Fechamento da passagem de fronteira mais importante entre Colômbia e Venezuela amplia a distância entre os dois países
Catalina Lobo-Guerrero - El País
Mauricio Dueñas Castañeda/EFE
Colombianos despejados carregam seus pertences ao cruzar o rio Táchira, saindo da Venezuela em direção ao setor de La Parada, na Colômbia, em Cúcuta
A ponte Simón Bolívar, que foi construída sobre o rio Táchira para unir Colômbia e Venezuela e cujo nome é uma homenagem ao libertador do que outrora foi uma única nação, está fechada desde quarta-feira passada (20). Desde então, uma barreira de arame farpado atravessa os sete metros de largura da ponte, e há guardas uniformizados e armados de cada lado. Não é a primeira vez que se fecha essa passagem, mas a sensação nestes dias não é de um fechamento temporário, e sim de que algo se rompeu entre os dois países.
Da última sexta-feira até segunda-feira, a única coisa que chegava pela ponte da Venezuela eram más notícias. Centenas de colombianos que viviam sem documentos do outro lado em bairros de invasão, construídos às margens de San Antonio durante a última década, começaram a ser deportados. Cerca de 860 colombianos foram enviados nos últimos quatro dias. Muitos outros estão retornando por seus próprios meios.
De que fogem? Do que aconteceu com Marley Díaz, uma mulher de 39 anos que vivia há dez na Venezuela. A Guarda Nacional chegou ao seu barraco de zinco e depois de revistá-lo e constatar sua situação migratória irregular, a levaram e marcaram sua casa com um D. Deportada, deslocada, desterrada? Não, o D é para demolir todas as casas que se encontrem em terrenos instáveis, que não sejam construídas com materiais sólidos e que sejam de colombianos sem documentos, nas áreas onde o governo venezuelano está efetuando a "Operação Libertação do Povo". O mais demolidor é que não lhes dão tempo de tirar seus eletrodomésticos, colchões, panelas, cobertores, entre outras coisas que hoje são recordações.
Por quê? "Por causa de
alguns poucos que agem mal nos fizeram pagar a todos", diz Marley.
"Desde que Maduro subiu, começou essa discriminação contra nós
[colombianos]. Tratam-nos como se fôssemos trapos." O sobrinho de Marley
estava entre os primeiros 50 deportados que chegaram na sexta-feira.
Ele conta que os guardas venezuelanos insultavam e intimidavam os
homens, acusando-os e indicando-os como cúmplices de criminosos e de
paramilitares. Diziam que procuravam um homem apelidado de "El Paisa".
As autoridades venezuelanas afirmam que o fechamento da fronteira será mantido até que capturem os homens que dispararam na semana passada contra dois tenentes e um cabo da guarda, o estopim da operação militar e da posterior crise humanitária.
As histórias mais tristes são as das famílias que ficaram desmembradas. Na tarde de segunda-feira, duas mães se reencontraram com suas filhas pequenas, mas, segundo o ministro do Interior colombiano, Juan Fernando Cristo, mais de 30 crianças ficaram sem seus pais na Venezuela.
Juan Carlos, que não dá o sobrenome porque diz que foi "deslocado" pelo conflito colombiano, e sua esposa, uma venezuelana de Táchira, procuravam abrigo em um refúgio. A guarda o deteve em San Cristóbal, mas ele conseguiu escapar e voltou a sua casa para buscar a companheira. Enfiaram o que puderam em uma sacola e cruzaram o rio na segunda-feira de manhã. "Ao senhor que alugava nossa casa, disseram que, se continuasse alugando para colombianos, a perderia", ele diz. Quem perdeu a esperança de ver logo seus dois filhos pequenos, que ficaram na Venezuela com sua ex-mulher, é Juan Carlos.
Na segunda-feira, foi autorizada a travessia pela ponte de um grupo de venezuelanos. Na fila para passar estava Maira Medina. Entre lágrimas, ela contou que seu marido e pai de suas três filhas é um colombiano que tentou se nacionalizar venezuelano em mais de cinco ocasiões, mas não conseguiu. "Maltrataram-no muito", diz, envergonhada de um anticolombianismo que sente que está em ascensão por parte do governo de seu país.
Maira trabalha como cozinheira em uma das escolas estatais de San Cristóbal, e seu marido, como pedreiro. Ele ficará na Colômbia, e ela voltará à Venezuela, onde a esperam suas filhas.
"A ponte está quebrada, com que a curaremos?", diz uma cantiga de roda popular colombiana. "Com cascas de ovo", diz o verso seguinte, que parece um eufemismo do diálogo diplomático que manterão os dois países, em meio a uma tensão crescente e que não parece que será resolvida com outro show de música binacional na fronteira, como o que foi liderado por Juanes em 2008 sobre a ponte Simón Bolívar.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
As autoridades venezuelanas afirmam que o fechamento da fronteira será mantido até que capturem os homens que dispararam na semana passada contra dois tenentes e um cabo da guarda, o estopim da operação militar e da posterior crise humanitária.
As histórias mais tristes são as das famílias que ficaram desmembradas. Na tarde de segunda-feira, duas mães se reencontraram com suas filhas pequenas, mas, segundo o ministro do Interior colombiano, Juan Fernando Cristo, mais de 30 crianças ficaram sem seus pais na Venezuela.
Juan Carlos, que não dá o sobrenome porque diz que foi "deslocado" pelo conflito colombiano, e sua esposa, uma venezuelana de Táchira, procuravam abrigo em um refúgio. A guarda o deteve em San Cristóbal, mas ele conseguiu escapar e voltou a sua casa para buscar a companheira. Enfiaram o que puderam em uma sacola e cruzaram o rio na segunda-feira de manhã. "Ao senhor que alugava nossa casa, disseram que, se continuasse alugando para colombianos, a perderia", ele diz. Quem perdeu a esperança de ver logo seus dois filhos pequenos, que ficaram na Venezuela com sua ex-mulher, é Juan Carlos.
Na segunda-feira, foi autorizada a travessia pela ponte de um grupo de venezuelanos. Na fila para passar estava Maira Medina. Entre lágrimas, ela contou que seu marido e pai de suas três filhas é um colombiano que tentou se nacionalizar venezuelano em mais de cinco ocasiões, mas não conseguiu. "Maltrataram-no muito", diz, envergonhada de um anticolombianismo que sente que está em ascensão por parte do governo de seu país.
Maira trabalha como cozinheira em uma das escolas estatais de San Cristóbal, e seu marido, como pedreiro. Ele ficará na Colômbia, e ela voltará à Venezuela, onde a esperam suas filhas.
"A ponte está quebrada, com que a curaremos?", diz uma cantiga de roda popular colombiana. "Com cascas de ovo", diz o verso seguinte, que parece um eufemismo do diálogo diplomático que manterão os dois países, em meio a uma tensão crescente e que não parece que será resolvida com outro show de música binacional na fronteira, como o que foi liderado por Juanes em 2008 sobre a ponte Simón Bolívar.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Nenhum comentário:
Postar um comentário