domingo, 31 de agosto de 2014


Para acompanhar a costela
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A costela deste domingo

ESTAS TONNE - CUBAN DANCE AND CUBAN RHAPSODY


blackshivers:

Your freedom…in my arms…
"Me sinto como um gato, vivi mais de uma vida contigo, sem ti, juntos, separados, distantes e próximos; com café e tequila, limões e feridas, sal nas chagas e amor nos lábios.
E pergunta se temo a morte? Amor, temo uma vida não vivida."
Malaci
Trad. Paulo Mello

Via chllppr

Via djf
De pai para filho
Filhos de ex-governadores, senadores e deputados tentam usar capital político dos pais para entrar no cenário nacional nas eleições de outubro
Laryssa Borges - VEJA
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) conversa com o deputado Renan Filho (PMDB-AL) durante  votação da Lei Geral da Copa, no Senado Federal, em Brasília - 09/05/2012
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) conversa com o deputado Renan Filho (PMDB-AL) durante  votação da Lei Geral da Copa, no Senado Federal, em Brasília - 09/05/2012 (Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)
Em qualquer carreira, é comum que (bons) profissionais leguem prestígio a seus herdeiros. Na política, contudo, essa lógica causa apreensão.  Políticos têm a missão de zelar pelo bem público. Quando seus laços familiares se sobrepõem ao compromisso com o eleitor, a democracia sai enfraquecida. Mesmo que seja permitido aos caciques transmitir aos filhos seu capital político, a perpetuação dessas "dinastias" pode debilitar a saúde do regime democrático.
“A eleição dos filhos acaba sendo um mecanismo de oligarquização da política com grupos que têm um compartilhamento de interesses políticos, econômicos e sociais e que pensam igual, agem igual e escondem muitas vezes o que se convencionou chamar de malfeitos. Isso colide com o interesse público”, diz o cientista político José Álvaro Moisés, Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP.
“Em países onde as instituições são muito mais sólidas, o poder dos políticos e dos filhos dos políticos estão sempre cerceados pelo poder constitucional. Mas no Brasil, onde 40% do PIB passa pelo Estado e há 27.000 cargos de livre indicação, o poder político é gigantesco e pode desvirtuar o processo democrático”, avalia o cientista político Luiz Felipe D’Ávila, diretor-presidente do Centro de Liderança Política (CLP). “A manutenção de dinastias pode usar a máquina pública como forma de distribuição de favores”, afirma.
A política de parentesco não é exclusividade do Brasil – as famílias Kennedy e Bush nos Estados Unidos são bons exemplos – mas a disputa de outubro deve deixar ainda mais evidente a oligarquização da política brasileira se confirmar a eleição dos filhos de ex-governadores, ex-senadores e até de deputados. Entre 2006 e 2010, 228 dos 513 deputados federais tinham parentes na política, segundo levantamento da ONG Transparência Brasil, sendo que 53% deles eram herdeiros diretos do pai.
“Essa tendência de formar políticos e quadros através da tradição familiar é uma reserva de mercado. As famílias caminham em função dos próprios interesses e se separam de interesses universais dos eleitores”, completa José Álvaro Moisés. “Não é muito republicano que em um país de 200 milhões de habitantes, com a complexidade que tem o Brasil e com um sistema democrático recente, famílias se perpetuem no poder e criem relações nem sempre defensáveis do ponto de vista público e dos interesses da sociedade. É muito provável que esses políticos tenham como objetivo primeiro os seus valores de comportamento a defesa de sua família, de seu grupo, de sua facção”, diz.
Neste ano, no momento em que José Sarney, o maior cacique da política nacional, deixa oficialmente a vida pública, a política de pai para filho não dá sinal de arrefecimento, atinge os mais diversos rincões do país e inclui de cargos mais modestos, como os de deputado estadual ou distrital, até o controle de governos estaduais. Depois de a política ter abrigado filhos de políticos dos mais diversos espectros ideológicos – Roseana e Zequinha Sarney, Luciana Genro, Efraim Filho, Rodrigo Maia, Jaqueline Roriz, Felipe Maia, Duarte Nogueira e Fernando Coelho Filho – concorrem nas eleições deste ano a cargos de deputado federal, por exemplo, Marco Antônio Cabral (PMDB), filho do ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral, Pedro Cunha Lima (PSDB), filho do ex-governador da Paraíba e atual senador Cássio Cunha Lima, e Newton Cardoso Jr (PMDB), filho do ex-governador de Minas Gerais Newton Cardoso. Em comum, além de uma discutível experiência política, a defesa de interesses oligárquicos e a expectativa de receber grande parte dos votos do eleitorado cativo do patriarca.
“Em oligarquias de outras profissões, como advogados ou médicos, o herdeiro é julgado por sua competência. Ninguém vai se operar com o filho de um cirurgião apenas porque o pai era competente. Se o filho de um grande advogado começa a perder causas não será contratado mais. Na iniciativa privada existem critérios mais sólidos do que no mundo público para julgar as dinastias”, afirma D’Ávila.
Na plataforma de campanha do novato Marco Antônio Cabral, por exemplo, há um misto de defesa do legado de Sergio Cabral – que deixou o governo com aprovação de apenas 20% dos eleitores – de elogios ao sucessor Luiz Fernando Pezão (PMDB) e de compromisso como transformar a base militar de Santa Cruz em um aeroporto comercial e criar unidades de educação tecnológica (Cefet). São de Marco Antônio Cabral, por exemplo, promessas de apoio a inclusão de jovens por meio do surfe e de lutas marciais. Com apenas 22 anos, o estudante Felipe Francischini, candidato a deputado estadual, não desgruda sua campanha do nome do pai, o deputado candidato à reeleição e delegado licenciado Fernando Francischini. “Vi meu pai lutar contra a corrupção em Brasília. Agora é a minha vez de defender o que é certo do jeito que meu pai me ensinou”, diz o aspirante a parlamentar no site de sua campanha.
Se na Grécia Antiga a assembleia pública conhecida como Ágora forjava os principais líderes de seu tempo, no Brasil, historicamente, as famílias políticas são responsáveis por boa parte dos criadouros de candidatos. Nas eleições deste ano, a exemplo do que já aconteceu no passado, o pedigree dos filhos de políticos conhecidos é a principal arma para a conquista de votos.
Filho do ex-ministro e ex-líder governista Romero Jucá, Rodrigo Jucá compõe a chapa do PSB como candidato a vice-governador de Roraima. O filho do ex-governador do Pará e atual senador Jader Barbalho, Helder Barbalho (PMDB), briga pela liderança nas pesquisas pelo governo paraense contra o atual governador Simão Jatene (PSDB). Depois do avô Laércio Barbalho e do pai, Jader, Helder é a terceira geração da família na política. Sua candidatura foi acertada sob as bênçãos do ex-presidente Lula em troca do lançamento do ex-deputado Paulo Rocha, inocentado no julgamento do mensalão, para a vaga do Senado. Líder nas pesquisas de intenção de voto, Helder rejeita pertencer a uma "dinastia" política e minimiza a influência do pai na campanha de 2014. "O papel de Jader nesta campanha é de pai, que torce pelo filho, e que cobra, se eu for eleito, que eu não esqueça do meu compromisso com o povo do meu estado", afirma. "Não há dinastia. Estou em um novo momento da política, diferente da época do meu pai. A renovação na política não se dá apenas por tirar o sobrenome de alguém, e sim pela forma de se fazer política. O mundo mudou, as pessoas mudaram, as necessidades mudaram. Com isso, o ideal do novo político tem que acompanhar estas mudanças", diz.
Em Alagoas, o deputado Renan Filho (PMDB), filho do presidente do Senado Renan Calheiros, que também lidera a corrida pelo governo, não abre mão da influência do pai e diz ser “natural” seguir os passos do patriarca. “O senador Renan Calheiros é uma grande liderança política em Alagoas. O voto livre do povo alagoano tem respondido que é natural seguir a carreira política do meu pai. Assim como ocorre com médicos, advogados, jornalistas, atores e outros profissionais, alguns filhos de políticos seguem a carreira do pai”, afirma.
Na disputa pela preferência do eleitor, quando a associação do candidato com o pai famoso não é imediata, os filhos aspirantes aos cargos eletivos tratam logo de incorporar o sobrenome famoso e deixar claro quem é o padrinho político. Foi o caso, por exemplo, de Maurício Thadeu de Mello e Silva, que se apresenta nas urnas para deputado estadual como Requião Filho em associação ao pai senador e ex-governador do Paraná Roberto Requião. Ou de Irajá Silvestre Filho, candidato à reeleição para deputado federal que estrategicamente recorre ao sobrenome da mãe, a senadora Katia Abreu, para se apresentar ao eleitor como Irajá Abreu.
