O Globo
Ainda que os números de março tenham registrado uma ligeira melhora, considerando-se os valores acumulados em doze meses, a economia brasileira está longe de ter uma situação confortável nas contas externas.
O quadro é especialmente preocupante em relação à trajetória das exportações. A partir de 1999, com a adoção do regime de câmbio flexível, as vendas do país para o exterior deram um salto magnífico, partindo de um patamar de US$ 65 bilhões até ultrapassar a casa de US$ 250 bilhões.
Para tal crescimento contribuíram não só o ajuste do real, mas também uma expressiva valorização nas cotações internacionais das commodities agrícolas e minerais. A forte demanda chinesa impulsionou esses preços, ao mesmo tempo em que a oferta de produtos industrializados da própria China fez com que esses bens barateassem no mercado mundial.
Entraves regulatórios e preconceito ideológico contra investimentos privados retardaram a concessão de rodovias, aeroportos e terminais portuários que hoje já poderiam estar agregando mais eficiência logística à economia como um todo. Ganhos reais de salários que, em tese, seriam bem-vindos, não foram acompanhados de um avanço equivalente na produtividade do trabalho.
A economia também carrega outras ineficiências decorrentes de um peso excessivo do Estado, expresso numa elevada carga tributária de 36% do PIB, mas não só, que poderia ser corrigido por reformas estruturais, sempre proteladas.
Mas de nada adianta chorar sobre o leite derramado. Investimentos maturando ou que estão em andamento tendem a reduzir a deficiência crônica de infraestrutura de transportes do país. Espera-se também que programas, como o Inovar, consigam contribuir efetivamente para que muitas indústrias superem atrasos tecnológicos, e que o ensino técnico venha colaborar, finalmente, para que jovens profissionais cheguem ao mercado mais bem preparados.
O câmbio apreciado é, sem dúvida, um fator relevante nessa perda de competitividade. Mas o real foi uma das moedas que mais se desvalorizaram no ano passado e nem por isso as exportações reagiram ou as importações encontraram concorrentes à altura na produção nacional.
O câmbio não pode ser visto mais como uma “alavanca”, porque a economia, para funcionar, também precisa de bens e serviços importados que, ao encarecerem internamente, acabam prejudicando as próprias exportações.
A busca de competitividade se tornou o grande desafio da economia brasileira, seja no plano macro ou no micro, e é por aí que as contas externas voltarão a se equilibrar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário