A nova pesquisa do IBGE
O Estado de S.Paulo
Por ocorrer num momento em que a instituição passa por
séria crise de credibilidade, a divulgação pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística ((IBGE), no dia 7 de maio, dos resultados da
Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física (PIM-PF), baseada em nova
metodologia e com abrangência maior do que a anterior, poderá gerar mais
polêmica a respeito da atuação do órgão.
Reconhecido até há pouco como centro de referência na coleta de dados
indispensáveis para a atuação do governo, o planejamento das empresas
privadas e os orçamentos das famílias, o IBGE foi abalado pela decisão
de sua direção de suspender até 2015 a divulgação dos resultados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua),
que, nas vésperas da eleição presidencial, poderia indicar um quadro do
emprego pior do que aquele frequentemente agitado como bandeira
eleitoral pelo governo.
Já a nova PIM-PF, cujo calendário de divulgação não foi alterado,
pode mostrar resultados melhores do que a pesquisa anterior e, como a
nova metodologia será aplicada retroativamente até 2012, poderá melhorar
também os números do Produto Interno Bruto (PIB) desde aquele ano até
os do primeiro trimestre de 2014. Também as projeções para o desempenho
da economia neste ano poderão ser revistas para cima.
A direção do IBGE explicou a suspensão da divulgação dos resultados
da Pnad Contínua como necessária para atender a exigências legais.
Interpretada como ingerência política num órgão de natureza técnica, a
decisão provocou imediata reação do corpo técnico, com o pedido de
demissão da diretora de Pesquisas, Marcia Quintslr, e da
coordenadora-geral da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, Denise
Britz do Nascimento Silva, e com a ameaça dos coordenadores das
principais pesquisas do IBGE de deixar suas funções.
Diante da reação, a direção do IBGE concordou em reavaliar a
suspensão da divulgação da Pnad Contínua e acertou com os coordenadores a
criação de um grupo técnico para elaborar uma alternativa à mudança do
cronograma de divulgação dos resultados (a próxima ocorreria em junho).
Quanto à pesquisa da produção industrial, a revisão da metodologia
era necessária, e os novos critérios vinham sendo discutidos há tempos
com especialistas. A data da divulgação dos primeiros resultados
baseados na nova metodologia também foi anunciada com a necessária
antecedência.
Há pouco mais de duas semanas - dias antes da eclosão da crise
provocada pela suspensão da divulgação da Pnad Contínua -, o IBGE
anunciou, em nota técnica, as mudanças na pesquisa da produção
industrial. O objetivo, segundo a nota, é atualizar e ampliar os setores
e produtos analisados, atribuir a cada um deles o peso proporcional
aferido na Pesquisa Industrial Anual - Empresa (PIA-E) de 2010 (a
pesquisa anterior estava baseada na PIA-E de 1999) e incluir os
resultados de Estados que respondem por pelo menos 1% do valor da
transformação industrial.
Com isso, o número de produtos pesquisados passou de 830 para 944 e o
total de unidades locais, de 3.700 para 7.800. Os novos resultados
poderão alterar significativamente os dados de alguns Estados. Em Goiás,
por exemplo, a nova pesquisa incluirá a produção automobilística, que
no ano passado alcançou cerca de 78 mil unidades, não computadas na
pesquisa anterior. Setores antes não relacionados igualmente serão
incorporados à nova pesquisa. Como, em geral, são setores dinâmicos, de
rápido crescimento, podem melhorar os resultados de todo o País.
Embora o setor industrial responda por cerca de 15% do PIB, seu
efeito sobre os demais setores é importante. Se, por exemplo, a produção
industrial tiver crescido 2% em 2013 de acordo com a nova metodologia, e
não 1,2% como foi aferido pelo critério anterior, o crescimento do PIB
terá sido de 2,6%, um número mais bonito dos que os 2,3% anunciados.
Melhorarão também os resultados de 2012 e os de 2014. Nada mau para um
governo que luta com unhas e dentes pela reeleição de sua chefe.
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