hallo München' –isso é um absurdo", disse Jan-Eric Peters, editor-chefe do grupo "Die Welt". "Nós estamos considerando uma ação legal para esclarecer isso."
Quatro assentos foram reservados exclusivamente para a mídia turca. Nenhuma grande organização de mídia de língua inglesa, com a exceção da "Al Jazeera" e da agência de notícias alemã, teve um assento reservado.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
"Quando olho para quem me sucedeu, me sinto muito bem", diz Sarkozy em crítica a Hollande
AFP PHOTO / FRANCK FIFE
 Ex-presidente francês, Nicolas Sarkozy assite ao jogo entre Barcelona e PSG nas arquibancadas do Parc des Princes, em Paris
Ex-presidente francês, Nicolas Sarkozy assite ao jogo entre Barcelona e PSG nas arquibancadas do Parc des Princes, em Paris
Enquanto o presidente francês, François Hollande, tem de lidar com as estatísticas de emprego desanimadoras e com os confrontos em torno da recente legalização do casamento gay, seu animado predecessor faz uma ofensiva mal velada em Montreal. "Quando olho para quem me sucedeu, me sinto muito bem", diz Nicolas Sarkozy.
Nicolas Sarkozy parece ser a prova viva de que a política é uma profissão pouco saudável. Um ano depois de ter perdido o cargo, o ex-presidente estava com ótima aparência, melhor do que nunca, quando se apresentou no Centro de Convenção de Montreal na última quinta-feira (25). Bronzeado , sorria cheio de energia, com os pés plantados e afastados –não dava para comparar com o homem exausto e cinzento que perdeu a eleição presidencial francesa no ano passado.
Fazia muito tempo desde que ele falara em público pela última vez. Depois de sua derrota para o desafiador François Hollande, do Partido Socialista, Sarkozy parou de aparecer em público. Ele não deu entrevistas nem discursos. Mesmo sua apresentação no Canadá foi fechada ao público em geral. Seguranças na entrada afastavam jornalistas e fotógrafos. Os quase 800 participantes do evento tinham pagado entre US$ 220 e US$ 780 (entre R$ 440 e R$ 1.560) para ouvir Sarkozy como parte de uma série de apresentações organizadas por uma empresa de telecomunicações canadense.
O público consistia de empresários canadenses e ocasionais fãs de Sarkozy, que estavam sentados em mesas elegantemente distribuídas em um grande salão com luzes reduzidas. Eles também jantaram: salada, coxa de pato excessivamente salgada e um pedaço de bolo seco.
À moda norte-americana, Sarkozy foi apresentado como "o 23º presidente da República Francesa". Vou evitar fazer duas coisas hoje", disse ele depois de subir ao palco em meio a aplausos retumbantes: "Interferir na politica canadense –e me envolver na política francesa". Ele fez uma longa pausa para efeito dramático e sorriu: "Apesar de isso não significar que eu não deseje fazê-lo".

Hollande está perdendo o domínio

Poucos minutos antes de Sarkozy assumir o microfone, os serviços de notícias estavam em polvorosa com um novo resultado: o total de desempregados na França atingiu uma alta recorde de 3,22 milhões de pessoas no mês passado.
Enquanto o ex-presidente Sarkozy estava sendo recebido como estadista na francófona província de Québec, tudo parecia estar degringolando para o presidente François Hollande em Paris, cerca de 5.400 km a Leste. A economia está entrando em recessão, e a esquerda está acusando Hollande de não ser esquerdista o suficiente.
Para piorar as coisas, a direita está se manifestando incansavelmente contra o mais importante projeto legislativo de Hollande até hoje, a lei de casamento de mesmo sexo. Surge assim uma versão francesa do movimento do Tea Party americano – que combina o sentimento anti-gay com o sentimento que a esquerda não tem um direito legítimo ao poder.
Parece que Hollande está perdendo seu domínio em todo o país. Um instituto de pesquisa recentemente informou que, depois de apenas um ano de liderança, ele é o presidente francês menos popular da Quinta República, com um índice de aprovação de apenas 21%. Outra pesquisa mostrou que Sarkozy venceria se concorresse contra Hollande hoje.

