Poucos dias antes de chegar ao Brasil para falar sobre câncer infantil, o médico americano Patch Adams, um dos pioneiros da medicina humanizada, deu entrevista ao site de VEJA
Carolina Melo - VEJA
O que o senhor acha da forma como a medicina tem sido ensinada nas universidades? Um lixo. Há 40 anos me correspondo por cartas com muitos alunos de medicina de mais de 120 países e nunca recebi uma mensagem positiva sobre a maneira como têm sido educados. Durante esse tempo todo nada mudou. Os professores são rudes e arrogantes e educam médicos que não gastam tempo suficiente com o paciente. Esses médicos acabam achando normal trabalhar em ambientes de trabalho estressantes. Não há um hospital feliz no mundo. Uma pena. O hospital pode ser um lugar extremamente agradável. Os pacientes deveriam nem sentir vontade de ir embora!
Como um hospital pode ser divertido? Os profissionais devem ser bons -- e não me refiro apenas no sentido técnico. Um bom médico é aquele que sabe cultivar a relação com o paciente por meio da troca de amizade, confiança e... humor. Eu acredito e defendo sempre que é possível transformar a morte em algo divertido. Com humor. Tenho tentado fazer isso desde sempre.
Qual é o pior defeito que um médico pode ter? A arrogância. De todos os meus professores da faculdade, 95% deles eram arrogantes. Chegava a ser constrangedor quando eu entrava no quarto de um paciente com alguns deles. Eles ficavam com o paciente por cerca de 5 a 10 minutos. Isso é um médico ruim. As pessoas são complexas e têm doenças complicadas. É impossível conhecer um paciente em apenas 10 minutos.
Seu nome remete imediatamente ao personagem de Robin William em Patch Adams: O Amor é Contagioso, de 1998. Qual é a sua opinião sobre o filme? Eu fiquei constrangido pelo filme. Robin Williams, claro, não teve nada a ver com isso. O problema foi com o diretor (Tom Shadyac). Ele não teve o menor interesse em me conhecer de verdade. É um arrogante que quis vender ingressos. Ele não quis falar do meu trabalho como realmente é. Por exemplo, o meu melhor amigo da faculdade, que morreu seis anos após nossa formatura, se transformou no filme em uma namorada fictícia que morre de forma dramática. Essa versão inventada, obviamente, vende mais. Tive até de pedir desculpas ao filho desse meu amigo pelo que fizeram. Além disso, a cena em que Patch Adams leva uma paciente idosa para nadar em uma piscina de macarrão foi muito mais divertida na vida real.
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