Realidade empurra Grécia a definir posição na UE
À medida que começam a vencer parcelas de
dívidas do governo, Tsipras se vê confrontado a escolher, de uma vez por
todas, o futuro do país no bloco europeu
O Globo
Com as negociações entre o governo grego, o FMI e representantes dos
credores europeus, iniciadas na quinta-feira, espera-se um pouco mais de
clareza acerca da situação do país. A forte nebulosidade que cerca
tanto o estado das contas do governo esquerdista do premier Alexis
Tsipras, como suas verdadeiras intenções com relação ao bloco europeu,
provém de ambiguidades e uma retórica esquizofrênica, com um discurso
para o público interno e outro, diferente, para os parceiros europeus.
Pressionado pelo vencimento de dívidas e gastos governamentais — no
próximo dia 6, por exemplo, vence uma parcela de € 200 milhões relativa a
juros devidos ao FMI e, no dia 12, outros € 750 milhões —, o governo de
Atenas terá que definir, de uma vez por todas, sua posição: permanecer
na UE, mediante o cumprimento do acordo fechado com seus parceiros
europeus e o Fundo; ou abandonar o programa de austeridade fiscal,
deixar o bloco e voltar ao dracma, jogando fora os ganhos conquistados
até aqui com muito sacrifício.
Na quinta-feira, Atenas enfrentou problemas de liquidez para pagar os
pensionistas e houve atraso, gerando filas nas agências bancárias. O
governo informou que tudo se deveu a um problema tecnológico, mas fontes
negaram a versão. À medida que a realidade ganha contornos concretos, a
ideia de um acordo com os credores já não parece tão ruim para o
governo e a parte refratária da população. Segundo a agência de notícias
Reuters, a pesquisa de opinião mais recente indicava que três quartos
dos gregos querem que o país feche um acordo a qualquer preço para
permanecer na UE.
Segundo o porta-voz do FMI, Gerry Rice, “o governo grego tem sido
claro na intenção de permanecer na zona do euro, e fará as ações
necessárias para evitar a saída.” Um dos sinais dessa guinada de Tsipras
foi o afastamento do controverso ministro de Finanças, Yanis
Varoufakis, da chefia direta das negociações. O ministro das Relações
Exteriores, Euclid Tsakalotos, assumiu a nova equipe de negociadores, e
as conversações em Bruxelas estão sendo comandadas pelo economista-chefe
do Ministério de Finanças. Embora ainda persistam dúvidas, esses sinais
animaram os mercados, temerosos do impacto imprevisível de uma saída da
Grécia da UE.
Varoufakis é visto como um negociador exaltado, que gosta do
confronto. A última reunião com o Eurogrupo sob seu comando acabou sem
acordo e com recriminações de lado a lado. Mais do que sua personalidade
histriônica, porém, pesa a resistência em perceber a real natureza do
dilema econômico grego. Tal miopia reflete uma visão utópica e
fantasiosa, como se fosse possível reconstruir o país, após sucessivas
gestões temerárias em um ambiente propício à corrupção, sem um rigoroso
ajuste em suas contas.
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