Na formação de futura Câmara Federal, há ainda herdeiros políticos que vem galgando espaço a cada eleição. O deputado estadual baiano Cacá Leão (PP), filho do deputado e atual candidato a vice-governador João Leão, vai disputar o cargo de deputado federal, assim como o deputado estadual Arthur Bisneto (PSDB), filho do prefeito de Manaus e ex-senador Arthur Virgílio. Mário Negromonte Filho, por sua vez, tenta um naco dos quase 170.000 votos do pai para se eleger deputado federal. Negromonte pai, ex-ministro das Cidades, esteve envolvido em um sem-número de escândalos – desde o pagamento de propina a integrantes de seu partido até a adulteração de projetos bilionários – mas agora ocupa confortavelmente o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia.
Também vão se aventurar nas urnas o empresário Expedito Netto, de 25 anos, filho do senador Expedito Junior, cassado por compra de votos em Rondônia, o empresário tocantinense João Ribeiro Jr, filho do ex-senador João Ribeiro, parlamentar réu por trabalho escravo e morto no ano passado, e a administradora de empresas Lívia Fidelix, filha do eterno candidato do Aerotrem Levy Fidelix.
Em más companhias
SUELY CALDAS - OESP
O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro semestre de 2014 decepcionou mais do que o esperado. Foi um fiasco: o dinamismo da economia mostra fadiga, freou e paralisou; decisões de novos investimentos foram adiadas ou canceladas; empregos deixaram de ser criados; encolheu a renda da população; o País perdeu tempo e ficou mais pobre. O governo Dilma deve encerrar seu mandato com taxa média de crescimento de 1,7%, a terceira pior da história da República (depois de Fernando Collor e de Floriano Peixoto) e muito abaixo da média histórica de 4,4% em mais de um século.
Quando comparado com países vizinhos da América do Sul, o PIB brasileiro deste ano se distancia dos melhores e vai fazer companhia à Venezuela e à Argentina - países que vivem estúpidas crises econômicas decorrentes de decisões erradas de seus governantes, que afastam ou cancelam investimentos, e de um populismo demagogo, anacrônico e ultrapassado que visa a mascarar o fracasso na economia com discursos inflamados, ora contra o capital estrangeiro, ora contra a imprensa, ora contra todos os que deles discordem.
Esse populismo até pode conseguir apoio popular efêmero (embora esteja à beira do esgotamento), mas atrofia e atrasa o progresso econômico e político. Na Argentina, Cristina Kirchner acusa sindicatos de trabalhadores, empresários, a imprensa, economistas e seus críticos de serem todos "financiados pelos fundos abutres". Na Venezuela, o presidente Nicolás Maduro ameaça "expropriar" empresas estrangeiras e leva jornais a fecharem suas portas ao lhes negar dólares para importar papel. A intolerância na convivência com a oposição levou a violentos conflitos de rua na Venezuela, que há seis meses resultaram na morte de 43 pessoas. E na Argentina Cristina enfrentou, na quinta-feira, a terceira greve geral de trabalhadores de seu atual mandato e pode enfrentar a quarta em setembro, se não ceder aos sindicatos, que reclamam da alta da inflação e da queda do valor real dos salários.
Segundo a Cepal, em 2014 o PIB argentino vai recuar 1% e o tombo da Venezuela pode chegar a 2%. E mais, nos dois países a inflação segue em disparada, com taxas que fecharão o ano em 40%, na Argentina, e 60%, na Venezuela - as maiores do mundo. Enquanto isso, para 2014, o Fundo Monetário Internacional (FMI) indica crescimento econômico de 5,5% no Peru, 5,1% na Bolívia, 4,5% na Colômbia, 3,6% no Chile e 3% no México.
Os dois países não precisavam viver esse retrocesso. A Venezuela é rica em petróleo, produz o barril a US$ 15 e o exporta a US$ 110, tem lucro fabuloso, mas ninguém sabe onde é aplicado, porque não há por lá fiscalização do dinheiro público. Sabe-se que não há programa de governo nem projetos voltados para fomentar investimentos, fazer crescer e desenvolver o país. Pelo contrário, o comportamento sistemático contra o capital privado tem levado investidores recentes a abandonarem o país e os mais antigos a conviverem com o governo no fio da navalha. Com isso, faltam produtos básicos e essenciais, como leite, farinha, açúcar e até papel higiênico. O governo congelou o câmbio a 6,30 bolívares, mas o dólar é vendido a 90,00 bolívares no mercado paralelo.
A Argentina vive as consequências de uma moratória - forçada e indesejada, mas moratória: o crédito externo secou e as exportações estão em queda livre, agravando a revoada de investidores que deixam o país desde que o governo impôs o controle da saída de dólares; a inflação alta encolhe o consumo; os salários estão em queda; a economia, em recessão; e há insatisfação e protestos populares por toda parte.
Por enquanto, o Brasil ainda está longe disso, mas assustam os números que saem da pesquisa do PIB, sobretudo as taxas de investimento e poupança que projetam a economia no futuro. Quando Dilma assumiu o governo, a taxa de investimento era de 19,4% do PIB, agora está em 16,5%, e a de poupança era de 17,5% e caiu para 14,1%. Efeito do descrédito de investidores na gestão da economia. E, para piorar, o déficit nominal das contas públicas em julho foi o pior da história.
O investimento desaba
CELSO MING- OESP
O desempenho do investimento neste primeiro semestre foi ainda mais insatisfatório do que o do PIB, que, apesar de tudo, ainda cresceu 0,5% em relação ao do primeiro semestre de 2013.
Os números são implacáveis. O investimento (Formação Bruta de Capital Fixo) caiu 5,3% no segundo trimestre em relação ao trimestre anterior e 11,2% em relação ao mesmo período do ano passado. O gráfico ao lado mostra como vêm despencando o investimento e a poupança.
Dizer apenas que algo está errado não leva muito longe. Esta coluna pinça aqui algumas avaliações.
A presidente Dilma, que foi eleita em 2010 como a "mãe do PAC", ou seja, como competente administradora dos investimentos públicos, teve e continua tendo em relação ao investimento nacional uma atitude contraditória. A política predominante até recentemente não foi dar prioridade ao PAC e aos investimentos. Foi dar curso ao que entendeu ser uma política anticíclica, baseada no aumento do consumo das famílias, no pressuposto de que o investimento seria apenas consequência. Era criar mercado, que a produção viria atrás.
Não veio, porque o investimento saiu a conta-gotas. A indústria brasileira não tem competitividade, está sucateada, como admite resignadamente o ministro do Desenvolvimento, Mauro Borges. Mesmo as mais modernas ficaram para trás porque o alto custo Brasil não as deixa competir com o produto importado nem lá fora nem aqui dentro. Isso não acontece apenas porque o câmbio está fora de lugar.
A presidente Dilma entendeu que, para provocar o deslanche dos projetos, bastaria "convocar a burguesia", puxar pelo seu brio e pelo seu espírito animal.
Em seguida se viu que também a confiança entrou em colapso. O governo Dilma se meteu demais no dia a dia dos negócios e criou instabilidade demais em condições básicas de funcionamento da produção, como nas tarifas da energia elétrica e dos combustíveis. O resultado foi o de que, até mesmo nos setores mais dinâmicos da economia, como o do etanol, houve mais desinvestimento do que investimento.
Embora o dado não tenha sido medido pelo IBGE, há indicações de que o investimento público em relação à renda do governo caiu substancialmente. Está emperrado, por uma conjugação de fatores. O mais importante é a situação do Tesouro: está espremido como tubo usado de dentifrício. Por isso, o governo não teve saída senão ativar as Parcerias Público Privadas (PPPs) e as concessões. Mas aí também quase não teve jogo, porque até nos leilões o governo pretendeu tabelar preço. E, também, porque as dezenas de repartições públicas não se entendem, são incapazes de definir regras sustentáveis.
A economia brasileira não precisa de distribuição de bondades aos setores mais chegados. Para que recupere competitividade, o setor produtivo precisa de três coisas: (1) precisa de reformas: política, do sistema tributário, da Previdência Social e das leis trabalhistas; (2) precisa de arrumação da economia para que os fundamentos sejam recuperados; e (3) precisa de melhoria da confiança, que é consequência das anteriores.
Campanhas presidenciais se reorientam após avanço de Marina em pesquisas
Expectativa de aliados de Dilma é que Aécio passe a confrontar ex-senadora
 
