sexta-feira, 1 de maio de 2015

Realidade empurra Grécia a definir posição na UE
À medida que começam a vencer parcelas de dívidas do governo, Tsipras se vê confrontado a escolher, de uma vez por todas, o futuro do país no bloco europeu
O Globo
Com as negociações entre o governo grego, o FMI e representantes dos credores europeus, iniciadas na quinta-feira, espera-se um pouco mais de clareza acerca da situação do país. A forte nebulosidade que cerca tanto o estado das contas do governo esquerdista do premier Alexis Tsipras, como suas verdadeiras intenções com relação ao bloco europeu, provém de ambiguidades e uma retórica esquizofrênica, com um discurso para o público interno e outro, diferente, para os parceiros europeus.
Pressionado pelo vencimento de dívidas e gastos governamentais — no próximo dia 6, por exemplo, vence uma parcela de € 200 milhões relativa a juros devidos ao FMI e, no dia 12, outros € 750 milhões —, o governo de Atenas terá que definir, de uma vez por todas, sua posição: permanecer na UE, mediante o cumprimento do acordo fechado com seus parceiros europeus e o Fundo; ou abandonar o programa de austeridade fiscal, deixar o bloco e voltar ao dracma, jogando fora os ganhos conquistados até aqui com muito sacrifício.
Na quinta-feira, Atenas enfrentou problemas de liquidez para pagar os pensionistas e houve atraso, gerando filas nas agências bancárias. O governo informou que tudo se deveu a um problema tecnológico, mas fontes negaram a versão. À medida que a realidade ganha contornos concretos, a ideia de um acordo com os credores já não parece tão ruim para o governo e a parte refratária da população. Segundo a agência de notícias Reuters, a pesquisa de opinião mais recente indicava que três quartos dos gregos querem que o país feche um acordo a qualquer preço para permanecer na UE.
Segundo o porta-voz do FMI, Gerry Rice, “o governo grego tem sido claro na intenção de permanecer na zona do euro, e fará as ações necessárias para evitar a saída.” Um dos sinais dessa guinada de Tsipras foi o afastamento do controverso ministro de Finanças, Yanis Varoufakis, da chefia direta das negociações. O ministro das Relações Exteriores, Euclid Tsakalotos, assumiu a nova equipe de negociadores, e as conversações em Bruxelas estão sendo comandadas pelo economista-chefe do Ministério de Finanças. Embora ainda persistam dúvidas, esses sinais animaram os mercados, temerosos do impacto imprevisível de uma saída da Grécia da UE.
Varoufakis é visto como um negociador exaltado, que gosta do confronto. A última reunião com o Eurogrupo sob seu comando acabou sem acordo e com recriminações de lado a lado. Mais do que sua personalidade histriônica, porém, pesa a resistência em perceber a real natureza do dilema econômico grego. Tal miopia reflete uma visão utópica e fantasiosa, como se fosse possível reconstruir o país, após sucessivas gestões temerárias em um ambiente propício à corrupção, sem um rigoroso ajuste em suas contas.

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