Uma nova tática anti-Putin
Para isolar mesmo a Rússia, é preciso mais agressividade comercial, política e militar
John Mccain, John Barrasso, John Hoeven e Ron Johnson - The Washington Post/O Estado de S.Paulo
Visitamos recentemente Noruega, Estônia, Letônia,
Lituânia e Moldávia. Em cada um desses países, os aliados dos EUA
afirmaram que aguardam uma resposta imediata mais vigorosa à anexação da
Crimeia pela Rússia e a subversão registrada na Ucrânia. Como nós, eles
também acham que os recentes atos de agressão do presidente da Rússia
exigem uma resposta estratégica firme da parte de EUA, Europa e
Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Deve estar óbvio para
todos que a Rússia de Putin tomou um rumo sombrio. Impossível reatar as
relações. Não podemos voltar à normalidade.
Os países ocidentais colocavam grandes esperanças nas relações dos
EUA com a Rússia após a Guerra Fria e agiram nesse sentido. Washington
forneceu bilhões de dólares para ajudar a transição da Rússia do
comunismo para o capitalismo. Foram criados novos mecanismos de consulta
e o intercâmbio comercial foi expandido. A Otan comprometeu-se a não
instalar bases e mobilizar recursos militares em território dos novos
membros da aliança, mesmo se expandindo. Em resumo, o Ocidente pretendia
inserir a Rússia no âmbito de uma Europa plena, livre e em paz - um
sonho no qual ainda acreditamos.
Infelizmente, a esperança de um relacionamento construtivo com a
Rússia sob o governo de Putin se esvaneceu. Um rival amigo tornou-se, no
melhor dos casos, um adversário arisco. Putin não desistirá da sua
empreitada para dominar os vizinhos da Rússia (uma das principais razões
é conquistar apoio, em seu país, para seu governo autocrático e
corrupto). Ele pode cooperar com diplomatas ocidentais ansiosos para
evitar um conflito, como ocorreu recentemente em Genebra, mas trata-se
apenas de uma maneira de consolidar seus ganhos, dividir os EUA e a
Europa, ganhar tempo e preparar-se para continuar sua ofensiva. A
fraqueza ocidental encoraja Putin. A única coisa que ele respeita e pode
mudar seu raciocínio é uma força ainda maior.
Diante disso, precisamos adotar medidas de natureza política. No
curto prazo, os EUA devem ampliar as sanções para incluir grandes bancos
russos, empresas energéticas e outros setores da economia russa - como o
de armamentos, que servem como instrumentos da política externa de
Putin. Devem também expor a clamorosa corrupção das autoridades russas e
afastar essas pessoas, seus parceiros comerciais e parentes de contatos
comerciais e viagens ao Ocidente. Alguns dos aliados europeus dos EUA
desejariam evitar sanções muito duras, mas medidas débeis não irão deter
Putin. Basicamente, as ações de Putin na Ucrânia exigem uma resposta
estratégica. Isso não significa uma nova Guerra Fria. Mas é preciso
reconhecer o desafio geopolítico que Putin representa para o mundo após a
Guerra Fria na Europa e estabelecer uma relação mais competitiva com a
Rússia.
A Otan precisa se encarregar de novo de suas missões consideradas
essenciais, de dissuasão e defesa coletiva. O que vai exigir um
reequilíbrio da posição de força e presença da aliança. A capacidade
militar da Otan deve ser aumentada e distribuída de modo mais uniforme
por toda a área de atuação da aliança atlântica, incluindo uma presença
mais persistente e robusta na Europa Central e nos países do Báltico.
Para a Otan atuar mais em favor dos seus membros, esses têm de trabalhar
mais por si mesmos e pela da aliança. Os EUA devem revogar os cortes
prejudiciais do seu orçamento da defesa. E os aliados da Otan precisam
cumprir a promessa de despender pelo menos 2% do seu PIB na área da
defesa o mais breve possível.
É necessária também uma estratégia transatlântica na área energética.
A Europa depende do gás e do petróleo russos, enquanto as provisões dos
EUA aumentam mais rapidamente do que a sua capacidade de
comercializá-las (na verdade um volume de gás equivalente a US$ 1,5
milhão precisa ser queimado diariamente porque os EUA não têm os
recursos necessários para transportá-lo ou refiná-lo).
Levará anos para equilibrar a demanda europeia com a oferta
americana, mas é preciso começar agora. Os países europeus precisam
investir em infraestrutura para receber gás natural liquefeito dos EUA,
como tem feito a Lituânia, e repassá-lo pela Europa. O governo Obama
precisa suspender as restrições aos pedidos de abertura de terminais de
gás natural liquefeito e adotar medidas para o seu processamento mais
acelerado, para que o setor privado possa ter mais capacidade de
transporte e armazenamento. Tais medidas enfraquecerão Putin.
Outra questão várias vezes levantada durante nossa viagem é que Putin
está vencendo a guerra de ideias entre as populações de língua russa na
ex-União Soviética. A propaganda de Putin tem base em mentiras, mas é
eficaz e difícil de ser refutada. O Ocidente, está expondo a verdade, em
russo, para as populações de língua russa da Europa. Isso precisa mudar
e a velha diplomacia pública não é necessariamente a resposta. O setor
privado pode assumir um papel importante nesse caso.
Enfim, o Ocidente deve fornecer apoio diplomático, econômico e
militar para Ucrânia, Moldávia, Geórgia e outros países europeus que
aspiram fazer parte da comunidade transatlântica. É preciso mostrar a
todos esses países que, desde que atendam exatamente aos critérios
necessários para a adesão, as portas da Otan e da União Europeia estão
abertas e as decisões fundamentais sobre sua política externa cabem a
eles e mais ninguém. Os EUA e a Europa não procuraram, nem mereceram,
esse desafio da Rússia de Putin. Mas precisam responder à altura.
*Os republicanos John Mccain, John Barrasso, John Hoeven e
Ron Johnson representam os estados do Arizona, Wyoming, Dakota do Norte e
Wisconsin, respectivamente, no Senado.
TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
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