segunda-feira, 28 de abril de 2014

A nova pesquisa do IBGE
O Estado de S.Paulo
Por ocorrer num momento em que a instituição passa por séria crise de credibilidade, a divulgação pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ((IBGE), no dia 7 de maio, dos resultados da Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física (PIM-PF), baseada em nova metodologia e com abrangência maior do que a anterior, poderá gerar mais polêmica a respeito da atuação do órgão.
Reconhecido até há pouco como centro de referência na coleta de dados indispensáveis para a atuação do governo, o planejamento das empresas privadas e os orçamentos das famílias, o IBGE foi abalado pela decisão de sua direção de suspender até 2015 a divulgação dos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), que, nas vésperas da eleição presidencial, poderia indicar um quadro do emprego pior do que aquele frequentemente agitado como bandeira eleitoral pelo governo.
Já a nova PIM-PF, cujo calendário de divulgação não foi alterado, pode mostrar resultados melhores do que a pesquisa anterior e, como a nova metodologia será aplicada retroativamente até 2012, poderá melhorar também os números do Produto Interno Bruto (PIB) desde aquele ano até os do primeiro trimestre de 2014. Também as projeções para o desempenho da economia neste ano poderão ser revistas para cima.
A direção do IBGE explicou a suspensão da divulgação dos resultados da Pnad Contínua como necessária para atender a exigências legais. Interpretada como ingerência política num órgão de natureza técnica, a decisão provocou imediata reação do corpo técnico, com o pedido de demissão da diretora de Pesquisas, Marcia Quintslr, e da coordenadora-geral da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, Denise Britz do Nascimento Silva, e com a ameaça dos coordenadores das principais pesquisas do IBGE de deixar suas funções.
Diante da reação, a direção do IBGE concordou em reavaliar a suspensão da divulgação da Pnad Contínua e acertou com os coordenadores a criação de um grupo técnico para elaborar uma alternativa à mudança do cronograma de divulgação dos resultados (a próxima ocorreria em junho).
Quanto à pesquisa da produção industrial, a revisão da metodologia era necessária, e os novos critérios vinham sendo discutidos há tempos com especialistas. A data da divulgação dos primeiros resultados baseados na nova metodologia também foi anunciada com a necessária antecedência.
Há pouco mais de duas semanas - dias antes da eclosão da crise provocada pela suspensão da divulgação da Pnad Contínua -, o IBGE anunciou, em nota técnica, as mudanças na pesquisa da produção industrial. O objetivo, segundo a nota, é atualizar e ampliar os setores e produtos analisados, atribuir a cada um deles o peso proporcional aferido na Pesquisa Industrial Anual - Empresa (PIA-E) de 2010 (a pesquisa anterior estava baseada na PIA-E de 1999) e incluir os resultados de Estados que respondem por pelo menos 1% do valor da transformação industrial.
Com isso, o número de produtos pesquisados passou de 830 para 944 e o total de unidades locais, de 3.700 para 7.800. Os novos resultados poderão alterar significativamente os dados de alguns Estados. Em Goiás, por exemplo, a nova pesquisa incluirá a produção automobilística, que no ano passado alcançou cerca de 78 mil unidades, não computadas na pesquisa anterior. Setores antes não relacionados igualmente serão incorporados à nova pesquisa. Como, em geral, são setores dinâmicos, de rápido crescimento, podem melhorar os resultados de todo o País.
Embora o setor industrial responda por cerca de 15% do PIB, seu efeito sobre os demais setores é importante. Se, por exemplo, a produção industrial tiver crescido 2% em 2013 de acordo com a nova metodologia, e não 1,2% como foi aferido pelo critério anterior, o crescimento do PIB terá sido de 2,6%, um número mais bonito dos que os 2,3% anunciados. Melhorarão também os resultados de 2012 e os de 2014. Nada mau para um governo que luta com unhas e dentes pela reeleição de sua chefe.

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