BRASÍLIA E JALES (SP) — Embora a presidente Dilma Rousseff tenha aumentado as críticas à candidata Marina Silva (PSB), a expectativa da campanha petista é que Aécio Neves (PSDB) parta para um confronto mais duro contra Marina para evitar a sangria de votos tucanos para a ex-senadora.
Dirigentes ouvidos neste sábado pelo GLOBO afirmaram que Dilma deve esperar os próximos passos de Aécio, agora em terceiro lugar nas pesquisas, para decidir o tom que adotará no debate marcado para amanhã, no SBT. Neste sábado, em São José do Rio Preto, Aécio já foi bastante crítico à candidata do PSB.
Em Jales, tanto Dilma como o vice-presidente Michel Temer sinalizaram que a ideia é desconstruir Marina politicamente, apontando fragilidades e contradições de seu programa de governo e de seu discurso sobre uma “nova política”.
De todo modo, essas críticas poderão ser feitas pelo programa de TV e pela boca de aliados. Os dirigentes petistas temem que uma polarização mais dura com a ex-ministra possa gerar desgastes para a campanha de Dilma.
Em entrevista coletiva, neste sábado, a presidente desconversou ao responder se enfrentaria Marina no debate de amanhã.
— Pretendo discutir as minhas propostas. Se elas ensejarem cotejamento dos outros candidatos é uma consequência — disse Dilma.
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Os petistas aguardam também a consolidação de Marina como principal adversária de Dilma, antes de aumentar a ofensiva.
— Não muda a estratégia em si, mas é evidente que se consolidar a situação (de queda) do Aécio, o adversário para valer passa a ser Marina. O debate talvez seja um aperitivo do que será feito. Nós vamos trabalhar um processo de esclarecimento das contradições nas candidaturas dos adversários — disse um dos coordenadores da campanha petista, o prefeito e ex-ministro Luiz Marinho.
TUCANOS TENTAM CONTER CLIMA DE DESESPERO
Integrantes da equipe de Aécio Neves admitem que a queda de 20% para 15% nas intenções de voto na última pesquisa do Datafolha, na semana passada, abalou a campanha do tucano, mas tentam mostrar que não há um clima de desespero. A avaliação é de que ainda falta um mês para a eleição e muita coisa pode vir à tona. O candidato, mesmo em terceiro lugar, tem pedido “serenidade” aos aliados.
Assim como o PT, o PSDB compara Marina ao ex-presidente Fernando Collor, tentando dar um aspecto negativo à candidata que se apresenta como o novo.
— Abala sim, mas não tem desespero. É uma onda semelhante à do Collor. Se ela for eleita, se essa onde vier, teremos feito a nossa parte. É uma onda emocional, irracional. Ainda tem tempo até a eleição, muita coisa ainda pode aparecer — disse um aliado de Aécio.
Já na campanha de Marina, o resultado da pesquisa foi recebido com um misto de alegria e cautela. Para um dos coordenadores da campanha do PSB, Walter Feldman, o empate de Marina com Dilma revela fôlego. Mas, ao mesmo tempo, transforma a ex-ministra do Meio Ambiente em alvo preferencial de seus rivais. Para ele, não há tempo para comemorar, há muito mais trabalho a fazer.
— Agora nosso empenho tem que ser redobrado porque viramos o núcleo do alvo dos nossos adversários. A sociedade está em transição. Há setores que resistem, que têm temores. Nosso trabalho agora é muito maior. Estamos vendo o resultado do Datafolha com muita humildade e determinação — disse, citando uma música de Paulinho da Viola, que diz que durante o nevoeiro é preciso fazer como o velho marinheiro, que guia o barco devagar. — Temos que ter muita calma. Por aqui tem absolutamente zero de euforia.
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Ex-tucano, Feldman conta que a campanha tem recebido uma quantidade enorme de ligações e manifestações de pessoas dizendo que querem participar do projeto de Marina.
Evidentemente preocupado com a arrancada de Marina, o comitê de Dilma pretende deixar de lado a polarização com Aécio. Vai tentar explorar supostas contradições de Marina, mas sem abandonar a estratégia propositiva. A avaliação no governo e no PT é que partir para o ataque tira votos e pode vitimizar Marina.
— Nós temos projeto, ela é um sonho, uma idealização — disse o vice-presidente e coordenador de redes sociais do PT, Alberto Cantalice.
Não parece uma onda
JOÃO BOSCO RABELLO - OESP
Parece vencida, após as duas últimas pesquisas, a questão que ainda frequenta as reflexões de analistas políticos e observadores da cena eleitoral: se o crescimento de Marina se insere no que passou a se chamar de "onda", ou se tem consistência para levá-la ao segundo turno.
Não parece onda e nem efeito da tragédia aérea que vitimou o titular da chapa presidencial do PSB, Eduardo Campos.
Até porque o ex-governador ainda não tinha uma biografia capaz de fazer com que seu trágico desaparecimento o transformasse em mito político.
O crescimento de Marina sugere mais a cristalização do sentimento geral contra os partidos, do que é sintoma o êxito de sua cruzada por uma "nova política", que já fazia parte do discurso de Campos, mas que só se materializou com a ascensão da ex-senadora a candidata.
É quando o novo ganha credibilidade junto ao eleitorado que não o identificava no PSB, mas passa a considerá-lo real na voz que a legenda abrigava em segundo plano e que, a rigor, não pertence a nenhum partido.
De carona, Marina passou a motorista capaz de convencer o eleitor da oportunidade de mudar hábitos e costumes, impondo uma nova forma de governar sem se privar - e nem ao País - dos quadros de excelência abrigados em outras legendas.
Por isso, o aceno do PSB para uma aliança de governo com PT e PSDB tem forte apelo junto ao eleitor desses dois partidos adversários, insatisfeitos com suas legendas.
A proposta surge como uma rede de segurança para o discurso do medo com a inexperiência gestora de Marina Silva e com a fragilidade do PSB - uma legenda média, sem parcerias capilares que possam projetar uma aliança parlamentar sólida.
Nesse caso, o argumento da oposição contra a candidata do PSB é seu maior trunfo eleitoral: não ter laços com o sistema em xeque que, por temê-la, negou-lhe a legenda com a qual concorreria contra, inclusive, o PSB.
O efeito Marina é maior que o impacto da morte de Eduardo Campos: ele reflete a demora da classe política em reagir ao gradativo e ostensivo repúdio da população às práticas políticas vigentes que, na era PT, ultrapassaram todos os limites, como mostrou o mensalão.
Eleição não se ganha de véspera, mas parece irreversível a ida de Marina ao segundo turno, restando ao PSDB esperar por uma queda ainda maior da presidente Dilma Rousseff, acossada pela economia em recessão e pelo agravamento do caso de corrupção na Petrobrás.
APRESENTAR PRESO AO JUIZ EM 24H PREJUDICA O RÉU
Cláudio Humberto - O Globo

O projeto de lei do Senado, que obriga a apresentação de presos em flagrante a um juiz, no prazo máximo de 24h, é no mínimo impraticável, por atentar contra o direito de defesa do réu, além do “incomensurável custo de deslocamento”, segundo entendimento de pelos menos duas entidades que representam os profissionais envolvidos no assunto: as associações de Magistrados do Brasil (AMB) e de Delegados (Adepol).

