Timing da declaração de Abbas sobre Holocausto foi terrível
Jodi Rudoren - NYT
2.abr.2013 - Mohamed Torokman/Reuters
O presidente da Autoridade Palestina,
Mahmoud Abbas
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, emitiu uma declaração formal no domingo (27), na qual afirmou que o Holocausto foi "o crime mais hediondo já cometido contra a humanidade na era moderna" e expressou sua solidariedade às famílias das vítimas.
Abbas sempre foi criticado por negar o Holocausto, devido a sua tese de doutorado, publicada em livro em 1983, na qual ele contestava o número de vítimas judias e argumentava que os sionistas também colaboraram com os nazistas com a intenção de estimular que mais pessoas se mudassem para o que se transformaria no Estado de Israel.
No início deste ano, um ministro israelense, indignado com citações de Hitler destacadas nas páginas do Facebook afiliadas à Autoridade Palestina, denunciou Abbas como "o líder mais antissemita do mundo" durante uma conferência realizada em Tel Aviv.
Abbas já havia mudado de opinião em relação ao conteúdo de seu livro. Durante uma entrevista concedida em 2011, ele havia dito que "não negou o Holocausto" e que "segundo os israelenses, as vítimas totalizaram 6 milhões de pessoas". Ao que Abbas acrescentou: "eu posso aceitar isso".
Mas a declaração publicada em inglês e em árabe na manhã de domingo passado pela Wafa, a agência de notícias oficial dos palestinos, foi mais longe, pois descreveu o Holocausto como "um reflexo do conceito de discriminação e racismo étnico, que os palestinos rejeitam e atuam veementemente para combater".
"O povo palestino, que sofre com as injustiças, a opressão e com a falta de liberdade e de paz, que lhes são negadas, é o primeiro a exigir o fim da injustiça e do racismo que vitimaram outros povos que foram sujeitos a esse tipo de crime", disse Abbas. "Nós pedimos ao governo israelense que aproveite a oportunidade atual para firmar um acordo de paz justo e global para a região, com base na visão de dois estados".
O Yad Vashem, centro de pesquisa do Holocausto localizado em Jerusalém, divulgou um e-mail no domingo à tarde afirmando que a declaração de Abbas "pode sinalizar uma mudança" de mentalidade, segundo a qual "o revisionismo e a negação do Holocausto, infelizmente, são predominantes no mundo árabe, inclusive entre os palestinos".
O e-mail diz ainda que "esperamos" que a nova abordagem "seja reproduzida" por sites, currículos escolares "e nos discursos" palestinos, e que encoraje o uso dos vídeos postados no YouTube e dos sites em língua árabe do centro. "Reconhecer os crimes do Holocausto é fundamental para quem quiser analisar a história de maneira honesta", afirmou o e-mail.
O timing da declaração de Abbas – emitida na véspera do Dia da Lembrança do Holocausto e dois dias antes do fim do prazo para a finalização das atuais negociações de paz entre israelenses e palestinos, que se encontram em um impasse – acabou por se mostrar terrível.
Na semana passada, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), presidida por Abbas, atuou para reparar sua desavença de sete anos com a facção de militantes islâmicos Hamas, o que levou Israel a suspender as negociações iniciadas pelo secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, no verão passado.
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu rejeitou a declaração de Abbas ao afirmar a seu gabinete na manhã de domingo passado que "o Hamas nega o Holocausto, apesar de tentar criar outro Holocausto ao destruir o Estado de Israel".
"Em vez de emitir declarações destinadas a aplacar a opinião pública mundial, Abu Mazen precisa escolher entre a aliança com o Hamas, organização terrorista que defende a destruição de Israel e nega o Holocausto, e uma verdadeira paz com Israel", disse Netanyahu, utilizando o apelido de Abbas, de acordo com um comunicado distribuído por sua assessoria de imprensa. "Nós esperamos que ele repudie essa aliança com o Hamas e retorne ao caminho da paz verdadeira".
Trad.: Cláudia Gonçalves
Nenhum comentário:
Postar um comentário