"Vida depois da política"

Não é de espantar que Sarkozy parecesse tão satisfeito. "Sim, há vida depois da política", disse ao público. "Com toda honestidade, sinto-me bem. E quando olho para quem me sucedeu, me sinto muito bem".
Ao falar no exterior, Sarkozy se vende como defensor da Europa e do euro. "Se o euro implodir, a UE vai explodir", diz ele. "Então não temos escolha", adverte, "sem a União Europeia, haveria guerra novamente na Europa".
O mestre de cerimônias era Michael Fortier, banqueiro canadense e ex-ministro conservador do comércio internacional. Hollande introduziu o casamento gay, disse ele, e acrescentou que isso surpreendeu muitas pessoas no Canadá: eles não fizeram isso há muito tempo na França?
"A França é um país com raízes cristãs", respondeu Sarkozy. "Quando você sobrevoa o país, você avista igrejas e catedrais em toda parte", disse ele. Isso explica o atual conflito, alegou. "E durante uma crise econômica, o presidente tem de ser muito cuidadoso para não dividir o país".   

Críticas a Hollande

A apresentação de Sarkozy foi inteiramente um comentário sobre seu sucessor –mesmo sem mencionar Hollande pelo nome. Começou quando Sarkozy elogiou longamente o ótimo exemplo dado por Barack Obama e George W. Bush quando se encontraram na Casa Branca depois da eleição presidencial, o que foi claramente uma crítica a Hollande, que nem o acompanhou até seu carro na cerimônia de transferência de poder no Palácio do Eliseu. As críticas continuaram com a questão de como lidar com a China, e o comentário que os gastos do governo naturalmente tinham de ser reduzidos.
Muitas coisas, porém, ficaram por dizer: por exemplo, que Sarkozy está sendo investigado por financiamento ilegal de campanha. E Sarkozy evitou completamente a questão que está na mente de todos, ou seja, se vai se candidatar novamente para presidente em 2017. Os conservadores, divididos, não têm candidato alternativo atualmente.
Naquela tarde, Sarkozy foi para Nova York para se encontrar com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. O francês atualmente está em muitas listas de convidados e, quanto mais ele se mantém em silêncio, mais se torna popular na França.
"Não amo a política", admite. "Muitas vezes me senti entediado nas reuniões sem fim em que nada é decidido. O que eu gosto é de agir".
Parece que o tempo está do lado dele.
Traduzido do alemão por Paul Cohen e do inglês por Deborah Weinberg
Em meio a cortes de gastos, países europeus têm de lidar com fraudes e sonegação de tributos
Kai Pfaffenbach/Reuters

Euro, moeda oficial da União Europeia
Euro, moeda oficial da União Europeia
A Procuradoria Anticorrupção tem pela frente um duro trabalho para continuar descobrindo cidadãos que enterram os fundos furtados do tesouro público em paraísos fiscais. O filão investigativo se deve à colaboração de um antigo técnico de sistemas do HSBC, Hervé Falciani, com os órgãos judiciais franceses e espanhóis, o que possibilitou puxar os fios. Depois da primeira relação de 1.500 nomes de espanhóis entregue há três anos, na qual foram identificados 659 supostos fraudadores, a procuradoria espanhola dispõe hoje de mais 2.500 contas entregues pela França em data recente.
A ofensiva contra a fraude merece todo o apoio. A Espanha e outros países europeus sofrem um grave problema de dívida soberana. O presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy, espera que os chefes de Estado e de governo discutam soluções na próxima cúpula. Um bilhão de euros por ano escapam pelos buracos da fraude tributária, segundo estimativas da UE, o que é inaceitável para sociedades submetidas a fortes cortes nos gastos e aumentos generalizados de impostos e tarifas.
A internacionalização do problema também explica a proteção que a Espanha deu a Falciani, que extraiu informação codificada de 130 mil clientes da filial suíça de seu banco. E isso não se resume a uma série de nomes, senão que implica dispor de chaves informáticas que revelam os procedimentos utilizados para ocultar os fundos dos supostos fraudadores, possivelmente extrapoláveis para outras entidades.
À parte das possíveis motivações concretas de Falciani para fazê-lo, tudo parece indicar que o governo dos EUA, preocupado com o descuido dos bancos suíços em indicar casos de lavagem de dinheiro ilícito, está por trás da proteção concedida na Espanha ao delator, que teme por sua vida e está pendente da possível extradição para a Suíça, fato que não deveria ocorrer porque sua colaboração é essencial.
Para tornar verossímil a retórica da comunidade internacional contra as dezenas de jurisdições que ocultam dinheiro de depositantes anônimos, é preciso sair da impotência e pressionar com firmeza os que facilitam a ocultação. Na própria UE, a ofensiva sobre Luxemburgo obrigou a anunciar um abrandamento do sigilo bancário até 2015, embora a Áustria ainda resista. O projeto de intercâmbio automático de informação entre os países comunitários e a melhora do controle dos dados, promovida pela Comissão Europeia, coloca o problema do Reino Unido - sob cuja jurisdição funciona em vários paraísos fiscais - e questiona a relação com a Suíça.
Nem este país nem os territórios "offshore" têm diretamente a culpa de que a economia de grande parte da Europa esteja esgotada, mas sim de ocultar proprietários ou beneficiários de bens que se negam a pagar a devida tributação. E isso não se pode aceitar.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

