sexta-feira, 1 de maio de 2015

Lula diz que denúncias contra ele são ‘insinuações’ e que elite é ‘masoquista’
Ex-presidente ataca a terceirização, defende Dilma e diz que classe alta tem ‘medo inexplicável’ de uma eventual recandidatura sua à Presidência
Ronaldo D’Ercole - O Globo

Ex-presidente criticou a imprensa e a elite brasileira
Foto: Marcos Alves / Agência O GloboEx-presidente criticou a imprensa e a elite brasileira - Marcos Alves / Agência O Globo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira que a elite do país tem um “medo inexplicável” de que ele volte à Presidência e a acusou de ser “masoquista”, uma vez que, segundo ele, nunca esse setor “ganhou tanto dinheiro” como em seu governo (2003-2010). Em discurso no ato do Primeiro de Maio da CUT, em São Paulo, o ex-presidente criticou as revistas semanais que têm publicado denúncias de seu suposto tráfico de influência para negociação de empresas brasileiras no Exterior. Lula também defendeu o governo de sua sucessora e afirmou que está pronto para a “briga” na defesa de Dilma Rousseff.
— Sou um homem que sei de onde vim, sei onde estou e para onde vou. O que assusta é que, mesmo sendo um cidadão quase aposentado, o que me assusta é o medo que a elite tem de que eu volte a ser presidente. É um medo inexplicável porque essa elite nunca ganhou tanto dinheiro como no meu governo, assim como os mais pobres também. Eles deviam agradecer pela minha passagem e da Dilma pelo governo, mas não. Eles são masoquistas. Gostam de sofrer. Todo dia eu vejo insinuações— disse o ex-presidente, em tom de indignação.
Lula considerou “insinuações” as denúncias feitas contra ele. Na edição desta sexta, a revista Época traz uma reportagem afirmando que o Ministério Público Federal abriu um procedimento de investigação para saber se houve tráfico de influência de Lula na relação entre a construtora Odebrecht e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para contratos obtidos pela empresa em outros países. Na semana passada, a Veja publicou que a construtora OAS teria feito uma reforma em uma chácara de sócios do filho de Lula, Fabio Luiz da Silva, o Lulinha, a pedido do ex-presidente. Lula elevou o tom e atacou as publicações.
— As revistas brasileiras são um lixo. Não valem nada. Peguem todos os jornalistas da Veja e da Época e enfiem um dentro do outro que não dá 10% da honestidade deste aqui (referindo-se a ele mesmo)— disse o ex-presidente, que completou:— Cada um que olhe para o seu rabo. Se alguém acha que alguém que chegou onde cheguei, que fez o que eu fiz, vai baixar o rabo e a crista por conta de insinuações está enganado. Tem que olhar para o próprio rabo.
O ex-presidente provocou a oposição e disse estar pronto para a disputa política em favor da presidente Dilma.
— Estou quietinho no meu canto. Não me chame para a briga porque eu vou brigar e sou bom de briga. Está feita a provocação. Tenho evitado muitas coisas porque sou ex-presidente e quero que a Dilma governe, mas vou começar a ajudar o país outra vez, a desafiar aqueles que não se conformam com o resultado da democracia. Tem de saber que, se tentar mexer com a Dilma, estarão mexendo com milhões de pessoas.
Aos trabalhadores reunidos pela CUT no Anhangabaú, Lula pediu “paciência” com Dilma, lembrando que a presidente está no início do segundo mandato.
— Porque ela tem quatro anos para governar e garanto que estaremos aqui, daqui a quatro anos, para comemorar. Podem fazer a crítica que quiserem, mas tem de saber que, se mexeu com ela, está mexendo com milhões de brasileiros.
Apontando dados negativos de uma pesquisa do Dieese sobre terceirização, Lula atacou o projeto de lei que modifica a atividade no país e fez uma crítica velada ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por ter trazido o tema para a pauta do Congresso. Cunha já havia sido duramente criticado pelos sindicalistas que discursaram antes de Lula no ato do Primeiro de Maio.
— O projeto de terceirização foi apresentado há onze anos por um deputado empresário (Sandro Mabel). Nunca se falava dele e, de repente, ele ganhou uma prioridade na cabeça de alguns deputados. E foi aprovado em tempo recorde—ironizou Lula.
O ex-presidente ainda se manifestou contrário à redução da maioridade penal de 18 para 16 anos e disse que nem os militares defenderam o projeto.
— Eu sei que esse é um tema muito grave. Sobretudo, na periferia brasileira, ele é muito caro pelos conservadores. O problema não é ser de esquerda ou de direita, porque os militares nunca ousaram defender (a redução) da maioridade penal. Agora, uma parte da elite conservadora brasileira acha que vai resolver o problema do país mandando para a cadeia moleque de 15, 16, 17 anos. É bom possível que muitos jovens cometam crimes. Agora, é importante que a gente diga qual é o crime que o Estado brasileiro cometeu ao longo de 500 anos não dando a esses jovens a oportunidade de não estar no crime? Há quantos anos esse Estado não deu direito a esses jovens estudarem.
Lula ainda criticou a elite brasileira e o atraso na construção da primeira universidade no Brasil, na comparação com outros países da América Latina:
— Vou dar um dado para vocês que é uma vergonha para a elite brasileira, para aqueles que se acham mais inteligentes que nós. A República Dominicana foi descoberta em 1492, Colombo chegou em Santo Domingo. Quinze anos depois, Santo Domingo já tinha universidade. O Peru teve a primeira universidade em 1554. A Bolívia teve a primeira universidade em 1640. A universidade brasileira, só foi feita a primeira em 1920, 400 anos depois da descoberta. Como a gente quer punir a juventude que não teve a oportunidade de estudar, de fazer uma escola técnica? - questionou.
—Antes da gente saber porque um jovem cometeu um crime, vamos saber o que aconteceu com a família dele, com o pai e com a mãe, com o avô e a avó, com o bisavô e a bisavó, o que aconteceu com este país — complementou o ex-presidente.

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