CHOVENDO NO MOLHADO
Relator, o senador Humberto Costa (PT-PE) nem percebe que o projeto é inócuo: prisões já são notificadas imediatamente ao juiz e à família.

IMPRATICÁVEL
Em julho, se essa lei existisse, só em São Paulo seriam necessárias mais de 350 audiências por dia com juízes, para apresentar presos.

PERNAS CURTAS
Entidades de juízes e delegados negam que a Convenção de Direitos Humanos determine apresentação ao juiz em 24h, como diz o projeto.

SÓ UM FACTOIDE
No Senado, o projeto é recebido com reservas pela estranha pressa da ministra Ideli Salvatti (Direitos Humanos), ansiosa por uma “bandeira”.

MARINA ‘BOMBA’ EM PESQUISAS E NAS REDES SOCIAIS

Nas pesquisas e nas redes sociais, os eleitores mal conseguem esconder o encantamento pela candidata do PSB a presidente, Marina Silva. Além da pesquisa Datafolha de sexta-feira, que aponta seu crescimento estonteante, ela lidera os números nas redes sociais. Sua página oficial no Facebook, de longe a mais acessada nos últimos dias, acumulou quase 700 mil “curtidas” desde a morte de Eduardo Campos.

ATÉ NO TWITTER

Marina (PSB) e Dilma (PT) são mencionadas no Twitter entre 30 e 60 vezes por hora. Já Aécio (PSDB) não passa de dez menções.

FENÔMENO
No Facebook, Marina rivaliza com grandes páginas da rede: acumulou 280 mil likes na última semana. A página oficial do Barcelona, 400 mil.

DECEPÇÃO

O ex-presidente do Supremo Joaquim Barbosa prometeu barbarizar no Twitter, mas até agora tem só 30 mil seguidores.

TRAIÇÕES A GALOPE
Perplexos com o crescimento da candidatura de Marina Silva, agora empatada em primeiro lugar nas pesquisas com Dilma Rousseff, petistas ilustres já começam a buscar “convergências” com ela.

DIFERENÇAS
Marina foi chamada de “Lula de saias” por José Dirceu, até porque sua trajetória é semelhante à do ex-presidente, mas só na origem humilde. Ela aprendeu a ler só aos 16 anos de idade, mas, além disso, e ao contrário de Lula, tomou gosto pelos estudos e pela leitura.

É BRASIL, MARINA
Quando lhe contaram, sexta-feira, que tinha 34% no Datafolha, empatando com Dilma, Marina Silva achou que os números se referiam somente a São Paulo. “É Brasil?”, exultou. Mal acreditava.

PROJETOS DE PRESIDENTE
O votenaweb.com.br, que avalia o trabalho de políticos, classifica Aécio (PSDB) como o de melhores projetos entre os presidenciáveis, 88% de aprovação. Dilma, 82%. Marina teve só dois projetos no Senado.

ESFORÇO DESCONCENTRADO
Apesar do número de sequestros-relâmpago disparar em todo o País, está parado na Câmara o projeto 6.726, que autoriza as operadoras a informar a localização de celulares às polícias, mediante requisição.

FAZ SENTIDO
O site da Secretaria Geral da Presidência foi infectado por um vírus. Ao ser acessado, o domínio www.secretariageral.gov.br é congelado, com o aviso: “invasores podem estar roubando suas informações”.

OBSTRUÇÃO À VISTA

Na pauta do “esforço concentrado” da primeira semana de setembro está prevista a votação, na Câmara dos Deputados, do projeto que anula a criação dos “conselhos populares”. O PT promete obstruir.

PROMESSA É DÍVIDA
De 2007 a 2013, o governo federal diz ter investido R$ 9 bilhões em creches, mas das 6.427 prometidas pela então candidata Dilma (PT), na campanha de 2010, ela só entregou cerca de 500.

PENSANDO BEM...
...em vez da frustração porque não lhe faziam perguntas, no debate da Band, Luciana Genro (PSOL) deveria se sentir frustrada por sua carência de votos.
A utilidade do voto 
Merval Pereira - O Globo
Entramos num momento delicado da campanha eleitoral, em que a tendência majoritária do cidadão comum parece ver em Marina Silva a sua representante para a tão almejada mudança de hábitos e costumes nacionais, que começa necessariamente pela maneira de fazer política.
Mesmo contestada, com contraditórias posições que a fazem transitar pela velha política como se estivesse fazendo algo de novo, Marina traz consigo símbolos e promessas que apontam para novos caminhos, mesmo que ainda desconhecidos. E quem disse que a inquietação da sociedade requer caminhos seguros?
Talvez a vantagem de Marina sobre seus adversários seja mesmo ser uma incógnita, pois o que é conhecido no mundo da política está sendo francamente rejeitado pelo eleitorado. Tornou-se comum a afirmação de que a presidente Dilma é a garantia de mais quatro anos de retrocessos no país, enquanto Marina é uma incógnita, para o bem ou para o mal.
O jornalista Fernando Rodrigues atribuiu ao ex-ministro José Dirceu a afirmação de que Marina seria um Lula de saias, o que depois foi desmentido, afirmação e desmentido sempre através de interpostas pessoas, pois Dirceu, como condenado, não poderia dar entrevistas. De qualquer maneira, a comparação tem sua dose de verdade, embora não seja politicamente positiva para seu grupo político, e por isso foi desmentida.
Em 2002, Lula recebeu votos de pessoas que nunca haviam votado nele ou no PT, simplesmente porque queriam mudar as coisas no país e ele encarnava, na sua quarta tentativa, a mudança na política. O PT ainda tinha a imagem de ser um partido ético, que poderia mudar a maneira de fazer política, justamente o que Marina propõe hoje com a “nova política”.
Mas exatamente por ser uma incógnita, seria prudente que não se desse a ela um cheque em branco. Mais ainda. A “nova política” surfa uma onda de antipolítica, chega à liderança da disputa presidencial sem estrutura partidária sólida nem apoios institucionais de peso, o que coloca Marina acima das necessidades de negociação que são inerentes à relação com o Congresso. E é isso que a maioria quer, sem se dar conta de que o que acontece no país no momento é uma distorção do que seja a negociação política, que necessita de uma restauração, não da sua negação.
Se vencer no primeiro turno, como passou a ser visto como possível devido à sua ascensão vertiginosa nas pesquisas eleitorais, Marina estaria respaldada pelas urnas para levar adiante as reformas de que o país necessita, mas estaria também perigosamente tentada a exercer o seu messianismo, ainda mais da maneira como chegou à disputa, trazida pela “providência divina” depois que seus inimigos da política fizeram “o diabo” para impedi-la de concorrer, provavelmente já antevendo o que está acontecendo agora.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso venceu as duas eleições presidenciais que disputou no primeiro turno, derrotando Lula. Mas procurou um acordo eleitoral anterior com o PFL, o que parecia desnecessário pela força do Plano Real mas mostrou-se imprescindível para governar.
Nas duas vezes, o então candidato do PT ficou no piso da votação do seu partido — 27,04%, em 1994 e 31,71%, em 1998 —, o que pode acontecer perfeitamente com a presidente Dilma desta vez. Os terceiros colocados tiveram naquelas disputas 7,38% (Enéas, em 1994) e 10,97% (Ciro Gomes, em 1998).
O candidato do PSDB, Aécio Neves, atualmente com 15% das intenções de voto pelo Datafolha, tem uma estrutura partidária maior e apoios regionais que poderiam até mesmo levá-lo à vitória em situação normal e condições ainda de chegar a um segundo turno caso Marina, por alguma razão, tenha sua candidatura abalada nesses últimos 30 dias de campanha.
O mais provável, porém, é que o PSDB se coloque como um importante partícipe desse novo jogo num segundo turno entre a presidente Dilma e Marina, mas para tanto a votação em Aécio Neves não pode desidratar a ponto de permitir uma vitória de Marina no primeiro turno.
O voto útil em Marina, para garanti-la no segundo turno ou forçar uma derrota do PT já no primeiro, pode ser um tiro no pé nos eleitores que temem Marina presidente mas não querem Dilma reeleita. Nesse caso, fortalecer a votação do terceiro colocado é impor uma negociação política que demarcará um provável governo Marina. 