segunda-feira, 29 de abril de 2013


Poland (by Claus Jorgensen)
Bitcoin: o nascimento do dinheiro (Parte 1)

bitcoin2.jpgFrequentemente sou perguntado a respeito do Bitcoin. Há futuro para uma moeda digital? A rede é confiável? Os governos não tentarão proibi-la? Seu preço subirá? A moeda já pode ser considerada uma bolha? Enfim, as perguntas são infindáveis. E, dadas as recentes aparições na mídia e a alta volatilidade no preço da moeda digital, simplesmente não posso mais ignorar essa inovação. O experimento Bitcoin merece um tratamento minucioso e cuidadoso. Este artigo talvez seja um pouco mais longo do que os artigos anteriores, mas pela riqueza do tema e da quantidade de tópicos a tratar, arrisco afirmar que valerá a pena lê-lo na íntegra. Além disso, ele será publicado em partes, evitando que a leitura fique muito pesada. Mas antes de prosseguirmos, deixo aqui apenas uma conclusão, da qual espero que você se sinta convencido ao final da leitura: o projeto Bitcoin é revolucionário, sem precedentes e tem o potencial de mudar o mundo de uma forma jamais vista.
O que é Bitcoin
Na última vez em que fui perguntado sobre o tema — cerca de um mês atrás —, respondi exatamente da mesma forma que nas outras vezes: "Conheço muito pouco de Bitcoin, mas, pelo pouco que conheço, afirmo que não me parece um sistema monetário seguro. Acho que cedo ou tarde algum hacker pode infiltrar-se nele e perturbá-lo, alterar os saldos das carteiras, criar bitcoins para si mesmo, etc.". Dito isso, ofereço agora um conselho: quando não se sabe o suficiente sobre um assunto, é melhor permanecer em eterno silêncio ou simplesmente responder "não sei" do que oferecer opiniões que beiram a assunção da mais clara ignorância. Não posso voltar no tempo e reprimir o Fernando de um mês atrás. Posso, no entanto, buscar minha redenção oferecendo uma análise mais fundamentada, sob a perspectiva de um estudioso (e entusiasta) de teoria monetária e bancária.
Mas, afinal, o que é o Bitcoin
[1]? O que é uma moeda digital? Detlev Schlichter explica que:
O Bitcoin é um dinheiro intangível criado na internet. É um software. O Bitcoin pode ser imaginado como sendo uma commodity criptográfica. Trata-se de uma moeda criada digitalmente, completamente descentralizada, que existe somente no ciberespaço. Ela é produzida e gerida pelos computadores conectados à rede mundial, os quais formam a rede Bitcoin. Trata-se de um sistema de pagamento peer-to-peer que permite que as transações sejam assinadas digitalmente. O Bitcoin não possui um emissor centralizado e não há nenhuma autoridade central controlando o processo.

