Reinaldo Azevedo - VEJA
Lula
e o ex-presidente Fernando Collor são aliados políticos faz tempo. Em
2002, o “caçador de marajás” já apoiou o petista, que havia sido seu
adversário em 1989. Não custa lembrar que o PT constituiu o núcleo duro
da campanha que resultou na deposição de Collor.
Agora,
mais uma causa une os dois políticos. A luta contra o Supremo Tribunal
Federal. Em Portugal, e nós ainda falaremos disso aqui, Lula afirmou que
o julgamento do mensalão teve 80% de questão política e 20% de questão
jurídica. É um despropósito total.
No Senado,
Collor, que foi absolvido pelo tribunal de um processo iniciado há,
calculem!, 23 anos, resolveu bater no peito e proclamar a sua inocência,
dizendo que o STF, assim, reescreve a história do país. Apesar disso,
atacou o ministro Joaquim Barbosa de maneira brutal, acusando o ministro
de não respeitar a liturgia do cargo.
Com o
devido respeito ao ex-presidente e hoje senador, declaro: uma ova, meu
senhor! O STF não reescreve coisa nenhuma. O STF só o absolveu porque a
denúncia feita pelo Ministério Público, à época, foi inepta e não
conseguiu provar as vinculações de Collor com o esquema liderado por PC
Farias.
O que
pretende Fernando Collor? Negar que PC fizesse tráfico de influência?
Negar que seu ex-caixa de campanha se movimentava nas sombras, cobrando,
vamos dizer, uma taxa dos agentes econômicos que eram obrigados a se
relacionar com o governo?
Vamos ser
claros: o fato de o Ministério Público não ter conseguido evidenciar a
culpa de Collor o torna inocente perante a Justiça, mas não elimina as
lambanças do que se chamou, então, “República de Alagoas”.
A coisa
tem a sua graça trágica. Quando Collor foi eleito, em 1989, as esquerdas
disseram, então, que a pior elite tradicional do Brasil se reciclava na
figura de um doidivanas. Quando Lula se elegeu, em 2002, esses mesmos
grupos afirmaram que, finalmente, as elites tradicionais estavam sendo
vencidas. Quis o destino, então, que a velha e a nova elites se unissem,
ambas contra o estado de direito.
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