Rodrigo Constantino -VEJA
Muitos brasileiros ficaram empolgados com
a possibilidade de o país virar vitrine mundial com a Copa e as
Olimpíadas. Os gringos ficariam encantados com nossas maravilhas, e o
Brasil está na moda. Esqueceram só de um detalhe: não é possível viver
apenas de aparências. Inevitavelmente a sujeira toda que estamos
acostumados a encarar por aqui, como bons sapos escaldados, iria chocar
os estrangeiros mais civilizados.
É justamente o que está acontecendo, antes mesmo de os eventos começarem. No Bloomberg, há uma reportagem assinada por David Biller recomendando que os turistas que pretendem vir ao Brasil deixem seus pertences valiosos em casa.
Ele começa relatando o caso de um rapaz
que, sob a mira das facas de dois meninos, teve de entregar anel de
casamento, iPhone e carteira. O mais chocante, para ele, foi o fato de o
policial dizer que sabia onde um dos garotos morava, mas não ter feito
nada. Algo que todos nós estamos acostumados, pois os policiais perdem
duas horas com papelada e burocracia e em 15 minutos o ladrão menor de
idade já está solto.
Em seguida, o colunista mostra que vários
dados de criminalidade estão subindo na cidade maravilhosa. Os roubos
aumentaram 19% ano passado, para quase 38 mil casos. Trata-se do dobro
da quantidade em cidades como Nova York e México, ainda que o Rio tenha 2
milhões de residentes a menos. Na zona sul, mais turística, o
crescimento da criminalidade foi ainda pior: cerca de 50%.
A reportagem cita ainda o caso dos
“arrastões”, termo intraduzível para o inglês. O colunista bem que
tentou: “big drags”. É constrangedor para nós, brasileiros, tentar
explicar aos turistas o que significa um “arrastão”. Eis o tipo de
cultura nova que estamos oferecendo aos nossos convidados…
O colunista cita o consumo de crack como
potencial causa dos problemas, assim como a pobreza, os esgotos a céu
aberto nas favelas, a falta de esperança. Só não menciona a impunidade,
talvez o maior convite ao crime que exista. Independentemente de quais
as causas, o que fica é a péssima impressão das consequências:
“Era como ver algo com seus próprios
olhos que você já ouviu falar sobre e não acredita até que aconteça”,
Blumstein, um corretor de imóveis de Manhattan que já visitou 37 países,
disse por telefone. “Eu disse a todo mundo que me perguntou sobre o
Brasil desde então: Não traga nada muito precioso, porque há uma boa
chance de você não levá-la de volta para casa”. E dá para contestar em
nome do patriotismo?
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