quinta-feira, 5 de julho de 2012

ESPANHA: CAOS NA SAÚDE PÚBLICA (SE PIORAR MAIS UM POUCO E VAI FICAR IGUAL AO BRASIL)

Listas de espera na Espanha disparam 17% depois dos cortes na saúde
Reyes Rincón - El Pais
A demora para uma cirurgia da Espanha atinge 73 dias e afeta 460 mil pacientes; 45 mil sofrem atrasos de mais de seis meses, contra o compromisso oficial
Mais pacientes em lista de espera para ser operados e mais demora para submeter-se às intervenções cirúrgicas mais comuns. São as duas principais conclusões que deixam os últimos dados publicados pelo Ministério da Saúde espanhol sobre a lista de espera cirúrgica do Sistema Nacional de Saúde. Os números correspondem a dezembro de 2011, seis meses depois da realização de eleições autonômicas na maioria das comunidades (todas menos Andaluzia, Catalunha, Galícia e País Basco) e começaram os cortes mais severos em termos de saúde, que em muitos casos envolveram o fechamento de centros cirúrgicos e a diminuição de consultas à tarde ou em alguns dias.
No final de 2010, havia 392.072 pacientes em lista de espera para intervenções cirúrgicas. Um ano depois, o número havia aumentado 17%: 459.885 espanhóis esperavam para ser operados. Por especialidade, a traumatologia é a que tem mais pacientes na fila (126.688, 26.367 a mais que um ano antes), seguida de oftalmologia (92.541, enquanto em dezembro de 2010 eram 80.275) e cirurgia geral e do aparelho digestivo (87.152, o que representa 14.095 a mais que no ano anterior).
Embora algumas comunidades tenham publicado todos os seus dados, o número nacional não era publicado desde dezembro de 2010, quando se divulgaram as esperas que havia em junho desse ano. Agora o ministério divulgou de forma simultânea os três seguintes cortes: dezembro de 2010, junho de 2011 e dezembro de 2011.
A demora média para ser operado aumentou no último ano em oito dias: os 65 dias que os pacientes esperavam em dezembro de 2010, subiram para 73 dias um ano depois. Os que mais esperam são os que devem se submeter a uma intervenção de cirurgia plástica, onde a demora média é de 98 dias (dez a mais que um ano antes). Os que aguardam uma intervenção de cirurgia torácica esperam 95 dias (18 a mais que em 2010) e os de neurocirurgia, 90 dias (12 a mais que no ano anterior).
Mas se há um dado que disparou nos últimos meses é o de pacientes que esperam mais de seis meses para ser operados. Cento e oitenta dias de espera são o máximo que as comunidades se comprometeram em 2003 a tentar nunca ultrapassar. Algumas inclusive regularam por decreto que se superassem esse prazo o paciente poderia ser operado em um hospital particular e passar a fatura ao serviço autonômico de saúde. Até meados de 2011, apenas 5% dos pacientes superavam esse tempo de espera, mas o número duplicou no segundo semestre deste ano. Em dezembro de 2011, 9,97% dos pacientes (cerca de 45 mil) já esperavam mais de seis meses para se submeter a uma intervenção cirúrgica, segundo os dados publicados pelo ministério.
Em julho de 2011, o Ministério da Saúde, então dirigido pela socialista Leire Pajín, aprovou um decreto que estabelecia uma espera máxima de 180 dias para as operações de coração, catarata, próteses de quadril e de joelho. Nos dados publicados pelo Ministério da Saúde se incluem duas dessas intervenções (as mais comuns: catarata e prótese de quadril) e em ambas há muitos pacientes que esperam mais seis meses: a demora média para uma operação de catarata é de 80 dias, mas 14,04% dos pacientes têm de esperar mais de 180. Para as intervenções de próteses de quadril, a espera média é de 101 dias, embora 21,13% passam mais de 180 dias de fila. O decreto de Pajín dava seis meses de prazo para cumprir a norma, pelo que no corte de dezembro de 2011 as comunidades ainda não a estavam descumprindo. Mas tudo leva a indicar que quando se conhecerem os dados do primeiro semestre deste ano poderá haver alguma nessa situação.
Desde 2003, quando começaram a se publicar as listas de espera cirúrgica, o ministério e as comunidades oferecem detalhes da espera nos 11 procedimentos mais habituais nos hospitais públicos. E segundo o último relatório não se salvaram do aumento de pacientes e de demora. Em dezembro desse ano havia 196.390 pessoas à espera de submeter-se a uma dessas intervenções, 17% a mais que no ano anterior (167.212). A espera mais longa é para se operar de joanetes, quando os pacientes aguardam em média 126 dias.
Como vem sendo habitual, os dados publicados excluem as esperas da Comunidade de Madri, que foi expulsa do cômputo nacional em 2005 por descumprir as normas de contagem pactuadas entre todas as comunidades. Enquanto os demais sistemas autonômicos de saúde começam a contar a espera desde que o médico prescreve a operação, em Madri só se inclui o paciente na lista depois de passar pelo anestesista e ter-se submetido aos testes pré-operatórios, o que torna impossível comparar seus dados com os das demais regiões.
Mais fila nas consultas
Paralelamente aos dados da lista de espera cirúrgica, o Ministério da Saúde publicou a demora média para ter acesso às consultas externas do Sistema Nacional de Saúde. E os dados revelam que os espanhóis também têm de esperar hoje mais que um ano atrás desde que seu médico de cabeceira o envia pela primeira vez ao consultório de um especialista. A espera média se situava em dezembro de 2011 em 58 dias, cinco a mais que um ano antes.
A especialidade que mais se ressente é a ginecologia, onde o tempo de espera passou nesse período de 66 para 86 dias. Em junho de 2011, a espera era de 67 dias, só um a mais que seis meses antes, e por isso a cifra disparou até 86 justo depois das eleições municipais e autonômicas de maio de 2011, depois que muitas comunidades fizeram um grande corte em seus orçamentos de saúde.
E o aumento da espera também chama a atenção em oftalmologia (de 63 dias em dezembro de 2010, 60 em junho de 2011 e 72 em dezembro de 2011). No restante aumentou, mas de forma menos notável. A única que manteve o mesmo tempo de espera nos três últimos períodos medidos foi a especialidade de aparelho digestivo, com 51 dias de demora média.
Embora não haja uma norma estatal que regulamente o tempo de espera máximo, o cômputo pactuado entre as comunidades e o ministério destaca os casos que superam 60 dias de demora por considerar que é um topo ao qual não se deveria chegar. Algumas comunidades inclusive regulamentaram por decreto esse limite e se comprometem a abonar uma consulta particular aos pacientes que não sejam atendidos antes.
Contudo, segundo os dados publicados agora, 38,2% dos pacientes esperam mais de 60 dias desde que seu médico os envia a um especialista. Os que aguardam para consulta com um oftalmologista têm de esperar mais de dois meses em 43,8% dos casos, 3 pontos percentuais a mais que um ano antes (40,9%). Os pacientes que esperam para ter acesso pela primeira vez à consulta com um neurologista têm de aguardar mais de dois meses em 42,8% dos casos; 41,5% dos que esperam uma consulta com um dermatologista também superam esse limite, assim como 39,6% dos que devem passar por uma consulta de traumatologia.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Nenhum comentário: