A perigosa infiltração política em fundos de pensão
O Globo
Costuma-se saber
que essas fundações deram algum mau passo apenas quando o rombo é
irreversível, e precisa ser coberto. Quase sempre, pelo contribuinte
Como
em economias mais desenvolvidas, no Brasil os fundos de pensão ganham
expressão como grandes investidores, por serem importantes captadores de
poupança. A peculiaridade brasileira está no fato de que as maiores
entidades deste mercado são ligadas a empresas estatais, por
administrarem o pecúlio de seus funcionários. Têm, por isso, uma relação
incestuosa com o Estado, nem sempre muito transparente. Entidades de
interesse privado, estas fundações de estatais vivem em dois mundos: no
privado, quando vai tudo bem; e no público, quando necessitam de aporte
das mantenedoras (Petros/Petrobras, Previ/Banco do Brasil, Funcef/Caixa
Econômica, etc).
Há cerca de 40 anos, o economista Roberto
Campos, embaixador, ministro do Planejamento de Castello Branco, volta e
meia mostrava em artigos no GLOBO como o Banco do Brasil transferia
mais dinheiro para a fundação Previ do que, em dividendos, ao Tesouro
Nacional. O corporativismo, como é praxe no Brasil, falava mais alto.
Com
o PT no poder, e a CUT, seu braço sindical, já presente em vários
desses fundos, Petros, Previ e outras fundações ampliaram a presença no
mundo dos grandes negócios em operações em que era possível detectar a
presença de interesses políticos. A questão é intrincada porque, pelo
seu tamanho, estes fundos são importantes alavancadores de
investimentos. Tanto que no governo FH tiveram papel-chave no programa
de privatização. E continuam a fazer o mesmo, agora em projetos de
concessão no setor de infraestrutura, no governo Dilma. O problema é
quando influências políticas patrocinam maus negócios. Pasadena é apenas
um deles. E os realizados por fundos de estatais, no sigilo dos
gabinetes? A função do ex-petista André Vargas de "facilitador" de
negócios para o doleiro Youseff é um alerta. Sua ação foi detectada pela
PF no Ministério da Saúde, dada a facilidade de trânsito de um deputado
petista junto a um ministro também petista, Alexandre Padilha. E também
junto à Funcef (Caixa). O fundo garante que a proposta de negócio feita
por Youseff não foi aceita. Ainda bem. Mas, quanto a outras propostas
feitas neste e outros balcões semelhantes?
Um aspecto sério de
tudo isso é que se costuma saber que esses fundos deram algum mau passo
apenas quando o rombo é irreversível, e precisa ser coberto. Neste
momento, costumam bater às portas do Tesouro. Sempre em nome do "social"
— e das íntimas relações com o governo.
No momento, revelou o
GLOBO no domingo, ocorre um conflito na cúpula da Petros, fundo da
Petrobras, estatal em que o aparelhamento político foi extenso. Um rombo
na fundação pode atingir meio bilhão de reais. Facções de sindicalistas
se digladiam em torno do problema.
Tudo indica que um dia esta
conta será transferida, via Petrobras, ao Erário. Para impedir esses
desfechos, em que o contribuinte é convocado a contribuir, roga-se por
uma vigilância efetiva dessas entidades. E seu distanciamento dos
poderosos de ocasião.
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