Yves Michel Riols - Le Monde
A solidariedade ocidental diante do ataque russo à Ucrânia está começando a se dividir. Enquanto os Estados Unidos se preparavam para impor, na segunda-feira (28), novas sanções contra Moscou, muitos países europeus – entre eles a França – estão se questionando sobre a pertinência de mais medidas e sobre sua capacidade de interferir no curso dos acontecimentos no leste da Ucrânia, onde os separatistas russófonos continuam a alimentar as tensões ao manterem como reféns observadores da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) na cidade de Sloviansk.
Reticência dos europeus
Já os 28 embaixadores da União Europeia deverão se reunir na segunda-feira em Bruxelas, para estudar novas medidas de retaliação contra a Rússia. Mas, a esta altura, seriam somente sanções "individuais" e não "econômicas", segundo uma fonte bem informada. É um sinal que ilustra a reticência dos europeus em acompanhar os americanos nesse assunto.
Ademais, o fato de que essa reunião tenha ocorrido em nível técnico constitui um sinal político. Por ora, nem os ministros das Relações Exteriores da UE, e menos ainda os chefes de Estado e de governo consideram convocar uma cúpula sobre as sanções.
Ainda que os europeus e os americanos façam a mesma constatação sobre a degradação da situação na Ucrânia, eles têm divergido cada vez mais quanto à resposta a ser dada diante das intenções russas nesse país. Os Estados Unidos têm feito diversos gestos de apoio à Ucrânia e seus aliados da Otan: visita do vice-presidente Joe Biden a Kiev, envio de tropas à Polônia e países bálticos. "Há uma pressão cada vez maior dos americanos para que adotemos mais sanções", constata um diplomata europeu.
"Resposta progressiva"
Até então, Washington e Bruxelas haviam conseguido manter as aparências de uma frente comum diante do Kremlin. Após a invasão e a anexação da península ucraniana da Crimeia pela Rússia, os europeus e os americanos anunciaram simultaneamente uma primeira série de sanções específicas sobre o congelamento de bens e as restrições de vistos para oficiais russos e ucranianos.
O objetivo era dar uma "resposta progressiva" para incentivar os russos a diminuírem a intensidade das ações, antes de ameaçar a adoção de sanções econômicas mais penalizantes, sobre as quais os europeus estão muito divididos. "Seis países da UE são 100% dependentes do gás russo e outros doze, 50%", lembra o Ministério das Relações Exteriores.
O acordo de Genebra, fechado no dia 17 de abril entre a Rússia e a Ucrânia, os Estados Unidos e a UE, parecia esboçar o início de uma trégua, adiando assim a perspectiva de sanções econômicas. Mas esse texto, que previa um desarmamento das milícias e a evacuação dos prédios ilegalmente ocupados, foi praticamente natimorto, e por isso o debate sobre as sanções veio à tona novamente.
Arte/UOL
Na Europa, a "sancionite aguda dos Estados Unidos", para usar a expressão de um diplomata, tem suscitado uma crescente irritação. Primeiro porque os americanos, que fazem pouco comércio com a Rússia e dependem ainda menos de sua energia, serão pouco afetados por medidas de retaliação econômica contra Moscou. Segundo, "não existe nenhuma garantia de que mais sanções terão um impacto direto sobre o comportamento das milícias pró-russas no leste da Ucrânia", diz Paris. "Para Washington, é mais fácil dar uma resposta porque a Rússia está longe", resume o ministro das Relações Exteriores de um grande país europeu.
"Linha vermelha"
Mas é uma posição que está longe de ser a mesma dos ex-países comunistas da UE, liderados pela Polônia, que brigam por uma atitude mais ofensiva contra a Rússia. Diante dessas divergências, a Europa está tentando ganhar tempo. Os Estados-membros e a Comissão Europeia estão se debruçando há várias semanas sobre o conteúdo de eventuais sanções econômicas. Mas Paris diz que elas só serão impostas se a Rússia ultrapassar uma "linha vermelha": a invasão militar do leste da Ucrânia.
Um diplomata considera que, enquanto isso, a estratégia da Rússia é clara: alimentar o caos para enfraquecer ao máximo o governo de Kiev para estar em posição de arrancar, quando chegar o momento, o máximo possível de concessões sobre a futura configuração da Ucrânia.
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