Aproveitar terrenos ociosos
O Estado de S.Paulo
Salas de estar ao ar livre, com vegetação, mobiliário
leve e máquinas de bebida e sanduíche poderão tomar conta de terrenos
ociosos na cidade de São Paulo e, assim, ajudar a melhorar a paisagem
urbana e oferecer mais conforto e lazer à população. A proposta está no
novo Plano Diretor que deverá ser votado nas próximas semanas.
Conhecidos há mais de quatro décadas em vários países como pocket parks,
esses oásis urbanos, instalados em áreas públicas ou privadas, de pouco
interesse imobiliário ou com restrição à construção, dão bom
aproveitamento a áreas que hoje, mesmo em bairros valorizados, servem de
depósito de entulho e de esconderijo de marginais.
Finalmente, a administração pública começa a atentar para a
subutilização ou ociosidade de terrenos que podem contribuir para a
melhoria do meio ambiente e para aumentar o bem-estar da população em
São Paulo. Nesse sentido, o novo Plano Diretor também deve determinar a
cobrança do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) progressivo para
lotes que não tiverem pelo menos 50% de área construída nas zonas
destinadas a moradias populares e nos eixos de mobilidade, como as
Marginais do Pinheiros e do Tietê e corredores de trem, ônibus e metrô. A
medida poderá evitar que se forme estoque especulativo de terrenos
maiores de 500 metros quadrados, uma vez que os proprietários serão
notificados e terão um ano para apresentar o projeto de ocupação da
área. Se mantiver o lote desocupado, pagará alíquota dobrada a cada ano.
Há outras iniciativas de aproveitamento dos vazios urbanos,
principalmente na periferia, que apresentam resultados significativos
para várias comunidades. As hortas comunitárias, por exemplo, são fonte
de sustento para muitas famílias em bairros como São Mateus, onde a ONG
Cidade Sem Fome cuida de mais de 20 áreas de plantio. Os agricultores,
selecionados entre a população local, são em geral pessoas entre 50 e 60
anos, dispostas a trabalhar, mas com dificuldades de encontrar emprego
no mercado formal.
Elas pedem autorização para uso do lote, apresentam o projeto,
assinam contrato de comodato e, então, preparam o terreno. Plantam,
colhem alimentos diversos para o próprio consumo e o excedente é
comercializado. O resultado das vendas é dividido entre quem trabalha na
horta. Muitos espaços são cedidos por particulares. Há hortas também em
terrenos da Prefeitura, de igrejas, da Companhia de Desenvolvimento
Habitacional e Urbano (CDHU) e de empresas públicas, por onde passam
redes de distribuição de energia ou oleodutos. A Subprefeitura de São
Mateus e a Sabesp também mantêm parceria no Projeto Horta Comunitária,
criado para oferecer alimentos de qualidade para a população e renda
para os agricultores.
Em cada região é preciso determinar qual a melhor destinação para os
terrenos vazios. Nos bairros mais valorizados, sobras de terreno, às
vezes espremidas entre grandes empreendimentos, poderão abrigar os
pocket parks, tornando São Paulo mais agradável.
Esse conceito surgiu na década de 60 em Nova York, onde um empresário
usou um terreno de 10 m x 30 m, antes ocupado por uma casa noturna,
para fazer um memorial em homenagem a seu pai. Paisagistas renomados
desenvolveram ali o parque de bolso, contrariando as regras americanas
que impediam a instalação de parques em terrenos com menos de 12 mil
metros quadrados. Eles foram projetados para assegurar tranquilidade e,
tanto quanto possível, isolar seus frequentadores da agitação da cidade.
Em São Paulo, um primeiro modelo foi instalado há anos na Rua Amauri,
no Itaim. Curitiba se prepara também para inaugurar seu primeiro pocket
park, batizado de Praça de Bolso do Ciclista. É o resultado da
reivindicação de um grupo de cicloativistas. A prefeitura local ofereceu
equipamentos e máquinas para obras de infraestrutura. A construção, em
mutirão, deve ser iniciada em maio.
Esses são exemplos de como empresas públicas e privadas e governo podem se unir para melhorar o ambiente urbano.
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