Bruno Philip - Le Monde
Narong Sangnak/EFE
19.ago.2015 - Turistas rezam diante do templo onde aconteceu o atentado em Bangcoc
A Tailândia, mais do que nunca, tem passado a impressão de ser incapaz de superar a repetidas crises que, na última década, mancharam gravemente a imagem de um país que já foi símbolo de sucesso do Sudeste Asiático. O atentado a bomba do último dia 17, que resultou em 20 mortos e 140 feridos, no centro de Bangcoc, de fato vem reforçar a imagem de um país fragilizado, ao mesmo tempo em que evidencia as deficiências da junta militar que se apoderou do governo na primavera de 2014.
Desde o atentado, as autoridades vêm dando uma série de declarações contraditórias. O general Prayuth Chan-ocha, primeiro-ministro e chefe da junta, primeiro deu a entender que os culpados poderiam estar ligados à esfera dos partidários "camisas vermelhas" dos ex-líderes do governo, Thaksin Shinawatra e sua irmã Yingluck – ambos derrubados pelo Exército, o primeiro em 2006 e a segunda em 2014.
Mas pouco depois um porta-voz declarou que o principal suspeito, cuja imagem foi capturada por câmeras de vigilância, era um estrangeiro, de aparência "europeia" ou "árabe". No entanto, depois foi anunciado que os autores não tinham nenhuma ligação com o terrorismo internacional. A polícia acabou admitindo que poderia se tratar de um "tailandês disfarçado"...
O primeiro-ministro também negou qualquer possibilidade de revanche por
parte de um grupo extremista depois que refugiados muçulmanos uigures
que chegaram clandestinamente à Tailândia foram expulsos para a China em
julho. Os uigures, população turcófona da Ásia central, vêm sofrendo
uma repressão contínua por parte do regime de Pequim, e é possível
imaginar as consequências desse retorno forçado para aqueles que
poderiam ser acusados de "separatismo" em seu país... A mídia em seguida
relatou que o serviço secreto tailandês temia que fossem cometidos
ataques contra turistas chineses após o repatriamento dessa centena de
uigures.
O general Prayuth logo recusou as ofertas de ajuda feitas pelo Reino Unido aos investigadores tailandeses. No entanto, a polícia admitiu, no domingo (23), que ela não possuía certos "recursos técnicos" e que essa falta de equipamentos explicava o fato de que, por ora, a investigação quase não havia avançado.
Por enquanto, a única recomendação que o general fez aos policiais foi de assistir a série policial americana "Blue Bloods": "Isso deve dar algumas ideias a eles". É verdade que Prayuth Chan-ocha, que acha que entende de poesia e gosta de cantar, tem o dom de dar declarações de humor duvidoso, que fazem a festa dos internautas.
A explosão aconteceu no dia seguinte a um passeio de ciclistas que reuniu milhares de participantes e organizado a mando do príncipe herdeiro, Maha Vajiralongkorn, em homenagem ao aniversário da rainha Sirikit. Olhando em retrospecto, essa proximidade entre os dois eventos deve ter dado arrepios às autoridades. E isso em um contexto em que a Tailândia vem se preparando para uma delicada sucessão monárquica: o rei Bhumibol Adulyadej, de 87 anos, está cada vez mais fragilizado. Um comunicado recente do palácio, que pretendia demonstrar tranquilidade, só confirmou os problemas médicos – sobretudo de ordem neurológica – sofridos por esse soberano que detém o recorde de longevidade mundial no trono.
O natural seria que seu filho, que está longe de ter o mesmo carisma, o sucedesse, mas há facções, tanto no palácio quanto entre os militares, que divergem quanto ao nome do candidato ideal para substituir o rei Bhumibol. A princesa Sirindhorn, irmã do príncipe, é muito popular em certos círculos.
Os "camisas vermelhas", que são mais um elemento dessa complexidade, estão se distanciando cada vez mais de uma instituição monárquica que antigamente era reverenciada com unanimidade. De fato, o atual soberano, durante seu longo reinado, exerceu um papel político maior do que prevê seu status constitucional de monarca que reina, mas não governa.