De acordo com seus criadores, a base monetária se expande de maneira limitada e controlada, sendo programada no software do Bitcoin. Porém, tal expansão é totalmente previsível e conhecida antecipadamente pelo público usuário, o que significa que tal inflação não pode ser manipulada para alterar a distribuição de renda entre os usuários. A todo e qualquer momento, qualquer usuário pode saber não apenas quantos bitcoins ele possui, como também quantos bitcoins existem no total. Ainda de acordo com os criadores, somente 21 milhões de unidades de dinheiro podem ser criadas [até o ano de 2140], o que significa que, após certo ponto, a quantidade de dinheiro torna-se fixa.
Honestamente, quando iniciei minha pesquisa e estudo da moeda digital não esperava nada muito surpreendente. Mas no decorrer das leituras, o entendimento, as descobertas, as implicações e o potencial do projeto fizeram-me adotar uma postura, no mínimo, mais humilde. De soberba indiferença, passei pelos estágios de incredulidade à incompreensão. Do conhecimento veio a estupefação e o fascínio. Não tardou muito para o fascínio tornar-se admiração, com uma boa dose de entusiasmo e otimismo. E digo isso analisando o fenômeno por distintos prismas: i) como economista e estudioso de teoria monetária e bancária; ii) como investidor e empresário; e iii) como amante das liberdades individuais.
O nascimento do dinheiro…
Quem já se aprofundou um pouco em teoria monetária conhece o famoso teorema da regressão de Ludwig Von Mises. Segundo esse teorema, é impossível qualquer tipo de dinheiro surgir já sendo um imediato meio de troca; um bem só pode alcançar o status de meio de troca se, antes de ser utilizado como dinheiro, ele já tiver obtido algum valor como mercadoria. Qualquer que seja a moeda, ela precisa antes ter tido algum uso como mercadoria, para só então passar a funcionar como dinheiro.
Essa é a teoria. Esse é o teorema. No caso do ouro e da prata, sabemos que foram escolhidos pela humanidade como o dinheiro por excelência ao longo de centenas de anos por meio de milhões de intercâmbios no mercado. Mas seria impossível datar precisamente quando o ouro surgiu como mercadoria, quando passou a ser utilizado como meio de troca e quando preponderou como a mercadoria mais "vendável" (marketable), tornando-se por fim, o meio de troca universalmente aceito, ou, simplesmente, dinheiro.
No caso de Bitcoin, temos a data exata: a moeda digital nasceu no dia 3 de janeiro de 2009. Alguns meses depois, passou a ser consumida, ou adquirida, não para ser usada como meio de troca — afinal de contas, pouquíssimos indivíduos sequer conheciam o Bitcoin —, mas sim para satisfazer alguma necessidade individual. E é totalmente irrelevante identificarmos com precisão qual necessidade ou objetivo levou os primeiros compradores de Bitcoin a trocar alguns dólares por uma unidade bitcoin (1 BTC). "No caso de objetos intangíveis, como o Bitcoin", afirma Konrad S. Graf em um espetacular
artigo sobre a natureza do Bitcoin, "a demanda para o consumo direto é determinada por valores primariamente psicológicos ou sociológicos". Como o geek que quer ostentar as maravilhas de uma criptografia, ou o sujeito que compra bitcoins como forma de protesto ao status quo.
O que importa não é o porquê, mas sim o fato de que houve demanda real e bitcoins foram adquiridos e preços foram formados na busca por essa "mercadoria" (dígitos eletrônicos no ciberespaço). Nesse sentido, o nascimento do Bitcoin em nada contraria o teorema da regressão de Mises.
Mas e quando o Bitcoin virou meio de troca? A primeira
transação de que se tem notícia se deu em Maio 2010 quando 'laszlo' trocou uma pizza por 10.000 BTC — em retrospecto pode ter sido a pizza mais cara do mundo (10 mil BTC = 1,2 milhão de dólares, cotação de 19/04/13). Poderíamos dizer que bitcoins ainda não eram um meio de troca geralmente aceito, portanto, isso foi, em realidade, um escambo. Pode ser que sim. Mas é uma mera tecnicalidade desimportante. O fato é que, desde então, bitcoins passaram a funcionar como meio de troca, de acordo com o seu objetivo basilar.