ELIÂNICAS

A derrota de Dilma 
ELIANE CANTANHÊDE - FSP
BRASÍLIA - Ganhe ou perca a reeleição, Dilma Rousseff não escapa mais de uma derrota no seu primeiro mandato: na economia. Não foi por falta de aviso. Até Lula alertou.
Enquanto Dilma usa a propaganda de TV, debates e entrevistas para falar de programas pontuais, como o Pronatec, que qualquer gerente faz, a economia brasileira continua dando uma notícia ruim atrás da outra.
O desafio da oposição não é bater na tecla de PIB, controle fiscal e contas externas (a maioria das pessoas nem sabe o que é isso), mas ensinar que não se trata só de números nem atinge só o "mercado" e a "elite". Afeta o desenvolvimento, a indústria, os investimentos, a competitividade e, portanto, a vida de todo mundo e o futuro do Brasil.
O super Guido Mantega, que sempre prevê PIBs estratosféricos e acaba se esborrachando com os resultados, conseguiu adicionar uma pitada de ridículo nas novas notícias ruins. Na quinta (28), ele disse que os adversários de Dilma levariam o país "à recessão". Na sexta (29), o governo anunciou que o risco já chegou: o recuo da atividade econômica pelo segundo trimestre consecutivo caracteriza... "recessão técnica". Ou "herança maldita", segundo Aécio. Não há Pronatec que dê jeito...
Para piorar as coisas, vamos ao resultado fiscal anunciado na mesma sexta: o governo federal (Tesouro, BC e INSS) teve o maior rombo do mês de julho desde 1997. A presidente candidata anda gastando muito.
Passado o trauma da morte de Eduardo Campos e assimilada a chegada triunfal de Marina Silva, a economia retoma o centro do debate eleitoral. Não há uma crise, mas há má gestão. Como Campos dizia, Dilma é "a primeira presidente a entregar o país pior do que encontrou".
Dilma e Mantega culpam o cenário internacional. Marina, rumo à vitória, e Aécio dizem que não é bem assim e apontam quem vai arranhar o joelho, cortar o cotovelo e talvez machucar a cabeça se a economia for ladeira abaixo. O eleitor, claro.

