Crise na Ucrânia é a 'pior desde a Guerra Fria', diz ministro alemão
Nikolaus Blome - Der Spiegel
9.fev.2014 - Rainer Jensen/EFE
O ministro das Relações Exteriores da Alemanha,
Frank-Walter Steinmeier
O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, falou à "Spiegel" sobre a escalada militar com a Rússia, que ele descreve como sendo a "pior crise desde o fim da Guerra Fria". Também falou sobre as metas de longo prazo de Vladimir Putin e de como a Otan está se adaptando a uma nova realidade difícil.
Der Spiegel: Ministro Steinmeier, o senhor entende o motivo para as pessoas estarem como medo que estoure uma guerra com a Rússia?
Steinmeier: Nós todos sentimos que os eventos dos últimos meses podem levar a uma ruptura, a uma encruzilhada para a Europa. Eu entendo por que isso pode assustar as pessoas, ninguém poderia prever quão rapidamente nós mergulharíamos na pior crise desde o fim da Guerra Fria. Aqueles que se recordam da queda do Muro de Berlim sabem o que realizamos nos últimos 25 anos. Os ganhos que obtivemos em quase toda parte na Europa, em termos de paz, liberdade e prosperidade, agora estão em risco. É por isso que é importante darmos todos os passos para impedir que as coisas piorem.
Der Spiegel: Por muito tempo, uma escalada militar entre o Ocidente e o Leste Europeu era considerada fora de questão. Essa certeza ainda é válida?
Steinmeier: Eu nem quero pensar em uma escalada militar entre o Ocidente e o Oriente. Mas uma coisa é clara: se as decisões erradas forem tomadas agora, elas poderão anular décadas de trabalho promovendo a liberdade e a segurança na Europa. Nenhuma pessoa sã pode seriamente querer isso. Porque nós pagaríamos o preço por isso na Europa --todos nós, sem exceção.
Der Spiegel: A liderança russa está brincando com fogo? Steinmeier: Ela está, de qualquer modo, jogando um jogo perigoso com consequências potencialmente dramáticas, para a Rússia em particular. Os mercados financeiros já estão chegando ao seu veredicto: as ações e títulos de Moscou caíram acentuadamente. O panorama de crescimento desapareceu. Muitos russos estão celebrando abertamente sua liderança, ao mesmo tempo em que estão retirando quantidades ainda desconhecidas de capital da Rússia. E isso nem mesmo leva em conta os investimentos que a Rússia urgentemente precisa do exterior, para sua modernização. Essa exuberância nacionalista poderia levar a uma rápida ressaca.
Der Spiegel: Por que a situação no leste da Ucrânia é tão opaca e caótica?
Steinmeier: Em 1991, a Ucrânia herdou um legado difícil com sua independência. Ela está na fronteira entre o Ocidente e o Oriente, com regiões que possuem histórias completamente diferentes, com um grande número de conflitos étnicos, religiosos, sociais e econômicos não resolvidos. Não me surpreende que, quando aumenta a pressão na panela, ela entra em erupção. Agora, há pessoas ali durante esta crise que não estão revelando suas verdadeiras intenções ou atos para nós, e outras que estão jogando com dados viciados.
Der Spiegel: O senhor tem uma noção do que Vladimir Putin está planejando a curto e longo prazo?
Steinmeier: Ninguém sabe ao certo se o Kremlin tem um plano mestre ou se a liderança russa está tomando decisões à medida que avança. Mas parece claro que, quando o presidente Viktor Yanukovych fugiu em pânico de Kiev em 21 de fevereiro, isso provocou uma dinâmica com consequências que agora precisamos lidar. O fato desse curso de ação --ao menos a curto prazo-- ter contado com ampla aprovação popular complica as coisas.
Der Spiegel: Seria aconselhável que o governo alemão e a Otan revisassem seu planejamento estratégico de defesa e as prioridades de armamentos?
Steinmeier: Não há solução militar para o conflito na Ucrânia. Mesmo que às vezes possa ser frustrante, eu estou firmemente convencido de que apenas um trabalho diplomático tenaz pode nos aproximar de uma solução. Esse é o motivo para eu estar argumentando, com todas as minhas forças, que a OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) tenha a chance de cumprir sua missão como parte do Acordo de Genebra. É claro, isso não nos impede, como membros da Otan, de incorporarmos os mais recentes desdobramentos ao nosso planejamento comunal. Isso é claro. Essa já era a tarefa dos ministros das Relações Exteriores no mais recente Conselho da Otan. E agora isso será implantado.
Der Spiegel: Quem o senhor acha que é mais provável que saia deste conflito geopoliticamente fortalecido, a Europa ou os Estados Unidos?
Steinmeier: Eu não tenho bola de cristal, infelizmente. Mas eu alerto contra procurar por vencedores e perdedores no meio de uma crise, com base nos conceitos do século 19 e início do século 20. Esferas de influência, regiões geopolíticas, hegemonia, aspirações de domínio, coisas que não fazem parte de nossa política externa, apesar de ser prudente levarmos em consideração que outras pessoas pensam deste modo. Quem pensa nos dias de hoje que guerra permite vitórias duradouras deveria olhar os livros de história europeus e aprender suas lições.