A verdade é que estamos testemunhando em "tempo real" o nascimento de um dinheiro. Como um economista, isso me parece fantástico. Estudar a teoria é fundamental. Mas vivenciá-la na prática é impagável. Ser um especialista na Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos é de suma importância. Mas presenciar uma
bolha imobiliária sendo formada, assistir ao seu estouro e a todas as consequências reais e palpáveis é uma lição que não se esquece jamais.
Mas voltando à moeda digital, poderíamos já considerar o Bitcoin como dinheiro? Em sua
tese de mestrado, Peter Surda afirma que não, Bitcoin ainda não é dinheiro. Tornar-se-á algum dia. Mas ainda não o é. Seguindo a definição da Escola Austríaca de Economia, "Bitcoin não é um meio de troca universalmente aceito", afirma Surda. Mas se não é dinheiro, então o que é? Seria um "meio de troca secundário" (Mises) ou um quase-dinheiro (Rothbard).
Por outro lado, Graf levanta um ponto interessante: "Se dinheiro é definido como meio de troca universalmente aceito, então temos que qualificar o universalmente". Porque, se dissermos que dinheiro é o meio de troca "mais" universalmente aceito, "então certamente não chamaríamos Bitcoin de dinheiro", conclui Graf, adicionando que "tampouco chamaríamos Pesos Mexicanos de dinheiro dentro dos Estados Unidos". Entramos em uma área cinzenta, sem dúvida, mas há mérito no seu ponto. Graf concede que a única razão — ainda que passível de debate — para não chamar Bitcoin de dinheiro ainda, reside no fato de que, "aparentemente, muitos usuários ainda enxergam os bitcoins através da lente da taxa de câmbio em relação às suas moedas locais".
Em contrapartida, Frank Shostak
afirma que Bitcoin "não é uma nova forma de dinheiro que substitui formas antigas, mas na verdade uma nova forma de empregar dinheiro existente em transações. Uma vez que Bitcoin não é dinheiro de verdade, mas meramente uma nova forma diferente de empregar a moeda fiduciária existente, ele não pode substituí-la".
Contrariando Shostak, Bitcoin é um novo meio de troca, sim, ainda que não universalmente aceito. Ele é o que Mises classifica como dinheiro commodity. Mas não no sentido material como normalmente se entende, e sim no sentido de "dinheiro coisa" ou "dinheiro de fato" — exatamente nos termos de sua obra prima original em alemão, Theorie des Geldes und Umlaufsmittel (The Theory of Money and Credit). Dinheiro commodity em alemão é "Sachgeld" (sach=coisa, geld=dinheiro). Logo, como brilhantemente
elucida Graf, "uma unidade bitcoin é o próprio meio de troca, é o dinheiro".
Já Nikolay Gertchev oferece uma
crítica sob uma ótica distinta, alegando que "não podemos ter um dinheiro que dependa de outra tecnologia (internet)… Bitcoins jamais atingiriam o nível de universalidade e flexibilidade que o dinheiro material permite por natureza. Portanto, no livre mercado, dinheiro commodity, e presumivelmente ouro e prata, ainda tem uma vantagem comparativa". Será que Gertchev tem razão?
No próximo artigo trataremos dessa questão, buscando descobrir se o Bitcoin tem potencial para ser um meio de troca inclusive melhor que o ouro ou o papel-moeda fiduciário.
Artigo originalmente publicado em O Ponto Base
[1] Não faz parte do escopo desse artigo fazer uma descrição profunda e detalhada da tecnologia e da linguagem de programação do projeto Bitcoin. Ademais, encorajo aqueles que estão lendo sobre Bitcoin pela primeira vez que parem, assistam a alguns vídeos ou leiam artigos sobre o tema e retornem após deter um mínimo de conhecimento sobre Bitcoin. Indicações de leitura logo abaixo. Estou longe de ser especialista em linguagem de programação e na tecnologia que viabiliza esse projeto.