DÓRICAS

Vestida para enfrentar
DORA KRAMER - OESP
Ninguém mais diferente da Marina Silva carrancuda no auditório da Confederação Nacional da Agricultura, em 6 de agosto, ainda como vice de Eduardo Campos, que a Marina Silva sorridente no meio dos usineiros paulistas na quinta-feira, prometendo a eles corrigir as "políticas equivocadas do governo" caso seja eleita presidente.
De ferrenha adversária da bancada ruralista na votação do Código Florestal no Congresso, passou a amiga do agronegócio. Tampouco é contra os transgênicos; agora diz que as pessoas não entenderam direito sua posição. Não é mais aquela que impõe vetos a aliados e nessa altura já considera as alianças entre opostos cabíveis dentro dos limites da "nova política".
Não provoca medo no mercado nem no empresariado porque faz os compromissos esperados em relação aos fundamentos da economia, à livre iniciativa, ao (fim do) controle artificial de preços, ao comércio exterior. Enfim, diz o que esses setores querem ouvir.
Nunca mais pronunciou o termo "sonhático". Não se ouve dela uma ideia de traço radical ou posição de conotação sectária, embora preserve um quê de austeridade e o charme de uma discreta intransigência. Mantém a suavidade, mas logo no primeiro debate surpreendeu os adversários partindo para o ataque direto ao cobrar de Dilma Rousseff os resultados (inexistentes) dos pactos de junho de 2013.
Sem se distanciar excessivamente do modelo original, Marina se reinventou e daí recuperou o antigo capital eleitoral, acrescentando a ele parte do patrimônio dos adversários. Na última pesquisa Ibope, ganhou 29 pontos em São Paulo, 15 em Minas, 25 no Rio e 15 na Bahia, os quatro maiores colégios eleitorais do País.
Os adversários, no entanto, preferem insistir na tese da comoção, da onda que passa. Além disso, Dilma e Aécio parecem ignorar a remodelagem e atacam-na com velhas armas sem considerar a evidência de que há uma nova Marina se apresentando ao eleitorado.
Falam de inexperiência, de radicalismo, de aventuras, de repulsa à política, de amadorismo, de incerteza, insegurança, de contradições e de inconsistências. Vulnerabilidades que a candidata do PSB não desconhece e por isso mesmo tratou logo de providenciar respostas para cada uma.
Significa que tomou a pulso a ideia de vir a presidir a República. Se os oponentes pretendem o mesmo, conviria que deixassem de agir como se estivessem diante de alguém que, mais cedo ou mais tarde - por obra de meia dúzia de palavras -, o eleitor verá como um ser excêntrico da floresta.
Ela está trabalhando para dizer que não é.
Compasso. Foi anunciado que Paulo Roberto Costa estaria disposto a fazer um acordo de delação premiada com o Ministério Público, a fim de tentar sair da cadeia e preservar a família nas investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
Tudo pareceu encaminhado nesse sentido quando o advogado Nélio Machado deixou a causa, por discordar do acordo, e Costa chamou Beatriz Catta Preta, uma especialista no assunto.
Isso faz dez dias. De lá para cá soube-se que os procuradores federais querem de Costa os nomes dos políticos que se beneficiavam dos contratos superfaturados da Petrobrás.
Desde então, a nova advogada da causa vem dizendo que seu cliente ainda não decidiu se faz a delação, uma exigência peremptória principalmente da mulher dele, Marici.
Paulo Roberto Costa havia dito na prisão que se resolvesse revelar o que sabe - e só será beneficiado se der informações que esclareçam a materialidade e a autoria dos crimes - não haveria eleições.
Figura de retórica. Mas, pelo sim, pelo não, o encadeamento dos fatos autoriza a suposição de que possa ter havido só um conveniente adiamento.
As Bolsas Plebiscito de Dilma e Marina 
Elio Gaspari - O Globo
Marina Silva merece todos os aplausos. Anunciou em seu programa o que pretende fazer se for eleita. Ela quer criar uma "democracia de alta intensidade". O que é isso, não se sabe. Lendo-a vê-se que, sob o guarda-chuva de uma expressão bonita — “democracia direta” — deseja uma nova ordem constitucional. Apontando mazelas do sistema eleitoral vigente, propõe outro, plebiscitário, com coisas assim: “Os instrumentos de participação — mecanismos de participação da democracia representativa, como plebiscitos e consultas populares, conselhos sociais ou de gestão de políticas públicas, orçamento democrático, conferências temáticas e de segmentos específicos — se destinam a melhorar a qualidade da democracia”.
Marina parte da premissa de que “o atual modelo de democracia (está) em evidente crise". Falta provar que esteja em crise evidente uma democracia na qual elegeu-se senadora, foi ministra e, em poucas semanas, tornou-se virtual favorita numa eleição presidencial. Ela diz que nesse país em crise “a representação não se dá de forma equilibrada, excluindo grupos inteiros de cidadãos, como indígenas, negros, quilombolas e mulheres”. Isso numa eleição que, hoje, as duas favoritas são mulheres, uma delas autodefinida como negra.
Marina quer “democratizar a democracia”. O jogo de palavras é belo, mas é sempre bom lembrar que na noite de 13 de dezembro de 1968, quando os ministros do marechal Costa e Silva aprovaram a edição do Ato Institucional nº 5, a democracia foi exaltada 19 vezes. Deu numa ditadura de dez anos e 18 dias. A candidata, com sua biografia, é produto da ordem democrática. Ela nunca a ofendeu, mas seu programa vê no Congresso um estorvo. Se o PT apresentasse um programa desses, a doutora Dilma seria crucificada de cabeça para baixo.
Marina não está sozinha com seu projeto de reestruturação plebiscitária. Durante o debate da Band, Aécio Neves criticou a proposta de Dilma de realizar uma reforma política por meio de um plebiscito, rotulando-a de “bolivariana”, numa alusão às mudanças de Hugo Chávez na Venezuela. Ela respondeu o seguinte: “Se plebiscitos forem instrumentos bolivarianos, então a Califórnia pratica o bolivarianismo”.
Que todos os santos de Roma e d’África protejam a doutora. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Desde janeiro de 2010, a Califórnia fez 338 plebiscitos e aprovou 112 iniciativas. O mais famoso deles ocorreu em 1978 e tratava do congelamento do imposto sobre propriedades, associado à exigência de dois terços das assembleias estaduais para aprovar aumento de impostos. Tratava-se de responder “sim” ou “não”. Deu 65% a 35% e atribui-se a esse episódio um dos maiores sinais do renascimento do conservadorismo americano (em 1980-1981 Ronald Reagan foi eleito presidente dos Estados Unidos.)
No Brasil já se realizaram três grandes plebiscitos. Em 1963 e 1993, o povo escolheu entre parlamentarismo e presidencialismo. Ganhou o presidencialismo. Em 2005, a urna perguntava: “O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?” O “não” teve 64% dos votos.
A sério, um plebiscito é simples: “sim” ou “não”? “Parlamentarismo” ou “presidencialismo”? Essa é uma prática da democracia direta, porque é simples.
A proposta de encaminhamento plebiscitário de uma reforma política só não é bolivariana porque vem a ser um truque muito mais velho que a bagunça venezuelana. Em 1934, Benito Mussolini fez a reforma política dos sonhos dos comissariados. Os eleitores recebiam uma lista de nomes com a composição do Parlamento e podiam votar “sim” ou “não”. Il Duce levou por 99,84% a 0,15%.
A República brasileira não está em crise, pelo contrário. Seus poderes Executivo e Legislativo serão renovados numa eleição em que Marina vê vícios profundos, ainda que não os veja na possibilidade de ser eleita. Sua proposta de reordenamento do Estado pode encarnar a vontade do eleitorado mas, na melhor das hipóteses, dá em nada. Na pior, em cesarismo plebiscitário.
Recordar é viver
Marina Silva não sabia que o avião em que viajava com Eduardo Campos saía de um caixa dois. (naquele jatinho só a máquina parecia estar nos conformes; era de um usineiro falido, fora vendido a um consórcio de laranjas, e o piloto estava “cansadaço”).
Lula também não sabia da existência do mensalão. Em 1993, numa de suas campanhas, foi apanhado voando em dois jatinhos. Um pertencia ao filho do deputado João Alves, que amealhara uma fortuna ganhando na loteria e participando das malfeitorias da Comissão de Orçamento. Ficou conhecido como um dos Sete Anões. Outro era de uma empresa que fornecia alimentos à prefeitura petista de São Paulo.
Confrontado com a impropriedade, Nosso Guia informou que não sabia de nada e foi para o ataque: “Estão querendo jogar o PT na mesma lama dos outros partidos”.
Obama e Marina
Em 2008, Vernon Jordan, um dos ícones da elite negra americana, apoiava a campanha de sua amiga Hillary Clinton. Ela tinha tudo para ser indicada candidata a presidente pelo partido Democrata. Anos antes, ele percebera que o casal tinha futuro e ajudou a construir a figura de Bill, um desconhecido governador do Arkansas.
Quando Jordan passou a apoiar a candidatura do companheiro Obama, explicou-se em poucas palavras: “É duro você ir contra um movimento”.
O Pró-Mercedes
Um carioca bem-humorado conspiromaníaco acredita ter descoberto um programa secreto do PT para azarar Aécio Neves.
Estariam distribuindo automóveis Mercedes-Benz com adesivos do candidato no vidro traseiro.
Boa notícia
