Necessárias, mas insuficientes
O Estado de S.Paulo
Se comparado com o número de medidas que estavam
previstas em 2011, no início do governo Dilma, parece pouco o que ainda
resta para ser feito no campo das reformas microeconômicas até o fim do
ano, quando se encerra o mandato da presidente da República. De fato,
como mostrou reportagem do Estado, de 49 ações
previstas, 13 ainda estão pendentes. Não é muito e, com alguma
eficiência, o governo pode implementar boa parte delas até dezembro.
Ainda que isso seja feito, no entanto, o País continuará carecendo de
muitas outras reformas microeconômicas, pois, embora tenha havido
avanços, até agora não foram adotadas providências há anos apontadas
como essenciais por empresários e economistas, inclusive do governo.
De maneira até surpreendente, no primeiro mandato de Lula
(2003-2007), o governo publicou um estudo da Secretaria de Política
Econômica do Ministério da Fazenda com o título Reformas Microeconômicas
e Crescimento de Longo Prazo, no qual se mostrava a importância dessas
mudanças para assegurar a expansão da economia. As reformas foram,
então, agrupadas de acordo com grandes temas, como o mercado de crédito e
o sistema financeiro, a melhoria do sistema tributário, medidas para a
inclusão social, a redução do custo de resolução dos conflitos e o
ambiente para a realização de negócios.
Para cada um desses temas foram relacionadas as medidas necessárias
para aumentar a eficiência da economia brasileira, dar-lhe maior
competitividade e assegurar o crescimento sustentado de longo prazo.
Desde então, diversas medidas foram adotadas. Relatório da Secretaria
de Política Econômica sobre as mudanças microeconômicas promovidas
desde 2011 cita, entre outras, a criação do Simples Nacional, do Portal
Brasileiro do Comércio Exterior e do portal para a simplificação da
abertura de empresa. Na área de mercados de capitais e de crédito, o
relatório aponta a mudança da regra de remuneração da poupança, a
implementação das regras de Basileia III (para assegurar maior
estabilidade do sistema financeiro) e a portabilidade da dívida
imobiliária.
Com relação às medidas destinadas a assegurar investimentos de longo
prazo, porém, a lista é, no mínimo, discutível. Ali estão relacionados,
por exemplo, o marco regulatório dos portos, o marco regulatório das
ferrovias, a redução do custo de energia elétrica e o Regime
Diferenciado de Contratações.
Se providências como essas tivessem alcançado os resultados
prometidos pelo governo - aumento dos investimentos e da competição nos
portos públicos, maciços investimentos privados na ampliação da malha
ferroviária, redução dos custos das empresas e das despesas familiares
com a energia elétrica e a dinamização do processo de contratação de
obras e serviços sem implicar ônus adicionais aos contribuintes -, a
lista seria pertinente.
Em cada um desses itens, a quantidade de problemas é seguramente
maior do que a de eventuais benefícios para o País. No caso dos portos,
era indispensável modernizar o marco regulatório para atrair os capitais
privados e, desse modo, destravar um dos maiores gargalos de
infraestrutura do País. Mas, de concreto, nada foi feito, quase um ano e
meio depois de anunciado o novo modelo, situação que se repete com as
ferrovias. A redução da tarifa de energia elétrica imposta pelo governo
às empresas do setor era financeiramente insustentável e exigirá a
mobilização de recursos orçamentários de valor não conhecido com
precisão - o que deixar de pagar como consumidor o brasileiro pagará
como contribuinte.
Mesmo que não tivesse essas lacunas, o programa de reformas
microeconômicas do governo Dilma tem uma insuficiência de origem que lhe
limita a eficácia: ele não contempla questões vitais para o aumento da
competitividade e da eficiência econômica, como a redução do espaço para
a corrupção, o fortalecimento das agências reguladoras, a melhoria da
qualidade dos gastos públicos, a eliminação da proteção a determinados
setores e a oferta adequada de infraestrutura. São medidas que dependem
exclusivamente do governo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário