domingo, 30 de setembro de 2012

Adiamento de deportação de imigrantes ameaça empregadores norte-americanos
Julia Preston - NYT
Manuel Cunha vem lutando há três décadas para persuadir o governo federal a fornecer mais trabalhadores imigrantes legalizados para os agricultores do verdejante Vale de San Joaquin, na Califórnia (EUA). Então ele ficou inicialmente entusiasmado quando o presidente Barack Obama anunciou em junho que suspenderia as deportações de centenas de milhares de jovens imigrantes ilegais.
Mas depois de ler as letras miúdas do programa, Cunha orienta os agricultores e os donos de pequenas empresas que procedam com cautela.
Os imigrantes que entram com pedido de postergação da deportação por dois anos podem pedir aos empregadores que verifiquem seu status empregatício como uma forma de atender à exigência de provar que eles moram há pelo menos cinco anos nos EUA. Mas os empregadores que concordarem com este pedido, reconhecerão que contrataram conscientemente um trabalhador ilegal - o que é uma violação de uma lei federal. Cunha teme que as autoridades possam um dia usar esta informação em seus arquivos para processar os empregadores.
O Departamento de Segurança Interna "é pouco amigável conosco", disse Cunha, presidente da Liga de Agricultores Nisei, que tem sede em Fresno, Califórnia. "Vimos a agricultura ser auditada e alvejada. Para os trabalhadores, este programa pode terminar daqui a dois anos. E então a agência poderá ir atrás dos empregadores por contratar estrangeiros ilegais."
Cunha disse que a mensagem dos funcionários do governo Obama era "simplesmente confiem em nós". Sua resposta: "não, não há mais confiança".
O campo minado para os empregadores é um dos perigos que surgiram no programa de postergação das deportações desde que a agência encarregada, os Serviços de Cidadania e Imigração, começou a receber inscrições em 15 de agosto. No primeiro mês, a agência, que faz parte do Departamento de Segurança Interna, registrou mais de 82 mil inscrições, um número que, segundo os funcionários, mostra que o programa está avançando num ritmo rápido.
Mas com mais de 1,2 milhão de imigrantes estimados para serem imediatamente qualificáveis, algumas organizações de imigrantes dizem que os números são mais baixos do que o previsto, em parte por causa das armadilhas inesperadas.
Para se qualificarem, os imigrantes ilegais precisavam ter menos de 31 anos em 15 de junho, quando Obama anunciou o programa. Eles precisam mostrar que chegaram aos EUA antes dos 16 anos, que estão lá há pelo menos cinco anos e que estavam no país na inauguração do programa. Eles também precisam estar matriculados na escola ou ter um diploma de segundo grau ou ter sido dispensado honrosamente do exército, e passar por checagens de histórico criminal.
Se aprovados, os imigrantes recebem o que é conhecido oficialmente como ação protelada, além de vistos de trabalho legais. Mas eles não ganham nenhum status de imigrantes legais.
Um dilema particularmente complicado está diante dos agricultores e outros empresários do país inteiro que dependem da mão de obra barata. Muitos jovens imigrantes trabalham meio período para ajudar a pagar a faculdade. Outros estão trabalhando depois de abandonar a faculdade, por não conseguir descontos na anuidade ou ajuda financeira por causa de seu status. De acordo com o Instituto de Política Migratória, cerca de 740 mil imigrantes candidatos à postergação estão na força de trabalho.
"Se você tem conhecimento do fato de que um trabalhador não está autorizado a trabalhar, você não pode empregá-lo", diz Greg Sisking, advogado de imigração em Memphis que aconselhou empresas sobre como responder aos pedidos de verificação de emprego.
Muito depende de como um empregado coloca a questão, diz Tamar Jacoby, presidente do ImmigrationWorks USA, uma organização de pequenas empresas que emprega imigrantes. Aqueles que pedem para verificar para postergar deportação estão admitindo que são trabalhadores não autorizados. Eles podem até eventualmente obter uma permissão para trabalhar legalmente, mas nesse meio tempo, o empregador terá de demiti-los, diz Jacoby.
Depois de ouvir de empregadores preocupados, a agência de imigração emitiu novas regras este mês confirmando que as empresas poderiam fornecer verificação para os candidatos à postergação da deportação. Esta informação não será compartilhada com as autoridades "a menos que haja evidências de violações graves de estatutos criminais ou abusos generalizados", dizem as regras.
Peter Boogaard, porta-voz do Departamento de Segurnça Interna, disse que a agência está buscando focar os recursos de cumprimento da lei nas ameaças à segurança pública. Ele disse que funcionários investigariam as inscrições dos trabalhadores se elas apontassem para "padrões e práticas generalizados de contratações ilegais" ou "empregadores abusivos que estão violando outras leis criminais."
Nem Jacoby nem Cunha ficaram satisfeitos. "Esta é uma rede de segurança com muitos buracos", disse Jacoby. Ela incentiva os defensores dos imigrantes a dizerem aos candidatos para não mencionar o programa de postergação ao pedir uma verificação do empregador.
O serviço de imigração também esclareceu uma seção do formulário que pedia aos imigrantes para listar os números de Seguridade Social que usaram. É comum eles usarem números falsos de Seguridade Social, ou às vezes números verdadeiros que pertencem a outra pessoa. Num formulário oficial, esses números poderiam ser provas de fraude ou até de roubo de identidade.
O formulário está pedindo apenas números "que foram emitidos oficialmente a vocês pela Administração de Seguridade Social", dizem as novas orientações.
Os funcionários do Departamento de Segurança Interna "não estão conferindo imunidade a ninguém", disse um funcionário do governo. "Mas eles não estão interessados em usar isso como uma forma de identificar casos em que algum indivíduo possa ter violado alguma lei federal na relação de trabalho."
Tradutor: Eloise De Vylder

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