sexta-feira, 24 de abril de 2015

Genética é mais um fator que explica preferência de mosquitos por algumas pessoas
Javier Salas - El País
Reuters
Um estudo mostra como nossos genes definem a propensão a levar picadas
Muitas pessoas suspeitam que seu sangue tem um sabor muito especial para os mosquitos, porque amanhecem cobertas de picadas, enquanto seus companheiros de quarto nem são tocados. Para essas pessoas, a boa notícia é que os cientistas estão um passo mais perto de saber por que sofrem tantas picadas; a má é que seus filhos herdarão esse problema.
Segundo um estudo divulgado na quarta-feira (22), nossa genética seria o fator determinante na escolha do cardápio dos mosquitos. A importância desse assunto, em um mundo em que milhões de pessoas morrem de doenças transmitidas por esses insetos, vai muito além do martírio de incômodas noites de verão.
A chave para a descoberta foram quase 40 duplas de gêmeas, as quais foram expostas a picadas de mosquitos. Destas, 18 eram gêmeas idênticas - ou univitelinas, que têm 100% dos genes iguais - e 19 não idênticas, ou bivitelinas, para comprovar se sua genética determinava o comportamento dos mosquitos. Os insetos demonstraram preferência por uma das gêmeas bivitelinas, enquanto escolhiam com o mesmo interesse as gêmeas idênticas, o que indica que aí poderia estar a chave.
A conclusão é muito clara, segundo os cientistas das Universidades de Londres, da Flórida e de Nottingham que realizaram o estudo: "Nossos resultados demonstram um componente genético subjacente ao tipo de odor humano, uma diferença genética que é detectável pelos mosquitos por meio de nosso odor e que é utilizada durante a escolha da pessoa".
Estudos anteriores haviam mostrado que, essencialmente, o odor corporal é o elemento chave que atrai os mosquitos para as pessoas. Também se sabia que esse atrativo pode variar em função de outros fatores: por exemplo, beber cerveja parece atrair mais picadas. Esses insetos também se sentem atraídos pela temperatura corporal, o suor, a emissão de CO2, as roupas de cores escuras, as bactérias da pele e as mulheres grávidas, por exemplo, segundo demonstraram outros trabalhos científicos. Entretanto, se os mosquitos encontrassem duas pessoas tomando cerveja em um terraço, nas mesmas condições, continuariam mantendo preferência por uma das duas. Agora temos uma boa prova de que é um presente de seus pais, via genes, o que provoca que alguns tenham que se coçar mais.
Dos 400 tipos de substâncias que as pessoas emitem, 85% têm origem genética, mas identificar a combinação que atrai os mosquitos é uma tarefa muito complexa. "O passo seguinte é continuar trabalhando para determinar os genes envolvidos no controle do odor corporal que define o comportamento do mosquito", explica James Logan, líder desse estudo que foi publicado ontem em PLoS ONE. O sangue é um elemento essencial no ciclo vital da maioria das espécies de mosquitos, já que proporciona às fêmeas as proteínas necessárias para produzir ovos.
Os pesquisadores sugerem em seu trabalho que talvez a diferença não se deva tanto ao fato de algumas pessoas atraírem mais esses insetos por suas reações metabólicas, mas que, ao contrário, algumas estariam desenvolvendo em seus genes uma estratégia de defesa natural que as protege das picadas, que são um notório vetor de transmissão de doenças há milhões de anos.
Todas as gêmeas voluntárias escolhidas para o estudo haviam passado a menopausa, para evitar que fatores como o ciclo menstrual influísse nos mosquitos, e lhes pediram que não ingerissem cerveja, alho e cebola, para que não surgissem odores específicos que modificassem o comportamento dos insetos. Mesmo assim, a amostra é pequena para se considerar os resultados definitivos. A correlação entre as gêmeas idênticas é tão alta, entretanto, que implicaria que a atração exercida sobre os mosquitos é tão hereditária quanto a altura, um dos traços genéticos mais marcados.
"A informação desse estudo nos diz mais sobre como os mosquitos interagem conosco", afirma Logan, que é diretor do Centro de Testes para o Controle de Artrópode da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres. "Quando identificarmos os genes envolvidos, seremos capazes de examinar as pessoas para determinar seu nível de risco diante das picadas de mosquitos e poderíamos desenvolver uma substância que aumente a produção natural de repelentes no corpo, e portanto minimize a necessidade de usar repelentes sobre a pele", afirma. Os mosquitos contagiam todo ano milhões de pessoas com doenças como malária e dengue em todo o mundo, especialmente em países nos quais o acesso a tratamentos médicos é mais problemático.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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