Charlotte Bozonnet e Salsabil Chellali - Le Monde
Robert Michael/AFP
Tunisianos protestam contra o terrorismo em Midoun, em Djerba, dois dias depois de homens armados atacarem o Museu Nacional Bardo em Túnis
Como manda a tradição, uma tenda branca foi montada ao lado da casa. É lá que a família deveria receber os amigos e parentes que vieram apresentar suas condolências. Mas neste sábado, 21 de março, as ruas estão quase desertas, a atmosfera, pesada. Algumas crianças jogam futebol no meio dos jornalistas e das câmeras voltadas para a bonita casa branca e ocre, de dois andares. A família Laabidi está trancada lá dentro, com as janelas fechadas.Para eles, a vida parou há três dias: seu filho Yassin, 27 anos, é um dos dois terroristas mortos, autores do ataque ao Museu do Bardo em Túnis e da morte de 21 pessoas na quarta-feira, 18.
No bairro, os amigos e vizinhos estão perplexos. "Era um menino gentil, amável e caloroso. A família está em choque", afirma seu primo Walid. Souheil, um amigo do irmão mais velho de Yassin, também está incrédulo: "Há alguns dias ele estava conosco diante do café, limpando sua motoneta".
As fotos de Yassin mostram um jovem de traços finos, de ar esportivo. Procuramos a menor lembrança que permitiria entender como "um menino gentil", um garoto do bairro, pode se transformar em terrorista.
"Ele brincava conosco"
As primeiras informações foram de que ele vinha de uma periferia popular de Túnis. Na verdade, o rapaz vivia em El Omrane superior, um bairro residencial no noroeste da capital tunisiana. O último de três irmãos, Yassin cresceu sem histórias em uma família de classe média - seu pai é aposentado da construção.Ele seguiu os estudos na universidade durante dois anos, antes de fazer pequenos serviços. No momento do ataque, era entregador. Yassin havia começado a rezar depois da revolução de 2011, mas "brincava conosco, fazendo piadas também sobre as meninas, e não bebia mais, mas não criticava os outros que bebiam", declara Souheil.
Nesse percurso sem obstáculos, uma única sombra: em dezembro de 2014, Yassin passa cerca de um mês fora de casa. "Disse à sua família que ia viajar pelo país com sua namorada, uma americana de origem iraquiana", conta Walid. Quando telefonava durante esse período, aparecia a menção "número desconhecido", como se ele estivesse no exterior. "Pensaram que estivesse ligando do celular de sua namorada", continua.
O secretário de Estado da Tunísia encarregado de assuntos de segurança, Rafik Chelly, revelaria no dia seguinte ao atentado que o jovem, conhecido pela polícia, teria na verdade partido para a Líbia para se treinar no uso de armas.
Se no bairro ninguém havia imaginado coisa parecida, as partidas de jovens tunisianos para fazer a jihad no Iraque, na Síria ou na Líbia - 4 mil, segundo o presidente da República - estão em todas as cabeças, principalmente dos pais que acabam de identificar o menor sinal de radicalização. Mohamed, cerca de 50 anos, morador do bairro, confessa que vigia seu jovem filho. "Isso acontece de maneira brutal, e nós desconfiamos. Ele bebe um pouco e não volta para casa tarde, então tudo bem", explica. "Minha mãe me obriga a beber na frente dela", brinca Souheil.
O fenômeno do recrutamento torna-se cada vez mais difícil de limitar. Dificuldades econômicas, fragilidade pessoal, falta de perspectivas ou de sentido, a guerra na Síria: os motivos são numerosos. Quanto ao método, a organização Estado Islâmico, que reivindicou o ataque ao Museu do Bardo, domina perfeitamente o uso das redes sociais. Nabil Ashori é o barbeiro de El Omrane aonde Yassin ia às vezes. Ele o encontrava de vez em quando na mesquita. Descreve um jovem reservado, que só falava com seus verdadeiros amigos.
Mouid Hani, o imame da mesquita Al-Falah, que Yassin às vezes frequentava, também reconhece a dificuldade de lutar contra esse recrutamento. "Eles se tornaram cada vez mais prudentes. Não falam, não se reúnem, vestem-se como os outros jovens", explica. O imame aponta erros cometidos nos últimos anos, principalmente o fechamento das associações islâmicas, "que permitiam dialogar com os jovens". "O segundo erro do Estado", avalia ele, "é que não formaram imames convincentes, capazes de reter esses jovens."
Ele é confrontado habitualmente com os discursos radicais. "Às vezes consigo convencê-los, outras não", admite, consciente de que também é um alvo potencial, como "todas as pessoas que são contra seu pensamento". Nesta sexta-feira, 20 de março, o imame pronunciou um sermão em resposta direta ao ataque do Bardo, insistindo na rejeição à violência, lembrando os "verdadeiros" valores do islamismo. "É um tema delicado. Pensei mil vezes no que ia dizer", admite.
"Prezamos nossa liberdade"
Além do ataque, os habitantes se interrogam sobre suas consequências. "Não temos medo por nós, mas pelo país, a economia, e quais serão as relações com a polícia agora? É claro que ela deve agir firmemente, mas até o limite dos direitos humanos. Prezamos nossa liberdade", afirma Zitouneh Béchir, diretor do colégio de El Omrane. "Ben Ali fez a guerra contra a religião, esses terroristas também são produtos dessa época."No Café Matinal, ponto de encontro dos jovens do bairro, onde cada um conhecia Yassin, de perto ou de longe, também temem a mistura. Sobretudo não querem acreditar em tudo. Entre um cigarro e uma olhada na partida de futebol na televisão, repetem que "Yassin não faria mal a uma mosca". Então vale tudo para encontrar uma explicação. Taieb, cerca de 20 anos, nos leva ao cibercafé vizinho: ele acredita ter alguma coisa com um vídeo que mostra duas mulheres de niqab saindo do museu.
"Não é possível que seja ele." Cada um aqui lembra que no dia do ataque seu irmão mais velho estava lá, diante da televisão, insultando os atacantes, antes que a terrível notícia chegasse à noite. Depois, surgiu uma pista: um amigo de Yassin, desaparecido desde o dia 18, agora é procurado. O aviso divulgado pela polícia visa Maher Ben Mouldi Kaïdi. Os vídeos de vigilância do museu parecem confirmar a participação de uma terceira pessoa no ataque.
Para fins da investigação, o pai, o irmão e a irmã de Yassin foram ouvidos pela polícia durante dois dias. "Foi respeitoso. Os policiais lhes disseram que já pagaram o suficiente", relata Walid. O jovem, como todos aqui, quer compreender: "Queremos saber que rede pode fazer uma tal lavagem cerebral".
Após vários dias de espera, a família conseguiu recuperar o corpo no domingo e enterrá-lo. Na véspera, seu primo Walid confessou, emocionado: "Vocês sabem, é terrível o que Yassin fez, nós o condenamos, mas é importante poder enterrá-lo. Apesar de tudo, é nosso sangue, nossa família".
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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