Sofia Lorena - Público
“Em vez de enviar soldados ou erguer cercas, devíamos ocupar-nos desta crise humanitária”, pede a ONU. Holande e Cameron vão conversar esta sexta-feira, por telefone
Numa semana marcada por tentativas massivas para atravessar o canal – na noite de terça para quarta-feira 2300 imigrantes
tentaram fazê-lo, em grupos de algumas dezenas, e um sudanês de 23 anos
morreu, atropelado por um camião; entretanto, morreu um segundo sudanês
que tinha ficado gravemente ferido (são já dez os mortos desde dia 1 de Junho)
–, a noite de quinta para sexta teve menos gente a tentar dar o salto
mas vários confrontos entre a polícia francesa e os imigrantes. Uns 300
foram interceptados pelos agentes (Paris enviou 120 polícias antimotim
na terça-feira para se juntarem aos 300 já mobilizados nos vários
acessos ao canal) e alguns ficaram feridos na fuga.
David Cameron parou antes de anunciar a intervenção do Exército, algo que os tablóides britânicos não param de lhe exigir. Explicou apenas que para atenuar a espera dos camiões que ficam parados sempre que o canal encerra para se procurarem imigrantes, o Governo vai usar terrenos do Ministério da Defesa e oferecer parques de estacionamento alternativos à auto-estrada no exterior do porto britânico – na M20 têm-se formado filas de até 18 horas para chegar aos ferries que atravessam o canal. De acordo com o jornal Independent, os militares vão trabalhar com a polícia mas a operação será, para já, coordenada por autoridades civis.
O Governo conservador tem sido acusado pela oposição à direita de fraqueza (Nigel Farage, líder do partido antieuropeísta e xenófobo UKIP, também quer o Exército na fronteira) e pela oposição de esquerda e grupos de direitos humanos de “desumanizar” um drama que é essencialmente humanitário. A maioria das pessoas que sobrevivem em Calais a tentar chegar ao Reino Unido fugiram de nações devastadas por conflitos – Afeganistão, Sudão, Síria – ou por serem perseguidos nos seus países – Etiópia, Eritreia.
“Ele deveria lembrar-se que está a falar de pessoas, não de insectos”, afirmou a líder interina do Labour, Harriet Harman. O candidato à liderança dos trabalhistas Andy Burnham, falou numa linguagem “escandalosa”.
Peter Sudtherland, representante especial do secretário-geral das Nações Unidas para as Imigrações, lamentou “o debate excessivo sobre a questão de Calais” no Reino Unido. “Há cinco a dez mil pessoas a viverem em condições terríveis em Calais. Em vez de se pensar em enviar soldados ou em construir valas, deveríamos ocupar-nos desta crise humanitária”, disse, em declarações à emissora pública BBC.
França e Reino Unido já ergueram muitos quilómetros de cercas junto aos túneis e à volta do principal parque de estacionamento de camiões do lado francês. Na quarta-feira, a ministra do Interior, Theresa May, anunciou que Londres vai investir mais dez milhões de euros no reforço das vedações existentes.
Um sítio para viver em segurança
Do outro lado da fronteira, o Governo francês tem-se remetido ao silêncio quase total, com vários políticos britânicos e exigirem que a situação seja resolvida com Cameron e o Presidente François Hollande sentados à mesa - está previsto que os dois líderes falem ao telefone ainda esta sexta-feira. Depois do Ministério do Interior ter anunciado o reforço polícial, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, apelou agora a que esta questão, “uma situação aterradora do ponto de vista humanitário”, seja discutida para lá dos reforços policiais anunciados pelos dois países.
Num dos confrontos com a polícia, um sírio suspeito de levar consigo um objecto afiado para cortar as vedações, foi revistado e esteve uns 30 minutos com os agentes. “Nós estamos apenas a tentar atravessar para chegar a um lugar seguro. Para quê toda esta polícia? Temos guerras nos nossos países e precisamos de um sítio para viver em segurança”, disse aos polícias Adam, um sírio de 27 anos, do mesmo grupo, cita o Guardian.
