Análise: Era Goldman no PSDB é golpe em Doria e esperança para Serra
Para Alckmin, impacto não está claro; governador condenou destituição de Tasso
Silvia Amorim - O Globo
Ter um aliado na presidência de um partido não é coisa à toa. O mesmo
pode ser dito do contrário, quando lá se instala um inimigo. A chegada
do ex-governador paulista Alberto Goldman ao comando nacional do PSDB levou, num único golpe, alegria e tristeza ao tucanato paulista. Se foi um balde de água fria no prefeito João Doria, não se pode dizer o mesmo do senador José Serra,
que deve ter dado pulos de alegria com o anúncio de que o amigo e
aliado foi alçado à direção da sigla, a mesma que ele já pensou em
deixar algumas vezes por causa de um isolamento político. Para o
governador Geraldo Alckmin, o impacto da substituição do presidente interino do partido ainda não está dado.
O estranhamento entre Goldman e Doria
é público e notório, ganhou a internet e os jornais no mês passado com
um bate-boca filosófico sobre pijamas e velhice. A ascensão do inimigo
declarado ao posto máximo da hierarquia partidária, mesmo que
temporária, é mais um revés para a lista do prefeito que tenta ser
candidato à Presidência da República. É verdade que tem pouco efeito
prático na pré-candidatura de Doria, já fragilizada por tropeços do
próprio nos últimos meses. Mas é inegável o abalo para o status político
do prefeito; isso para não falar na autoestima. Política é feita de
símbolos.
No
outro extremo, Serra, que estava desacreditado dentro do PSDB, avança
algumas casas na recuperação de espaço político no partido. É a primeira
vez desde 2010, quando o senador concorreu ao Planalto, que o grupo
político de Serra retoma um posto de destaque na estrutura da sigla. E
isso se dá justamente quando Serra ensaia uma candidatura a governador de São Paulo,
animado com a possibilidade de que seus inquéritos na Lava-Jato
caminhem a passos lentos. Mas, dizem aliados, ele nunca deixou de lado o
sonho de voltar a disputar a Presidência. A alçada de Goldman à direção
do PSDB certamente fez os olhos de Serra voltarem a brilhar nesse
sentido.
Para o governador Geraldo Alckmin, o placar do ganha e perde com a ascensão de Goldman ainda não está dado. A condenação que o governador fez do ato de Aécio Neves,
que destituiu Tasso Jereissati da presidência do PSDB, deu-se mais pelo
fortalecimento do senador mineiro e o risco que isso representa para a
imagem do PSDB e para o próximo candidato da sigla ao Planalto do que
pela nomeação de Goldman.
Já há quem defenda no PSDB de São Paulo um impedimento do “reinado”
de Goldman e a antecipação das eleições internas marcadas para dezembro.
Se isso não prosperar, são exatos 30 dias para que Goldman entregue a
direção do partido ao novo titular. Dois nomes estão na briga: Marconi
Perillo, governador de Goiás, e o próprio Tasso Jereissati. Pode ainda
correr por fora, se convencido a disputar a presidência do partido,
Geraldo Alckmin. Só resta esperar para conferir, quem vai rir e chorar
por último.
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