Reinaldo de Azevedo - VEJA
Como
diria o velho marquês, vamos botar um pouco de ordem na orgia, não é
mesmo? Os deputados da CPI da Petrobras estão em Curitiba, onde ficam
até amanhã, para ouvir alguns dos depoentes. O doleiro Alberto Youssef
foi o primeiro a prestar depoimento fora de Brasília. Ele reafirmou a
convicção, o que fez desde o primeiro momento, de que o Palácio do
Planalto — leiam-se: Lula e Dilma — sempre soube do esquema, ora
batizado do “petrolão”. Pois é: vamos ser claros: “Como não saber?”. Só a
convicção do doleiro, no entanto, não vai ser o suficiente para que a
presidente da República e o ex arquem com o peso penal da lambança. É
preciso organizar a narrativa. E, até agora, tanto a Justiça Federal do
Paraná como a Procuradoria-Geral da República mais afastam o caso do
Planalto do que aproximam.
Desde a
primeira hora, pergunto neste blog: “Quem dava o murro na mesa? Quem
desempatava as pendengas quando as empreiteiras não se entendiam na
divisão do butim?”. Alguém realmente acredita que Paulo Roberto Costa, o
próprio Youssef, Renato Duque ou outra figura qualquer chefiassem o
esquema? Ora, tenham a santa paciência, não é? Eis aí mais uma razão
para descartar a tese de que a Petrobras, coitadinha!, era só vítima de
empreiteiros maus.
Youssef tem
prova de que Lula e Dilma soubessem? A prova material, a assinatura,
não. Mas o conjunto das circunstâncias, não é?, parece ser bastante
forte. O Código de Processo Penal é de 1941, e lá está, no Artigo 239,
devidamente prevista a chamada prova indiciária. Leio:
“Artigo 239 – Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.”
“Artigo 239 – Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.”
Assim, é
bobagem essa história de que só um documento assinado pode condenar
alguém. Até porque os bandidos profissionais, quando incrustados no
serviço público, procuram evitar os atos de ofício. Afinal, são
bandidos, não idiotas.
Os deputados
da CPI quiseram saber como Youssef havia formado a sua convicção. Ele
deu um exemplo muito eloquente. Num dado momento, entre 2011 e 2012, na
gestão Dilma, houve um racha no comando do PP, e era preciso saber com
quem, afinal de contas, se devia tratar da propina regularmente paga ao
partido. Youssef era, no mais das vezes, a fonte pagadora aos larápios
dessa legenda, em coordenação com Paulo Roberto Costa.
Segundo o
doleiro, foi preciso acionar o Palácio do Planalto, interlocução que
teria sido feita por Costa: “O doutor Paulo deixou claro que quem iria
indicar o interlocutor era o Planalto”, declarou Youssef. E quais os
nomes dos interlocutores nessa conversa? Ele foi claro: Ideli Salvatti e
Gilberto Carvalho, que eram, respectivamente, ministros das Relações
Institucionais e da Secretaria-Geral da Presidência. Pois é… Digamos
que tenha acontecido: alguém acredita que é o tipo de coisa que se tenha
dado sem o conhecimento de Dilma?
Youssef
forneceu outro elemento: em 2010, o esquema fez uma doação para o caixa
dois da campanha de Gleisi Hoffmann (PT-PR) ao Senado. O dinheiro teria
sido repassado a pedido de Paulo Bernardo, então ministro do
Planejamento de Lula e titular da Comunicação no primeiro mandato de
Dilma. Em junho de 2011, com a queda de Antonio Palocci, a presidente
leva Gleisi para ser nada menos do que a chefe da Casa Civil.
Olhem cá,
meus caros… Não será na pena deste escriba que vocês lerão a defesa da
condenação sem provas em matéria penal. É preciso investigar direito
para encontrá-las. Mas nem o melhor trabalho é garantia absoluta de que
se chega lá. Já a questão do impeachment, por crime de responsabilidade,
é, sim, matéria essencialmente política. E ISSO, DE MODO NENHUM, QUER
DIZER “ARBITRÁRIA”.
Alguém é
realmente estúpido o bastante para considerar que Paulo Roberto Costa e
Alberto Yousseff decidiam, por conta própria, com quem negociavam no PP —
e, eventualmente, no PT (já que esse partido tinha outro guichê: o de
Renato Duque) —, a quem davam e a quem não davam dinheiro, com que
campanha iriam contribuir ou não?
Uma das
falhas terríveis da apuração da Lava Jato, até agora, observem, é não
ter nem sequer tocado no Poder Executivo. Há um inquérito contra Antonio
Palocci, mas referente à sua função de captador de recursos para a
campanha de Dilma. Há outro para investigar Edson Lobão, mas também
circunscrito à sua paróquia eleitoral.
Eis um
aspecto que alguns, como posso dizer?, simplórios ainda não perceberam.
Há dois grandes grupos de investigados: num, estão empreiteiros e
operadores como Youssef; no outro, parlamentares. Em ambos, sob os
auspícios da Procuradoria-Geral da República, poupa-se o Poder
Executivo. A primeira turma fica sob os cuidados de Sergio Moro; a
outra, do STF. E o Poder Executivo vai se esgueirando na sombra, numa
investigação que produz muito calor, mas, até agora, pouca luz sobre o
essencial.
Ainda bem
que a população brasileira está concluindo o que a Procuradoria-Geral da
República não conseguiu concluir até agora nem concluirá: a safadeza é
política e serve principalmente ao partido que está no poder: o PT. É
evidente que, sem um comando central para pôr ordem na bagunça, o
petrolão não teria existido nem se sustentado por tanto tempo.
Na área
penal, é, sim, preciso perguntar e responder: “Há a prova de que Lula e
Dilma sabiam?”, sempre levando em conta que existem as provas
indiciárias para levar o juiz a decidir de forma segura. Na área
política, a pergunta é outra: “Havia como Lula e Dilma não saberem?”. A
resposta me parece óbvia.
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