No precipício
O PMDB é um fator decisivo na vida do PSDB, desde sua
fundação em junho de 1988, fruto justamente de uma dissidência do PMDB,
à época dominado por Orestes Quércia, governador de São Paulo, o
principal expoente da ala fisiológica do partido, até o momento da
implosão atual, que tem justamente no fisiologismo peemedebista sua
razão mais explícita.
Os tucanos hoje se encontram presos a uma contradição de sua própria
história, pois não conseguem se desvencilhar de uma aliança carcomida
com o PMDB, envolvido, como quase sempre, em acusações de corrupção e
fisiologismo político, depois de ter vivido uma história de resistência e
luta contra a ditadura em que políticos como Ulysses Guimarães e
Tancredo Neves davam o tom do partido.
Com a indecisão característica de um partido que só encontra posição
majoritária quando um fato consumado se apresenta, o PSDB perdeu o
“timing” de sair do governo, e pode morrer afogado, não com Temer, como
se temia, mas por Temer e sua aliança de bastidores com o grupo do
senador Aécio Neves, os dois pensando apenas em salvarem as próprias
peles.
O interessante nessa situação atual é que o senador Aécio Neves,
quando armava sua candidatura à presidência da República, mesmo antes de
2014, se recusava a projetar alianças com o PMDB justamente para se
livrar da imagem fisiológica do partido. Queria assumir uma posição mais
social-democrata, a mesma que hoje o senador Tasso Jereissati pretende
preservar.
O PSDB, aliás, foi salvo de aderir a outro governo tóxico na época de
Collor, que convidou seus principais líderes para seu ministério. A
adesão, como agora, enfeitiçava uma ala do partido, mas a ação decidida
de alguns, principalmente do Mário Covas, ex-candidato à presidência
contra Collor, estancou essa possibilidade.
Desta vez a decisão
correta de apoiar o governo legítimo de Michel Temer, que substituía a
presidente Dilna Rousseff por ter sido escolhido vice-presidente pelo
próprio PT, terminou sua validade no dia em que a gravação da conversa
de Temer com Joesley Batista veio à tona, tirando completamente a
legitimidade de seu governo.
Com a disputa interna para ficar no governo, liderada pelo senador
Aécio Neves que, como disse o senador Tasso Jereissati está “
agarrado ao cargo” sem pensar na coletividade, mas em seus interesses
pessoais, o partido perde o significado, a identidade e a razão de ser,
como já escrevi aqui. Qual é o projeto do partido hoje? Ficar no
governo? Ter um bom candidato para 2018?
Essas angústias racham o partido, e o último lance dessa divisão
profunda foi a escolha seguida de dois deputados ligados ao grupo de
Aécio Neves para serem relatores dos dois processos contra Temer,
garantindo o apoio institucional do partido ao presidente, mas não a
maioria dos votos.
As digitais do senador Aécio Neves, presidente afastado do PSDB,
podem ser encontradas nessa manobra política que desmoralizou a posição
majoritária no partido de abandonar o governo Temer.
Majoritária mas não decisiva. O senador Jereissati tem o apoio da
maioria dos caciques e ganhou a simpatia dos chamados “cabeças pretas”,
os jovens parlamentares e prefeitos que querem decisões mais agudas,
como a saída do governo, como defendia o presidente interino.
A pressão para que o partido decida logo sua nova direção e parta
para uma posição de autonomia diante do governo Temer, apoiando as
reformas, mas não com cargos no governo, permanece na disputa pela
presidência do PSDB em dezembro.
Tudo indica, porém, que o partido
está ferido de morte e, pior do que da primeira vez em 1988, os
dissidentes não têm para onde correr, pois não há tempo para criar um
novo partido e nem parece à disposição uma legenda para abrigá-los até
abril, data limite para os que quiserem se candidatar a algum cargo em
2018.
É previsível que as lideranças partidárias que se colocaram contra o
senador Aécio Neves, se não tiverem força interna para derrotá-lo, se
dispersarão no apoio às várias candidaturas já colocadas ou a serem
colocadas. Mesmo com uma capilaridade grande pelo país, e uma força
grande em São Paulo, o PSDB não terá condições de sobreviver
politicamente a esse revés.
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