Tradutor: George El Khouri Andolfato Frank-Walter Steinmeier
O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, falou à "Spiegel" sobre a escalada militar com a Rússia, que ele descreve como sendo a "pior crise desde o fim da Guerra Fria". Também falou sobre as metas de longo prazo de Vladimir Putin e de como a Otan está se adaptando a uma nova realidade difícil.
Der Spiegel: Ministro Steinmeier, o senhor entende o motivo para as pessoas estarem como medo que estoure uma guerra com a Rússia?
Steinmeier: Nós todos sentimos que os eventos dos últimos meses podem levar a uma ruptura, a uma encruzilhada para a Europa. Eu entendo por que isso pode assustar as pessoas, ninguém poderia prever quão rapidamente nós mergulharíamos na pior crise desde o fim da Guerra Fria. Aqueles que se recordam da queda do Muro de Berlim sabem o que realizamos nos últimos 25 anos. Os ganhos que obtivemos em quase toda parte na Europa, em termos de paz, liberdade e prosperidade, agora estão em risco. É por isso que é importante darmos todos os passos para impedir que as coisas piorem.
Der Spiegel: Por muito tempo, uma escalada militar entre o Ocidente e o Leste Europeu era considerada fora de questão. Essa certeza ainda é válida?
Steinmeier: Eu nem quero pensar em uma escalada militar entre o Ocidente e o Oriente. Mas uma coisa é clara: se as decisões erradas forem tomadas agora, elas poderão anular décadas de trabalho promovendo a liberdade e a segurança na Europa. Nenhuma pessoa sã pode seriamente querer isso. Porque nós pagaríamos o preço por isso na Europa --todos nós, sem exceção.
Der Spiegel: A liderança russa está brincando com fogo? Steinmeier: Ela está, de qualquer modo, jogando um jogo perigoso com consequências potencialmente dramáticas, para a Rússia em particular. Os mercados financeiros já estão chegando ao seu veredicto: as ações e títulos de Moscou caíram acentuadamente. O panorama de crescimento desapareceu. Muitos russos estão celebrando abertamente sua liderança, ao mesmo tempo em que estão retirando quantidades ainda desconhecidas de capital da Rússia. E isso nem mesmo leva em conta os investimentos que a Rússia urgentemente precisa do exterior, para sua modernização. Essa exuberância nacionalista poderia levar a uma rápida ressaca.
Der Spiegel: Por que a situação no leste da Ucrânia é tão opaca e caótica?
Steinmeier: Em 1991, a Ucrânia herdou um legado difícil com sua independência. Ela está na fronteira entre o Ocidente e o Oriente, com regiões que possuem histórias completamente diferentes, com um grande número de conflitos étnicos, religiosos, sociais e econômicos não resolvidos. Não me surpreende que, quando aumenta a pressão na panela, ela entra em erupção. Agora, há pessoas ali durante esta crise que não estão revelando suas verdadeiras intenções ou atos para nós, e outras que estão jogando com dados viciados.
Der Spiegel: O senhor tem uma noção do que Vladimir Putin está planejando a curto e longo prazo?
Steinmeier: Ninguém sabe ao certo se o Kremlin tem um plano mestre ou se a liderança russa está tomando decisões à medida que avança. Mas parece claro que, quando o presidente Viktor Yanukovych fugiu em pânico de Kiev em 21 de fevereiro, isso provocou uma dinâmica com consequências que agora precisamos lidar. O fato desse curso de ação --ao menos a curto prazo-- ter contado com ampla aprovação popular complica as coisas.
Der Spiegel: Seria aconselhável que o governo alemão e a Otan revisassem seu planejamento estratégico de defesa e as prioridades de armamentos?
Steinmeier: Não há solução militar para o conflito na Ucrânia. Mesmo que às vezes possa ser frustrante, eu estou firmemente convencido de que apenas um trabalho diplomático tenaz pode nos aproximar de uma solução. Esse é o motivo para eu estar argumentando, com todas as minhas forças, que a OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) tenha a chance de cumprir sua missão como parte do Acordo de Genebra. É claro, isso não nos impede, como membros da Otan, de incorporarmos os mais recentes desdobramentos ao nosso planejamento comunal. Isso é claro. Essa já era a tarefa dos ministros das Relações Exteriores no mais recente Conselho da Otan. E agora isso será implantado.
Der Spiegel: Quem o senhor acha que é mais provável que saia deste conflito geopoliticamente fortalecido, a Europa ou os Estados Unidos?
Steinmeier: Eu não tenho bola de cristal, infelizmente. Mas eu alerto contra procurar por vencedores e perdedores no meio de uma crise, com base nos conceitos do século 19 e início do século 20. Esferas de influência, regiões geopolíticas, hegemonia, aspirações de domínio, coisas que não fazem parte de nossa política externa, apesar de ser prudente levarmos em consideração que outras pessoas pensam deste modo. Quem pensa nos dias de hoje que guerra permite vitórias duradouras deveria olhar os livros de história europeus e aprender suas lições.
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