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Lula desvaloriza decisão do STF sobre o mensalão como apenas 20% jurídica, uma conta de quem se acredita salvador da pátria e do PT
A entrevista de Luiz
Inácio Lula da Silva à Rádio e Televisão de Portugal (RTP) que foi ao ar
no sábado não é a primeira oportunidade em que escolhe solo estrangeiro
para dar declarações temerárias sobre o mensalão. Neste caso, o
ex-presidente preferiu atacar as instituições, ao contrário do que fez
quando ocupava a Presidência.
Em Paris, a 15 de julho
de 2005 (seis semanas após estourar o escândalo do mensalão), o então
presidente admitiu que o PT tivesse cometido erros e que precisava
explicar-se à sociedade. Afirmou que o Estado brasileiro iria apurar o
caso até o fim. A temeridade, na ocasião, foi tentar justificar os erros
como algo que todos os partidos praticam no Brasil.
Em Lisboa, Lula fez algo muito mais grave: pôs sob suspeição o próprio Supremo tribunal Federal.
O ex-presidente disse à jornalista Cristina Esteves, da RTP, que não iria examinar decisões da Suprema Corte e
fez exatamente o oposto, ao declarar que a decisão fora 80% política e
20% jurídica. Foi além: tudo não teria passado de um massacre para
destruir o PT; a história do mensalão, com o tempo, deverá ser
recontada.
A afoiteza, a enumeração
fantasiosa de conquistas de governos petistas e o espantalho da
conspiração das elites são característicos da única retórica que Lula
demonstra conhecer --a de palanque. A incongruência de dirigir-se nesse
tom a ouvidos portugueses sugere que o petista em realidade pretendeu
enviar mensagens algo cifradas ao Brasil, que correligionários
entenderão como ordem para "ir para cima" dos adversários.
Em outras palavras, Lula parece bem mais disposto a se tornar candidato do que semanas atrás.
Sim, ele disse e
repetiu, na entrevista, que não está candidato e que será cabo eleitoral
de Dilma Rousseff. Mas, com a esperteza que atribui ao brasileiro,
reiterou o lugar-comum de que, em política, não se pode dizer "nunca"
(como preferiria a sucessora, ainda que talvez lhe convenha Lula
verbalizar críticas ao STF que ela, como mandatária de outro Poder, não se permite externar).
"Troço de doido", reagiu o ministro do STF Marco Aurélio Mello, um dos poucos, ao lado de Gilmar Mendes e de Joaquim Barbosa,
a se pronunciar sobre a contabilidade luliana. Não é loucura.
Temeridade, por certo, jactância, mas cometidas com método e cálculo,
zero de desvario.
Lula mostrou-se como o
que é, 100% político. E, no contexto de crescente descrédito e perda de
popularidade da presidente que fez eleger, 80% cabo eleitoral do PT e
20% pré-candidato --proporção que não hesitará em virar a seu favor caso
confie em eventual vitória.
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