“Podem enviar esta mensagem a David Cameron?”, pediu ao mesmo diário William Ali, outro sírio que perguntou ao jornalista por que é que o Reino Unido deixou de aceitar imigrantes que fogem da guerra. “Somos 40 pessoas – não somos mil, não somos duas mil, não somos um milhão. Na Jordânia, há um milhão de sírios. No Curdistão [iraquiano], há um milhão de sírios. Como é que o Reino Unido pode recusar 40 pessoas?”
David Cameron parou antes de anunciar a intervenção do Exército, algo que os tablóides britânicos não param de lhe exigir. Explicou apenas que para atenuar a espera dos camiões que ficam parados sempre que o canal encerra para se procurarem imigrantes, o Governo vai usar terrenos do Ministério da Defesa e oferecer parques de estacionamento alternativos à auto-estrada no exterior do porto britânico – na M20 têm-se formado filas de até 18 horas para chegar aos ferries que atravessam o canal. De acordo com o jornal Independent, os militares vão trabalhar com a polícia mas a operação será, para já, coordenada por autoridades civis.
O Governo conservador tem sido acusado pela oposição à direita de fraqueza (Nigel Farage, líder do partido antieuropeísta e xenófobo UKIP, também quer o Exército na fronteira) e pela oposição de esquerda e grupos de direitos humanos de “desumanizar” um drama que é essencialmente humanitário. A maioria das pessoas que sobrevivem em Calais a tentar chegar ao Reino Unido fugiram de nações devastadas por conflitos – Afeganistão, Sudão, Síria – ou por serem perseguidos nos seus países – Etiópia, Eritreia.
“Ele deveria lembrar-se que está a falar de pessoas, não de insectos”, afirmou a líder interina do Labour, Harriet Harman. O candidato à liderança dos trabalhistas Andy Burnham, falou numa linguagem “escandalosa”.
Peter Sudtherland, representante especial do secretário-geral das Nações Unidas para as Imigrações, lamentou “o debate excessivo sobre a questão de Calais” no Reino Unido. “Há cinco a dez mil pessoas a viverem em condições terríveis em Calais. Em vez de se pensar em enviar soldados ou em construir valas, deveríamos ocupar-nos desta crise humanitária”, disse, em declarações à emissora pública BBC.
França e Reino Unido já ergueram muitos quilómetros de cercas junto aos túneis e à volta do principal parque de estacionamento de camiões do lado francês. Na quarta-feira, a ministra do Interior, Theresa May, anunciou que Londres vai investir mais dez milhões de euros no reforço das vedações existentes.
Um sítio para viver em segurança
Do outro lado da fronteira, o Governo francês tem-se remetido ao silêncio quase total, com vários políticos britânicos e exigirem que a situação seja resolvida com Cameron e o Presidente François Hollande sentados à mesa - está previsto que os dois líderes falem ao telefone ainda esta sexta-feira. Depois do Ministério do Interior ter anunciado o reforço polícial, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, apelou agora a que esta questão, “uma situação aterradora do ponto de vista humanitário”, seja discutida para lá dos reforços policiais anunciados pelos dois países.
Num dos confrontos com a polícia, um sírio suspeito de levar consigo um objecto afiado para cortar as vedações, foi revistado e esteve uns 30 minutos com os agentes. “Nós estamos apenas a tentar atravessar para chegar a um lugar seguro. Para quê toda esta polícia? Temos guerras nos nossos países e precisamos de um sítio para viver em segurança”, disse aos polícias Adam, um sírio de 27 anos, do mesmo grupo, cita o Guardian.
“Podem enviar esta mensagem a David Cameron?”, pediu ao mesmo diário William Ali, outro sírio que perguntou ao jornalista por que é que o Reino Unido deixou de aceitar imigrantes que fogem da guerra. “Somos 40 pessoas – não somos mil, não somos duas mil, não somos um milhão. Na Jordânia, há um milhão de sírios. No Curdistão [iraquiano], há um milhão de sírios. Como é que o Reino Unido pode recusar 40 pessoas?”
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