terça-feira, 19 de outubro de 2010

Dicta & Contradicta

A revista deste semestre começa entrevistando o maior poeta vivo do nosso país: Ferreira Gullar. Os entrevistadores, Martim Vasques da Cunha, Guilherme Malzoni Rabello e Renato José de Moraes, demonstraram, pelo nível das perguntas realizadas, que conheciam o poeta e a sua obra. Isso pode parecer num primeiro momento uma coisa óbvia. Mas em se tratando de Brasil, não é não. Já perdi o número de vezes em que o entrevistador não sabe nada do entrevistado. Em que a matéria fica imprestável. E uma oportunidade interessante de se conhecer melhor o entrevistado acaba sendo desperdiçada em bobagens. Chamou a atenção, de quem leu a entrevista, o fato do poeta ter feito um "mea culpa" quando aborda o tema referente à sua militância política no passado. Hoje, ele se arrepende de ter feito parte da "esquerda" e não só critica a si mesmo como critica também os seus "companheiros". Concluiu, afinal de contas, que o socialismo desejado não levaria nada a lugar algum. Dá como exemplo as ditaduras de Cuba e da extinta União Soviética. O caos implantando pelo socialismo foi inevitável. Os governantes tinham tudo e o povo passava fome. O que me surpreendeu foi a sua abordagem do golpe que depôs o presidente socialista do Chile, Salvador Allende. Ele culpa a esquerda pela queda do presidente. Segundo ele, faltou bom senso, equilíbrio nas ações promovidas pelos socialistas no período que antecedeu o golpe. Poucos homens no Brasil teriam a coragem de assumir os erros cometidos no passado como Ferreira Gullar fez. A minha admiração, que já era grande (devido à qualidade da sua poesia), só aumentou.

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