As coisas boas também acontecem. Apesar de persistir a guilhotina tributária que expõe as pequenas empresas à morte súbita quando elas faturam mais de R$ 3,6 milhões anuais e são expulsas do sistema de cobrança do Simples, andou-se um bom pedaço nessa questão.
Há poucas semanas a doutora Dilma expandiu o alcance do Simples, beneficiando cerca de 450 mil empresas de profissionais liberais. Além disso, acabou com o martírio da exigência de certidões negativas para abertura e fechamento de empresas. Mais: pequenas e médias empresas só poderão ser multadas se forem visitadas duas vezes pelo fiscal. Na primeira, caso não haja dolo, ele adverte; na segunda, autua.
Pleito
Os 11 ministros do Supremo Tribunal Federal aprovaram o encaminhamento ao Congresso de um pedido de aumento. Ganham R$ 29.462 e querem R$ 35.919, equivalentes a US$ 209 mil anuais. Mais carro com motorista e passagens.
Seus nove colegas da Corte Suprema americana ganham US$ 214 mil, sem mais nada. O juiz Harry Blackmun, pai da sentença que legalizou o aborto, ia para o serviço de Fusca. David Souter rodava um Passat. Antonin Scalia dirige o BMW que comprou.
O voto, do cansado ao fisiológico
Gaudêncio Torquato - O Estado de S. Paulo
Chico Heráclio (1885-1974), o poderoso dono do poder nas plagas de Limoeiro (PE), sabia como ninguém interpretar o ânimo dos eleitores. Dominava o voto de cabresto no Agreste Pernambucano e vizinhanças. Mas não conseguia encher as urnas na capital. Indagado sobre o motivo, a raposa política saiu-se com esta: “O eleitor do Recife é muito a favor do contra”. Pois bem, a máxima do último dos coronéis, como era designado, serve para explicar a disposição do eleitorado brasileiro das grandes cidades, no ciclo eleitoral em curso, que deixa antever um cidadão “muito a favor do voto contrário”.
O rol de qualificações desse eleitor é extenso: indignado, revoltado, saturado, descrente, desesperançoso, cansado. O último adjetivo traduz bem a motivação das ruas: o voto do cansaço, que atinge o clímax no processo eleitoral contemporâneo, desenvolvido sob a paisagem devastada da política e da gestão pública (escândalos, corrupção, desvios). Essa é a modalidade que explica o avanço da ex-senadora Marina Silva no ranking eleitoral e sugere um redesenho completo no tabuleiro do jogo político, eis que começa a ser considerada um quadro competitivo na esfera de um eventual - e provável - segundo turno em 26 de outubro.
O sentimento de mesmice na vida institucional empurra imensa parcela do eleitorado a correr em direção ao perfil que mais se identifica com inovação, ética, seriedade, sendo a ex-seringueira do Acre a beneficiária principal da corrente mudancista, ainda mais quando a onda emotiva criada com a morte trágica de Eduardo Campos a eleva aos píncaros da fama e da visibilidade. Mas a hipótese de que possa vir a ser vitoriosa há de ser conferida, se não contrabalançada, por um conjunto de fatores que servem de argamassa para a construção do edifício político, como bases partidárias, máquina pública, cabos eleitorais, recursos financeiros e, sobretudo, a multifacetada tipologia eleitoral. Daí a propriedade da pergunta: os votos rebeldes (“a favor do contra”) suplantarão os sufrágios que costumam entrar no panelão tradicional, onde se misturam grupos que ainda primam por cultivar velhos costumes e práticas?
Um ligeiro exercício para identificar núcleos, setores e áreas serve de biruta para indicar a direção do vento na hora da escolha. Vejamos.
O voto do cansaço, claro, abre a planilha e dá as caras nos mais diferentes conglomerados, desde as galeras jovens, desencantadas com a política, até os emergentes da classe C, que descobriram o caminho das ruas, desde o ano passado, para fazer ecoar suas demandas. Trata-se de poderosa tuba de ressonância, com particular desempenho nas redes sociais.
Deixando esse exército de vanguarda, sigamos os batalhões de retaguarda, começando com os bolsões tradicionais das margens, propensos a dar um “voto de coração”, em agradecimento e reconhecimento a quem lhes proporcionou “um rico (?) dinheirinho”. A massa fisiológica dos fundões e até de alguns espaços centrais tenderá a recompensar candidatos que se identificam, por exemplo, com o Bolsa Família (cerca de 50 milhões de beneficiados) e o Mais Médicos (cerca de 30 milhões de assistidos), a par de outros pacotes de benefícios.
Olhemos também para os votos agarrados aos partidos, não em função de sua índole ideológica (que só tem peso no bojo de duas ou três pequenas siglas radicais), mas pela malha gigantesca de empregos na máquina pública das três instâncias federativas. As massas funcionais votam pensando em garantir o emprego. Não são poucos os milhões de eleitores deste bloco, sem esquecer os conglomerados sob a égide do sindicalismo atrelado ao Estado.
O convite, agora, é para entrar no barulhento andar da classe média B, essa com poder de gerar influência, criando marolas ao jogar pedrinhas no meio do lago e fazendo com que as ondas corram até as margens. Essa divisão tende a votar de maneira consciente, racional, compulsando atores, analisando propostas e se identificando com perfis mais próximos ao seu dia a dia. Gira no entorno do centro para a esquerda, identificando-se com a modernidade, porém evitando qualquer pista que leve ao fundamentalismo messiânico.
Apesar de menor, a cada pleito o voto conservador, outro bloco, não segue a onda emotiva que se espraia no território. Rejeita quadros localizados na esquerda do arco partidário.
No outro lado do espectro político, distingue-se o contraponto, um posicionamento duro que transita pelas siglas nanicas de corte ideológico. Ao longo dos anos, esse eleitorado tem diminuído.
São esses alguns tipos de votos de nosso painel eleitoral. Será possível que um tsunami emotivo embaralhe as regras do jogo, liquidifique todas as tendências e faça o “voto da indignação” assumir o pódio, elegendo uma pessoa que garante, caso seja vitoriosa, dar adeus à velha ordem política? Sim, isso é até possível. Significaria a vitória de um ícone identificado com as forças sociais em curso. A carga de mudanças que tal situação deflagraria seria inimaginável, a partir de um arrastão que levaria de roldão os carros das reformas fundamentais, a começar da reforma política.
No curto prazo, uma “revolução” nesses moldes parece pouco provável, mas na política o imponderável - como bem sabemos - teima em deixar marcas. Há, em todo esse rearranjo, algo positivo. Trata-se da taxa de conscientização política, que se expande sob o empuxo de uma sociedade que se mostra desejosa de participar do processo de mudanças.
À guisa de conclusão, uma historinha com Getúlio Vargas. Um repórter, na saída do Catete, indagou: “Presidente, o que é preciso para vencer uma eleição?”. Respondeu: “Muita coisa. Boa memória, por exemplo. Ou usar a política como água no feijão. Basta ver, o que não presta flutua, o que é bom repousa no fundo”. 
O eleitor começa a ver o que é bom e o que é ruim no feijão do nosso cotidiano.
Recessão e outros problemas no palanque de Dilma 
A retração da economia no primeiro semestre se torna mais grave quando se constata que, no segundo trimestre, houve grande queda nos investimentos 
O Globo
Se fosse possível, os responsáveis pelas campanhas de Dilma e Aécio eliminariam do calendário a semana que passou. Não teriam a má notícia da lépida subida de Marina Silva na última pesquisa do Ibope, confirmada na noite de sexta pelo Datafolha. E a presidente e candidata à reeleição, em particular, escaparia do dissabor de manchar a biografia com a primeira recessão da economia brasileira desde o último trimestre de 2008. A queda de 0,6% do PIB no segundo trimestre em relação ao primeiro — quando já houve uma retração de 0,2%, numa sequência que configura a recessão — consolida, por enquanto, a expectativa do mercado de que a economia não deve conseguir crescer sequer 1% este ano.
“Recessão” é termo forte, de fácil exploração política. Mas estão no palanque de Dilma vários outros problemas, nem todos de fácil entendimento, mas nem por isso menos espinhosos. A baixa confiabilidade do governo Dilma se expressa na queda de 5,3% dos investimentos, no trimestre, também calculada pelo IBGE. É nítida a postura de “esperar para ver” do empresariado neste ano eleitoral.
Há problemas semeados pelo próprio governo. Um deriva da decisão de Dilma/Mantega de manter valorizado o real, para segurar uma inflação renitente. Para isso, o Banco Central executa as tais operações de “swaps”, pelas quais oferece dólares com compromisso de recompra futura. Não gasta o dólar físico das reservas — bastante altas, em mais de US$ 300 bilhões —, mas assume bilionários compromissos futuros. O saldo líquido dessas operações, no momento, seria de US$ 90 bilhões. Tudo isso faz a alegria de especuladores, que realizam a seguinte arbitragem, em explicação simplificada: financiam-se lá fora a juros muito baixos, pegam o dólar e o vendem no “spot”; com os reais, adquirem títulos no Brasil que rendem 11% ao ano. Fazem ainda “hedge” para garantir dólares a uma determinada cotação, num determinado prazo. E toda essa ciranda quase não tem risco porque o BC evita a desvalorização do real, com os “swaps”. Consta que muitos dos bilhões que entram hoje como “investimento externo direto” de multinacionais vêm, na verdade, participar desta ciranda. Eis porque, numa economia em recessão, bilhões de dólares chegam como se fossem investimento. E cuja taxa continua baixa, em relação ao PIB (14%).
