Sanções econômicas dos EUA e da UE não atrapalham o roteiro de Putin
El País O drama da Ucrânia se degrada há dias. A sequência de confrontos e sua gravidade acentuam a deterioração e aproximam a possibilidade de um conflito armado em grande escala. Os últimos incidentes - a captura por separatistas pró-russos e posterior exibição de um grupo de observadores militares da OSCE (Organização para Segurança e Cooperação na Europa) e o atentado contra o prefeito da segunda cidade do país - confirmam um conflito diante do qual a diplomacia gira no vazio. As promessas feitas por Moscou em Genebra em 17 de abril para conter a crise são papel molhado: uma mera distração diante da determinação de Vladimir Putin a desestabilizar a Ucrânia.
As novas sanções econômicas contra indivíduos e empresas russas próximas do poder, anunciadas na segunda-feira (28), pelos EUA e a UE, não mudarão a situação. A pretensão de Obama de coordenar com a Europa a punição ao Kremlin está diluída pela falta de vontade política ocidental. O tímido gradualismo das sanções e sua falta de convicção, sobretudo por parte da Europa - onde a Alemanha exerce um decisivo papel de freio no qual confluem culpas históricas e a influência de seus lobbies políticos e industriais - faz delas uma ferramenta mais propagandística que real. O desafio determinado de Putin na Ucrânia supõe que as discrepâncias europeias e a aversão de Obama ao confronto atuem como solventes da reação internacional.
Os heroicos dias de Kiev que precederam a fuga do ex-presidente ucraniano Viktor Yanukovych - saudados pelos crédulos como a vitória da democracia e dos valores europeu sobre o buraco negro russo - favoreceram uma leitura equivocada do roteiro da Ucrânia. Mais de dois meses depois, um país dividido e arruinado, com um governo provisório impotente, um exército simbólico e 40 mil soldados russos prontos em sua fronteira, assiste à multiplicação de graves incidentes que pressagiam sua ruptura. O cenário antecipa as dificuldades titânicas que deverão ser superadas para fazer das eleições presidenciais de maio um exercício representativo.
Apesar da Bósnia, apesar da Geórgia, os europeus vinham acreditando que sua segurança e suas liberdades fossem imutáveis. A Ucrânia volta a demonstrar que não. Ainda se discutem no Pentágono e na Europa as intenções reais do presidente Putin. Mas tanto se a escalada em curso for uma exibição de força para depois aplacar a tensão e confirmar os ganhos, quanto se as manobras russas na fronteira anteciparem uma onda de intervenção militar, é Moscou quem ganha e escreve o trágico roteiro a reboque do qual atuam Europa e EUA.
Os acontecimentos na Ucrânia demonstram a necessidade de que o Ocidente rediscuta em um contexto amplo a atuação da Rússia. O obscuro poder que Putin representa não só pretende reparar antigos agravos dos quais se considera vítima. É o de um regime pessoal e autoritário, decidido a reinterpretar as regras do pós-Guerra Fria, e não só na Europa.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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