Todos os especialistas acreditam que o último golpe de 2014 foi organizado para que a transição real acontecesse sob o amparo de fervorosos partidários do palácio. Todas as medidas foram tomadas para que os partidos políticos dos dois primeiros-ministros depostos, que venceram regularmente todas as eleições na última década, não voltem mais ao governo, de uma forma ou de outra, quando acontecer o irreparável: a morte do rei.
A nova Constituição elaborada sob o regime militar, recém-publicada, vai nesse sentido: ela prevê que o Exército possa retomar o poder legalmente dentro de cinco anos uma vez que ela entre em vigor, talvez após um referendo. Com o país profundamente dividido entre "camisas vermelhas" e ultramonarquistas, pró-democratas e militares, o atentado de 17 de agosto não poderia ter vindo em pior hora. A maneira como as autoridades administraram até agora as consequências do pior ato terrorista jamais cometido em Bangcoc mostra que os militares que estão no poder não são uma garantia de estabilidade.
Humor duvidoso
Entre os 20 mortos estavam três chineses da República Popular, quatro malaios de etnia chinesa e dois honcongueses – sendo uma mulher, detentora de um passaporte britânico - , o que reforçou a hipótese segundo a qual os chineses, cada vez mais numerosos na Tailândia, teriam sido o alvo da bomba colocada em um templo muito frequentado por turistas.O general Prayuth logo recusou as ofertas de ajuda feitas pelo Reino Unido aos investigadores tailandeses. No entanto, a polícia admitiu, no domingo (23), que ela não possuía certos "recursos técnicos" e que essa falta de equipamentos explicava o fato de que, por ora, a investigação quase não havia avançado.
Por enquanto, a única recomendação que o general fez aos policiais foi de assistir a série policial americana "Blue Bloods": "Isso deve dar algumas ideias a eles". É verdade que Prayuth Chan-ocha, que acha que entende de poesia e gosta de cantar, tem o dom de dar declarações de humor duvidoso, que fazem a festa dos internautas.
A explosão aconteceu no dia seguinte a um passeio de ciclistas que reuniu milhares de participantes e organizado a mando do príncipe herdeiro, Maha Vajiralongkorn, em homenagem ao aniversário da rainha Sirikit. Olhando em retrospecto, essa proximidade entre os dois eventos deve ter dado arrepios às autoridades. E isso em um contexto em que a Tailândia vem se preparando para uma delicada sucessão monárquica: o rei Bhumibol Adulyadej, de 87 anos, está cada vez mais fragilizado. Um comunicado recente do palácio, que pretendia demonstrar tranquilidade, só confirmou os problemas médicos – sobretudo de ordem neurológica – sofridos por esse soberano que detém o recorde de longevidade mundial no trono.
O natural seria que seu filho, que está longe de ter o mesmo carisma, o sucedesse, mas há facções, tanto no palácio quanto entre os militares, que divergem quanto ao nome do candidato ideal para substituir o rei Bhumibol. A princesa Sirindhorn, irmã do príncipe, é muito popular em certos círculos.
Os "camisas vermelhas", que são mais um elemento dessa complexidade, estão se distanciando cada vez mais de uma instituição monárquica que antigamente era reverenciada com unanimidade. De fato, o atual soberano, durante seu longo reinado, exerceu um papel político maior do que prevê seu status constitucional de monarca que reina, mas não governa.
Todos os especialistas acreditam que o último golpe de 2014 foi organizado para que a transição real acontecesse sob o amparo de fervorosos partidários do palácio. Todas as medidas foram tomadas para que os partidos políticos dos dois primeiros-ministros depostos, que venceram regularmente todas as eleições na última década, não voltem mais ao governo, de uma forma ou de outra, quando acontecer o irreparável: a morte do rei.
A nova Constituição elaborada sob o regime militar, recém-publicada, vai nesse sentido: ela prevê que o Exército possa retomar o poder legalmente dentro de cinco anos uma vez que ela entre em vigor, talvez após um referendo. Com o país profundamente dividido entre "camisas vermelhas" e ultramonarquistas, pró-democratas e militares, o atentado de 17 de agosto não poderia ter vindo em pior hora. A maneira como as autoridades administraram até agora as consequências do pior ato terrorista jamais cometido em Bangcoc mostra que os militares que estão no poder não são uma garantia de estabilidade.
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