Trata-se de uma manobra que não pode durar muito, até porque o Fed está prestes a anunciar que voltará a subir os juros nos EUA. Isso deflagrará mais uma onda de desvalorização de moedas, e o nosso BC não poderá enfrentar essa queda de braço cambial. Na verdade, os “swaps” são mais um puxadinho de política econômica. E com efeitos contraditórios: seguram artificialmente a inflação, junto com o congelamento de tarifas, mas desestimulam as exportações de manufaturados, já com dificuldade de competição por problemas de infraestrutura, burocracia, etc. Dilma e assessores devem torcer para chegar logo outubro.
Se eleita, Marina deve pôr em xeque modelo de coalizão
João Domingos, Ricardo Brito, Ricardo Della Coletta - O Estado de S. Paulo
Candidata do PSB ao Planalto terá base pequena em caso de vitória e precisará negociar cada projeto; ela dependerá bastante do PSDB
Com uma base no Congresso que deverá ser semelhante à do ex-presidente Fernando Collor, a eventual eleição da candidata do PSB, Marina Silva, deve pôr em xeque o modelo de presidencialismo de coalizão que sustenta as relações do Executivo com o Legislativo desde a redemocratização, em 1985, e deverá levá-la a uma dependência grande do PSDB.
Como há uma rejeição forte do grupo da candidata ao PMDB, e o PT já sinaliza que migrará para a oposição se Marina for eleita, a expectativa é que a sigla tucana integre o centro de forças de um eventual governo da ex-ministra do Meio Ambiente, formando a terceira maior bancada na Câmara dos Deputados, atrás de petistas e pemedebistas.
A agenda legislativa anunciada por Marina até o momento reforça essa expectativa: ela pretende aprovar duas grandes reformas constitucionais, a política e a tributária, que precisam do apoio de ao menos 308 dos 513 deputados federais.
A “tucanodependência” de Marina tem ainda outro motivo: o PSB tem boa interlocução com a sigla. São três os principais nomes a fazer esta ponte. O deputado Márcio França (PSB), tão próximo do PSDB que nesta eleição concorre como vice do governador Geraldo Alckmin; Walter Feldman (PSB), atual coordenador da campanha da ex-ministra, ex-tucano; e Roberto Freire (SP), presidente do PPS, antigo aliado do PSDB. Além deles, o ex-governador José Serra (PSDB), que concorre ao Senado por São Paulo, é um interlocutor no partido. A ex-ministra já declarou que gostaria de contar com o apoio de Serra caso ele seja eleito.
Por meio do PSDB, outros partidos poderiam aos poucos aderir a um eventual governo Marina e lhe dar a maioria que ela precisa. Caso, por exemplo, do PSD de Gilberto Kassab. Secretário-geral do partido, o ex-deputado Saulo Queiroz acha que o PSDB não terá outro caminho a não ser apoiá-la e diz que a sua própria sigla poderia integrar sua base.
É do jogo. “Todo mundo que não está no jogo da Dilma poderá fazer o jogo da Marina. Não mantivemos nenhum cargo no governo Dilma. O único que temos é uma indicação pessoal dela, não do partido.Até mesmo uma aproximação com o PSD é perfeitamente viável, por que não?” Segundo Queiroz, compor maiorias no Congresso “não é difícil” com “uma coisa em mãos chamada poder”.
Estimativa feita pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), a pedido do Estado, aponta que Marina teria um apoio consistente de 80 a 120 deputados, no máximo, na próxima legislatura. Esse seria o chamado “núcleo duro” da presidente, formado por parlamentares eleitos pela coligação dela e de outros que passam a apoiar o governo após as eleições. Marina também deve ter o apoio condicionado de 213 a 253 deputados. O Diap prevê que 180 deputados fariam oposição frontal a uma gestão Marina. Os dados são semelhantes aos que Collor teve durante seu governo, entre 1990 e 1992. Para a aprovação de um projeto de lei, são necessários 257 dos 513 deputados. Para emendas constitucionais, são necessários 308 votos.
Para o atual líder do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg (DF), o debate de propostas com os congressistas num governo Marina será em cima de “temas pactuados”.
Modelo Itamar. O modelo idealizado é o mesmo colocado em prática pelo presidente Itamar Franco (1992-1994): escolhas pessoais para os ministérios e maiorias eventuais para aprovar projetos. “Duvido que alguém vai querer um ministério, uma emenda e que o governo vai pressionar alguém para votar”, afirmou o senador Pedro Simon, líder do governo Itamar no Senado e aliado de Marina. Ele citou como padrão de comportamento a aprovação das propostas que culminaram na criação do Plano Real.
Entretanto, os críticos deste modelo lembram que o governo Itamar foi tampão e se deu antes da intensa polarização entre PT e PSDB na política nacional.
Marina e as mudanças
O Estado de S.Paulo
É razoável supor que a significativa reviravolta na campanha eleitoral provocada pela trágica e imprevisível morte de Eduardo Campos e sua substituição por Marina Silva seja o resultado da maior identificação da nova candidata do PSB à Presidência com o desejo de mudança claramente captado por todas as pesquisas de opinião realizadas a partir das manifestações populares de junho de 2013.
Não se trata aqui, contudo, de investigar as razões pelas quais Marina Silva foi capaz de, desde logo, multiplicar por três as intenções de voto que indicavam a candidatura de Campos fora do segundo turno, colocando-se agora, ela própria, na condição de favorita numa votação final, seja qual for seu oponente. O que importa é procurar entender até que ponto esse fenômeno eleitoral, se vier a se confirmar, será realmente capaz de mudar o futuro do País.
Marina Silva se apresenta como alternativa à polarização PT-PSDB que há duas décadas domina o cenário político nacional e tenta se credenciar para esse desafio com uma proposta de mudança que se consubstanciaria numa "nova política" capaz de elevar o padrão ético e de eficácia na gestão da coisa pública. Não é pouca coisa e é impossível de imaginar que algum cidadão bem-intencionado possa se opor a tão elevado propósito, mesmo que ainda não se conheça sua tradução num programa de governo claramente definido. Resta saber de que condições objetivas a candidata do PSB disporá para enfrentar o nada fácil desafio de transpor para o plano da realidade aquilo que fica tão bem no das intenções.
A implantação bem-sucedida de qualquer programa de governo e sua instrumentalização no aparato governamental - especialmente de um plano que se propõe a desenraizar práticas nefastas consagradas através dos tempos - exigem dois pré-requisitos essenciais: apoio político em seu sentido mais amplo e a existência de quadros técnicos competentes e comprometidos com a excelência da gestão pública.
Um chefe de governo recém-eleito conta, por definição, com o apoio político da maioria da sociedade. Mas, na democracia representativa, para a efetivação de mudanças é indispensável também o apoio político dos representantes do povo e dos Estados que compõem o Poder Legislativo. Não é por outra razão que, quando não tem disposição, competência e coragem para contrariar interesses estabelecidos, o "presidencialismo de coalizão", que é o que temos, torna o Poder Executivo refém do fisiologismo.
O apoio proativo de uma sociedade dotada de informação e discernimento é geralmente suficiente para induzir à correção dos desvios de rota do poder público. As manifestações de junho do ano passado demonstram o potencial dessa prática. Mas a "voz das ruas" nem sempre está disponível, até porque o cidadão, por mais politizado que seja, tem de atender a outras prioridades em seu cotidiano. Somente uma conjugação especial e imponderável de circunstâncias ou de situações-limite de instabilidade social são capazes de "colocar o povo nas ruas" para fazer mudanças. E isso raramente ocorre sem danos irreparáveis à democracia.
Por outro lado, um programa ambicioso de mudanças como o que Marina Silva anuncia depende fortemente da existência de quadros técnicos suficientes e competentes para implementá-lo. Não é, certamente, no âmbito apenas dos partidos que a apoiam que ela encontrará todo o elenco de profissionais à altura do desafio de fazer o governo funcionar. Menos mal que, sabedora dessa carência e aparentemente disposta a substituir o atual compadrio desmedido pela meritocracia, Marina tem acenado com a intenção de recrutar profissionais competentes onde quer que estejam, independentemente de filiação partidária.
Cravar com sucesso no Planalto a bandeira de uma genuína "nova política" é desafio que, além dos pré-requisitos do apoio político e técnico, exige também extraordinária capacidade de articulação e conciliação, de estabelecer o exato ponto de equilíbrio na delicada tarefa de adequar meios a fins - de governar, enfim. A dificuldade para o exercício da conciliação talvez seja a maior vulnerabilidade de Marina Silva. A primeira mudança essencial de que necessita o País, afinal, é o fim da divisão do Brasil entre "nós e eles".
O seu voto é uma arma.
Em outubro, atire para matar.
Springfield Armory 1911 A1
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Sam Cooke
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Lissy Cunningham