Dois policiais são indiciados por estupro coletivo, na França
Laurent Borredon - Le Monde Dois policiais parisienses, sendo um major e um capitão, foram indiciados no sábado (26) por "estupro coletivo" e "alteração de cena de crime". Um terceiro, sargento, foi colocado sob o status de "testemunha assistida". Os três homens, que são membros de uma unidade de elite da polícia judiciária, a Brigada de Investigação e Intervenção (BRI, sigla em francês), estão sendo acusados de agredir uma turista canadense de 34 anos na noite de terça-feira (22), na sede da BRI. A jovem registrou queixa imediatamente.
Os dois indiciados obtiveram liberdade restrita. A procuradoria, que havia solicitado o indiciamento e a detenção provisória dos três policiais, foi parcialmente atendida. Desde quarta-feira (23), os investigadores da Inspetoria Geral da Polícia Nacional, a corregedoria francesa, fizeram várias audiências e interrogatórios. Eles também revistaram a sede da BRI e a casa dos suspeitos, que passaram 48 horas sob custódia.
As versões são profundamente divergentes
Os três homens e a jovem se conheceram na noite de terça-feira no Galway, um pub irlandês situado do outro lado da cidade. Todos reconhecem que estavam embriagados, e uma visita noturna improvisada à sede da polícia foi organizada. Segundo os acusados, a jovem teria afirmado que ela mesma seria policial no Canadá, ou pelo menos filha de policial.
As versões sobre o que aconteceu em seguida são profundamente divergentes. Segundo a querelante, três ou quatro policiais teriam a estuprado em um escritório. Durante os interrogatórios, os policiais primeiro negaram a ocorrência de qualquer relação sexual, mas um deles acabou admitindo que houve um ato consensual. Isso foi provado por exame médico, que também detectou um ligeiro ferimento. Em compensação, os resultados das amostras de DNA, que podem permitir estabelecer a ocorrência de relações múltiplas, ainda não chegaram aos investigadores.
Segundo fontes concordantes, a perícia psiquiátrica concluiu que a jovem possui uma personalidade "borderline" (transtorno emocional que provoca dificuldade em controlar impulsos e emoções), mas a considerou "crível" e "não mentirosa".
Suspensos
Os três policiais foram suspensos no domingo, "levando em conta a gravidade das acusações e das infrações caracterizadas às regras profissionais e éticas da polícia nacional", segundo o comunicado do ministro do Interior, Bernard Cazaneuve. Esses oficiais na faixa dos quarenta anos até então eram bem avaliados e estimados por seus superiores. Um deles tem doze anos dentro da brigada, e outro cinco.
"Meu cliente agora está em casa, tentando explicar a seus filhos o conceito da presunção de inocência", explica Sébastien Schapira, advogado do policial que reconheceu ter mantido relações com a jovem. "Ele está ciente de que não deveria ter agido dessa forma, mas diz que não é um estuprador". "Talvez aquela noite não tivesse sido super elegante do ponto de vista ético, mas não foi criminosa. Meu cliente não é mentiroso", afirma Gustave Charvet, defensor da testemunha assistida.
Na polícia judiciária parisiense, que acaba de comemorar seus 100 anos, o caso "chocou", conta um oficial de alto escalão, dizendo ainda que isso poderia ajudar a nova direção a "acabar com práticas antigas" reveladas por essa noite de embriaguez. O novo diretor, Bernard Petit, foi nomeado pelo primeiro-ministro da França, Manuel Valls, em dezembro de 2013, justamente para abrir essa instituição que é prestigiosa, mas muitas vezes considerada hermética. "Esses rapazes não têm mais lugar em nossa unidade, não têm mais lugar na polícia judicial", declarou Petit, na manhã de segunda-feira, à rádio Europe 1.
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