Reinaldo Azevedo - VEJA
Marina Silva concedeu uma entrevista à Folha deste domingo. Como de hábito, seu pensamento parece ter atingido o lugar da santidade, só permitido aos mártires. Ela é contra o impeachment de Dilma Rousseff, mas quer o afastamento de Eduardo Cunha. E lamenta, coitadinha!, que tenha de enfrentar tanta incompreensão.
Diz a pensadora, depois de constatar que o país, sob Dilma, sofre perdas econômicas e sociais:
“Não podemos, em hipótese alguma,
colocar em xeque o investimento que fizemos na democracia. Você não
troca de presidente por discordar dele ou por não estar satisfeito. Se
há materialidade dos fatos, não há por que tergiversar. Se não há, o
caminho doloroso de respeito à democracia tem que prevalecer.”
Pela ordem:
1: quem está tentando trocar de presidente “só por discordar dela”?:
2: quem está disposto a pôr em xeque o investimento na democracia?;
3: os que pedem a saída de Dilma o fazem apontando “a materialidade dos fatos”.
1: quem está tentando trocar de presidente “só por discordar dela”?:
2: quem está disposto a pôr em xeque o investimento na democracia?;
3: os que pedem a saída de Dilma o fazem apontando “a materialidade dos fatos”.
Marina Silva já leu a Lei 1.079?
E que papo é
esse de “caminho doloroso da democracia”? Doloroso, minha senhora, é
abrir mão das faculdades que a democracia oferece — entre elas, o
impeachment.
E ela prossegue:
“Alguns políticos estão tentando instrumentalizar a crise, em vez de resolvê-la. Na democracia, não se resolve a crise passando por cima do processo constitucional.”
“Alguns políticos estão tentando instrumentalizar a crise, em vez de resolvê-la. Na democracia, não se resolve a crise passando por cima do processo constitucional.”
É?
Marina é
minha candidata, a partir de agora, a “resolver a crise, em vez de
instrumentalizá-la”. E está obrigada a dizer quem está tentando “passar
por cima do processo constitucional”. Ela não empregou a palavra
“golpistas” para classificar os que defendem o impeachment, mas é o que
acha que são: golpistas. Ou merece outra designação quem “passa por cima
do processo constitucional”?
Com Eduardo
Cunha, no entanto, ela é mais severa. Diz: “Uma vez denunciado, é óbvio
que ele deve ser afastado, sem que isso seja um pré-julgamento”.
Entendi. Não é pré-julgamento, mas ele tem de sair. Noto que Marina nem
mesmo esperaria o Supremo aceitar ou recusar a denúncia: bastaria
Rodrigo Janot estalar os dedos.
O mesmo
Janot que não demonstrou, até agora, nem coragem nem autonomia para
pedir ao menos a abertura de um inquérito contra Dilma, conforme
autorizam a Constituição e a jurisprudência do Supremo. E Marina deve
pensar o mesmo sobre Renan Calheiros, presidente do Senado. Nota à
margem: ainda que o tribunal aceite denúncia contra ambos, não são
obrigados a deixar os respectivos cargos.
Dilma deveria demitir Aloizio Mercadante e levar Marina para a Casa Civil. Ela saiu do PT, mas o PT obviamente não saiu dela.
E falta que a
líder do ainda inexistente “Rede” aponte uma saída, certo? Sim, ela tem
a resposta. Há, segundo disse, dois trilhos:
1: o da investigação, que tem de continuar autônoma…;
2: “o outro trilho é dos rumos da nação”.
1: o da investigação, que tem de continuar autônoma…;
2: “o outro trilho é dos rumos da nação”.
Ah, bom! Agora ficou fácil!
Marina acha que, caso se encontrem os “rumos da nação”, o resto está resolvido.
Que bom!
Deve ser a isso que ela chama não ser sem nem situação nem oposição, mas “ter posição”.
Como diz a minha mulher, “dê um problema difícil para Marina, que ela lhe devolve um trocadilho”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário